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Archive for Janeiro, 2013

Divulgação presente yemanja

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Òrìsà Òsògìyán

 

 

 Oxaguian no Brasil ou simplesmente Òrìsà Òsògìyán como ele mais gosta de ser chamado, Ewúléèjìbò “Senhor de Ejigbô” onde é tratado por Kábiyèsi, é um dos Orixás mais emblemáticos do candomblé. Sobre ele também recai uma série de segredos rituais guardados pelos terreiros, embora muitas coisas já se tenham escrito. Acredito sim nessa complexidade em se cultuar o maior dos Orixás, pois sua energia é tão suave, tão magnífica, magnânima e tão sutil que nem todo mundo tá preparado para se harmonizar e poder interagir de seu Axé.

Conta um itãn que Oxun Aiyan’lá, de acordo com uma de suas histórias, ela teria dançado pela primeira vez na presença de Òsògìyán e fez todo o mercado lhe acompanhar. É por este motivo que filhas de Oxun Aìyan’lá, a fim de agradar Òsògìyán envia clarins para homenagear o Orixá, ato que se pode observar em alguns terreiros antigos.
Os mitos afro-brasileiros sobre este ancestral nos permitem perceber que Oxaguian liga-se a comida: Òrìsà jẹ iyán kile. A sua festa é o ponto culminante do chamado Ciclo das Águas, representado pelos inhames novos presenteados pela terra após um período de dificuldades. Òsògìyán, assim, o dono do inhame. É ele quem garante o nosso sustento de cada dia representado pelas raízes, conhecido por Orixá comedor de inhame pilado (Oxaguian), pois inventou o Pilão para melhor preparar seu prato favorito.

O Grande Òsògìyán em momentos de crise representa a estabilidade; em ocasiões de guerras, a estratégia; na tristeza é a alegria, no fim é o recomeço, é o Orixá de todos os momentos, promove a guerra para estabelecer o equilíbrio e a justiça entre os Homens. Orixá do dinamismo e movimento construtivo, da cultura material. Seu domínio são as lutas diárias por sustento e trabalho e a paz. Oxaguian incentiva o trabalho e a superação. Oxaguian é o provedor, é o guerreiro da paz. Nunca entra numa batalha para perder, sempre ganhando suas lutas e superando quaisquer obstáculos.

