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Archive for Julho, 2012

Parte  2.

Ifá é uma disciplina espiritual enraizada na idéia de que o desenvolvimento de Iwá Pèlé ou Bom Caráter é a chave para entender o destino.

Há um provérbio iorubá que diz:

Ayanmó ni Iwá Pèlé, Iwá Pèlé ni ayanmó.

Este provérbio traduzido aproximadamente significa:

Destino é bom caráter, bom caráter é destino.

É a partir da referência mítica que se diz:

“… quando o destino é incerto, é o bom caráter que eu escolherei.”

A ingerência metafísica aqui é clara, se você está incerto sobre o seu destino simplesmente faça a coisa certa naquele momento.

Nascemos ómó rere, que significa: boas pessoas e bem-aventuradas.

O que sugere que fazendo a coisa certa no momento certo não poderemos estar em oposição ao nosso destino.

A língua litúrgica Iorubá é freqüentemente criada através do uso de elisões.

Uma elisão é uma sentença encurtada em língua iorubá para formar uma palavra.

Por exemplo, a palavra Ifáyabale é uma referência em Ifá ao ritual de resolução de disputas.

A palavra é Ifáyabale, elisão Ìyá bàbá ilé.

Significando:

A sabedoria das mães e pais da terra.

Isto é tanto uma referência ao processo ritual como uma indicação clara da metodologia da resolução dos problemas.

É com a orientação dos mais velhos que nós resolvemos nossos conflitos.

Vamos usar a metodologia de análise da linguagem para termos outro olhar para a frase:

Ayanmó ni Iwá Pèlé, Iwá Pèlé ni ayanmó.

Da elisão:

Ayanmó ni Iwá ope ile  Iwá ope ni ayanmó.

Temos a tradução do destino inicial sugerindo que o bom caráter é o nosso destino e nós temos uma camada mais profunda que significa olharmos para as palavras originais que formam as elisões da sentença.

A tradução torna-se então a árvore ancestral.

É o caminho para saudar a terra, saudamos a terra através da árvore ancestral.

Quando olhamos para a fonte das elisões começamos a entender o contexto desta cultura que leva à criação de palavras e frases usadas para expressar idéias espirituais.

A árvore Ayan é usada na cultura iorubá tradicional como um altar ancestral.

A idéia de uma árvore sendo usada como um altar ancestral é baseado no símbolo da árvore da vida, o que significa que vem das raízes, nos torna o motor que da a luz e as mudas.

Uma árvore é uma manifestação viva dos ciclos de: vida (Ogbè méjì), morte (Òyèkú méjì), transformação (Ìwòrì méjì) e renascimento (Òdí méjì).

Ayan está servindo como um lar para centenas de grandes e antigas espécies de animais que vivem em harmonia em um espaço muito pequeno.

Esta harmonia cria o ventre do igbodu (cabaça da existência) que é o significado da floresta. Um igbodu é um portal inter-dimensional que liga o Òrum ao Ayè ou o Céu a Terra. Esses portais criam flashes de luz ao redor da árvore que se parece com lâmpadas se acendendo. Estes flashes de luz são chamados de Espírito do Pássaro Éyèle, significado que o pássaro Éyèle é usado pelas mães mais velhas para se comunicar diretamente com os Imortais no Òrun. A árvore Ayan também é usada para fazer tambores bata que são usados ​​para se comunicar com Egun e alguns Ebora.

Egun é o espírito coletivo da linhagem ancestral de uma pessoa.  Eborá são ancestrais divinizados que funcionam como avatares das Forças da Natureza chamado geralmente de òrìsá. A árvore Ayan é o lugar onde o iorubá tradicional se comunica com seus ancestrais e da árvore Ayan é feito o tambor que é usado para invocar os estados alterados de consciência que melhoraram esta comunicação.

Então, o que o provérbio, Ayanmó ni Iwá Pèlé, Iwá Pèlé ni ayanmó, está nos dizendo?

Ele está dizendo que devemos usar a sabedoria dos antepassados ​​para saudar a Terra. Aos nossos olhos pode nos parecer uma expressão estranha, especialmente no que se refere à idéia de Bom Caráter (Iwá Pèlé).

