Archive for Fevereiro, 2016
Pierre Verger – Mensageiro entre dois mundos
Posted in Candomblé, Nações, Orixás on Fevereiro 26, 2016| 2 Comments »
Mensagem de Maria Padilha
Posted in Candomblé on Fevereiro 25, 2016| 19 Comments »
Não olhe para mim como uma mulher sensual, que ri e se diverte bebendo champanhe.
Não olhe para mim como uma mulher de muitos homens que favorece seus caprichos e esconde sua verdadeira intenção.
Não olhe para mim como uma cúmplice de seus desequilíbrios e testemunha de sua ignorância quando atentas contra a Lei Maior.
Não olhe para mim pensando que eu venho a pular de alegria com o seu ego, quando eu venho é para trabalhar.
Não olhe para mim como uma mulher de palavras ruins, quando sua boca é dominada por emoções que não sabes enfrentar.
Não me veja como um espírito feminino que gosta de se vestir de mil cores, porque eu não me importo com aparências, sou o que sou.
Não confunda o seu entusiasmo em querer chamar a atenção com a minha personalidade.
Não olhe para mim à procura de pretextos para atrair alguém que lhe interessa, não estou para brincadeiras sexuais travestidos de suposta sensualidade.
Não olhe para mim com a cara de fome, oferecendo sacrifícios de animais em troca de favores efêmeros e infantis. Não bebo sangue, o animal não me interessa, não sou das trevas, sou da luz trabalhando para Deus na escuridão…
Não olhe para mim pensando que sua loucura e descontrole ao incorporar é a minha suposta manifestação. Aprenda que é você o responsável por obter e manter suas emoções ocultas no dia-a-dia.
Não olhe para mim supondo que eu vim para mostrar minha beleza. Eu não sou uma boneca de pano para a qual você pode vestir como quiser. Eu vim para trabalhar, não para competir contra estupidez.
Não olhe para mim como um produto que você vende para os iludidos, procurando tirar dinheiro de seus caprichos, desespero e desequilíbrios. Eu sou um instrumento divino, que não tem valor monetário. Faço caridade, não negócios.
Não olhe para mim como uma ex-prostituta, ou uma mulher de má fé. Sou um ser que trabalha nas trevas, a favor de Deus, pois assim ele desejou, não pelo que eu fui.
Não olhe para uma Pomba-gira supondo ser uma mulher de Exu, e que tem um filho que se chama Exu Mirim. Somos mistérios separados trabalhando pelo bem da humanidade.
Não olhe para uma Pomba-gira como um espírito que depende de sangue, de bebida, anéis, braceletes, vestidos, maquiagem, perfume, sapatos, etc., etc.… Não sou marionete de teu ego, nem de tua mediocridade. Não vim para adornar seu corpo, como se você fosse um manequim. Estou aqui para demonstrar a simplicidade e determinação do Criador em suas ações.
Não olhe para uma Pomba-gira como uma degustação de milagres baratos que se pagam com lágrimas e gritos de animais sangrado entre falsos centros e falsos espíritos… O melhor milagre é que despertes do sonho do carnaval profano que chamam de gira ou sessão, e se volte para a realidade onde a Lei Maior e a Justiça Divina trabalham a favor da humanidade.
Pomba-gira é um instrumento de Deus, um mistério que executa as ações da Justiça Divina.
Pomba-gira não é o escândalo que se veem nas manifestações de alguns médiuns ególatras mergulhados na ilusão
Pomba-gira vai além da aparência. Estende-se à vontade do ser humano, à vontade do Criador, no estimulo da evolução, da expansão de consciência, da maturidade mental e emocional…
Pomba-gira transita pelas trevas lutando contra seres que perturbam a Luz.
Pomba-gira merece respeito, por isso venho hoje passar essa mensagem.
Para que pares, reflitas e olhe ao seu redor e pergunte:
O que você faz com a sua Fé?
Um circo de ignorância ou uma demonstração de respeito pela religião?
Pomba-gira Maria Padilha
Esta é a minha escola, essa é a minha fonte.
Foi daqui que eu vim.
Da verdade e da luz.
Recebido espiritualmente por J.U.
Retirado do site Umbanda Sagrada e traduzido por Peterson Danda.
Casa de Santo
Posted in Candomblé, Nações, Orixás, Terreiros on Fevereiro 22, 2016| 6 Comments »
Muito interessante. Este documentário realizado já em 2005 registra as Nações de Candomblé em Maragojipe, no Recôncavo Baiano. Excelente trabalho de Antonio Pastori.
Ợbàtálá, O grande Òrìşà
Posted in Candomblé on Fevereiro 21, 2016| 6 Comments »
Este trabalho retrata a forma como Ợbàtálá é cuidado em uma determinada região nigeriana (Osogbo), não é uma fonte que deva ser levada ao pé da letra, uma vez que o escritor informa-nos que pode haver e há diversas formas de se cuidar dessa divindade.
Mostraremos uma forma/aspecto de se cuidar de Ợbàtálá relatada pelo escritor denominado abaixo.
As duvidas, queixas e/ou qualquer tipo de discordância devem ser direcionadas ao escritor, que tem seu blog ativo na Web.
http://www.gbawoniyi.com/Articles.html
As anotações em negrito são de minha autoria.
Ire Alaafia.
Odé Ợlaigbo
Por Oloye Aikulola Iwindara Fawehinmi, Gbawoniyi de Osogbo, Estado Osun.
Ợbàtálá também conhecido como Ọbanlá (O Grande Rei), Òrìșàlá (A Grande divindade), Óòşààlá Òsèèrèmagbò e Òrìşà Igbowuji, é uma divindade de suma importância dentro da cultura yorùbá. Sua presença se estende por todas as terras yorùbá da Nigéria a Republica do Benin na África ocidental e também na diáspora yorùbá que inclui países como Brasil, Cuba, Trinidad e Tobago, Estados Unidos, Porto Rico, Panamá, México, Espanha e até a Inglaterra.
O conceito de que a divindade (Òrìşà) Ợbàtálá é quem cria a essência da hierarquia está baseada em anos de idade e responsabilidade. Ele é um òrìşà completo, e simples em alguns atributos físicos ou iconográfico, ele vê muitos aspectos da experiência humana e ajuda-nos a solucionar os problemas mundanos dos seres humanos.
Ợbàtálá é a divindade yorùbá da criação dos seres humanos desde o princípio e até hoje no ventre da mãe grávida cuja mão é necessária para criar a obra de arte que está dentro desse corpo. A parte mais importante do corpo que Ợbàtálá cria é o Ori, que representa, além da consciência e da mente do indivíduo, contém o destino que é entregue por Àjàlá Mopin, aquele que molda os destinos no Ợrùn antes de alguém nascer.
