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Archive for the ‘Cerimónias/Rituais’ Category

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Eu gostaria de abrir este post, dizendo que as rezas não são propriedades de nenhum sacerdote, que somente “os mais velhos” podem conhecer e saber de cor. Isto é enganação, enrolação, embromação e falta de caráter de quem retém a informação. Conhecemos muito bem as rezas que não podem sair do ilè Ikú, todo iniciado tem o direito a conhecer, rezar e aumentar o seu portfólio de conhecimento.

Nosso saudoso e que tanto contribuiu com nosso culto Altair T’Ògún, entendeu este problema e publicou o livro de rezas mais completo que conhecemos: Elégun. Portanto iniciados, adeptos e abian, comecem a decorar suas rezas, vocês vão precisar.

Òrìsà gbe wa o.

As rezas são expressões dos desejos que nós queremos manifestar de forma séria e sincera. A reza então significa comunicar nosso desejo às divindades para que nos apoie e nos ajudem a assegurar que nossos desejos se concretizem.

Muitas pessoas não sabem como rezar para que se obtenha o efeito desejado. Algumas pessoas rezam mecanicamente e esperam resultados. Desafortunadamente, os resultados não serão positivos por um longo tempo. Na história do homem, o rezar é o entendimento de como se trabalhar uma reza que nós apreciamos e como fazer com que ela funcione para nós.

Ifá reconhece três tipos de rezas:

As rezas sócias religiosas

As rezas de precaução.

As rezas ocultas esotéricas

Reza sócio religiosa

 

Este tipo de reza é a mais comum entre as três. Geralmente é usada pelos líderes religiosos, os maiores ou aqueles que demostram apreço por alguém que lhes fez um favor ou necessitam de um.

Aqueles que estão buscando ajuda também utilizam este tipo de reza.

Estas rezas se dizem durante batizados, ocasiões importantes como: bodas, funeral, devoções matutinas e etc.

Quando alguém entra em uma casa, que acaba de comprar ou construir, as pessoas vêm e compartilham da alegria pelo esforço da pessoa feliz. O sacerdote encarregado rezará para que as divindades dêem a mesma sorte a todos os presentes. Quando alguém da à luz a um filho, durante o batismo de um bebe, o sacerdote rezará para que as divindades estendam a mesma sorte a todos os presentes. Quando um casal se casa, o sacerdote oficiante rezará aos deuses para que estenda essa felicidade para todos os presentes. Quando um jovem morre o sacerdote reza aos deuses para que ponha um fim à morte prematura. Todos os presentes devem dizer àse, pois estaram se resguardando dos equívocos desta reza. Todos nós sabemos que todos não podem ter a mesma sorte, todos nós sabemos que nem todas as pessoas poderão ter uma casa, nem todos poderão ter filhos, nem todos poderão se casar formalmente e nem todos viveram até a velhice. Também quando as pessoas buscam ajuda de alguém, a pessoa que necessita de ajuda deverá rezar aos deuses para que abençoe a pessoa que está buscando ajudá-la. Quando o benfeitor é capaz de cumprir as expectativas da pessoa que buscou ajuda, se fará outra onda de rezas pelos bons gestos do benfeitor.  Quem está buscando ajuda pede aos deuses que abençoe seu benfeitor e que os faça maiores do que nunca.

Isto é muito comum entre os que pedem e os que levam vidas relacionadas com a medicina. Essas rezas podem fazer com que as coisas passem ou não (benção). Sem exagerar, porém a pessoa que reza e a que recebe a benção são felizes.

Em outras ocasiões, a pessoa faz algo grande ou oportuno para a sociedade ou para algum mais velho da sociedade. Os que recebem essas bênçãos devem aprecia-la e comover-se para rezar por esta pessoa por algo que foi feito por eles para que receba as bênçãos e a bondade das divindades.

Todos os envolvidos devem dizer àse para que as orações se tornem realidade.

Aqueles que não são capazes de pagar em dinheiro o favor que lhe prestaram, ou aqueles que não aceitam qualquer tipo de recompensa também são eficazes, normalmente são pagos com cerimonias sócio-políticas, com honrarias, medalhas, certificados e etc.

Os heróis, os líderes de comunidade, aqueles que foram trazidos para frente da sociedade, os jovens que se destacam por seus serviços a sociedade, podem receber serviços de reza especial em apreço às boas ações em prol da sociedade.

De qualquer maneira, em vez deste encurtamento, as rezas sócias religiosas têm um efeito muito profundo nos que as recebem. Estas rezas não são à base de nenhuma força ou energia que engrandeça a manifestação destas rezas.