Na cultura iorubá tradicional você deve cumprimentar uma pessoa idosa. É o trabalho dos mais velhos que nos guiará no caminho do desenvolvimento espiritual. Dizemos que os anciãos guiam-nos para saudar a Terra e chamar a Terra de ancião e dar a entender que devemos viver em harmonia com a Terra, pois esta é a chave para o crescimento espiritual. Ifá está enraizado na idéia de atunwá (reencarnação).  A crença da cultura iorubá tradicional é a de que estamos renascendo dentro de nossa linhagem biológica e que o nosso nascimento traz consigo a responsabilidade moral de corrigir o que está quebrado na história de nossa família.  Para que essa evolução espiritual ocorra os seres humanos precisam de um lugar para viver a experiência com atunwá e o lugar que escolhemos é chamado Onilé ou Terra.  Se Onilé morre a experiência com atunwá morre com ele. Isso significa que nossa primeira obrigação espiritual e disciplinar é desenvolver o Bom Caráter e cuidar da Terra. Em termos simples, nós temos a obrigação moral de deixar a Terra como um lugar melhor de se viver. A Terra é a plataforma através da qual nós escolhemos para abraçar o processo de crescimento espiritual. Na minha humilde opinião os humanos não estão fazendo um trabalho tão bom em deixar a Terra em melhor forma do que a encontramos.

Ifá pode consertar um mundo quebrado.

Esta frase faz parte das escrituras sagradas,..

Eu acredito que seja verdade.

Oração coletiva é entendida na cultura iorubá tradicional como a capacidade de abrir portais na Terra. Esses portais são chamados ventre do igbodu, que significa ‘a floresta’. Para uma cultura que define o Bom Caráter por meio da elisão Iwá Pèlé, a idéia de portais abertos por meio do uso da oração não é difícil de entender. Recentemente eu terminei uma questão sobre a visão de uma cidade americana.  Esta área foi utilizada por antigas culturas indígenas nos Estados Unidos como um centro de ritual e centro de treinamento para o sacerdócio. O canyon contém kivas numerosas. A kiva é um círculo de pedras enterradas no solo e utilizadas para realizar o ritual. Os kivas em Chaco Canyon são o seu igbodu. Eles são portais para os reinos invisíveis da Criação que Ifá chama de Òrum. Fui abençoado em Chaco Canyon ao receber instruções sobre a Terra. No mesmo momento em que eu recebi uma mensagem no Canyon uma tempestade de vento soprou e se abriram as portas da minha casa que ficava a 600 milhas de distância. Cada vez que eu piso em uma kiva sou imediatamente saudado com uma visão nova e diferente.

Era uma espécie de mudar os canais na TV. Consciência? Talvez.

Eu prefiro acreditar que quando chegamos para saudar a Terra, a Terra irá responder, dando-nos orientação.

Isso é o que fazem os anciãos, pois a Terra é a Mãe de todos.  Vivemos em um universo holográfico. Isso significa que sempre haverá manifestação da Criação, isto está contido dentro de cada átomo da Criação.  As informações que precisamos para corrigir o que está quebrado estão ao nosso redor e em toda parte.  A pergunta é:

Como podemos acessar essa informação?

Temos acesso à informação para a saudação da Terra, significando, sabermos humildemente usar a sabedoria dos antepassados ​​para nos ensinar como nos comunicar com Ayan, a árvore da sabedoria ancestral.

Esta idéia foi muito bem expressa no filme Avatar quando a árvore, no centro da comunidade indígena, reunia os recursos do planeta para defender-se contra uma invasão militar. Sim, eu sei que era um filme, porém está enraizado na verdade.

Ire o.

Por: Áwo Fatunmbi

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Porque Jogamos Água à Rua?

A misteriosa Religião dos Òrìsàs é norteada de costumes e dogmas, um deles é aquilo que chamamos de “despachar a rua”, que condiz em jogar três punhados de água, antes de entrar ou sair de casa. Mas porque fazemos isso? Primeiramente é importante recordarmos da importância da água na nossa cultura. No Candomblé não se faz nada sem água, ela que umidifica, resfria e fertiliza. Nós mesmos, antes de nascermos, no útero de nossa mãe, ficamos o período gestacional na água do ventre materno, somente isso já seria o suficiente para sermos gratos à água diariamente, afinal, sem ela não existiríamos.

Há muitos momentos em que despachamos a porta. As ocasiões mais comuns são ao acordamos, ao sairmos de casa e ao retornarmos para casa. Mas não são somente nesses momentos. Por exemplo, há determinadas cantigas que retratam um momento de muita turbulência na vida do Òrìsà, podendo despertar sua cólera se entoadas em momentos inoportunos. Nessas situações, o Babalòrìsà ou Ìyálòrìsà, sempre atento, solicita à uma antiga egbon, que jogue água à rua, apaziguando o Òrìsà que foi recordado de um momento adverso em sua vida no Aye.

