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Archive for Agosto, 2015

O ritual do Ajere tem como fundamento principal a disputa entre Yánsán e Ṣàngó pelo dom do uso do fogo.

Ajere é especificamente o nome da própria panela na qual se faz o ritual. Ela é repleta de buracos, por toda parte, por onde escapam línguas de fogo.

Ìtón (mito) resumido:

Ṣàngó sempre em busca de novas formas de poder bélico para controlar e dominar seus adversários, enviou um mensageiro a Èṣù solicitando que este lhe fizesse uma magia para que Ṣàngó passasse a ter domínio sobre o fogo (inọ́n). Èṣù aceitou a encomenda com duas condições, uma que ele deveria receber um cabrito como sacrifício e outra que a esposa de Ṣàngó, Ọya, deveria ser a portadora da magia.

Dias depois, já feito o sacrifício para Èṣù, Ọya foi até ele para buscar o poder produzido. Èṣù entregou a Ọya uma pequena cabaça enrolada em folhas sagradas, ewé ọ̀gbọ́, dizendo-lhe que tivesse cuidado no transporte da poção e que não a abrisse. Ọya, muito curiosa, abriu o pacote e viu que dentro da cabaça havia um líquido muito vermelho e dele tomou um pouco. Nada aconteceu e ela seguiu para o palácio do Aláàfin de Ọ̀yọ́. Ao chegar e entregar o pacote ao ọba, da boca de Ọya saíram faíscas de fogo e Ṣàngó então percebeu que ela havia experimentado um pouco da poção mágica. Ṣàngó ficou enfurecido e Ọya fugiu de sua ira.

Ṣàngó, por sua vez, retirou-se para uma montanha e lá tomou todo o líquido que havia na cabaça e este líquido o fez espirrar. O ọba viu sair de sua boca e de suas narinas imensas labaredas e percebeu que dali em diante seria o dono do poder sobre o fogo, o que o tronava mais poderoso do que nunca.

É nesta perspectiva que se dá o ritual do Ajere, numa representação da disputa do fogo entre esses dois Òrìṣà.

O ritual:

Uma panela de barro repleta de brasas é trazida na cabeça por Ọya que em meio ao toque do àlúja dança e a entrega a Ṣàngó que após dançar com ela, devolve a Ọya novamente  sucessivamente. No fim, é Ṣàngó quem termina com a panela de fogo simbolizando que o poder do fogo é dele.

Ṣàngó sai novamente distribuindo entre fieis o Àmàlà, comida feita com quiabos, camarão, azeite de dendê, dentre outros ingredientes, ao som do seguinte cântico:

 

Yorubá:                    

Àjàká  máa  bẹ̀  ká  wòóo

Àjàká  máa  bẹ̀  ká  wòóo

A e bàbá  Àjàká máa bẹ̀ ká wòóo

 

Pronúncia:

Ajacá mabé cauô

Ajacá mabé cauô

Aê babá, Ajacá mabé cauô

Tradução:

Àjàká não implora nem mesmo ao poderoso Ṣàngó

Àjàká não implora nem mesmo ao poderoso Ṣàngó

Nosso pai Àjàká não implora nem mesmo ao poderoso Ṣàngó

Àṣẹ!

Texto: Bàbá Gill Sampaio Ominirò – Prof. Antropólogo
Última foto, Roger Cipó © Olhar de um Cipó –