Como uma nota pratica, ainda assim, neste tipo de reza, aqueles que devem ter êxito, definitivamente terão êxito e aqueles que devem fracassar definitivamente fracassaram.

 

Rezas para precaução:

 

Este é o tipo de reza que as pessoas oferecem regularmente e ao mesmo tempo reforçam com medidas práticas para assegurar sua manifestação. Isto requer, mas do que meras súplicas às divindades reivindicando sua ajuda.

Uma pessoa que pede por sucesso deve trabalhar duro para conseguir o êxito, uma pessoa que pede para ter filhos deve se casar, copular, encontrar remédios para as enfermidades ginecológicas, se houver alguma e esperar pelo melhor, uma pessoa que pede para ter vida longa, deve ter cuidados com seu corpo, de sua saúde, comer bem e ter uma dieta bem balanceada e rezar pelo melhor e etc. Estas são as chaves para o êxito que se espera que os praticantes de Ifà sigam.

É Òsé Méjì que estabelece que aqueles que planejam ter êxito devem ser trabalhadores e dedicados.

 

Neste Odù, Ifá diz:

 

Sekúbe, o Bàbáláwo de Ìbàdàn (cidade nigeriana).

Este foi o Bàbáláwo que consultou Ifá para os filhos de Ìbàdàn.

Quando choravam lamentando-se por sua inabilidade em conseguir êxito financeiro.

Eles foram aconselhados a oferecer ebo

Eles aceitaram.

Depois de algum tempo, logo depois,

O sucesso e a riqueza tinham chegado.

Viajantes de Ìpo e Ọfà (cidades míticas da história yorùbá)

Vocês não podem ver que sem trabalhar duro, ninguém conseguirá êxito?

 

Então qualquer oração para o sucesso financeiro deve, como meio para alcançá-la, ser apoiada pelo trabalho duro e dedicação ao dever. Caso contrário, a oração vai ser uma mera oração sócia religiosa, que não será apoiada por nenhuma divindade.

No Odù Òtúrúpon-Ngbònwú (Òtúrúpon-Òfún), Ifá diz que para viver muito se deve aprender a pisar precavidamente e com extremo cuidado.

Neste Odù, Ifá diz:

 

Bom para você oferecer sacrifício, o Bàbáláwo de Ègbá (uma tribo)

Bem feito por realizar rituais, o Bàbáláwo de Ìjèsà (povo de Ìlẹşà)

Parte do algodão é adicionada como medida adicional a que foi trazida

Òtúrú carrega o algodão sem girá-lo.

Estas foram às declarações de Ifá aos seis anciãos.

Quando estavam indo a Ilé Ifè (capital espiritual nigeriana)

Para pedir por sua longevidade.

Eles foram aconselhados a oferecer sacrifício.

Eles aceitaram

A vida longa não tem encanto

A docilidade é o encanto da vida longa

Se você vê uma vala

Não planeje brincar

A vida longa não tem encanto

A docilidade é o encanto da vida longa

Se você vê uma casa se incendiando

Não entre nela

A vida longa não tem encanto

A docilidade é o encanto da vida longa

Se você vê um homem louco com um facão

Não o espere (ou tente ser um herói)

A vida longa não tem encanto

A docilidade é o encanto da vida longa

Se você come com satisfação

Não busque ter azia

A vida longa não tem encanto

A docilidade é o encanto da vida longa

Em tempos de tribulações

Não cometa suicídio

A vida longa não tem encanto

A docilidade é o encanto da vida longa

 

Aqueles que desejam viver muito devem oferecer muito mais que uma grande oração às divindades. Eles devem se assegurar de não fazer nada que possa causar a morte imediata. Também devem evitar o que pode encurtar suas vidas.

 

Rezas ocultas esotéricas

 

É o tipo de reza que é realizada por forças e energias físicas e metafisicas. Este é o tipo de oração que contém todos os segredos da vida. Quanto mais se sabe essas orações e as domina, mais você se torna maior.

Verificou-se que se alguém entende este trabalho ou seus mecanismos que qualquer parte da natureza, alguém pode utilizar este conhecimento para realizar maravilhas para alguém ou para si mesmo ou para a sociedade em que se desenvolve.

Neste tipo de reza se utilizam métodos para atrair o poder dos objetos ao nosso redor, animados ou inanimados.

As pessoas usam plantas, ramos, troncos, folhas animais e/ou partes dos animais, insetos, ratos ou partes do rato, peixe, água, azeite e etc., para energizar suas orações para que se manifestem da maneira que elas querem, as pessoas também utilizam o nome das divindades, deuses, semideuses, espíritos, ancestrais, vento, sol, lua, meteoros e etc., e o poder da palavra falada para energizar as orações.

