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Archive for Fevereiro, 2014

Èsù Okoto

okoto 2

O Senhor da evolução, representado pelo caracol.

Diferentes origens de Èsù são narradas em diversos itan de Ifá. Uma delas, que determina a ligação existente entre Èsù e Òrúnmìlá, contida no Odù Ogbè ‘Òkánrán, conta que:

Quando Olódùmarè e Obàtálá estavam começando a criar o ser humano, criaram, antes, a Èsù. Tendo visto Èsù na casa de Obàtálá, Òrúnmìlá demonstrou o desejo de possuir um, mas foi-lhe recomendado que voltasse um mês mais tarde porque tudo o que vira estava ainda em fase experimental. Inconformado, Òrúnmìlá insistiu tanto que Obàtálá resolveu atender à sua vontade, orientando-o para que pusesse as mãos sobre a cabeça de Èsù e que, voltando para casa, fizesse sexo com sua mulher. Tudo foi feito de acordo com a orientação de Obàtálá e, doze meses depois, Yebìirú, mulher de Òrúnmìlá, deu à luz um filho do sexo masculino e porque Obàtálá dissera que a criança seria Alágbára (Senhor do Poder), Òrúnmìlá resolveu chamá-lo de Elégbára. Logo que seu pai pronunciou seu nome, a criança começou a chorar e a dizer: Iyá, iyá, ng o je eku – (Mãe, mãe, eu quero comer preás). Ouvindo os apelos de seu filho, a mãe respondeu de imediato: Omo naa jeé! – Filho, come, come! Omo l’okun, – Um filho é como contas de coral vermelho, Omo ni de – Um filho é como cobre, Omo ni jìngìndìnrìngìn, Um filho é como uma alegria inextinguível, A mu se yì, mù s’òrun – Uma honra apresentável, que nos Ara eni. – nos representará depois da morte. O relato se estende mostrando como Esù, servido por sua mãe, devorou todos os quadrúpedes, aves e peixes e, não tendo mais nenhum animal sobre a face da terra, engoliu a própria mãe. Assustado com o ocorrido, Òrúnmìlá consultou o oráculo e lhe foi recomendado fazer um ebó composto de uma espada, um bode e quatorze mil cawuries (búzios).

Feita a oferenda, Òrúnmìlá aproximou-se de Èsù, que não parava de chorar e de gritar.

“Bàbá, bàbá, ng ò je ó ó!”

(Pai, pai, eu quero comê-lo!)

Berrou o menino.

Òrúnmìlá, então, cantou a canção da mãe de Èsù e quando este se aproximou para devorá-lo, atacou-o com a espada do ebó. Èsù foi então cortado em duzentos pedaços e cada pedaço transformava-se num novo Yangi, num novo Èsù. A perseguição se estendeu pelos nove òrun e, em cada um deles, Èsù era seccionado em duzentas partes e cada uma delas se transformava num novo Yangi. No último òrun, depois de ser novamente retalhado, Èsù propôs um pacto a Òrúnmìlá: Cada Yangi seria uma representação sua e Òrúnmìlá poderia consultá-los e mandá-los executar trabalhos sempre que fosse necessário. Òrúnmìlá, então, perguntou-lhe por tudo o que havia devorado, inclusive sua mãe, e Èsù respondeu:

“Òrúnmìlá kí o maa kési oun bí ó bá féé gba gbogbo àwon nkan bi eran ati eye tí òun ó máà ràn án lówó láti gbà padà fún láti owo àwon Omo aràyé”.

(Òrúnmìlá deveria chamá-lo se ele quisesse recuperar a todos e cada um dos animais e aves que ele tinha comido sobre a terra; ele, Èsù os assistiria para reavê-los nas mãos dos seres humanos).

O que a lenda ensina é que Èsù é um só subdividido em incontáveis partes e desta forma, todos os seres humanos, animais e vegetais, assim como os próprios òrìsà possuem os seus Èsù individuais. Èsù é o comunicador, o intermediário, o policial, o juiz e o carrasco e, da mesma forma que castiga os malfeitores, premia aqueles que agem corretamente. Èsù é, portanto, a divindade de maior atuação no contexto religioso da religião dos òrìsà. Èsù resulta da interação de Obàtálá e Odùdúwà e como o primeiro elemento procriado seria a personalização da energia que reúne os átomos, possibilitando a diferenciação da matéria a partir de uma essência única. Ele é o grande transformador, o comunicador, o intermediário entre os homens e as divindades e entre estas e o supremo criador.