Diz-se que é Ògún quem provém os ossos durante o ato da criação de Ợbàtálá quando o feto se forma. Mulheres que querem filhos pedem ajuda a Ợbàtálá, como primeira ou última opção. E seus sacerdotes muitas vezes usam água límpida de seu pote de barro chamada de ‘Awe’, que é sempre encontrada ao lado de seus ícones sagrados em seu Ojugbò. Essa água que nesse momento tem que ser chamada de agbo, ou medicina, é bebida para curar infertilidade, prevenir enfermidades, a morte repentina de filhos e inclusive para conseguir o desenvolvimento espiritual e econômico.
Em seu aspecto criador de seres humanos Ợbàtálá também é o òrìşà patrono de pessoas chamadas “Eni Òrìşà”, ou pessoas de Ợbàtálá. Estas incluem os Albinos, Corcundas, portadores de necessidades especiais e anões. Todas as pessoas que nascem diferentes estão sob sua proteção. É Ợbàtálá que na cultura yorùbá nos ensina a respeitar as pessoas que são diferentes ou que tem necessidades especiais,
Durante a criação dos primeiros seres humanos, diz-se que foi Ợbàtálá quem os moldou com barro, depois de muitas horas de trabalho. Ele bebeu o sumo da palma sagrada (Òpę) quando não havia água limpa perto dele e a sede era grande. Porém, passadas algumas horas com o sol forte, o sumo atuou em sua mente e alguns corpos fabricados nesse período começaram a se deformar. Quando ele ficou bom da embriagues, Ợbàtálá, percebeu seu erro e com muito remorso prometeu nunca mais beber vinho de palma, “Emu òpẹ” e tornou isso tabu para todos os seus filhos até hoje.
Esse conto também nos revela que Ợbàtálá é o pai, de uma forma ou de outra de todos os seres humanos criados.
Ele também tem um aspecto feminino, não somente por meio de sua esposa principal Iyemoo. Porém, o mais interessante, é que são as mulheres que fazem obras de arte utilizando o barro na cultura yorùbá. Ợbàtálá está intimamente ligado a fertilidade e a concepção, algo que é especialidade das mulheres sacerdotisas nas terras Yorùbá.
Não é tão difícil de ver que no ato sexual os casais o sêmen é o representante criativo de Ợbàtálá em sua brancura. O liquido do igbin também tem semelhança com o sêmen e é utilizado para apaziguar e refrescar divindades e até seres humanos.
Um de seus nomes de louvor “Alábáláse”, o dono do desejo e de sua manifestação, nos ensina que para poder criar Ợbàtálá utiliza todos os seus poderes.
É dito que em sua mão direita está o poder de manifestar ideias ou ‘aba’, enquanto que em sua mão esquerda está o poder da habilidade de manifestar ideias e desejos, ou, Ase.
Ele é uma divindade a quem se ora para ter a habilidade de manifestar o que alguém deseja em seu aparato divinatório, o Eerindilogun, que rapidamente manifesta previsões e é chamado de Òòșà, em honra a ele como a maior das divindades.
Como pai de todos os irunmolè (as divindades em sua pluralidade), ele é um líder respeitado por sua idade e Ợbàtálá tem o poder da liderança imparcial e da paciência.
A origem do culto de Ợbàtálá, que é venerado hoje em dia em todas as partes do mundo, começa em terras yorùbá, cuja grande parte se encontra, no que é hoje a Nigéria e também na Republica do Benin e Togo. Ainda que Ợbàtálá seja uma divindade que existiu antes da criação da Terra em nossa tradição religiosa, Ợbàtálá teve várias encarnações terrenas, exemplos se veem nas maneiras como Ợbàtálá é venerado em diferentes povos onde houve encarnação como Ìrànjé Ile, Ìrànjé Oko, Ifọn, Éjìgbò, Ikire, Owu e etc.
Em alguns casos o aspecto de Ợbàtálá sendo venerado em cada povo, está intimamente ligado ao rei e seus súditos. Um exemplo seria Òrìşà Ogìyán ou Òòşà Ogìyán, Ogìyán é um título do rei de Éjìgbò onde essa manifestação de Ợbàtálá se originou. Para òrìşà Ogìyán se oferece carneiro, enquanto que não é costume oferecer esse animal como sacrifício a outros ‘aspectos’ de Ợbàtálá.
Òòşà Olùfọn, o ‘aspecto’ de Ợbàtálá que nasceu na cidade de Ifọn, como quase todos, enquanto òrìşà Oluofin não pode ter nada oferecido que seja derivado da farinha de mandioca.
Ợbàtálá de verdade é um líder de seu próprio panteão dentro da Tradição Religiosa Yorùb. Ele é o representante maior do grupo de divindades chamadas Òrìşà funfun, divindades que usam tecido branco e outros ícones brancos em seus ojugbò ou ìgbà. Tais divindades tem várias relações com Ợbàtálá, alguns são considerados seus filhos. Alguns desses òrìşà funfun incluem òrìşà Oke, divindade das elevações naturais e rochosas onde se encontram rochas enormes como ´”A Rocha Olúmo”, em Abeokuta, ou “Oke Agidan” em Ọyọ ou o “Oke Ibadan”, da cidade de Ibadan. Também nesse grupo do panteão podemos mencionar Òrìșà Oko, Odùdúwà, Ọșóòsì, Iyemoo, Iyewà e também estão associadas Yemọjá, Òsún e outras divindades.
Um mito comum é de que o sacerdote de Ợbàtálá deve viver na pobreza. Isso é devido ao fato de que alguns de seus oriki o mencionam como alguém que ainda prefere mostrar um ‘aspecto’ simples. O fator simplicidade é importante por que mostra ordem, clareza e humildade. Porém, ninguém na cultura yorùbá quer viver na pobreza e até no corpus literário de Ifá e Eerindilogun mostram muitos exemplos de caráter personificado buscando desenvolvimento econômico por séculos atrás.
Ợbàtálá nos ensina simplicidade e limpeza. É também uma divindade da prosperidade, onde mostra que somente uma pessoa com abundância de recursos pode se manter vestida com o mais imaculado branco. Seu tecido branco, algo essencial em seus santuários, mostra pureza do corpo, do espírito e do caráter. Também representa a pureza do caráter que como o tecido branco, é difícil de manter limpo, porém, alguém sempre tem a chance de se purificar.
A bolsa amniótica representa esse tecido branco de Ợbàtálá, chamado de “ala” e um filho que nasce com o ‘ala’ inteiro tem uma relação com Ợbàtálá desde o Ợrùn. Filhos que nascem dentro da bolsa de uma forma ou de outra, pode ser chamado de “Salako”, “Talabi”, “Òòşàtalabi”, ou “Oke” (não se deve confundir com o nome da divindade Òrìşà Oke) e etc.