Estas rezas requer um grande poder de observação, conhecimento esotérico e habilidade para abster-se de todos os tabus para entender o propósito porque Olódùmarè criou todas as coisas da natureza e como elas trabalham e afetam todas as outras coisas individual e coletivamente antes que estes recursos abundantes de poder possam ser devidamente identificados e usados.

Não existe um limite para o poder que uma pessoa possa possuir, tudo depende da capacidade da pessoa adquirir conhecimento que é a chave para abrir a porta para este poder.

Aproximar os mecanismos de trabalho da natureza ou parte desta faz toda a diferença entre rezar e esperar limitadamente os resultados.

De forma alguma as explicações exaustivas de como fazer farão elas funcionarem em nós. Todos os livros de texto de rezas não podem fazer justiça a isto. Estes exemplos se dão para abrir os olhos dos que trabalham com rezas, enquanto o leitor é livre para implementá-las em sua vida.

 

O Odù Òfún mèjì (Epá Odù) orienta a humanidade a rezar com fervor, com afinco, com fé, sem dúvidas. Para que o objetivo seja alcançado, para que a reza seja o motor do sacrifício.

Não adianta nada, tomar banho, fazer jejum, dormir na esteira, colocar roupa limpa, fio de contas maravilhosos, trabalhar na casa de àse, dançar para a divindade, oferecer sacrifício, se a fé não estiver presente.

Pode-se obter o resultado pela invocação e atuação da energia, porém, o resultado é efêmero, pois, não há sustentação. Não há uma base, uma renovação no oxigênio da energia.

Pense nisso.

Nosso culto vai além de 99,9% das perguntas postadas aqui neste blog.

Nosso culto é filosófico, é o culto a entidade chamada Orí (VOCÊ), cultuamos e buscamos a divindade para que nos favoreçam, pois, assim foi determinado.

A divindade que neste mundo está a bilhões de anos não precisa de você para nada.

Ela continuará sendo esta força imensurável, incontrolável, inimaginável em seu poder, reforço a mensagem, ela não precisa de você e tampouco de mim.

Se você não busca-a, se você não acha a conexão entre você e ela, não haverá iniciação, sacerdote, pai de santo (odeio este termo), ogan, Èkèjì e outros mais que darão jeito nesta situação.

É você, somente você, que tem interesse neste assunto e é sua responsabilidade manter esta chama acesa. Não coloque culpa nas pessoas, no sacerdote ou quem quer que seja. Faça uma análise de tudo que você vem fazendo, do seu comportamento, do seu caráter, da sua promiscuidade, mentiras, intrigas, fofocas, tabus rompidos, enganações e etc.

Seja sincero com você, pelo menos uma vez na vida, pois, você nunca engana um alguém (seja ele quem for, visível ou invisível), você com toda certeza engana a si mesmo.

E dentro de Àtúnwá (o ir e vir para este mundo dentro de nossa cosmogonia) perder a viagem é muito desgastante, inevitavelmente acumularemos karma para a próxima viagem ao Ayè (nosso mundo).

Existe uma grande diferença em ser crente e ser fanático.

Crente é quem crê e o fanático…, dispenso descrevê-lo.

Não ter vergonha de suas divindades quando em público, conhecer suas divindades e saber qual o papel delas no universo e no nosso mundo. Assumir sem qualquer vestígio de vergonha sua crença e sua filosofia espiritual de vida.

 

 

Texto: Ifá, A chave da compreensão.

Fásínà Fálàdé

Rezas: Patrimônio Mundial da Humanidade conforme decreto da Unesco.

 

Tradução e texto final: Odé Gbàfáomi.

http://www.orisaifa.blogspot.com

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Egún antes do òrìsà.

A maioria das pessoas que descobrem o caminho de Ifá (A voz de Olódùmarè) e são direcionada inicialmente para a religião pelo glamour de um ou dois òrìsà ou pela promessa de poder.

Outros vêm à religião pela adivinhação, eles estão buscando respostas para seus problemas e soluções para situações difíceis.

Ifá é conhecido em todo o mundo por possuir um dos sistemas oracular mais preciso da história humana. E o òrìsà é certamente um panteão dinâmico e fascinante de divindades que estimulam o fascínio, a curiosidade, e eventualmente, a devoção. No entanto, as doutrinas de Ifá não são apenas sobre adivinhação, a sua principal preocupação é a evolução espiritual da humanidade. E os nossos mais fortes aliados na luta para evoluir (depois do nosso próprio òrìsà) são nossos ancestrais, conhecido em iorubá como o Egún. O Egún não é um ser glamoroso envolto em miçangas e girando através do Universo com os seus fantásticos poderes cósmicos para moldar as forças da Natureza. Eles são representados pelo pano, o pano rasgado representa a passagem do tempo, o desvanecimento da existência física. Eles não são òrìsà, eles são seus próprios parentes.