O exposto acima é uma compilação do livro Èsù a Pedra Fundamental.

Àse.

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É recorrente e bastante cotidiano nos chegar vários leitores diariamente dizendo que querem sair da casa na qual foram iniciados pelos mais variados e discrepantes motivos. Fora deste mundo virtual eu – e presumo que todos os religiosos – vejo com alguma recorrência isso também acontecer com uma facilidade surpreendente: iyawôs que trocam de casa, que saem pulando de uma em uma e passam os anos que deveriam aprender a serem bons egbomis passando temporárias estadias em diferentes lugares.

Por outro lado, há alguns problemas de ordem interna ou de administração de casa que acabam por fazendo o iyawô tomar essa decisão drástica e ficarem perdidos por apenas quererem uma casa pra permanecer, pra sentir bem o seu orixá longe dessa bagunça de troca-troca anual de casa tão vista por aí.

Nunca parei pra pensar sobre isso antes, pois até então sempre fui firme e convicta de que sempre seria da casa onde nasci e nunca tinha vivido nem presenciado este fato por parte de um iniciado. E também por ser mais nova esse tipo de acontecimento sempre ficou distante de mim e ao encargo dos mais velhos.

Não é à toa que a palavra iyawô signifique “noiva”. Durante a minha iniciação ouvi: “É pra sempre: a ligação com o orixá é pra vida toda”. Iniciação é um casamento, um casamento com o seu orixá que não aceita divórcio, contrato, acordo ou qualquer coisa do tipo. Está acima das pessoas, do humano e de qualquer convenção que existe. Este laço só se desfaz com a morte, a partida para o orun. Neste processo o axé é imprescindível; a navalha, de extrema importância; o zelador, fundamental.

Muito falamos aqui sobre o tempo de abiyan, sobre o tempo de aprendizado, de adaptação e nada disso aqui é falado sem nenhuma pretensão. Iniciação é um ato sério, requer responsabilidade e compromisso. Ser iniciado significa tentar ter toda a retidão possível para com o seu orixá a fim de conseguir ouvir e entender o que ele falar, o que ele apontar, pois Ori pode ser soberano, mas o nosso orixá sempre deve ser escutado e ele não se comunica melhor com ninguém do que com o seu próprio filho, afinal de contas temos sua energia em nós. Eu tenho cá com os meus botões que a gente passa todos os nossos anos de iniciado buscando essa sintonia perfeita, buscando não errar seguindo os conselhos do nosso orixá e essa busca é feita em cima de responsabilidade, respeito, compromisso, preceito, retidão e tempo.

Contudo, alguns iniciados acabam não captando isso e/ou alguns zeladores acabam também não captando a mesma mensagem. Algo entra em desalinho e nesse desalinho pode ter de um tudo: desde o respeito que possa ter deixado de existir, diferenças entre irmãos, até caminhos apontados pelo orixá. Se o quadro se mantém e o tempo não ameniza, sair é a solução?

Meus textos são delicados, pois levo a minha fé de forma delicada – embora minha personalidade não seja -, mas eu sei e partilho da ideia de que gente de Candomblé tem que ser casca grossa. Cultuar orixá é a coisa mais linda do mundo, mas, às vezes, a gente escuta o que não gosta, ver o que não quer e isso é normal, pois uma casa de Candomblé é quase a mesma coisa que o mundo lá fora adicionado (muito adicionado) com personalidades mais abertas, mais a mostra, já que a nossa religião preza isso. Numa casa de Candomblé somos ainda mais nós mesmos e ainda com uma grande presença do nosso orixá. Abri esse parágrafo somente pra escancarar que casa de Candomblé é amor ao orixá, é servir ao orixá, mas quando o assunto são as pessoas, não é um mar de rosas, é um mundo real. No mundo real ninguém diz “cansei” e sai dele. Pois é. Em casa de axé também é assim. Ou ao menos deveria.

Todo iniciado, como já disse antes, carrega muitas responsabilidades e pensar sobre uma saída é algo que requer muito cuidado, muita reflexão sobre as conseqüências, tempo e saber o que o orixá pensa, o que ele quer. Não é uma decisão a ser tomada como um espasmo, um susto, uma virada de noite, um abuso qualquer. É praticamente esperar brotar a flor e amadurecer o fruto. Ou seja, exige uma coisa que eu sei que existe, mas não sei como funciona muito bem: paciência. Só que partilho aqui como conselho, pois acho que os constantes pedidos da minha zeladora a Oxalá para que me dê paciência talvez estejam dando resultado.