Diz-se que uma pessoa de idade avançada tem a paciência por que aprendeu a fazer tudo com calma. Babarugbo é o nome que comumente usamos para Ợbàtálá e seus diferentes aspectos.
Ainda que ele tenha a paciência de uma pessoa idosa, quando de verdade ele se irrita demora muito tempo para perdoar.
Em uma parte de seu ‘pípè’ ou poesia usada para chamá-lo se diz:
Oju ekun ina ina ni, Olùwà mi eyin ekun oòrun, eekanna ekun bi o sai pomo nigba Ori karabasa, agba Òòşà ti ba kini ja ti ba kini ja.
Os olhos do leopardo são fogo, meu senhor a costa do leopardo é como o sol forte, as garras do leopardo podem trazer danos horríveis para a cabeça de uma criança, a divindade maior que luta com todos e em todos os lugares.
O sacerdócio de Ợbàtálá tem sua própria hierarquia composta por homens e mulheres que são sacerdotes de Ợbàtálá com título e classificação dentro de seu grupo, em cada cidade.
Em Ile Ife os sacerdotes com classificação mais alta é o atual Obalale. Antes dele, o Obalesun tinha o cargo de líder mais alto dentro do templo de Ợbàtálá em Ife.
Em outras áreas, especialmente Ọyọ, o sacerdote maior de Ợbàtálá é o Aaje e é quase sempre selecionado dentro de uma linhagem especifica e consanguínea. O Aaje Òòşà é parecido com o Mogba Şàngó, no sentido de que ele é o líder mais alto no sacerdócio de Şàngó, porém, não é um adosu (pessoa que tenha tido sua cabeça raspada durante sua consagração) de Ợbàtálá. Porém existe sua cerimônia de instalação e entronização para exercer sua posição dentro do culto de Óòşààlá. Além de Aaje, também existem outros títulos como Ááwa, Ikolaba, Alata, Gbogbo, Ajibodu, Iyaloosa e etc. Em alguns casos também existe um Aare ou Baale de Ợbàtálá conforme a região.
Durante as cerimônias os devotos e sacerdotes de Ợbàtálá podem cair em transe com a divindade e este dirá mensagens para os demais devotos.
O poder divinatório de Ợbàtálá é feito com alguns objetos, como vários tipos de lentes que se chamam ‘awo’ para poder ver o passado, presente e futuro.
Ợbàtálá revela mensagens através de seus Elegun para ajudar a evitar a morte, acidentes, doenças e etc., e dirá o necessário para manifestar o positivo.
Na cidade de Ifọn, durante as festividades, cerimônias e certas ocasiões é dado uma bebida aos seus devotos chamados ‘egun’ que contém um pouco de sangue dos animais que foram oferecidos a Òòşà Olufon, o aspecto de Obatalá dessa cidade. Ao beber a bebida ‘egun’ eles são levados pelo espírito de Ợbàtálá e muitos caem em transe. Também seus sacerdotes podem se concentrar em seu aparato divinatório chamado Eerindilogun ou “Òòşà” para consultar e ajudar as pessoas que buscam ajuda e orientação em suas vidas.
A palavra Òòşà é um derivada de Òòsáálá, outro nome de Ợbàtálá que vem do final dos dezesseis cauwries consagrados para adivinhação. Se dá o nome de Òòşà a esses, mesmo que seja no culto de qualquer outra divindade e ainda que se diga que o primeiro a ter esse aparato divinatório foi Òsún e Yemọjá, dependendo da região, ele é o verdadeiro possuidor por ser o líder das divindades pela sua idade e por ser o pai deles.
As comidas de Ợbàtálá são mais variadas do que muitos imaginam. Porém, entre os mais típicos que lhe oferecem estão:
O egbo (feito com milho branco), iyan (purê de inhame), obe ate (um guisado que é feito com semente moída de bara, um melão especifico da África), ekuru funfun (uma pamonha envolta e cozida no vapor, feito de feijão fradinho sem casca, sem sal, sem pimenta ou algo picante e sem epo/dendê), eko (mingau feito com milho branco moído – amido de milho), eyin ororo (ovos brancos de galinha preta), oyin (mel de abelha).
Entre seus animais preferidos, que ele recebe como sacrifício incluímos: Igbin (caracol), Eyele (pombo), Eye etu (d’angola), abo adie (galinha), ewúré (cabra) e durante grandes festivais e instalações de sacerdotes de alto escalão no culto de Ợbàtálá se oferece Maaluu (vaca/boi). Todos esses animais são preparados e cozidos para que sua carne seja consumida entre os sacerdotes e seus devotos.
Cada animal tem seu significado ao ser usado como objeto de sacrifício à Ợbàtálá.
O igbin é o antídoto quando se oferece sangue vermelho a Ợbàtálá.
Assim como o lento caracol, Ợbàtálá nos ensina a ser focado em nosso caminho, porém, com passos medidos e sem correria. Também o caracol é oferecido para se ter vida longa.
Enlako é um dos nomes do caracol em yorùbá profundo e esotérico.
O pombo (Eyele) que se oferece a Ợbàtálá representa prosperidade e boa relação por ser uma ave de boa fortuna que sempre tem onde viver, comer, tem um cônjuge por toda a vida e filhos o tempo todo.
A D’Angola (Eye Etu), é um animal intimamente ligado associado a Ợbàtálá. As penas brancas da D’Angola são como as marcas de efún, giz africano, posto pelas mãos de Ợbàtálá.
A cantiga associada é:
Gbogbo ara l’Òrìşà fi f’etu, gbogbo ara.
Todo o corpo da D’Angola foi marcado pela mão do òrìşà (Ợbàtálá).
É um exemplo de como Ợbàtálá pode manifestar bênçãos completas e deixar sua marca positiva na vida dos seres humanos e ainda dar-lhes sua proteção.
Um Òòşà pípè, um poema de Ợbàtálá diz:
Etu o ji tóun taaso, Ọbanlá o ji ire”,
A D’Angola se levantou com seu aaso (osu, chamado de ase do òrìşà em sua cabeça).
Isso mostra que a cabeça pontiaguda da D’Angola é como o ase que se põem na cabeça do novo iniciado ou Iyawo òrìşà. É outra marca de respeito na D’Angola.
Alguns mitos comuns mencionam várias coisas a respeito de Ợbàtálá que quando investigamos em terras yorùbá vemos que não é totalmente correto.
Aqui veremos alguns exemplos:
Ợbàtálá não bebe álcool.
O certo é que dependendo da região nas terras yorùbá, a Ợbàtálá é oferecido oti sekete (tipo de cerveja feita com milho), Otika (tipo de cerveja feita com sorgo) e até oti òyìnbò (bebidas muito fortes como gin ou Siemans schnaps que são bebidas alcoólicas introduzidas pelos europeus e sepe, uma bebida alcoólica forte feita em terras yorùbá).