Em suma, em todos esses momentos, o objetivo é apaziguar. Há uma frase em yorùbá que diz “Somente a Água Fresca Apazigua o Calor da Terra”. Ao acordamos, despachamos a porta, recitando palavras que tem por objetivo, pedir que aquele dia seja de tranqüilidade e de harmonia. Quando estamos saindo de casa, jogamos água à rua, rogando à Èsù Oná (O Senhor dos Caminhos), que aquela água, apazigúe os caminhos que vamos percorrer e que, sobretudo, não nos deparemos com situações que nos exponha a riscos.

Ao entrar na Casa de Candomblé, por exemplo, despachamos a rua, pedindo licença aos Donos da Porteira, reverenciando-os sempre. Em muitas casas de Candomblé a porteira está sempre aberta, isso não significa que não há dono, muito pelo contrário. Nesse aspecto, pedimos licença (Ago) aos Donos da Porteira, mostrando nosso respeito e, pedindo que a água resfrie a terra, até o momento em que, vamos nos purificar por meio do Omi Ero ou Omi Agbo, para poder então, partilhar do convívio no Terreiro de Asè.

Por isso, jamais se esqueçam, apazigúe a terra antes de caminhar sobre ela.

Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoado todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó

Texto da Casa de Oxumarê-BA

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A saga de Nã Agotimé é pura magia. Representa a força dos elementos naturais transformando a vida que se transforma em culto.
Desde tempos imemoriais se cultuava os voduns da família real do Daomé, hoje Benim. Um Clã mágico e místico iluminava o continente negro, numa época de uma África conturbada por guerras tribais em busca do poder. Muitos reis passaram e o Daomé, que era apenas uma cidade, tornou-se um país.
No palácio Dãxome, reinava Agongolo. O rei tinha como segunda esposa a rainha Agotimé e dois filhos (Adandozan, do primeiro casamento, e Gezo, nascido de Agotimé). No momento de sua morte, o rei elegeu seu segundo filho para sucedê-lo no trono, mas a sua ordem foi desconsiderada e Adandozan assumiu o trono como tutor de Gezo. Abomey tornou-se vítima de um governo tirânico e cruel.
Mágica e Magia. A rainha era conhecida em seu reino pelas histórias que contava sobre seus ancestrais e sobre o culto aos reis mortos. Guardava os segredos do culto a Xelegbatá, a peste. Detentora de tais conhecimentos, o novo rei tratou de mantê-la isolada, acusando-a de feitiçaria, e não hesitou em vendê-la como escrava.
Em Uidá, grande porto de venda de escravos, Agotimé foi jogada nos porões imundos de um navio e trazida para o Brasil. O sofrimento físico da rainha, traída e humilhada, era uma realidade menor, pois o seu espírito continuava liberto e sobre as ondas a rainha liderou um grande cortejo, atravessando o mar.
Desse episódio se forjou um dos elos que une a África ao Brasil. Chegou ao novo continente um corpo escravo, mas um espírito livre, pronto para cumprir a sua saga e fazer ouvir daqui o som dos tambores Jejes.
Seu primeiro destino foi Itaparica, na Bahia, porto do seu destino e terra santa do conhecimento. Vinda de uma região onde poucos escravos se destinavam ao Brasil, Agotimé se deparou com muitos irmãos de cor, mas não de credo.
No seu encontro com os Nagôs teve o seu primeiro contato com os Orixás, e através deles a Rainha escrava teve notícias de seu povo. Por eles soube que sua gente era chamada Negros-Minas e foram levados para São Luís do Maranhão. Contaram que não tinham local para celebrar o seu culto, pois esperavam um sinal de seus ancestrais. Agotimé logo entendeu por quem esperavam.
Dessa forma a rainha chegou ao Maranhão. Terra da encantaria e de forte representação popular. Os tambores afinados a fogo e tocados com alma por ogãs, inspirados por velhos espíritos africanos, ecoam por ocasião das festa e pela religião. Foi no Maranhão que Agotimé, trazida para o Brasil como escrava, voltou a ser Rainha. Sob orientação de seu vodum, fundou a “Casa das Minas”, de São Luís do Maranhão, em meados do século XIX.