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São os Orixás protetores dos gêmeos, na mitologia Yorubá são filhos de Xangô com Oyá e foram criados por Oxun. Os Yorubás acreditam que era Kéhìndé quem mandava Táíwò supervisionar o mundo, onde a hipótese de ser aquele o irmão mais velho cada gêmeo é representado por uma imagem, os Yorubás colocam oferendas diante de suas imagens para invocar a benevolência dos Ibéjì.
Os pais de gêmeos costumam fazer sacrifícios a cada oito dias em honra a Ibéjì. O animal tradicionalmente associado a Ibéjìi é o macaco kolobo polykomos ou kolobo, que é acompanhado por uma grande lenda mística entre os africanos. Eles possuem coloração preta, com detalhes brancos, pelas manhãs eles ficam acordados em silêncio na copa das árvores, como se estivessem em oração ou contemplação, dai eles serem considerados por vários povos como o mensageiro dos Deuses ou tendo a habilidade de escutar os Deuses.
Ibéjì, o único Orixá permanentemente duplo, aproxima-se de Exu pelo  seu comportamento arquetípico independente. É formado por duas entidades distintas e sua função básica é indicar a contradição, os opostos que coexistem. A ele é associado a tudo o que se inicia: a nascente de um rio, o germinar das plantas, o nascimento de um ser humano ou ìyàwó.
Ibéjì gosta bolos, balas, frutas,doces, brinquedos, farofa de Ibéjì, franguinhos de leite. Tudo que se dá para Ibéjì é duplo, até mesmo para abrir um obí tem que ser dois. Na sua liturgia não se pode esquecer do Exú que os acompanham, ele sempre terá que ser o primeiro.
Mostram um temperamento infantil, brincalhão, sorridentes, irrequietas, de muita energia nervosa.  São muito cativantes e carinhosos, com uma sensibilidade  à flor da pele; por isso mesmo, magoam-se com facilidade, exageram as contrariedades e agressões que recebem e se deixam levar por mal-entendidos.
Existe muitos mitos sobre Ibéjì em seu culto no Brasil, mas, em algumas cidades na Nigéria seu culto é òrò àsírí, está ligado ao nascimento de um filho, com oferendas anuais e muita festa.
Ibéjì é fundamental numa Casa de candomblé Ketu/Nagô!
Ibéjì tem relação com Ègbé Arágbò e Ègbé Orún e kóreo ou Kóri,  com os Àbíkús e as Ìyámìs Òsòròngá, com Òsàlá na vida e na morte.
Por tudo isso, não se iniciam pessoas para este Orixá, porém existem pessoas deste Orixá, havendo assim a interveniência de Oyá.
Ibéjì Orò mi!
.
Ádurà Ibejì
Igbà Órìsà
(Orixá eu te saúdo)
Órìsà Ibéjì
(Orixá Ibeji)
Dakùn dabó, ma jékì a rì Ikù Omodé,
(Não permita que haja a morte de crianças)
Ma jékì a rì Ikù agbà,
(Não permita que haja a morte de adultos)
Enitì ó bì, máà jékì ó sokùn,
(Quem tem para não chorar)
Máà jékì a kù Ikù airotélé,
(Não deixe acontecer a morte imprevista)
Fun mi lowó latì sé nkan gbógbó,
(Me dê dinheiro para minhas necessidades)
Iwó ti só alakisà di alasó, jowó só akisà mi di asó,
(Você que torna o pobre rico, me torne rico)
Iwó to ti essè mejé ji bé silé alakisà, jowó bé silé mi,
(Você que entrou na casa do pobre, peço entre na minha)
Órìsà Ibéjì, pelé ó,
(Orixá Ibéjì eu te saúdo)
Ejiré àra isokùn,
(Ejirê de Issokun)
Jowó só mi di oloró.
(Peço, me torne próspero).
Orìkí fún Ibéjì
B’eji B’eji’re
B’eji B’eji’la
B’eji B’ejiwo
Igbá omo ire
Axé
Orìkí para Ibeji
Dar a luz aos gêmeos traz fortuna boa
Dar a luz aos gêmeos traz abundância
Dar a luz aos gêmeos traz dinheiro
Saudar as crianças das coisas boas
Axé
fonte: obakeloje.webs.com/oxumlogumeibeji.htm
fonte: Fernando D’Osogiyan

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ÈSÙ O MAIS CONTROVERTÍVEL DOS ORIXÁS

Contam os nagôs igbómìnàs que, em tempos passados, sempre ao entardecer, Èsù, entoando um cântico, dirigia-se a um próspero mercado do vilarejo do reino dos igbómìnàs. Lá ao chegar, sentava-se em uma cadeira ou às vezes ficava de pé, alegrando, cantando, entretendo, distraindo, induzindo a clientela a fazer apostas em jogos e contando histórias em troca de uma refeição e um trago de aguardente, conforme combinado com o dono do mercado (Olójà).

Le ró o, le ró o otí l’ayò

Le ró o, le ró o oti l’ayó

“O indolente (Èsù) com a sua astúcia bebe alegremente sua aguardente” (tradução livre)

Com o passar dos meses, o comerciante, julgando já estar com uma clientela fixa, expulsou Èsù do seu estabelecimento comercial. Magoado com a desfeita, uma vez que as pessoas se acercavam do mercado unicamente por sua causa, Èsù atravessou a rua indo sentar-se numa cadeira que estava em frente ao outro empório, que por sinal estava a falir.

Durante o período em que ali ficou sentado, Èsù observou que nenhum cliente dali se aproximava, ao oposto do outro mercado de onde tinha sido expulso, que era um entrar e sair constantes. Decidido a vingar-se da ofensa feita a sua pessoa, Èsù dirigiu-se ao mercador falido (Onisòwo onígbèsè) e lhe propôs reerguer seu estabelecimento. O mercador falido retrucou dizendo-lhe: ‘Como poderei pagar-lhe tal beneficio?’ Èsù respondeu-lhe: ‘Permitindo que eu venha beber e comer graciosamente todas as noites em seu estabelecimento’. ‘Está combinado. Dou-lhe minha palavra’, disse o mercador.