Aqui no Brasil de forma alguma se oferece bebidas alcoólicas a Ợbàtálá.
Ooşańla é um aspecto de Ợbàtálá ‘fêmea”.
Nas tradições religiosas existem lugares mais desenvolvidos que outros, Ooşańla é a forma transformada de Ooşańla que é simplesmente outro nome para Ợbàtálá na Tradição de Òrìşà na África Ocidental.
Somente animais brancos são oferecidos a Ợbàtálá.
Claro que a cor branca do tecido e outros objetos são de sua preferência. Porém, em muitas áreas das terras yorùbá, podem ser oferecidos animais de outras cores e somente oferecem animais brancos em ocasiões e momentos específicos. A mesma galinha D’Angola não é totalmente branca, ela é cinza com pintas brancas.
Aqui no Brasil de forma alguma se oferece animais que não sejam branco a Ợbàtálá.
Ợbàtálá nos ensina a virtude de ser monogâmico.
Ainda que Yemoo seja sua esposa principal, Ợbàtálá teve várias relações e esposas, incluindo Yemọjá, Òsún e etc.
Em um verso do Odù Ifá Òsé L’Ogbè, Ifá diz:
B’óbìnrin ba n gba’ja mejè meji eyin ko mo pe eruru aye lo de,
Adifa fun Óòşààlá Òsèèrèmagbò,
Eyi ti se oko Awoko nijo ti n lo re fe Jojolo niyawo.
Nesse verso Ợbàtálá estava casado com Awoko, porém decidiu pegar Jojolo como esposa também, para que esta pudesse ajudar em casa com as tarefas domesticas.
Awoko era sua esposa preferida, porém, quando soube do ciúme, ela tomou a habilidade de Ợbàtálá ter ereção.
Obatalá não pode ter relações sexuais com Jojolo e teve que fazer ebo para poder convencer Awoko a retornar e devolver-lhe o poder que ele mesmo havia dado a sua esposa favorita.
A cultura yorùbá aceita a poligamia, porém, não adota uma posição formal de qual estilo de vida conjugal é a melhor. Ambos os estilos de vida, monogâmica e poligâmica tem seus prós e contra como nos ensina Ifá.
Foi Ợbàtálá quem escolheu os dias de veneração de cada òrìşà e criou a semana tradicional yorùbá de quatro dias, enquanto Ọrúnmìlà deu os nomes a esses dias da semana yorùbá.
Esses dias são:
Ose Awo, Ose Òòşà, Ose Ògún, Ose Jakuta.
O primeiro e o último dia da semana é totalmente sujeito a cada sacerdote e é o dia de fazer serviço para sua divindade.
O que é certo é que Ợbàtálá separou um dia para Ifá, um dia para Ògún e também um dia para ele mesmo. Logo Şàngó ficou ofendido por não ter sido incluído, ele fez muito barulho para ganhar sua posição entre os dias de serviço religioso chamado: “Ose”.
Nos dias de serviço para Ợbàtálá cada devoto mostra seu agradecimento e oferece suas orações em frente ao igba/Ojugbò de Ợbàtálá.
Em nossos dias a menor oferta possível para Ợbàtálá seria um Obi e omi tutu (água fresca). O indivíduo recita oriki ou nomes de louvor de Ợbàtálá para chama-lo e render um breve ìbà ou Ijùbá (ação de render homenagem) e agradece a Òlódùmarè (Deus supremo), seus antepassados e aos sacerdotes falecidos para que sua oração seja apoiada por todas as forças espirituais. O indivíduo em seguida lançará o Obi para saber se suas orações foram aceitas.
Uma porção dos segmentos do Obi se põem em cima do igba de Ợbàtálá e borrifa-se omi tutu em cima do igba como um ato de libação pedindo abundância e vitórias sobre inimigos e adversidades. O devoto ou sacerdote também divide o Obi e a água comendo e bebendo como um ato de comunhão com a divindade. Nos dias de Ose também se pode fazer orações com Obi para outros membros da família ou amigos. Em seguida, também compartilha-se o obi e a água.
Em outras ocasiões se pode oferecer algumas de suas comidas preferidas como Iyanle (a primeira porção de alguma comida para as divindades). Em seguida se oferece a porção a divindade, é essa comida que os devotos comem depois de servidos.
Nos dias de serviço mais importantes como seu Itadogun (cada décimo sétimo dia) pode-se tocar os tambores favoritos de Ợbàtálá chamados de Igbin ou também Sekere em sua honra, onde os devotos dançam e cantam para Ợbàtálá. O tambor igbin representa uma das esposas imortal de Ợbàtálá e que também recebe sacrifícios como um dos objetos sagrados e dedicados a Ợbàtálá.
É nesses dias de serviço e festas em honra a Ợbàtálá que especialmente as mulheres que se especializaram em recitar seus nomes de louvor em versos de Ợbàtálá.
Esses poemas se chamam Òòşà pípè e é imprescindível nas consagrações de novos iniciados em Ợbàtálá ou na consagração de seus objetos sagrados. Essa literatura é um corpus completo que mostra todas as características, origens, gostos, proibições e outras informações importantes e profundas sobre esse òrìşà.
Alguns avatares de Ợbàtálá em terras Yorùbá:
– Òòşà Olufon
– Òòşà Oluofin
– Òòşà Popo
– Òòşà Ogìyán
– Òòşà Rowu
– Òòşà Alajo
– Òòşà Ikire
– Òòşà Ìrèlè
– Òòşà Ajagémó
– Òòşà Ajaguna
– Òòşà Ojuna
– Òòşà Obanimoro
– Òòşà Obaso
Povos importantes na veneração de Ợbàtálá:
– Ile Ife
– Iranje (está dentro de Ile Ife)
– Ifọn
– Ede
– Iwofin
– Ọyọ
– Éjìgbò
– Ogbomoso
– Iseyin
– Ikire
– Ikirun
– Owu
– Osogbo
Fontes:
Oloye Babalòòşà Iwintola Faronbi Ojoawo da linhagem Ajanbata em Ọyọ
Oloye Iyalòòşà Adunola Ayoka Dalemofòòşà da linhagem Onto em Ọyọ
Oloye Adedoyin Talabi Olayiwola, a Yèyé Apenimo da linhagem de Iya Dudu, Osogbo
Oloye Fakayode Faniyi, o Agbongbon Awo de Osogbo da linhagem Agbongbon Oderinlo, Osogbo
Oloye Kehinde Osundara Oyawale, a Iya Ợya de Osogbo
A dinâmica do uso de Ervas no Candomblé
Posted in Candomblé on Fevereiro 17, 2016| 16 Comments »

Nos últimos 100 anos, o Brasil e a África têm compartilhado uma série de informações acerca do culto aos “Deuses africanos”, “Heróis divinizados”, Orixás, Jinkissi, Vodun etc., em busca de um purismo religioso que, pregam os mais tradicionalistas, resgatam as verdadeiras raízes da religiosidade.