Para contar essa história, trilhando caminho inverso ao de Nã Agotimé, e com uma exposição fotográfica sob a forma de portraits, o fotógrafo maranhense Márcio Vasconcelos viajou ao Benin acompanhado do antropólogo africano Hippolyte Brice Sogbossi.
A proposta do Projeto é realizar uma pesquisa e documentação fotográfica da atual situação de terreiros e seus respectivos chefes no Benim e no Maranhão. Para tanto, foram entrevistados e fotografados personagens de reconhecida importância no cenário do culto aos voduns, com a finalidade de traçar um paralelo entre os Sacerdotes africanos e os Chefes de Terreiros do Tambor de Mina do Maranhão.
No Benin, num período de 25 dias, foram visitadas as cidades de Cotonou, Abomey, Allada, Ouidah, Calavi e Porto Novo. O Projeto “Zeladores de Voduns e outras Entidades do Benin ao Maranhão” foi aprovado no Edital de Apoio à Produção Cultural do ano de 2008 da Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão.

Márcio Vasconcelos é fotógrafo profissional independente e há mais de uma década vem se dedicando a registrar as manifestações da Cultura Popular e Religiosa dos afro-descendentes no Estado do Maranhão. Hippolyte Brice Sogbossi é beninense e radicado no Brasil há mais de 10 anos. Doutor em Antropologia Social e professor da Universidade Federal de Sergipe.

Grete Pflueger

fonte:http://evanspires.wordpress.com/2010/08/

Os Voduns da Casa das Minas

A Casa das Minas (Kwlegbetan Zomadonu ou Kwerebetan de Zomadonu) é um terreiro quase que bicentenário e que mantém firme as tradições religiosas africanas de culto aos Voduns, em especial àqueles que fazem parte dos cultos da Família Real. Os voduns da Casa são agrupados em família, destacando-se a família de Davice (Família Real) que engloba os voduns antigos reis e nobres, dignatários do antigo Dahomey. A ancestral mítica desta família é Nochê Naé (Sinhá Velha), a quem todos na Casa das Minas obedecem e prestam respeito, sendo que não se deve falar muito dela. Esta família segue duas ramificações: a primeira é de Zomadonu – vodun dono da Casa e vodun da fundadora e das três primeiras mães da Casa; e a segunda é a de Dadaxó (Dadarrô – pai do Dahomé). Outra importante família é a de Dambirá, dos Voduns da terra e das doenças, como Akosi, Azile e Azonce,e  seguindo as famílias hóspedes da casa Queviossô (dos voduns do trovão e dos astros, que são considerados nagôs dentre os jejes da casa, mesmo não sendo orixás, e que são mudos, a exemplo de Badé, Sogbo (que na Casa das Minas é um vodun feminino, sinretizada com Sta Bárbara e Oyá), Averekete, Lissá, Agbé), e as famílias de Savalunu (voduns de Savalu) e Alladanu (voduns de Alladá).

Legba não é cultuado na Casa das Minas e é tido como trapasseiro, um ser maligno. Duas explicações teria este motivo: o sincretismo extremo que caracteriza o Tambor de Mina, e o fato de Adandozan se dizer “um protegido de Legba” e que depois de toda suas atrocidades e maldades deixaram o povo Abomenu entristecidos e inclusive Nã Agotimé.

A Casa das Minas é exclusivamente de cultura Jeje, sendo seus cânticos em lingua fongbé-ewegbe, e suas divindades são exclusivamente Voduns, não havendo nenhum orixá em seu culto (embora devotem-se a Yemanjá, por exemplo, mas não há culto interno para estas divindades). A casa não gerou nenhuma filial, mas sua estruturação serviu de base para organização das outras Casas de Tambor de Mina.

Antigamente cultuavam-se na Casa das Minas, as “meninas” (Tobôssis) e que desapareceram nas décadas de 60 e 70. Segundo fontes o papel das Tobossis era harmonizar a Casa, dando nomes africanos às Vodunsìs e falavam em outra língua.

Autoria: Hùngbónò Charles

 

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Parte 1

Ègbé,

Costumo sempre que possível perguntar aos abians e os mais novos o que eles sabem a respeito de nossa religião. O que realmente vieram colher, o que realmente irão cultuar e o que eles objetivam.

Para minha surpresa, ninguém conhece o cerne da questão.

Por que cultuamos òrìsá?

Qual a finalidade de tudo isto?