Os Egún são os membros do seu sangue em linha direta que voltaram para o outro reino, seus tios, tias, avós e parentes tão antigos que você não conhece seus nomes. Eles permanecem ligados a você pelos laços de sangue e mantêm um profundo interesse em seu bem-estar. É importante notar que Egún são antepassados reverenciados, o que significa que eles viviam uma vida digna e de honra. Eles não são apenas pessoas mortas, mas os mortos sagrados, os mortos reverenciados. Pessoas que estão envolvidas em atos de maldade ao longo de suas vidas, não são dignas de tal honra e geralmente não recebem homenagem como Egún. Aqueles que morrem em desgraça necessariamente não evoluem simplesmente, porque eles têm uma transição para o reino etéreo enquanto ainda podemos orar por eles, eles não são os mesmos ancestrais honrados, ou Egún. Eles são simplesmente mortos.

O Egún tem um papel diferente do que o Òrìsà em nossas vidas. No Ocidente, onde muitos adeptos e devotos de Ifá são muito influenciados pela Santeria/Lukumi, o Egún, é referido como “los muertos”, muitas vezes desempenham um papel secundário para o Òrìsà. No entanto, na Tradição Africana a veneração dos antepassados ​​é muito importante e isso se aplica aos seguidores de diferentes religiões. Leigos e sacerdotes igualmente honram os seus antepassados ​​com oferendas, orações e rituais de honra. O Egún é frequentemente mais influente em nossas vidas do que o òrìsà, porque enquanto o òrìsà é muito poderoso, eles também são impessoais, ou seja, destacados por nós. Embora a personificação do òrìsà os torne um pouco cognoscíveis e acessíveis para os seres humanos, estes últimos são na verdade forças Universais, fenômenos naturais, os princípios espirituais, as leis matemáticas e científicas (loas) que não são pessoalmente interessados nos assuntos dos seres humanos. Isso geralmente vem como uma surpresa para os devotos mais novos, que preveem que, quando eles colocam uma laranja no altar para Osun, ela ouve e responde com um favor. Isto realmente não funciona assim. O òrìsà não ouve as nossas vozes, é por isso que Èsù é conhecido como o Mensageiro Divino do Òrìsà. Ele não só transmite mensagens entre os deuses e o Criador, ele também tem a mesma função entre os seres humanos e as divindades. É por isso que se fazem oferendas a ele primeiro. Isto não quer dizer que o òrìsà não responde às nossas orações ou influencie em nossas atividades, eles certamente fazem.

Mas a nossa comunicação com eles não é direta, a nossa comunicação com nossos antepassados, no entanto, é direta e cara a cara. Aqueles que desenvolveram as habilidades de mediunidade ou são naturalmente talentosos podem ter conversas diretas com os seus antepassados. Nossos ancestrais estão pessoalmente investidos no nosso bem, assim como uma mãe é investida no bem-estar de seus filhos. Quando chegamos diante deles com a nossa dor, nossas lágrimas, nossos dilemas, seus corações são movidos em nossa direção. Eles trabalham a partir dos reinos espirituais para consertar nossos casamentos e relacionamentos em crise, para trazer a paz entre parentes que brigam, para advertir-nos de traição imprevista e tragédias, que nos levam a considerar alternativas superiores em nossas vidas, e muito mais. Sua visão de vida é muito maior do que a nossa, eles têm visto muitos ciclos mais e atingiu grande sabedoria e poder espiritual. Eles também não são sobrecarregados com corpo físico e pode, portanto, mover-se muito mais livremente do que podemos. O Egún é uma força incrível e nós somos sábios para honrá-los e incentivá-los a exercer os seus poderes em nosso nome. A relação entre os vivos e os mortos não é unilateral. Nossos antepassados ​​também precisam de coisas de nós. Eles precisam de nossas orações, nosso amor, nosso perdão, nossa lembrança e as ofertas, por vezes, específicas, tais como alimentos, bebidas, orogbo e claro, água. Pessoas de todas as origens raciais e étnicas devem honrar os seus antepassados é do interesse do desenvolvimento espiritual. Povos ocidentais de ascendência africana estão na posição única de ter gerações de seus antepassados ​​ espalhados por todos os oceanos do mundo, tantos homens esquecidos, mulheres e crianças que viveram e amaram. Alguns estudiosos estimam que milhares de africanos estejam no fundo do mar, vítimas do bárbaro tráfico de escravos transatlânticos. Incontáveis ​​milhões de outros foram abatidos aqui na América do Norte, Central e do Sul e as ilhas do Caribe. O seu sangue, juntamente com o dos nativos americanos, ainda está gotejando abaixo do solo que pisamos. Claro, os outros vão tentar diminuir esse número em seu próprio interesse, mas os números exatos são imateriais. O ponto é que quase todas as pessoas de ascendência africana que vive no ocidente e cuja família está aqui há gerações tem uma dívida enorme de gratidão, a solenidade, respeito e devoção a seu / seus antepassados. Eles suportaram com sofrimento como a entidade humana pôde suportar, de forma que pudéssemos viver. Muitos dos nossos problemas sociais é o resultado de não honrar devidamente a nossa herança, para que o nosso Egún curado possa nos dar força para superar as atuais circunstâncias. Um ancestral lesionado que tenha sido esquecido não tem poder para ajudar os seus descendentes. Mas aqueles que começam a honra e prestar homenagem aos seus ancestrais percebem o valor de fazê-lo.