A África e a América do Sul já compartilham muitas coisas há muito tempo, inclusive suas terras durante milhões de anos. Muitas das plantas e animais de ambos os continentes são semelhantes, seja por que são aparentadas, pertencentes à mesma família, segundo a ciência, ou por que evoluíram para exercer a mesma “função” em seu meio ambiente, um fenômeno chamado de “evolução convergente”.
Como se não bastasse as culturas se misturarem pelo vai e vem das naus há quinhentos anos, às vezes nem se sabe direito o que é originalmente africano, americano, europeu, oriental etc, e em se tratando do Candomblé e do uso das ervas, ainda mais!
Muitos dos vegetais que utilizamos em nossos rituais mais sacramentados não são africanos de origem, e sua inserção no culto aos Orixás tem origens e histórias das mais diversas. O Boldo vem da cordilheira dos Andes, o Abacaxi é sul-americano e Brasileiro por excelência, a Lavanda, a Alfazema, o Manjericão e o Alecrim são Europeus, a Mangueira vem da Índia, a Colônia é Tailandesa, a Maria-sem-Vergonha e o Quebra Pedra, por mais comuns que sejam por aqui, são verdadeiramente africanos, já o Caruru e o Mulungu, existem espécies tanto africanas quanto americanas, e o coqueiro vegeta espontaneamente em litorais de todo o planeta há milhares de anos.
Talvez o exemplo mais dramático seja o Milho. Todo iniciado logo aprende que um bom Acaçá agrada a todos os Orixás, e que poucas coisas agradam mais a Obatalá do que o Ebo feito com canjica, cujos grãos mais brancos foram escolhidos um a um e bastante cozidos, até ficarem bem macios, assim como sabe que pipocas são a principal oferenda à Obaluaiê, ainda mais quando estouradas na areia das praias.
No entanto, essas iguarias não são feitas com um grão vindo de uma planta originária da África. O Milho é uma gramínea, parente dos Capins, Bambus e Gramas, e é a forma doméstica do Teosirito, um matinho que, se olhar de relance, acha que é capim qualquer, que foi selecionado e desenvolvido há pelo menos 5 mil anos atrás pelas avançadas civilizações que habitavam a região aonde, hoje, é o México, e seu cultivo foi espalhado pelos indígenas por todo o continente americano, do Canadá ao Chile, e ilhas do Caribe. Foi levado para as colônias europeias na África após o “descobrimento”, há “apenas” uns 500 anos.
Se o culto aos Orixás, Voduns e Jinkisi tem milhares de anos, é improvável que o Acaçá sempre tenha sido como o conhecemos hoje, que os primeiros Ebó oferecidos a Obatalá fossem feitos de canjica e, nas lendas milenares de Obaluaiê, tenham se ofertado pipoca de milho. O Inhame substituiu o milho branco em muitas de suas atuais aplicações e o Sorgo, um grão pequeno, nativo do Oriente médio e cultivado por todo norte da África, muito provavelmente produziu pequenas pipocas oferecidas ao longo dos séculos.
O Africano entende o culto de uma forma pouco diferente da nossa, mais dinâmica e abertos às novidades, às oportunidades e ao progresso de sua sociedade, sem abandonar sua essência. Poderia citar vários precedentes, como o uso do rifle, que só surgiram no mundo ocidental por volta do século 15, como uma das representações mais importantes de um dos mais antigos sistemas oraculares do mundo, o Ngombo dos povos Bantu, sobretudo a etnia Tchokwe. Essa mesma dinâmica aplicou-se ao negro quando escravizado nas Américas, que aproveitou o que havia em mãos para continuar com seus rituais. Um bom exemplo é o Teteregun!
A planta original, o Teteregun (para os Yorubá) ou Muengi Mujolo (para os Bantu, dentre outos nomes) é conhecido pela ciência como Costus spectabilis, nome e sobrenome, ou melhor, gênero e espécie. Nas Américas, uma prima próxima, Costus spiralis, substituiu o Teteregun tão bem que a pequena diferença no aspecto da floração nem foi considerado, até por que as qualidades medicinais, o odor e o sabor das folhas quinadas são praticamente iguais aos de sua prima africana.
Para complicar ainda mais a equação, diversas etnias africanas foram espalhadas por toda a imensidão do Brasil, aonde tiveram contato não apenas umas com as outras, mas com indígenas de etnias diferentes e também diferentes espécies e variedades de plantas. O resultado é que muitas dos nomes aos quais nos referimos as ervas que usamos em nosso culto designam diversas espécies de plantas diferentes, muitas vezes sequer aparentadas. O que se chama de Inhame é conhecido como Cará no Sul e Sudeste, e vice-versa no restante do país. Um é uma trepadeira africana, Dioscorea sp.*, o outro é uma planta de raízes tuberosas nativa dos pântanos do extremo oriente, Alocasia sp.*. O Orinrin de Oxum ou Ewe Rinrin pode designar a Erva Jabuti, Peperomia pellucida, a Alfavaquinha de Cobra, Monniera trifolia, ou a Serralha, Sonchus oleraceus, plantas completamente diferentes, mas com qualidades medicinais bastante semelhantes, por mais improvável que isso possa parecer.
O critério utilizado para rebatizar espécies de plantas, em muitos casos, não se baseia na semelhança física como aconteceu com o Teteregun, e sim nas qualidades medicinais e, por que não dizer, no Axé que cada folha carrega e como ela responde às rezas feitas em sua intenção. Não há dados específicos, mas provavelmente os primeiros dirigentes testaram as folhas que encontravam para avaliar se poderiam utilizá-las em substituição às folhas originais que encontravam na África.
Por isso quando receber uma lista de ervas que você precisará providencias para um ebó, sacudimento, bate folha ou outro ritual, e se deparar com fotos e informações de diferentes tipos de plantas por aí, converse com os mais velhos e conheça qual é a planta a que eles se referem especificamente. Isso é muito importante, pois plantas muito parecidas podem ter resultados completamente diferentes e até mesmo perigosos.
Conheci uma filha de Obaluaiê que passou um banho para um consulente no qual iriam algumas folhas de Guiné. O problema é que a Guiné é basicamente tóxica, e dentre as diversas espécies que chamamos de Guiné, algumas são mais venenosas que outras. Esse consulente acabou usando uma das variedades mais tóxicas e em grande quantidade, e teve uma séria reação alérgica que gerou pústulas por todo o corpo e alguns dias de internação, o que deu um trabalho danado a todos do ilê, não apenas em rezas e acompanhamento dessa pessoa, mas por que receitar compostos de ervas, sobretudo para uso interno (beber ou comer) caracteriza crime de prática de medicina ilegal, pena de três a seis anos de cadeia e uma multa bem pesada! Por misericórdia de Oxalá, tudo deu certo nesse caso.