É sempre retratado como um guerreiro forte, astuto e conquistador, Oxaguian rege as inovações, a busca pelo aprimoramento, o inconformismo. É um Orixá relacionado com o sustento do dia a dia, gostando de mesa farta. Seu sustento vem do fundo da terra ou da floresta. Ele detém todas as armas e as usa para alcançar seus objetivos, que são: dar para quem tem fome e até tomar de quem tem muito e não tem fome.  De acordo com suas histórias, ele teria passado em Irê, a terra de Ògún, e graças à sua inteligência idealizou armas forjadas pelo grande ferreiro. A amizade entre o povo de Ejigbô foi tanta que Ògún, certa ocasião, se ofereceu para ir à frente de uma batalha lutar pelo povo de Ògìyán que na volta foi aclamado Senhor vestindo-se de branco.
Diz-se também que o Orixá que adora inhames é amigo inseparável de Oyá e dela ganhou os Atoris, com quem anda sem pisar no chão levado pelo vento que lhe conduz a todos os lugares. Por isso, filhos dessa Orixá se sentem plenamente atraídas por estarem perto dos filhos deste Orixá. Osogiyan põe um ponto final no fim e inaugura aquilo que é infinito, pois diante dele tudo é recomeço.
Òsògìyán é o Orixá do renascimento, tudo que forma um ciclo se mantém graças a ele. Este é o motivo pelo qual no dia a ele consagrado se realiza uma pequena procissão. Ele representa a volta para a casa, a estabilidade dos grupos que até então vagavam sem destino. O terceiro Domingo do ciclo das Águas de Oxalá é representado pelo ” Ojó Odò” (dia do Pilão) de Òsògìyán, pois fecha o ciclo de renovação da existência.
Com o Orixá Sàngó, coluna central do culto reorganizado no Brasil pelos Yorubas e seus descendentes, Ògìyán se relaciona como outrora os reinos de Ejigbô e Ifon estavam ligados à Oyó, fato relembrado pelo pilão, instrumento de vital importância para a fixação dos grupos na terra. Se o pilão é o centro do mercado, a mão de pilão é o instrumento que repete o movimento que liga o céu à terra, garantindo a nossa permanência através da comida, do inhame dado em forma de presente por Osogiyan. O pilão como o ferro ilustra uma nova etapa da história da humanidade. A partir dele, pode-se falar em comidas mais elaboradas, preparar a farinha e conservar melhor os alimentos. O Pilão representa a justiça, o equilibrio provocado pelas duas bocas do pilão, seus Ìsáns representam o poder ligado a Irôko ancestralidade, vida e morte, a espada representa a luta diária pela paz social.
Òsun é verdadeiramente o coração de Osogiyan, dizem os antigos que “Òsun é sua menina dos olhos”. Ela dança também para ele. É Òsun quem vai a frente das mulheres da terra de Ijexá que inventaram um tipo de tambor apenas tocado por elas. Instrumento na sua origem feminino como as cabaças, cujo som remete ao mesmo produzido na vida uterina. Oxun teria ensinado estes sons para a humanidade, escutando a sua própria barriga. Mantém relações também com Ewá, ilustrada através de uma das passagens míticas mais emblemáticas. Ewá, aquela que tem o poder de transformar-se em qualquer coisa, lhe teria salvo da morte, garantindo assim a continuidade do ciclo da vida. Osogiyan como já falamos, relaciona-se também com os Orixás caçadores e caçadoras. Daí a sua relação com Òsóòsì, considerado líder e cabeça da grande caçada. Com Osanyìn interage estrategicamente com o pássaro, as magias e todo tipo de feitiçaria “Òsò”, prefixo de seu nome estabelece a parceria, o sumo da folha, etc. Com Obà divide a essência guerreira feminina/masculina, a guerra através dos sentimentos do coração, do amor e da paz.
Osogiyan anda através de passos mais rápidos, determinados. Em guerra constante, a prontidão, o alerta nunca lhe precedem, pois ele é a própria luta, relembrada num de seus títulos de pronúncia mais evitada: “Baba O’Lorogun”, literalmente “pai da guerra”. O Orixá que carrega todas as armas, ora caçador, ora rei, ora a guerra, mantém relações também com Yemanjá, pois ela é responsável pelo equilíbrio, o principio ancestral, o mundo só é inteligível, graças àquela que mantém as nossas cabeças (ìyá Orí) que suaviza a sua chegada. Com Jagun forma talvez a parceria mais intrigante, caminham juntos e às vezes se confundem entre si, guerreiros inseparáveis. Com Airá, o conhecimento da impulsividade, dando a este exatamente o oposto, os dois lados da moeda, julgar pela razão e não pela emoção. Com Nàná a grande Iyabá se confraterniza, a grande metáfora vida e morte. Com Exú é a comemoração, juntos sintonizam a articulação, a discórdia proposital, o movimento.
Òsògìyán representam o começo da humanidade, o sol nascente, a vida que chega no primeiro raio de sol, o Pai do dia.
Quando entramos em contato com os elementos, entramos em conexão com o mundo divino e seus respectivos senhores através de seu axé. Alguns se conectam a nós através da musica, outros através das águas, do Fogo, da Terra, dos metais, minerais, do vento ou simplesmente do silêncio. Ele também se revela no silêncio na quietude e mansidão. Ele está em todos os níveis!
Com Odùduá, Orixá matéria que é responsável pela abertura no primeiro Domingo das “Águas de Oxalá”, a grande mãe progenitora feminina que representa a Terra, e com Olúfón (Oxalufan) Orixá cujo o templo é em Ifón, responsável pelo segundo domingo das “Águas de Oxalá”, a procissão de Obatalá,o Ebô repartido entre todos os presentes. Orunmilá testemunha através de Ifá.
Senhor do Igí Opè Íwìn, Akinjolè, Babá Ikíre, Babá Epè, Babá Eléèjìgbò, Ajagúna, Ògìyán, Òsáàlá,  com tantos nomes que pode ser conhecido e reverenciado.