Vão mudar a suas vidas. Parentes perdidos vão se reunir, até os problemas no casamento e com as crianças começarão a ter soluções com mais facilidade, a nossa “intuição” se torna mais forte e mais focada e as bênçãos e boa sorte começam a entrar na vida daqueles que honram seus antepassados.

Com veneração adequada, ganhamos o benefício da sabedoria dos nossos antepassados, nossos aliados mais importantes e nós também iniciaremos a cura para os males do passado.

Texto garimpado na web*.

* Gostaria muito de dar crédito ao autor do texto.

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A Nação Jeje comporta em seus fundamentos um vasto número de preceitos, tradições e rituais que a diferencia significativamente da cultura Nagô e, embora atualmente uma grande parte das casas de culto Jeje aos Voduns estejam, digamos assim, “nagonizadas”, muitas ainda mantém firme os ritos e fundamentos religiosos passados para nós pelos nossos queridos antepassados e por nossos ancestrais africanos. Pelo rito do Zandró – fundamento pertencente exclusivamente à Nação Jeje – o Povo do Vodun presta sua reverência aos que vieram antes e que hoje são para nós a memória do nosso povo.

Este ritual é de fundamentos por demais secretos, por isso, coloco aqui apenas a breve definição do mesmo.

A palavra Zandró  significa vigília e é uma cerimônia que se inicia ao cair da noite e vai até a madrugada. É uma cerimônia específica e particular para cada Casa de Culto, dedicada aos ancestrais daquela casa. No Zandró também se louvam os Voduns, os ancestrais. É um ritual firmado por uma sequência de cânticos e louvores específicos.

Há Voduns em particular como Ayizan – senhora dona do “gancho” da memória ancestre e dos antepassados – e, Azli Tògbósì (Aziri Tobosi) – a grande mãe jeje-mahi dos voduns – que recebem reverencia exclamativa neste ritual. Ayizan é vínculo para se reverenciar os antepassados; como não se cultua kukuto (egun, mortos) no Jeje-Mahi, é através dela que se prestam as reverências a eles. Aos pés do àtínsá (árvore sacra) de Ayizan são depositados vários pratos e ofertados a ela, num ato que muitas casas denominam “fundamento dos pratos”. As vodunsìs cantam para Ayizan ajoelhadas na esteira, batendo palmas e acompanhadas de cabaças (zàn). Aziri Tobosi recebe as comidas de todos os Voduns. A sequência de louvação no Zandró se inicia em Ayizan e termina em Aziri Tobosi.

O cerimonial do Zandró antecede as festas públicas (dòrozàn) do jeje-mahi, e é tido como um convite que se faz aos voduns para virem a festa, e seria o correspondente jeje do padê dos nagôs, embora não exista relação de culto entre os dois. É uma cerimônia restrita não podendo pessoas de fora participarem.

Autoria: Hùngbónò Charles

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Em uma casa de candomblé, um dos elementos principais e que requer grande sabedoria são as folhas. Sem esse entendimento não haverá a presença do Orixá, o velho provérbio das casas: Kó sí ewé, kó sí Orixá! Sem folha não há Orixá.

Ter os conhecimentos das folhas que vão participar dos banhos purificatórios, combiná-las com suas propriedades específicas adequadas a cada Orixá, a cada Orí, na confecção do adòsú, na preparação da ení do futuro ìyàwó como forma de proteção e fortalecimento, no àgbo do banho do ìyàwó para purificá-lo, como também como bebida e remédio e o próprio transe na incorporação da energia, estabecendo equilíbrio e inconciência. A quantidade de folhas no àgbo varia de casa para casa podendo ser quatro folhas ou múltiplos de quatro e combinando a essência,(quente/fria, macho/femea) equilíbrio.

