O eterno conflito de geração.
Este (conflito) é muito mais forte em função da liberdade de expressão em todos os níveis e incluiremos o salto tecnológico que esta geração de pais não conseguiu alcançar.
Pais e Filhos, educação e religião.
Um tripé difícil de analisar, mesmo que individualmente.
Ifá fala seriamente sobre o respeito e louvor aos pais. A parte masculina eternamente ligada ao Ará Ợrùn (Ancestrais masculino/Eégúngún) e a parte feminina ligada as Mães Idosas (Ìyàámi), e dito por Ọlódùmarè, que elas são um òrìşà vivo e que todos devemos nos prostrar perante o sexo feminino (Odù Òsétúrá).
A palavra de Deus é um bom tema para reflexão, um tema muito íntimo, onde seu Orí deverá passar algumas horas lhe aconselhando e com certeza serão bons conselhos (ou não).
O texto abaixo fala do respeito devido aos pais e a punição que será entregue em suas mãos pelo próprio Èşù a mando de Ọlódùmarè (Odù Ìká‘fún, onde estão escritas as Leis Sagradas de nossa religião).
A importância da abordagem é importante, pois, ela está ligada diretamente a algo que saiu de moda há muito tempo. A educação esmerada dos filhos. As noções básicas de direito, respeito, hierarquia e vocês podem completar a lista.
Se não tivermos o parágrafo acima, na ‘unha’, não conseguiremos fazer com que pais e mães sejam honrados, eles seram meros pagadores de contas e fornecedores de abrigo e abrigos cada vez mais longevos (os filhos estão demorando a sair de casa).
Não proponho e nem desejo de maneira nenhuma conduzir esta conversa dando palpite sobre a melhor forma de se educar um filho ou a melhor maneira para se criar um filho.
Eu não sou a pessoa indicada.
Creio que o legado de nossa matriz nigeriana seja um pouco mais fértil no modelo educacional social/religioso, não daremos peso a mentes brilhantes e nem formação acadêmica, daremos peso a forma psicológica de educar e conduzir os anos infantis e a puberdade de crianças nascidas em uma família yorùbá.
Veja matéria publicada anteriormente em:
https://ocandomble.wordpress.com/2013/06/27/ifa-e-a-familia-estendida/
Um exemplo bem prático de educação pessoal partiu de uma tribo Africana que teve um de seus jovens pego em flagrante delito.
Ele foi colocado no centro da aldeia e durante dois dias ele ganhou um ‘sabão’ de todos os moradores locais e parentes.
Todos, sem exceção, faziam questão de lembra-lo da pessoa boa que ele era, o que esperavam dele e sua missão de bondade e bom caráter neste mundo.
Todos trabalharam para garantir o resgate deste caráter, que poderia se perder e seria considerado uma derrota para a comunidade.
Um belo exemplo de trabalho em conjunto.
Os primeiros passos tortos, os primeiros deslizes, as primeiras ‘caneladas’, devem ser conversadas/deliberadas a exaustão. A questão do assunto pessoal fez com que os problemas/dúvidas dos filhos não fossem mais discutidos à mesa de almoço/lanche ou jantar. Acabaram com a reunião familiar. Computador, som e televisão. Vídeo game, Cam, instrumentos e ferramentas dos mais variados gostos e preços, fazem com que a distância aumente cada vez mais e se desfaça os laços familiares.
Eu te amo se tornou tão banal, qualquer um diz no Face ou What Zap:
“Eu te amo amiga”.
E algum tempo depois este amor se desfaz. Tornando este sentimento banal e corriqueiro, como é a Diva do Teatro ou a celebridade que fez apenas uma novela, diferente daquela atriz que construiu uma carreira ao longo de meio século para ter o devido reconhecimento.
Hoje tudo é celebridade, diva, te amo e amiga (o).
O texto pode nos levar a pensar que o saco vai encher rapidamente. Porém, educar é encher o saco de alguém. É cobrar postura e atitude de alguém. E incentivar, dar apoio e ajudar a descobrir a coragem escondida em algum lugar no peito de alguém.
Estas obrigações não devem ser transferidas para a professora, para o sacerdote ou para o mago de plantão e livros de autoajuda.
Cansamos de ver pais e mães ligarem para o sacerdote pedindo para ele puxar a orelha do filho que anda fazendo besteira.