Èsù, após o trato, continuou sentado na cadeira do mercado falido até o início do alvorecer do dia seguinte. Tão logo o dia começou a raiar, o ardiloso Èsù, portando uma cabaça serrada ao meio (igbá) com mel de abelha em seu interior, dirigiu-se ao mercado de onde havia sido expulso, entoando o seguinte cântico:

‘Olooyin, Olooyin o![1]

Olooyin , Olooyion o!

Èsù mõmo ayinrarè

Olooyin, Olooyin o!’

‘Dono do mel de abelha,

Dono do mel de abelha, eu o saúdo!

Èsù, sábio, vaidoso.

Dono do mel de abelha, eu te saúdo!’. Tradução livre.

Ao chegar no mercado próspero, Èsù entoando um cântico , derramou em frente ao mesmo um pouco do mel de abelha. Em seguida, retornou lentamente ao mercado de onde tinha vindo, espalhando pelo chão em sua direção o restante do mel de abelha. Quando Èsù chegou ao término do seu pretexto, o dia já havia clareado totalmente. Incontinente, sentou-se em uma cadeira à entrada do mercado falido e ficou observando os primeiros fregueses chegarem ao estabelecimento comercial, que ele havia tornado próspero e de lá tinha sido expulso.

Rapidamente, formou-se uma aglomeração na porta do estabelecimento, pois um dos fregueses percebeu o líquido espesso derramado na porta do mesmo. Imediatamente, um a um dos clientes resolveu seguir o indício deixado pelo líquido. Tal como Èsù planejou, o mel derramado levou todos os fregueses para o mercado de onde ele sentado os aguardava.

Ao chegarem ao local, depararam com Èsù e nunca mais deixaram de frequentar aquele estabelecimento, que se tornou próspero em curto espaço de tempo. E assim, todas as noites, após beber e comer graciosamente, Èsù cantava alegre e satisfeito para todos os que pernoitavam e gastavam dinheiro naquele empório. E quando se despedia ao alvorecer, todos os presentes o saudavam cantando alegremente:

Ogõgóro ngo Laróyè (Èsù o!)

Ogõgóro ngo Laróyè’.

‘Saudemos Èsù, o intérprete de todos os idiomas!

Ele gosta (ou ele quer) de aguardente feita do dendezeiro’ Tradução livre.

Ressalva: A narrativa em questão esclarece a semelhança do ser humano com o Òrìsà Èsù que, com todas as suas atribulações, contradições e procedimentos, procura jogar as cartas que possui, sempre usando de estratagemas, na esperança de ganhar todas as partidas. Ratifica também que, quando tratamos bem o nosso semelhante, queremos ser bem tratados. Todavia, em algumas vezes, os fatos não são uniformes. A associação em questão faz crer na constante renovação da vida, que se transforma sem cessar, fazendo com que a mesma muitas das vezes deixe de ser uniforme [2].

Notas:

1 – “Olooyin, Olooyin o! Olooyin, Olooyin o!”“ Ojúmomo oyin báre Olooyin, Olooyin o!”(“Dono do mel de abelha, Dono do mel de abelha, eu te saúdo! O dia vem raiando, o mel de abelha trará bons relacionamentos. Dono do mel de abelha, eu te saúdo!”).

2 – Em hipótese alguma, esta narrativa demonstra ou ratifica que os filhos do Òrìsà Èsù devam viver pelos bares em troca de bebida ou comida.

Bibliográfica: ( PENNA, Antonio dos Santos – “Mérìndilogun Kawrí” – “Os Dezesseis Búzios” – Paginas 148 e 149 – Produção Independente – Ano 2009 (Edição Revista e Ampliada) – ISBN 978-85-902226-4-4.

Amparado pela lei L 9.610 de direitos autorais. Proibido a cópia total ou parcial dos textos por qualquer meio, seja para uso privado ou público, com ou sem fins lucrativos sem a autorização prévia do autor.Foto: Internet.