O Olosányìn é o responsável pelas ervas, folhas e vegetais em geral, este cargo está diretamente ligado aos zeladores da casa, dada a sua importância e responsabilidade, caso não existe um Olosáyìn ou Babalosáyìn, o próprio Babalorixá ou Iyalorixá cumprirá essa função, não podendo delegar a outro filho.

As folhas quando chegam na casa devem primeiramente descansar por algum tempo, depois devem ser bem lavadas por quem irá macerá-las, são colocadas sobre a ení para que o Babalorixá ou Iyalorixá possa rezá-las com cântigos das folhas ou de cada fôlha especificamente de frente para os Ìyàwós que se encontram Kúnlè. O Bàbá ou Ìyá abrirá um Obí, confirmará as folhas escolhidas, mastigará o obí espargindo-os sobre as folhas com seu hálito, seu axé, suas palavras mágicas, para logo depois soltar as folhas para macerar, separando os galhos, caules e folhas feias para o lado, em silêncio, com uma vela ou fifó aceso à frente, sem pressa e rápido, o banho do aríàse do Ìyàwó. Vale ressaltar que após a masseração, o banho descansa um pouco e o que sobrou do banho, já cuado, irá para o ojúbo de Òsanyìn da casa, para depois ser despachado nas águas do rio ou mato.

Todas as obrigações, além da iniciação, em que tiver sacrifício de animais de quatro pés, serão sempre precedidos dessa liturgia sagrada sendo um orô obrigatório, sempre com louvação a Pai Òsányìn, no qual chamamos comumente de Sasányìn ou seja Asá Òsányìn, que são feitos no primeiro dia após iniciação, no terceiro e sétimo dia. Há também o ebó de carrego de toda a obrigação que o próprio Ìyàwó participa que é entregue a Èsù Òdàrà em seu ilé, para que de tudo certo e proporcione tranquilidade aos rituais secretos internos do àse.

“Korin Ewé”, isto é, cantar Folhas em louvar a Òsányìn, aos animais que participaram da obrigação, aos Bàbás, Ìyás, ancestrais, aos ègbóns, sua raiz e àse, Ogans e Ekedis, aos Orixás e ojubós da casa, a Òrúnmìlà e por fim a Òsàlá. Finaliza-se o culto com os cântigos das três águas, o omièrò de àse, reverenciando o Màrìwò e Òsányìn.

“Biribiri bí ti màrìwò
jé òsányìn wálé màrìwò
Biribiri bí tí màrìwò
Bá wa t’órò wa se màrìwò”.

Algumas casas tradicionais tem um esquema fixo de folhas combinadas para banhos de àgbo pra casa, para obrigação, para o àse, para o osé, etc.

Um dado litúrgico importantíssimo é que as folhas acompanham os assentamentos de todo e qualquer Orixá quando estes vão comer, acomodando o assentamento, como também o ìgbá Orí quando o Orí vai comer. As folhas combinam de uma forma mágica misturadas e essencialmente equilibradas e de acordo com cada Orixá e sempre frescas.

Obs: Não se toma banhos de àgbo velho que pode estar passado ou estragado, pois as ervas perdem sua função litúrgica.

Pai Òsányìn gosta de um fumo de rôlo no cachimbinho de barro, se disfarça num lagarto, num galho seco que Eyé pousa, pula numa perna só, gosta de vinho de palma, fradinho torrado com mel, frutas, alquimista, solitário e um grande Pai que está presente dentro do àse das casas ketu/Nagô.

Sãos as folhas secas que nos fornecem um bom defumador para inúmeras finalidades, são com folhas que fazemos vários tipos de ebós de sacudimento de egun, e quantas dietas fazemos com folhas? vários comidas de Orixás.

São 21 os korín ewé entoados e a primeira Ewé é o Pèrègún, a folha ancestralizada: asà o, erù ejé.

“Pèrègún àlà wa titun o
Pérègún àlà titun
Bàbá pèrègún àlà o merin
Pèrègún àlà wa titun”

Só Òsányìn conhece os segredos das folhas, só ele sabe os ofós que despertam seu poder e força, conectar com essa magia é o grande Awo, o ejé verde é fundamental em toda liturgia.

Òsányìn Elesekan, Irúmalé àgbénigi, Òsányìn Onísegùn Ewé ó Asà!

Ewé Òrìsà!

Babá Fernando D’Osogiyan

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Este é um dos temas mais polémicos de que podemos falar, não só no enquadramento do Candomblé, como de qualquer prática religiosa que utilize rituais de magia.