Ele deveria ser repreendido dentro de casa, com a autoridade de quem educa, porém, eles acham que o sacerdote tem mais força e poder sobre o seu próprio filho.
Não se deve comprar comportamentos com regalos e presentes, a responsabilidade de um filho não deve ser uma mercadoria para sofrer escambo.
Se você passar no Enem te dou a viagem ou um carro.
O que é melhor, te deixo livre por um mês sem encher o saco e perguntar onde você foi.
As pessoas fazem qualquer coisa para se livrarem da frustração de ver a sua derrota estampada na vida dos filhos.
O sentimento de culpa vai corroer como ferrugem e cupim.
E a velha pergunta virá à tona:
Onde foi que eu errei?
Erramos na educação, na cobrança, em saber dizer não e ter certeza que eles não vão deixar de nos amar por causa disto.
Este apanhado de situações vão descambar, vão descer a ladeira e veremos muitas famílias desequilibradas, pessoas medindo força e impondo a lei do grito ou do mais forte (falo da mão pesada mesmo).
É a síndrome de Ọbàrà ìbì (negativo), impor sua vontade como se fosse um rolo compressor e tome Bori para tentar alinhar as energias e acalmar o agente da negatividade.
E a pessoa sai deste ritual e na primeira semana de descanso volta a querer viver aquela vida de confronto novamente e tudo vai por água abaixo.
O sacerdote leva a culpa, como sempre.
Marmoteiro, não sabe fazer nada, cadê o resultado, gastei uma nota preta e ai…
Nada aconteceu!
É verdade. Umbigo só existe nos outros.
Estes são exemplos de filhos (todos inclusos) que passaram pelo processo de educação social e não conseguiram terminar o ciclo enquanto outros felizmente conseguiram.
Neste momento entra nossa religião que oferece a oportunidade de ouro.
Morrer e renascer!
Quem não gostaria?
E mais, renascer com a sua maturidade, experiência e nível escolar/profissional mantido!
É o céu na terra.
Engano!
Não é o céu na terra.
E o processo mais doloroso que um ser vivo pode experimentar em sua vida, nesta ou em qualquer outra galáxia.
Iniciação não é passaporte para nada!
Assim escreveu um Babalawo:
Toda vez que expandimos a nossa consciência, o velho homem deve morrer e renascer em uma nova e profunda sabedoria.
Deixando de lado o velho homem, deixando de lado velhas ideais, deixando de lado os velhos modos de enxergar o mundo/vida, pode ser difícil e doloroso.
A experiência de viver a vida, no contexto da iniciação, nos dá uma experiência simbólica de mudanças internas e externas que ocorrem a cada vez que expandimos a nossa consciência.
Aqueles que procuram dar um fim às dificuldades, aos conflitos e aos desafios estão buscando o fim desta vida e querem as bênçãos de uma nova vida (pós iniciação).
Na cosmologia de Ifá/Òrìşà, todas as formas de riqueza vêm como resultado da transformação.
Palavras bonitas, mas, não é fácil e você não vai conseguir sozinho. Se não pedir ajuda a pessoas que realmente estejam engajadas e preparadas para lhe ajudar, vai dar ruim!
No Odù Èjì Onilè (Èjì Ogbè) acharemos um verso bem atual:
Iniciamos você nos segredos de Ifá.
Você deve se reiniciar.
Foi assim que Èjì Ogbè (Èjì Onilé) foi iniciado.
Então ele mergulhou na floresta (autoconhecimento).
Iniciamos você nos segredos de Ifá.
Você deve reiniciar-se (você deve mudar sua conduta).
Se você chegar ao topo da palmeira (Igi Òpé).
Não deixe suas mãos soltas (não volte a viver aquela vida de antes).
Èjì Ogbè, o mais elevado de Odù, passou por auto iniciação, mesmo depois de ser levado a floresta sagrada (Igbòdù) para a iniciação (Itelodù), ele mergulhou de volta para a floresta. Este ato mostra que mesmo um iniciado deve voltar para a floresta, a fim de ensinar a si mesmo.
É desta forma que a religião vai ajudar, vai te empurrar em direção a vida e manter o reservatório de energia sempre cheio. Para que você tenha forças para lutar, foco para desenvolver, perseverança para alcançar e humildade para aprender.
Educação para agradecer, conhecimento para repartir e saber que a Verdade é um ponto sagrado e sensível para todos os òrìşà, incluindo nosso Deus/Ọlódùmarè.