O conhecimento e o uso das folhas em nossa religião é essencial e fascinante, mas exige grande responsabilidade. Saber reconhece-las é um aprendizado essencial. Como boa parte dos mistérios em nossa riquíssima religião, desvendá-los leva algum tempo e muita dedicação.
* O termo sp. é usado, dentre outras aplicações, para denominar um grupo de diversas espécies que são classificadas no mesmo gênero e recebem a mesma denominação popular.
Texto: Alexandre Avari – ( Bizziboy o babalosanyin do blog )
O Odù Òfún L’Ogbè diz
Posted in Candomblé on Fevereiro 14, 2016| 4 Comments »
A traição enviou os irmãos ao combate, a falta de respeito a uma advertência do oráculo (Ifá/Ọrúnmìlà/Òsún) provocou a morte, o rompimento de relações e destruiu uma família.
O mito (conforme o autor) narra a história de três Irunmolè, Odé, Ògún e Ợya. A verossimilhança pode estar intrínseca, como pode estar metaforicamente espalhada dentro do Itọn. As lições são várias, as percepções idem e o mais importante:
Levar o aprendizado para o nosso dia a dia, esta é a essência de nossa cultura espiritual.
Boa leitura.
Òfún’L’Ogbè
Quando alguém é advertido
E este alguém escuta e aceita a advertência.
A vida será mais fácil e cômoda para ele.
Quando alguém é advertido
E respeita e obedece a advertência
A vida será mais fácil e cômoda para ele.
A recusa em ouvir
A Advertência de ter atenção, é negada.
Odé (o caçador) o Áwo lhe deu uma medicina preparada de Ifá.
Quando Odé iria à floresta para seus sete dias usuais.
Expedição de caça.
Odé foi advertido para fazer ẹbợ.
Para que a expedição fosse abençoada.
Ele foi proibido de beber.
Marca tribal na frente, cidadão de Ègbá.
Marca tribal no pescoço, cidadão de Èsà (Ìjèsà).
Pòrògún Matúyèrì filho de Olúweri (deusa do rio)
O cidadão de Ìjàyè está regressando de Ìjàyè.
A esposa mais velha revelou o segredo de minha identidade.
Itọn
Mais uma vez, era mais uma expedição de Odé onde os usuais sete dias seriam usados.
Como de costume ele foi ao seu Áwo para consultar Ifá. Odé foi fazer ẹbợ. Foi dito para alimentar Èşù. Ele também foi advertido para evitar bebidas e ter muito cuidado. Odé adiou o ẹbợ e saiu para a floresta para caçar e planejou fazer o ẹbợ quando retornar-se.
Sem mais nada a resolver Odé entrou na floresta, quando algo muito raro aconteceu. Na sua frente de pé e perto de um Ìrókò três Àgbònrín (cervo), enquanto Odé ajustava sua arma para um bom tiro, os três àgbèrín se transformaram em três mulheres lindas, ele ficou assombrado. Ele imediatamente pensou em esperar e ver o que aconteceria em seguida. Com as peles de animais em suas mãos e sem premeditar a presença de Odé, os animais tornaram-se senhoras cujos nomes eram: Kéké l’ojù, Alábàjà l’Ợrùn e Pòrògún Matúyèrì, golpearam três vezes a árvore de Ìrókò.
A cada golpe elas diziam: O Osílèkùn, sì’lèkùn, guardião do portão abra a porta.
O Ìrókò abriu a porta no terceiro golpe e as senhoras puseram seu áwo (as peles) em três compartimentos separados dentro do Ìrókò, Elas saíram e foram ao mercado.
Quando Odé teve certeza que elas haviam ido embora ele saiu de seu esconderijo. Ele foi diretamente ao mesmo Ìrókò tentando refugiar-se e golpeou a árvore três vezes. A cada golpe ele dizia as mesmas palavras que as três senhoras disseram: O Osílèkùn, sì’lèkùn.
O Ìrókò abriu o portão para Odé. Odé pegou a pele das senhoras e pegou uma rota mais rápida para sua casa. Chegando a casa ele foi diretamente ao sótão e escondeu as peles. Enquanto as peles estavam escondidas ele tomou uma rota mais rápida para o mercado. Odé supôs que elas estariam neste mercado, pois este era o mercado mais importante e todo dia 17 era um dia muito especial para os negócios. Odé viu as senhoras e se chegou para perto delas. Ele as saudou como se as tivesse conhecido há muito tempo. Isto era um mau agouro para elas, pois elas pensavam que nenhum humano as conhecesse ou soubessem de suas identidades, elas ficaram transtornadas. Elas foram para longe do mercado e andaram muito rápido, o mais rápido que suas pernas pudessem levá-las.
Elas correram até ficar longe das vistas dos seres humanos. Uma vez dentro da floresta, elas foram rapidamente à árvore de Ìrókò para recuperar suas peles. Sem que elas soubessem, Odé as seguiu, porém, ele guardava uma distância segura. Quando elas chegaram e golpearam a árvore e chamaram Osílèkùn três vezes para abrir a porta, as senhoras ficaram apreensivas quando o Ìrókò não lhes abriu a porta.
Elas chamaram freneticamente por Osílèkùn, porém, não havia uma resposta, elas estavam tentando entender o que poderia ter acontecido de mal quando Odé apareceu. Odé saudou as três senhoras mais uma vez, porém agora ele as felicitava por sua beleza. As senhoras suspeitavam de Odé lhe perguntaram por que ele estava seguindo elas furtivamente. Odé lhe disse que tinha o que elas estavam procurando. Surpresas as senhoras perguntaram:
O que você pensa que nós estamos procurando?
Odé lhes disse que elas procuravam por suas peles. Ele disse como foi que elas se se metamorfosearam em sua frente, mas cedo neste mesmo dia. Com raiva, elas exigiram suas peles de volta. Odé lhes disse calmamente que elas teriam que negociar para recuperar suas peles. Como Odé estava em uma posição de superioridade, elas mudaram a abordagem para convencê-lo a devolver suas peles. Odé disse que devolveria as peles se da parte delas houvesse uma posição de cooperação, elas perguntaram o que ele queria e qual era a condição.
Em vez de uma resposta direta, Odé perdeu muito tempo, ele começou uma conversa amistosa para relaxar as senhoras.