Cabe em primeiro lugar salientar que a magia, como tudo na vida, tem o seu lado bom e o seu lado mau, ou se preferir-mos, o seu lado positivo e o seu lado negativo, e cabe a cada um de nós escolher a utilização que lhe queremos dar.

Está na natureza humana a constante luta por conseguir tudo aquilo que pretende, desde os objectivos mais elevados, até àqueles que nem vale a pena descrever… de tão ignóbeis que podem ser. E uma vez mais, aqui, também é a nossa escolha que prevalece. Somos nós que escolhemos as nossas metas e os nossos objectivos, e por isso, cabe-nos a nós também escolher os meios. E se não é tão questionável que os fins justifiquem os meios, devemos de facto preocupar-nos com os meios que escolhemos para atingir os nossos fins, porquanto, pelo caminho, estão quase sempre em jogo pessoas… e até vidas!

Particularmente no Candomblé, e porque esta página a ele é dedicada, a prática de rituais de magia é uma constante, mas, vamos então analisar como ela é utilizada, por quem e para que fins.

Os Ebós, as Oferendas e as Simpatias, são algumas das formas de magia que utilizamos, mas estes, todos eles sem excepção, foram criados originalmente com o intuito de corrigir alguma situação errada na vida de uma pessoa e para tal pode-se recorrer ao auxílio de diversas entidades; em primeira linha aos Orixás e depois, a outras entidades, que pelo seu estado evolutivo e pelas suas características, se assemelham mais a nós, humanos – aqui enquadram-se os Exús pagãos, as Pombagiras e os Caboclos – e estão de facto num plano mais próximo de nós.

Qualquer destas entidades pode ser uma mais valia na vida de uma pessoa, pois o seu auxílio chega sempre, e se devidamente tratados são nossos aliados preciosos.

Mas a magia, como já referi, também tem as duas faces da moeda, e a quem a pratica, é necessário, diria mesmo essencial, conhecer os dois lados, tornando-se mais uma vez necessário escolher o lado que se vai utilizar, e esse lado deve ser sempre o lado positivo  e construtivo.

Poderíamos aqui, a título de exemplo, encarar como um veneno, que pode ser utilizado e para o qual é sempre necessário conhecer o antídoto: é do próprio veneno da cobra que se criam os antídotos que são utilizados para curar quem é picado por ela –  na magia, grosso modo, também temos que conhecer tanto o veneno como o antídoto, porque para se tratar ou curar alguém que tenha sido atingido pela magia negativa, é necessário saber contrapor.

Obviamente, não vou aqui explicar – nem o poderia fazer – os detalhes desse conhecimento, o importante é que fique claro que quem mexe com um lado tem que conhecer o outro. Um dos magos mais conhecidos de sempre, São Cipriano, começou por ser um dos melhores magos que já se conheceram a manejar a chamada Magia Branca, mas de igual modo, mais tarde na sua vida, virou, e tornou-se um dos mais temidos e eficientes magos da Magia Negra. Também para ele isto só foi possível porque tinha conhecimento verdadeiro e profundo de como os dois lados funcionam.

Portanto, assim como se pode Amarrar, também se pode sem dúvida Desamarrar, mas isto só é possível a quem tenha verdadeiros e fundamentados conhecimentos.

Convenhamos no entanto que não são muitos aqueles que estão verdadeiramente capacitados para isto, portanto, quando pensar em fazer ou solicitar uma Amarração, pense, não duas, não três vezes, mas muitas vezes naquilo que está a pedir, pois você jamais terá a garantia de que o seu pedido possa ser atendido

Ao fazer uma Amarração, você não só estará a pedir algo para si, como estará a mexer com a vida de outra pessoa, e de alguma forma forçando-a a agir de uma maneira que ela muito provavelmente não quer, não de forma voluntária e consciente. Quando isso acontece, muita coisa se altera, e por vezes os resultados não são nada satisfatórios e são até perniciosos para a vida das pessoas envolvidas.

Imagine uma situação em que você quer muito ficar com uma outra pessoa e faz uma Amarração para conseguir o seu intuito. Imagine agora que uma segunda pessoa está interessada nessa mesma pessoa para quem você fez a Amarração e resolve também, para conseguir o seu intuito, fazer também uma Amarração. Como é que fica essa pessoa que está pelo meio? E você, vai conseguir o seu intuito? Ou é a outra pessoa que vai conseguir?

Este tipo de situação não é inédito, é até cada vez mais comum, dado que são cada vez em maior número as pessoas que recorrem a este tipo de magia (embora a maioria jamais vá admitir que o fez!), e garanto que daqui não sai nada de bom para nenhuma das partes envolvidas, só confusão e mais confusão e muita dor. Cria-se assim um ciclo vicioso, e nenhuma das partes vai sair a contento.