“E mo rí ó, e mo rí Ifá ó.” – “Eu vi, eu através de Ifá”.  (Somente Ifá pode propiciar) “Òòsààlà ki àwa àwúre”,  “Oxalá nos dá boa sorte”

Babá mí Òsògìyán, mò jùbá, mutun’bá, Àwúre!

Texto/pesquisa:Fernando D’Òsògìyán.

Colaboração: Suami D’Òsún

 

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A iniciação em si já é um marco por se tratar de uma transição, de um renascimento do iniciado como uma nova pessoa.  Eu mesma tive noção de quem eu realmente sou, de como eu realmente sou após a feitura. Recordo-me exatamente da sensação após eu ter saído do preceito, de encarar o mundo com uma roupa de cor, com os cabelos curtinhos e a nova sensação no peito. Lembro até da primeira coisa que eu fiz assim que tirei o branco e do quanto me enxerguei diferente no espelho. As pessoas me notavam diferente e eu me notava diferente também. Eram meus recém 18 anos, eu nem sabia o que era o mundo ainda, tinha acabado de sair da escola, entrado na faculdade e a minha entrada de vez num mundo muito maior coincidiu com a entrada definitiva de Iansã na minha vida. Tudo mudou. Talvez tenha sido proposital da parte dela. Acho que sim. E essas lembranças vivem voltando à tona cada vez que vejo mais um iniciado nascendo, mais uma irmã ou irmão passando pelo preceito e relatando as situações vivenciadas neste período.

De lá pra cá se vão quatro movimentados e inesperados anos aonde eu venho aprendendo a sentir e entender os sinais dela – que algumas vezes são silenciosos e noutras tão gritantes. Acho que com o tempo os iniciados desenvolvem uma relação pessoal com o próprio Orixá. Chega a ser íntima. Falo por mim, falo pelo que eu sinto com Oyá, falo pela segurança que ela me dá quando eu estou no meio de uma tempestade e da segurança que eu lhe dou ao afirmar que sempre irei por ela, custe o que custar.

Eu tenho vivido o meu tempo de iniciada com o maior cuidado e delicadeza possíveis, gradativamente tentando entender todos os acontecimentos, mesmo quando eles surgem de forma totalmente inesperada. Já errei o caminho para onde ela apontou, às vezes entendi errado o que ela falava… Coisas que qualquer filha criança como eu faz.

Acho que eu e Oyá estamos um pouco misturadas. Não falo isso nem pra demonstrar alguma soberba ou algum orgulho. Tenho orgulho do meu Orixá sim, tenho a minha essência individual sim, tenho muito ainda a aprender com ela e sobre ela sim, mas tenho-a muito em mim e isso eu não preciso explicar porque o sentir nem sempre consegue ser traduzido.

Muitas vezes falamos de assuntos sobre a religião muito necessários e que precisam com urgência serem relatados e ensinados. Eu tenho a dimensão do quanto o nosso blog, por exemplo, é importante neste meio virtual no tocante a estas informações e o quão ávidos são os nossos leitores por aprendizados, conselhos e explicações. Porém, eu acho necessária também essa pausa pra falar sobre o sentir, acho necessário eu parar pra pensar no meu Orixá como energia que me acompanha diariamente e não só como um Orixá dos ventos e das tempestades. Cada um precisa sentir o Orixá que há dentro de si. Pensar nisso, refletir isso e observar isso. Mais aqui dentro, menos lá fora, gente. Às vezes alguns iniciados procuram tantas informações externas sobre o orixá ou saem tão alvoroçados atrás de respostas para as agonias momentâneas que chega a parecer que esquecem-se que o Orixá está neles, que eles tiveram Ori e corpo sacralizados para o Orixá fazer dali também sua morada. Parece que esquecem que o Orixá ouve.

Eu, passado o ritmo turbulento que só as mudanças trazem, tenho pensando e sentido muito essa interação. Além de aprender mais, faço meus “feedbacks” e me sinto alegre e confiante na forma como tenho caminhado.

E como canta Maria Bethânia:

“O mais importante do bordado
É o avesso, é o avesso
O mais importante em mim
É o que eu não conheço

O que de mim aparece  
É o que dentro de mim Deus tece

Dayane

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