O Odù Òsá’túrá nos brinda com uma das máximas de Deus:
Nesta pequena estrofe Ifá nos lembra que mesmo ao atingir nosso auge de entendimento e conhecimento, nossa arrogância deve desaparecer, para que nossa mão não se solte e possamos cair da palmeira.
Òsá Aláwo (Òsá’túrá) diz:
O que é a Verdade?
Eu digo:
O que é a Verdade?
A Verdade é o sacerdote do Ợrùn que protege o mundo.
Òrúnmìlá diz que a Verdade é o espírito que protege o mundo invisível.
A Verdade é o conhecimento que Ọlódùmarè está aplicando.
Òsá Aláwo a questão novamente é:
O que é o certo?
Eu digo:
Que é a Verdade?
Òrúnmìlá disse que a natureza de Òtító é o caráter de Ọlódùmarè
A Verdade é a palavra que não muda.
A Verdade é Ifá (A voz de Deus e todos os ensinamentos legados).
A Verdade é a palavra indestrutível.
A Verdade é o poder sobre todas as atribuições.
A bênção que dura para sempre.
Esta foi a declaração do Ifá aos habitantes da Terra.
Eles sempre foram avisados a fazer a coisa certa.
É preciso ser honesto.
Quem é correto será apoiado pelas divindades.
Àse.
Sobre isto Ogbè-Alárá (Ogbè’Òtúrá) diz e Ợbàtálá nos ensina:
Itọn
Ợbàtálá estava viajando de um lugar ao outro. Ele não conseguia engravidar sua esposa por causa de suas frequentes viagens. Isto o deixava muito triste. No entanto, ele foi ao Áwo para uma consulta com Ifá.
Ele foi aconselhado a oferecer sacrifício.
Ele cumpriu.
Também lhe pediram que levasse sua esposa nas viagens.
Ele também cumpriu.
Quando ele foi para a casa de um de seus amigos chamado Ládùbí, sua esposa ficou grávida.
Ele teve que deixá-la para dar à luz, para que ele continuasse com suas viagens frequentes. A mulher deu à luz a um menino que recebeu o nome de Agbon.
Quando a criança tinha dois anos de idade, Ợbàtálá pediu a sua esposa que o acompanhasse novamente em suas viagens. A esposa concordou. Quando eles foram à beira do rio. Ela deu à luz a outro menino.
Este menino recebeu o nome de Okunkun.
Dois anos depois, a esposa de Ợbàtálá, o seguiu novamente na viagem. Ela mais uma vez ficou grávida e deu à luz a outro bebê masculino que recebeu o nome de Òpé Ìsàgá, e ficou popularmente conhecido como Òpẹ.
Todos estes filhos ainda não estavam bem treinados.
Ợbàtálá deixou de viajar por causa deles. Ele foi residir em Ilè Ifè e lhes deu educação social, moral, espiritual e econômica. A melhor que um pai poderia lhes dar naquele momento. Quando eles se sentiram seguros que os filhos tinham crescido até uma fase madura, eles se casaram e foram morar em suas próprias casas, um após o outro. Quando Ợbàtálá estava seguro que eles poderiam tomar conta deles mesmos, ele continuou com suas viagens.
Ợbàtálá então viajou ao outro lado do oceano, ao alto mar, onde os dezesseis reis viviam (este local está dentro do oceano Atlântico. Esta civilização foi submergida pela água). Isto levou dezesseis anos até ele voltar a Ilè Ifé. Quando ele regressou, seu primeiro porto de parada foi à casa de Agbon. Ợbàtálá foi tratado miseravelmente por seu filho. Ele não lhe ofereceu água, nem comida e nem ao menos foi hospitaleiro com seu pai. Quando a noite chegou, ele pediu ao filho permissão para dormir, o filho lhe negou bruscamente.
Ợbàtálá deixou a casa de Agbon e se dirigiu a casa de Okunkun. Ợbàtálá foi tratado pior ainda. Ợbàtálá foi empurrado para fora de casa, quando já era tarde da noite. Ele então se dirigiu a casa do terceiro filho Òpé-Ìsàgá.