Ainda que posteriormente seja feita a magia para Desamarrar, entretanto, já muita coisa aconteceu que não tem retorno e já nada voltará a ser como era antes, ainda que a Desamarração seja um sucesso. Amarração mexe com o destino da pessoa, e nós simplesmente não temos o direito de impor a nossa vontade na vida e no destino dos outros. Esta forma de utilizar a magia não é de todo uma forma positiva. Está na hora de todos perceber-mos isto e agir-mos em conformidade.

Gostaria, de uma vez por todas, que os verdadeiros adeptos e/ou praticantes do Candomblé, independentemente do posto que ocupem, se negassem determinadamente a aceitar este tipo de trabalhos que constantemente nos pedem, ou sequer de pensar neles como uma solução para as nossas vidas, porque não é de facto uma solução; mais que não seja, pelas consequências kármicas que lhes são inerentes e que o nosso lado espiritual jamais deve esquecer – chama-se Lei do Retorno!
Há sempre uma forma diferente de ajudar as pessoas… pelo lado positivo!
Leia o texto abaixo com muita atenção!

A dor do amor que se acaba

 Todo casamento que “acaba” já se acabara muito antes. O amor é sentimento tão forte que até para admitir o seu término é necessário tempo. Quando algo estoura ou vem à tona é porque de há muito borbulhava, subterrâneo. Aceitar que o amor acabou é tão difícil como admitir sua existência!

Fico a pensar nos quilômetros de discussões com as quais milhares de casais disfarçam o amor que começa a terminar ou já morreu e começa a tresandar. Penso na dor sorrateira e covarde do amor que começa a acabar.

Penso no sentimento de perda que se instala até nas relações que se tornam frias e distantes. Sofro por pessoas que estão trilhando o doloroso caminho da descoberta dos impasses com o ser amado; a que estão descobrindo defeitos, desencontros, impossibilidades de encaixes e de suplementação nas relações. Penso nos que estão tentando gostar e já não mais conseguindo. Compadeço-me dos que colocam flores e esparadrapo na própria decepção ou no cansaço de suas relações rotinizadas, cristalizadas, congeladas.

A dor do amor que não se realizou gera doloroso sentimento de perda. A perda prescinde do amor. Até onde este não mais existe, ela dói e machuca. O sentimento de perda transcende o amor. Talvez seja maior, como sentimento, que o amor, pois o sentimento de perda dura a despeito de haver acabado. Sente-se a perda da pessoa a quem se amou e sente-se a perda do amor. A perda dói, porque construída de esperanças mortas, pois se é esperança, morta não está. O que se jaz morto em cada perda não é o amor anterior: é a esperança de felicidade e de encontro que não se realizou. Está morto, mas como é esperança ainda vive e o que vive dói. Por isso, o sentimento de perda é complexo e cheio de dobras ilógicas.

O que dói no amor que termina não é o fato de ter acabado. Nesse sentido é até alívio. Dói o fracasso do que poderia ter sido; é a contemplação da morte através da verificação da existência de uma pessoa em nós e no outro que já não existe, que mudou, transformou-se e cresceu ou apodreceu e piorou.

A gradativa aceitação da inexistência do amor é ferrugem existencial difícil de ser aceita. Por isso, o amor passado é dotado de muitas caras e para se proteger dessa ferrugem admite crescer em outras direções igualmente prazenteiras: a da amizade, carinho e compreensão.

 Artur da Távola

 

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Mão de Vumbe ou Mão de Nvumbe ou tirar mão de Vumbi, Maku Nvumbi, significa fazer a cerimónia para tirar a mão do falecido, e é realizada um ano após o Ntambi (a cerimónia fúnebre).

Esta cerimónia é necessária e apenas realizada nas pessoas que foram iniciadas pela pessoa que morreu, ou seja, na prática é tirar a mão do morto. É importante notar que não se aplica portanto a simples frequentadores, ou Abiãs da casa.

Quando uma pessoa é iniciada por um pai ou mãe-de-santo, passa a ter um vínculo espiritual, a mão da pessoa em sua cabeça, a mão que transmitiu o axé.

Assim, quando o pai ou mãe-de-santo morre é necessário tirar a mão do morto, essa cerimónia é feita por outro pai ou mãe-de-santo escolhido pela pessoa.

A realização desta cerimónia é importante pois permite que o iniciado possa assumir em pleno e dar continuidade à sua evolução em uma outra casa de santo.

A palavra Vumbe é usada no Candomblé Bantu de nações Angola e Congo, o significado é o mesmo que tirar a mão do Egum usada no Candomblé Ketu.

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