Onde fica o fim da estrada?

Eéwo (tabu), absolvição, punição, Èsú, o que será que tudo isto quer dizer?

O que devemos fazer dentro de um Ilè àse?

Lavar, passar, cozinhar, arrumar, guardar, olhar, falar, fofocar, concertar, desentupir, capinar, varrer, ajudar, comer, aprender, osé, acender vela, rezar, òfò e etc…

Quem poderia levantar o braço e dizer que a canção mais importante, é a que você está compondo?

Sua canção tem que ser linda e ela não pode ser dividida e nem ter parceria, letra e musica devem ter inspiração própria, você tem compromissos seriíssimos com sua evolução

O sentido de caridade e ajuda ao semelhante é magnífico, porém, devemos olhar nossa estrada, devemos objetivar evoluir, devemos ascender, devemos buscar a superação.

Dentro deste conceito, se analisarmos friamente, o grupo será beneficiado, se há evolução pessoal dentro do grupo, então existe um objetivo a ser alcançado pelos demais. Devemos servir de inspiração e não ajudantes de entrega ou meros ajudantes de estiva, ajudar o outro a carregar um peso que ele se desobriga a carregar, visto que chegou um auxilio luxuoso. Neste caso, você.

O conceito de evolução espiritual está na base de nosso culto, é a atividade fim de nosso sacrificio, o objetivo maior do ser humano. E esta base chama-se caráter. Caráter é muito importante dentro desta cadeia espiritual, uma pessoa desprovida de caráter sempre terá obstáculos a ser ultrapassados, sua vida sempre terá um plus nos problemas, sempre ouviremos aquelas famosas frases:

Mas como?

Eu dei comida, dei até bicho de quatro pés calçado e nada aconteceu.

E começa a transferência de responsabilidades, a mão do Ogan é ruim, o sacerdote não tem àse, me disseram que não foi feito direito, pelo que eu sei ficou faltando algo, enfim…

Uma gama de subterfúgios para poder mascarar o erro individual, o desvio de caráter. Não podemos em hipótese alguma fugir de nossas responsabilidades, não estamos aqui para simplesmente vestir, bailar e ralar dentro de uma casa de àse.

Nossas atitudes dentro e fora contaram muito, não se embriagar, a não promiscuidade, os maus costumes, os desvios de conduta, a falta de cuidado com o que não lhe pertence e muito mais exemplos que não são necessários exemplificar aqui, pois o conceito de certo e errado nasce com você, ele nós é ofertado na hora do sopro divino de Òlódúmarè (Emi), sabemos muito bem onde está o fiel da balança e para que lado ela pende conforme nossas atitudes no dia-a-dia.

Dito isto, espero que fique menos confuso a forma de se relacionar com os objetivos de nossa religião. Orí é o ponto a ser alcançado e o caráter é a base para se conseguir atingir a meta.

Lembrem: Se o ebo não fez efeito é por que faltou “folha” e esta folha muitas vezes pode ser o nosso caráter.

Ire gbogbo.

Por Da Ilha.

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Creio que este assunto não se esgota facilmente. As relações intespetuosas entre filhos e sacerdotes dentro dos Ilè Àse precisam ser cada vez mais  lapidadas. Os tabus referentes a maus tratos (físico, oral e gesticular) contra sacerdote, ancião, pai e mãe desagradam os olhos de Òlódúmarè.

O assunto abordado abaixo pede uma reflexão, vivemos pedindo respeito pelo nosso culto/religião, será que estamos respeitando-os com devido peso, com a mesma reciprocidade.

Òrúnmìlá no Odù Òsá’Ìwòrì nos diz:

“Se eu lhe der tudo que você me pede, será que você irá se esforçar por si mesmo.”

Boa leitura.