Enquanto as senhoras se descontraiam elas foram ficando amistosas, Odé falou que lhes devolveria suas peles com a condição de todas se casarem com ele. A oferta de Odé não surpreendeu as senhoras por que elas se anteciparam e estavam orando antes dele para que a proposta se concretizasse. Antecipadamente, no entanto, elas disseram que pensariam sobre isso, No futuro elas disseram à Odé que elas se casariam, porém, elas também teriam suas próprias condições e Odé deveria considerar. Odé disse que estava preparado para encarar qualquer condição e com igual respeito prometeu elevar os termos e as condições. As senhoras disseram à Odé que cada uma delas tem um tabu e que ele não deveria rompê-lo, esta era uma condição para se casarem com ele. Elas também disseram que não gostariam que quaisquer dos três tabus fossem quebrados, pois elas iriam embora imediatamente se isso acontecesse. Odé prometeu que respeitaria seus tabus. Ele também prometeu que nunca diria a ninguém sobre este fato, de que elas são animais acima de tudo. Com o voto solene de Odé as senhoras começaram a dizer seus tabus.
A senhora cujo nome era Kéké-l’ojù foi a primeira a falar. Kéké-l’ojù disse à Odé que seu tabu era Ilá (Okrà – quiabo), ela disse que nunca deveria ver comer ou ser oferecido Okrà em hipótese alguma, mesmo que ensopado/sopa ou como parte de qualquer comida. Odé disse que ele obedeceria e respeitaria seu tabu.
A segunda senhora Alábàjà – l ’Ợrùn disse que seu tabu era uma pilha de madeira e que ela nunca poderia cair em sua presença. Odé disse que entendia e prometeu guardar e respeitar seu tabu.
A terceira senhora, filha de Pròrògún – sùsú Olúweri (deusa do rio) disse que seu tabu era uma panela de água entornar ou ser jogada no solo em sua presença.
Odé prometeu respeitar seu tabu igualmente às outras. Depois dos votos, Odé e suas novas esposas saíram para sua casa no povoado.
Chegando a casa, Odé as colocou para dentro, ainda que, os membros de sua família, amigos e vizinhos curiosos ficassem olhando fixamente. Esta introdução não foi o bastante para satisfazer a curiosidade das pessoas, principalmente de seu irmão, que se sentiu no merecimento de saber tudo a respeito das misteriosas esposas de Odé. Amigos, vizinhos e outras pessoas também queriam saber mais sobre as esposas de Odé. Muitas perguntas amistosas foram feitas as três esposas pelo irmão de Odé, pelos membros da família, vizinhos e amigos que não renderam nenhum resultado. Logo, historiam fantasiosas e diferentes sobre Odé e suas esposas começaram a circular. Para salvaguardar o sagrado juramento feito a suas esposas, Odé não prestou atenção aos rumores. Os rumores tampouco molestaram suas esposas. Em outra fase, todos exceto o irmão de Odé, deixaram de fazer perguntas sobre as esposas. O irmão insistia que era merecedor de conhecer o mistério por traz deste casamento.
Durante muito tempo as coisas ficaram fáceis na casa de Odé, sua vida melhorou e ele estava contente com suas esposas e os muitos filhos que elas deram à luz para ele. As esposas também estavam contentes e elas respeitavam seu marido por ter seus tabus guardados no mais alto respeito. No entanto, esta felicidade e os segredos de Odé não durariam para sempre. O irmão ciumento de Odé que havia inventado muitas e até então não tinha conseguido truques para obter informações, propôs um plano diabólico. O seu plano agora seria embriagar Odé, então colocaria pressão em Odé para que ele revelasse a identidade de suas esposas. Até então, ele vinha evitando a bebida de acordo com as instruções de Ifá, ainda que não tenha feito aquele ẹbợ. Quando o irmão de Odé estava firme em seus propósitos ele convidou Odé para um bate-papo familiar. Sem suspeitar de nenhuma malicia, Odé aceitou o convite de seu irmão e foi ao seu encontro. O irmão mais velho sabia que Odé havia parado com a bebida há muito tempo, porém, ele preparou um embriagador misturado à bebida e ofereceu à para Odé beber dizendo que essa bebida era preparada para relaxamento. Ele não suspeitou que fosse drogado. Odé tomou a bebida e foi dormir quase que imediatamente. Antes de desmaiar, no entanto, o irmão mais velho, trabalhou para saber de Odé o segredo de suas esposas misteriosas. Em seu estado de inebriante, Odé divulgou os tabus de suas esposas, inclusive disse ao irmão sobre as peles que estavam escondidas no sótão. O irmão mais velho ficou contente em saber o segredo, pois ele desejava usar esta arma futuramente. Porém enquanto o irmão mais velho trabalha com Odé para descobrir estes segredos, sua esposa que estava escondida escutou tudo, pois ela também estava ansiosa para conhecer os segredos das esposas de Odé.
Ao ouvir falar dos segredos das esposas de Odé, a cunhada de Odé (esposa de seu irmão mais velho) propôs uma atitude contra as esposas de Odé. Ela começou passando comentários bobos sempre que estava perto das esposas de Odé, somente para que elas soubessem que ela sabia sobre seus segredos. As esposas de Odé ignoraram os comentários desta trama, porém, estavam angustiadas sobre a verdade sobre a verdade inerente aos comentários. Para saber a verdade, elas pediram a seu marido, Odé, para informá-las se ele havia dito alguma coisa sobre seus segredos a alguém. Odé disse que não contou nada a ninguém desde que ele realmente tivesse conhecimento suficiente, a não ser quando seu irmão o fez ficar bêbado. No entanto sua esposa disse a ele sobre a perturbação repentina causada por sua cunhada, com comentários estranhos. Odé aliviou seus medos e as informou que isto era uma maneira da mão direita de sua cunhada para conseguir com que elas falassem. Por traz de sua face, Odé estava muito preocupado e angustiado, por que sua cunhada também relatou fatos perto da verdade. Entretanto, a família de Odé e de seu irmão viviam no mesmo complexo de casas como era costume na nação yorùbá. Esta coexistência tradicional proporcionou a cunhada de Odé tornar possível o rompimento dos tabus das esposas de Odé, ela concretizaria seu plano diabólico.
As esposas de Odé e sua cunhada foram em conjunto fazer suas tarefas noturnas, quando a esposa do irmão mais velho de Odé pegou uma panela cheia de quiabo e começou deliberadamente a cortá-los. Na metade do caminho ela foi para o quintal e pegou um monte de madeira que ela havia escondido, ela pegou a pilha de madeira e deixou cair perto da esposa de Odé. Quando ela terminou de deixar cair à pilha de madeira ela entrou e pegou uma vasilha com água colocou sobre sua cabeça e deixou cair em frente a esposa de Odé. Tudo foi feito com o esforço e intuito de quebrar os tabus das esposas de Odé. Odé e as esposas ficaram estáticas com a maldade em curso. Elas foram com raiva para cima de seu marido. Porém a esposa do irmão mais velho não tinha terminado com seu plano, ela foi mais adiante e chamou as três mulheres de animais dizendo:
Não neguem o fato de que vocês são animais e eu sei onde estão suas peles. Seu marido as guardou no sótão.