Falo isso de forma aberta, pois já tomei essa atitude de sair da casa onde nasci e depois acabei voltando porque Xangô me chamou e me acolheu de volta. Todos estes acontecimentos me confundiram um pouco e me fizeram repensar se tudo que eu sempre falei aqui eu estava vivendo de fato. Volto a escrever respondendo ao meu próprio silêncio que se todo aquele vendaval passou pela minha vida religiosa e hoje eu continuo firme e vibrante na minha fé, é porque eu nunca me escondi das minhas responsabilidades e do amor pela minha religião. Tudo o que eu sempre falei sobre viver a religião continua de pé sim. E digo que hoje bem mais que antes.

Já, já tô voltando, gente! 😀

Dayane Silva

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Yemojá

Como no Brasil temos o hábito de cultuar Yemojá no dia 2 de fevereiro. O blog não poderia deixar de homenagear este grande òrìsà.

Ìyà mi Odò.

Mo jùbá Aìyàgbà Okún.

Yemojá além de ser uma das principais energias entre os òrìsà é também incompreendida, enigmática ou pouco conhecida em sua essência.

Ela não é apenas uma figura feminina passiva e materna, é uma matriz energética extremamente poderosa e esbanjando sensualidade, controlando uma série de atributos.

Sendo a principal conhecedora das profundezas e labirintos do Orí, a cerimônia de Akunleyan (a cerimônia onde Ori escolhe seu destino) tem sua participação, a confecção de todos os destinos tem sua supervisão, lhe dando atributos de conhecedora e conservadora de destinos humanos.

Os domínios de Àjàlá Mopin sempre contam com sua presença.

A cerimônia do Bori tem sua energia invocada obrigatoriamente, juntamente com Obàtálá.

De professora a mãe provedora, domina a posse dos segredos das profundezas do oceano e suas riquezas.

Pode naturalmente responder suplicas às margens de rios e lagos.

Pode causar uma destruição incrivelmente forte personificada por furacões e agitação descontrolada dos oceanos, é uma das energias fundamentais da cosmogonia / cosmogenese de Ifá.

Yemojá pode descobrir as mais remotas dificuldades de um Orí, seu poder e conhecimento nesta área não são superados por outra energia celeste.

Yemojá está contida em todos os seres humanos através dos sais das águas marinhas que estão contidos no suor e nas lágrimas.

Mitos a confundem e a inserem como ‘irmã’ de Ajè Sàlùgà, filha de Aládì e Olókun Seniade, esposa de Obàtálá, mãe de vários Irúnmólè e etc.

A verdade é que não existe òrìsà mais importante na arte de apoiar e concertar um mau Ori.

Oríkì Yemojá

Para invocação de boa fortuna e bênçãos.

Agbè ni igbe’re ki Yemojá ibi kejì Odò.

Aluko ni igbe’re k’losa, ibi kejì Odò.

Ogbo Odidere i igbe’re k’oniwo.

Omo at ‘Òrun gbe ‘gba ajé ka’ ri w’aiye.

Olúgbe-rere ko,

Olúgbe-rere ko, Olúgbe-rere ko, gbe rere ko ni Olúgbe-rere.

Àse!

É o pássaro Agbè que leva fortuna boa ao Espírito da mãe da pesca, a deusa do mar.

É o pássaro Aluko que leva fortuna boa ao espírito da lagoa, o assistente da deusa do mar.

É o papagaio que leva fortuna boa ao Chefe de Iwo.

São crianças que trazem fortuna boa do Òrun para o Ayè.

Ó Grande mãe que dá coisas boas, Ó Grande mãe que dá coisas boas, Ó Grande mãe que dá coisas boas.

Dê-me coisas boas.

Oh! Grande mãe que dá coisas boas.

Àse.

Saudação:

Obà si Yemojá.

(Yemojá é rainha).

Odò Ìyà, Aìyàgbá Odò, Aìyàgbà okùn.

(Mãe do rio, rainha dos rios, rainha dos mares).

Epá òrìsà.

Texto Odé Gbàfáomi

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