  1. Cuide do seu santuário (se tiver algum) com sinceridade, humildade e limpeza. Não se aproxime de seus santuários se você foi beber fumar ou ter relações sexuais. E nunca venha de forma “impura”.
  2. Não faz sentido para mim se você usa ilekè e se veste como uma “stripper” ou “bandido”. Então, por favor, vista adequadamente se você estiver usando ilekè.
  3. Nunca finja ser algo que você não é. Se você recebeu um igbá e não passou por Igbodu (processo de iniciação), então você só tem um igbá de òrìsá. Você não é um sacerdote ou a sacerdotisa da divindade assentada.
  4. Se o seu pai diz que você precisa ter relações sexuais com ele para remover qualquer tabu ou para subir na vida, fuja dele. Ele é charlatão, uma fraude e etc.
  5. Se estiver participando de um sire òrìsá, por favor, se vista adequadamente. Minissaias, tops, shorts, não podem, usar calças compridas também não, ficar na frente dos atabaques é desrespeito ao Ilè e ao òrìsá.
  6. Ao cumprimentar um sacerdote ou sacerdotisa em público, é apropriado Kunle (reverência leve, dobrar joelhos) ou mesmo Dobale (ir ao chão) para eles. Eu sei que isto vai levantar as sobrancelhas, mas para fazer Foribale para alguém em público em um ambiente não espiritual é um sinal de arrogância.
  7. Como cumprimentar um santuário ou sacerdote depende do seu sacerdote. Eu já vi isso ser feito de forma diferente por pessoas daqui dos estados e do exterior (Nigéria e Daomé). Quando em dúvida, mostre o seu respeito.
  8. Nunca se deve fumar beber, usar drogas, ter relações sexuais, usar de palavrões enquanto se usa seu ileke (fio de contas). Estas são ferramentas sagradas que foram dadas a você e você deve tratá-las como tesouro.
  9. Se você não estiver satisfeito ou deseja sair da casa espiritual do seu sacerdote e o seu desejo é seguir em frente, de a devida notificação. Solicitamos que se possível, ofertar Adimu de partida (oferta) e seguir seu caminho em paz.
  10. Nunca use o que foi ensinado pelo seu sacerdote para fazer mal aos outros. Lembre-se a energia que você colocar para fora vai voltar para você. Se você enviar a negatividade, a negatividade vai voltar para você. Se você enviar amor e paz, o amor e a paz vão voltar para você.
  11. Nunca, jamais, doe seus igbás. (ouça seu sacerdote!). Um Igbá òrìsá deve nascer dentro do santuário, Igbá não nasce por osmose! Isto é um tabu, mas infelizmente e vergonhosamente muitos estão fazendo isso.
  12. “Compra de Igbá”, tem gente tentando acumular o maior número possível e isto não é bom, se você não tiver autorização através da adivinhação adequada de montar seus Igbás não o faça. Ter um Igbá Òrìsá é um trabalho árduo. Estes são representações do òrìsá e requer muito cuidado.

Lembre-se, não é sobre você (humano), nem sobre mim,  mas sobre Egúngún, irunmolè, òrìsá e Òlódúmarè!

Texto garimpado na net, caso você conheça o autor nos informe.

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A Nação Jeje comporta em seus fundamentos um vasto número de preceitos, tradições e rituais que a diferencia significativamente da cultura Nagô e, embora atualmente uma grande parte das casas de culto Jeje aos Voduns estejam, digamos assim, “nagonizadas”, muitas ainda mantém firme os ritos e fundamentos religiosos passados para nós pelos nossos queridos antepassados e por nossos ancestrais africanos. Pelo rito do Zandró – fundamento pertencente exclusivamente à Nação Jeje – o Povo do Vodun presta sua reverência aos que vieram antes e que hoje são para nós a memória do nosso povo.

Este ritual é de fundamentos por demais secretos, por isso, coloco aqui apenas a breve definição do mesmo.

A palavra Zandró  significa vigília e é uma cerimônia que se inicia ao cair da noite e vai até a madrugada. É uma cerimônia específica e particular para cada Casa de Culto, dedicada aos ancestrais daquela casa. No Zandró também se louvam os Voduns, os ancestrais. É um ritual firmado por uma sequência de cânticos e louvores específicos.

Há Voduns em particular como Ayizan – senhora dona do “gancho” da memória ancestre e dos antepassados – e, Azli Tògbósì (Aziri Tobosi) – a grande mãe jeje-mahi dos voduns – que recebem reverencia exclamativa neste ritual. Ayizan é vínculo para se reverenciar os antepassados; como não se cultua kukuto (egun, mortos) no Jeje-Mahi, é através dela que se prestam as reverências a eles. Aos pés do àtínsá (árvore sacra) de Ayizan são depositados vários pratos e ofertados a ela, num ato que muitas casas denominam “fundamento dos pratos”. As vodunsìs cantam para Ayizan ajoelhadas na esteira, batendo palmas e acompanhadas de cabaças (zàn). Aziri Tobosi recebe as comidas de todos os Voduns. A sequência de louvação no Zandró se inicia em Ayizan e termina em Aziri Tobosi.