Ela foi embora, não sem antes fazer comentários amargos. Deixando as esposas de Odé desconcertadas. De fato, elas pensaram que seria muita coincidência admitir que seu marido não houvesse dito nada. Quando elas se recuperaram do susto que a esposa do irmão mais velho as fez passar pelas grandes revelações, elas foram até o quarto de Odé, investigaram o sótão e conseguiram suas peles. O próximo passo delas foi arrumar suas coisas, seus pertences e de seus filhos e saíram de casa para a floresta, sua casa original, junto com seus filhos. De alguma forma, mesmo longe de casa, Odé teve um pressentimento que alguma coisa estava errada com sua família. Ele fez um desvio e voltou para sua casa imediatamente.
Em seu caminho de volta, no entanto, Odé encontrou com sua família inteira. Uma avaliação rápida da situação o alertou que suas esposas não estavam bem. Ele perguntou por que elas estavam indo embora. Elas disseram que sua cunhada sabia de seus segredos e rompeu com todos os seus tabus e ela inclusive disse onde suas peles estavam escondidas. Odé foi emudecendo e quase desmaiou. Quando ele recuperou a normalidade ele pediu a suas esposas por perdão, dizendo: Eu não sei como minha cunhada soube do segredo de vocês, quem sabe ela não seja uma bruxa.
Ele pediu para que elas não o deixassem, porém, elas o recordaram do acordo original e reiteraram que elas tinham que sair. Odé foi para casa com o coração estraçalhado. Ele foi diretamente ao seu irmão que morava no mesmo complexo. Ele encontrou seu irmão e lhe perguntou como ele conseguiu a informação sobre suas esposas, om irmão disse que não sabia sobre o que ele estava falando. Neste instante Odé recordou que seu irmão havia lhe embriagado, no entanto, ele desafiou o irmão a negar o fato que ele recebeu a informação dele enquanto ele (o mais velho) o embriagava. Uma discussão acalorada se desenvolveu e Odé matou seu irmão, pois estava com muita raiva.
Ase.
Tradução Odé Ợlaigbo
Ifá Dida 2
S. Popoola.
Sobre as verdades religiosas de cada um.
Posted in Candomblé on Fevereiro 8, 2016| 4 Comments »
Ègbé,
Me deparei com esse texto do Ogá e Babalawo Márcio Alexandre no site da Mãe Cléo e aqui reproduzo fielmente, pois concordo em gênero, número e grau.
Me incomodam profundamente as discussões, muitas vezes sem fim, sobre as verdades dentro da nossa tradição religiosa do Culto aos Orixás.
Quando falo em Culto aos Orixás, refiro-me especificamente ao Candomblé e ao Culto de Ifá, que são cultos Yorubás distintos e complementares. Cada um com seu viés, o candomblé como reconfiguração brasileira do Culto Lesse Orixá e Ifá como culto relacionado ao destino, regido pelo Orixá Orunmila.
Estes cultos surgidos, sim, na África, se reconfiguraram na Diáspora e, em alguns casos, preservaram-se de forma que nem mesmo existe mais no continente Africano.
Ora, é sabido que em fins do século XIX e início do século XX, houve uma série de intercâmbios entre África e Brasil para que se resgatasse aqui o que havia se perdido por lá.
No entanto, a cada dia surgem novas “verdades”, novas divindades, novas formas de se dar comida ao santo, novas formas de cantar e dançar, quase sempre jogando o que foi construído aqui na vala comum do erro, como se a única e absoluta verdade fosse aquilo que chega recriado e com roupagem de tradicional e puro.
O mesmo acontece com Ifá. Chamam a nós, da tradição afro-cubana de loucos e inventores, se esquecendo que a Ilha preservou Ifá tal como o recebeu dos velhos africanos que lá chegaram desterrados. Praticamos Ifá como o recebemos há 200 anos e todos nossos ritos e normas estão preservados não variando de país para país, como acontece aqui no Brasil onde vemos diletos africanos fazerem coisas que jamais fariam em seus países.
Meus incômodos partem de três premissas:
A primeira é que falta convicção religiosa àqueles que, de uma hora para outra resolvem jogar fora tudo aquilo que aprenderam porque alguém disse que está errado ou porque ” em África” é assim.
Em segundo lugar me incomoda a relação desrespeitosa que se estabelece entre estes neo-convertidos, com a tradição que abandonaram como se a partir de agora fossem eles os portadores da verdade absoluta.
Por fim, e não menos importante, incomoda-me o sujeito que fez umas duas ou três viagens à África, visitou meia dúzia de povoados e volta como se fosse o maior especialista da face da terra achando que todos os que estão por aqui são umas bestas quadradas que anseiam pelo seu saber único e inigualável.
A verdade está naquilo que nos faz bem, nos traz bons resultados, e nos dá paz de espírito. Pouco me importa se em algum canto do mundo Xangô não come quiabo. O que me importa é que há 500 anos damos quiabo a ele no Brasil e ele sempre nos respondeu.
Certa vez um dos primeiros teólogos da Igreja Primitiva escreveu sobre a existência real de Jesus Cristo, pois nunca houve provas históricas de sua existência: “a mim pouco importa se ele existiu ou não, o que importa é que eu creio”.
Assim é meu pensamento. Não me importam as verdades de cada um. Importa no que creio e disso não abro mão. Um religioso que abre mão de suas crenças é um fraco, um irresponsável e um inconsequente com aqueles que o seguem.
Claro, não devemos ser bitolados e nem fundamentalistas, devemos sempre buscar aprender e conhecer coisas novas que venham como aporte, um robustecimento daquilo que já sabemos. Sabemos que em nosso Culto aos Orixás por mais que vivamos nunca aprenderemos tudo. Mas há um limite e ele está naquilo em que não confronta com o que aprendemos, pois também nossa religião se pauta em costumes e tradições, legados fundamentais deixados pelos nossos mais velhos.
Suas verdades, nossas verdades, minhas verdades. Assim vivemos e assim seguimos. Quero muito aprender e conhecer coisas novas, mas minha verdade está totalmente baseada naquilo em que creio e disso não abro mão. Do mesmo jeito que não imponho minhas verdades a ninguém não aceito que imponham as suas a mim. Isso é postura da qual não me arredo um passo.
Ashe to iban eshu.
Iboru, Iboya, Ibosheshe
Texto: Ogá , Babalawo Marcio Alexandre Obeate Ifairawo