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A Natureza do Odù em Ifá

Ajerè Ifá

Ajerè Ifá

Muitas pessoas definem Odù como os símbolos físicos usados para marcar os sinais recebidos durante o processo de adivinhação.
Outros equiparam Odù com os versos associados a cada símbolo que fazem parte do corpo divinatório do Corpus de Ifá. Embora ambos os elementos revelem uma pequena parte de Odù, o maior mistério está muito abaixo da superfície.
Os Odù são os símbolos sagrados que seguram o àse (potência / força vital) de tudo na existência. Eles são mapas holísticos que traçam o movimento dinâmico da energia e identificam as forças mais primitivas do mundo natural. Os Odù são mandalas transcendentais que marcam as energias ativas e inativas de uma situação com precisão surpreendente.
Tudo o que foi, é ou será, nasce através de Odù, incluindo o Òrìsá e seu àse sagrado.
As manifestações variadas do Céu e da Terra nascem através do Odù e é através desses mesmos caminhos sagrados que eles serão devolvidos para o vazio primordial. Odù governam os ciclos da natureza e as areias do tempo. Eles são as energias cósmicas do tecido da criação da própria vida!
Como pontos brilhantes de luz posicionados em torno da circunferência do Universo, Odù são as estrelas de cuja emanação sagrada, mundos nascem. Eles são o sangue e os ossos de nossa existência natural e sobrenatural.
Odù é a pronunciação oracular dos espíritos, a sabedoria divina de todos aqueles que vieram antes e os que ainda têm de nascer.
Desinibido de espaço e tempo, Odù é o idioma original dos antepassados e dos Òrìşà. Eles são a voz pura da divindade que se expressa na perfeição binária absoluta. Odù segura às respostas a todas as questões da vida e coletivamente, eles se tornam a bússola eterna que direciona e redireciona uma pessoa em sua jornada. Odù carrega palavras de bênçãos, mas também carregam advertências e avisos. Eles revelam as forças obscurecidas da vista e traduzem os padrões de cinética (processo natural de envelhecimento) do espírito em ritmos tangíveis de comunicação.
Servindo como nexo de toda a criação. Odù são pontos de entrada física universal e saída metafísica do mesmo.
Estas forças sagradas são os cordões umbilicais que nutrem e sustentam toda a atividade multidimensional e movimento.
Os Odù estão vivenciando entidades senescentes (processo de envelhecimento), envolvidas na interação potente e constante com as suas criações.
Eles estão interligados e são repositórios de grande força espiritual, que representam a dança infinita de criação e destruição.
O masculino e o feminino, claro e escuro, yin e yang, tal é a natureza de Odù. Os sinais físicos que representam Odù são as chaves do esqueleto simbólico de um universo antigo, um mundo que é o útero do qual toda a vida surgiu. É através destes portais que invocamos o eco do coração do universo e são respondidos pelos espíritos.
Eles são parecidos com antenas espirituais, capazes de transmitir energias que manipulam e modulam a realidade no micro e os níveis do macrocosmo. Eles são notavelmente frequências precisas de energia que revigoram e também negam essas coisas que caem sob os seus auspícios.
Odù governa o nascimento de um recém-nascido e a morte de uma pessoa idosa, as marés e a corrida do leito do rio que seca.
A chuva leve que traz frescor, o furacão que leva a destruição, a chama que ilumina, as explosões são encontradas dentro do Odù e as grandes oportunidades também. Odù veste o sorriso da alegria e solta o grito de angústia na face. O sol em seu zênite ao meio-dia e a lua que ilumina suavemente a paisagem da noite são os filhos de Odù. As forças carismáticas de atração e repulsão são dadas através da licença dos Odù.
A descida do espírito na matéria e sua transfiguração e ascensão, sua eventual caminhada na estrada são mapeadas pelo Odù.
Todas as doenças e suas curas são descobertas através destes seres sagrados. Odù governa o momento da fecundação, o período crítico da gestação, o ato do nascimento e a chamada inevitável da morte.
Odù marca as células dentro de nossos corpos e o espaço entre estas células e o espaço entre os espaços. Odù são as manifestações do fogo, da luz, do vazio e a atração magnética sufocante do Buraco Negro.
Odù são constelações sagradas, os satélites da sabedoria imortal, o impacto da maquinação cósmica do universo e os passos diminutos do indivíduo.
Odù dá luz ao dia, tão certo como o faz a noite.
Em um sentido mais microcósmico, Odù dá origem ao sucesso e traz o fracasso. A capacidade de avançar ou a impossibilidade de manifestação está enraizada no Odù.
Relacionamentos são formados e dissolvidos através destas energias. Eles mantêm a freqüência de conectividade final ou desconexão total. Firmeza e clareza, a instabilidade e a confusão são justapostos através de Odù.
O modelo complexo do ser pode ser claramente mapeado através destas energias sagradas.
Ritos de iniciação da vida, tanto pessoal como comunitária, são fortificados através de seus laços com essas forças. O que está enterrado nas profundezas do passado ou esperando pacientemente no futuro pode ser compreendido através da exploração de seu Odù relativo.
As circunstâncias da clareza ganham presentes ao se examinar o Odù que rege sua forma e sua função. O equilíbrio é tanto perdido e/ou recuperado através de uma relação direta e muitas vezes complicada com Odù.

Ire alaafia.

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