O cerimonial do Zandró antecede as festas públicas (dòrozàn) do jeje-mahi, e é tido como um convite que se faz aos voduns para virem a festa, e seria o correspondente jeje do padê dos nagôs, embora não exista relação de culto entre os dois. É uma cerimônia restrita não podendo pessoas de fora participarem.

Autoria: Hùngbónò Charles

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“Dia de desordem e destruição em Brejo da Madre de Deus

BREJO DA MADRE E DEUS – O dia foi de caos ontem no distrito de São Domingos, em Brejo da Madre de Deus, no Agreste. Revoltados com a morte de Flanio da Silva Macedo, 9 anos, assassinado em ritual macabro, moradores da comunidade botaram fogo em pelo menos seis casas de pessoas acusadas de atuar como pai-de-santo. O tumultuo tomou conta do distrito e a polícia não conseguiu conter os atos de vandalismo, que atingiu também pessoas que nada tinham a ver com o a morte da criança. A situação só começou a se normalizar no começo da tarde, com a chegada de reforço policial, inclusive o Batalhão de Choque e dois helicópteros.
Os atos de vandalismo começaram logo cedo, por volta das 7h. Os incêndios aconteceram em sequência e foram causados por centenas de pessoas de todas as idades. Alegando que queriam matar todos os “macumbeiros”, a turba descontrolada tomou as ruas da cidade e incendiou casas em vários bairros. 
Uma das primeiras fica localizada na Travessa São João, no centro do distrito de São Domingos. A pequena residência, de um homem identificado apenas como Vavá, teve os móveis retirados e queimados na frente. O fogo também atingiu o imóvel, que ficou parcialmente destruída. “Muita gente invadiu a tocou fogo. Ele usava coisa de catimbó. O pessoal está tocando fogo em todas as casas dos catimbozeiros”, disse o autônomo Jânio Arruda. Segundo populares, o morador já tinha fugido e a casa estava aberta. Um homem foi detido durante o ato de vandalismo.
Enquanto a polícia tentava controlar a situação na Travessa São João, recebeu a informação de que a multidão já estava atacando outra residência, desta vez na Rua Francisco Borba Xavier, conhecida como Rua da Lama. Segundo vizinhos, a dona da casa, identificada apenas como Dona Carminha, de 78 anos, morava no local com o marido. A população não colocou fogo na residência, mas quebrou móveis e objetos, entre eles algumas imagens de santos de candomblé.”
Fonte: Jornal do Commercio
 

Por desinformação, ignorância e distorção da mídia, religiosos de segmentos espiritualistas e de matriz africana vêm sendo perseguidos e tendo seus centros e terreiros invadidos – e em alguns casos destruídos – em Brejo da Madre de Deus, Pernambuco.

Um homem apontado como “pai de santo” é o principal suspeito de ter planejado e participado do crime juntamente com outras quatro pessoas. Diante da atrocidade do ato, a população enfurecida vem cometendo atos durante esta semana contra centros e terreiros.

O caso, devido à dimensão, tem ganhado bastante espaço na mídia pernambucana e frequentemente cenas típicas de inquisição e intolerância passam nos canais de comunicação e me deixam perplexa diante de tal atitude, de tamanha agressão começando pelo crime e chegando aos atos de destruição e perseguição religiosa na cidade e em localidades vizinhas.

A falta de informação ainda é a principal causa desse tipo de ato relacionado a nós, praticantes de religiões de matriz africana. Uma mídia que distorce fatos, uma população ignorante e somos lançados à fogueira para sermos dizimados.

Especialmente hoje, por perceber que todos esses atos assustadores têm causas maiores, fixas, e não pontuais, questiono até quando as nossas federações continuarão tão desarticuladas nacionalmente, ainda com pouco grito, ainda com pouca vontade de gritar e se manifestar imediatamente diante desses atos, até quando o povo de terreiro irá se calar e quando a Lei 10.639 será praticada com eficácia nas escolas para construirmos cidadãos menos intolerantes, menos manipuláveis e um pouco mais sensatos.

Como religiosa me pus no lugar de cada um que teve a sua casa de culto destruída, de cada um que foi agredido e imagino o sentimento de impotência e de falta de proteção que nos cerca. Já está passando da hora de unirmos, meus irmãos. Já está passando da hora da nossa religião se transformar na instituição que naturalmente ela deve ser.

Dayane Silva

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