Na casa deste, ele foi muito bem-vindo. Òpé-Ìsàgá acordou a casa inteira para anunciar a chegada de seus pais. Ele lhes deu água fresca para beber, lhes deu comida, água para se banhar e o melhor quarto da casa para eles dormirem. Ợbàtálá estava muito contente com o tratamento que lhe foi dado na casa de Òpé-Ìsàgá
Uma semana depois de sua chegada, Ợbàtálá foi a sua própria casa. Ele se recolheu por dezesseis dias. Durante este período Òpé-Ìsàgá foi o responsável por tudo que seus pais precisaram. No décimo sexto dia Ợbàtálá convocou seus três filhos. Ele perguntou a Agbon por que ele havia lhe tratado daquela maneira tão rude.
Agbon disse que era por que Ợbàtálá não informou sobre sua chegada a tempo e que ele não tinha planos para a chegada deles.
Ợbàtálá perguntou a Òkùnkùn a mesma coisa. Òkùnkùn fez a mesma defesa, que Agbon havia feito. Ợbàtálá perguntou a Ópè-Ìsàgà por que ele preferiu em vez de tudo, cuidar de seus pais.
Ele disse que era responsabilidade de cada filho cuidar de seus pais.
Ợbàtálá então, disse à Agbon que não importa que esforços que se tenha que fazer na vida, ele poderia fazer apenas pentes, mas, nunca poderia produzir mel. Ợbàtálá disse à Òkùnkùn que ele também nunca seria útil a ele ou a qualquer pessoa na vida. Ele disse a Òpé-Ìsàgá que ele seria abençoado em qualquer lugar que fosse e que nenhuma parte de seu corpo seria inútil na vida. Tudo isso veio a acontecer.
Desde esse dia que Agbon (Cocô) não pode mais produzir mel ou ser útil, Òkùnkùn (Trevas) não era útil ao tentar conseguir algo de valor ou que valesse a pena. As piores coisas foram atribuídas a Òkùnkùn. Não haveria uma só parte de Òpẹ-Ìsàgà (Palmeira) que não seja útil, sua raiz serve como combustível, de seu tronco se faz medicina (remédios de Ifá) e pequenas pontes, suas sementes rendem azeite de palma (epo), suas folhas servem como vassoura e a semente também se usa em adivinhação, faz-se também uso para comida animal, combustível e assim sucessivamente.
Ifá diz que a chave do sucesso da pessoa em sua vida, é estar enquadrado junto com seus pais. Se seus pais estiverem contentes com ele, seu sucesso estará garantido.
Por outro lado, se os pais não são bem tratados, não haverá milagre que trará qualquer tipo de êxito a esta pessoa.
É este tripé que deve estar sempre alinhado, digo tripé, pois, aqui falamos para os adeptos/ suplicantes, abìan e iniciados do culto de òrìşà.
É este tripé que deve sofrer investigação e estudo, não podemos simplesmente confiar em nosso taco ou no deles (os filhos).
O respeito a pais e mães deve ter seu lugar especial dentro do caráter de cada um.
Finalizamos com um verso do Odù Èjì Onilè (Èjì Ogbè) que diz:
Eu me comporto como o meu Deus me criou.
Eu sempre faço o bem e também sou honesto.
Eu não faço o mal.
Eu não abrigo maus pensamentos.
Para que eu não morra miseravelmente.
O que nós iniciamos em nossa juventude irá persistir até a velhice.
Estas foram às declarações do oráculo para Òrúnmìlá e os 401 Irùnmolè
Quando vieram do Ợrùn para o Ayè.
Òlódùmarè os instruiu a fazer o bem sempre.
Na estrofe acima é evidente que com bons sentimentos, todos os obstáculos podem ser superados. Somente com estes sentimentos teremos paz de espírito sempre. Por outro lado, aqueles que fazem mal ou abrigam maus pensamentos, certamente vão ter problemas, a menos que comecem o processo de mudança e comecem a se vigiar constantemente. É o doloroso processo de mudança que trará a benção de uma vida abençoada pelo òrìsà, pelo Odù e por Ǫlódùmarè.
Após, termos tomado conhecimento da importância e sacralidade de nossos pais não poderemos mais nos comportar como antes:
Sobre isto o Odù Ọyẹku Ọbàrà diz:
Um rato nunca vai lamber uma melancia estragada e sobreviver
Essa foi à revelação de Ifá para Lásílo
Quem tinha uma ferida na perna esquerda
Porém optou por aplicar a medicação na perna direita
Aquele que acha que tem uma ferida na perna direita
Está enganando a si mesmo
Ire Aláàfià.
Texto de Odé Gbàfáomi
Esè Ifá (Versos de Ifá): Propriedade imaterial da Humanidade.
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