Feeds:
Artigos
Comentários

Archive for Novembro, 2016

Sacrifícios e sacrificados.

Tenho tentado ficar a margem dessa discussão que a meu ver é estéril e ao invés de nos ajudar apenas prejudica a todos aja visto que os debatedores da questão são meros aproveitadores rudes e ignorantes da questão fundamental em si, o “SACRIFICIO”.

São a meu ver meros oportunistas que se arvoram a defender nossa religião sem ao menos nos ter consultado, por outro lado outros não menos autorizados promovem debates promocionais futuros em locais de notoriedade com finalidades declaradamente eleitoreiras, arvoram-se em defender algo que não compreendem e muitas vezes não praticam, nem ao menos são iniciados, porem são apoiados por Baba/Iya que por sua vês buscam a notoriedade religiosa fora da religião, em movimentos ditos de preservação ou defesa de nossa religião, quando na verdade preservam ou defendem apenas eles mesmos.

“Os nossos “INCALTOS” ou seriam “INCULTOS” defensores nem ao menos conseguem discutir de forma ‘INTELIGIVEL” o que é sacrifico e porque são feitos, muito menos a historicidade do tema, quem pratica e porque pratica atualmente aja visto que não é só as religiões de matriz africana que o praticam, muitas outras o praticam nos dias de hoje, alias de forma aberta e fartamente divulgadas pelas mídias.

Mas antes vamos ver o que temos sobre o tema:

Sua origem etimológica é sacr (de origem judaica) e a palavra latina ofício), da junção das duas palavras temos

1- Sacro oficio = aquele que pratica uma determinada religião(sacerdote), um profissional a serviço de “Deus”

2- Sacrifício = Ato de através de um animal ou produto de sua renda oferecer a Deus ou ao templo (dizimo)

1-A teologia do sacrifício permanece uma questão em aberto, não apenas para as religiões que ainda realizam rituais de sacrifício, mas também para as que não mais os praticam, ainda que suas escrituras, tradições e histórias façam menção a sacrifício de animais. As religiões apresentam diversas razões pelas quais os sacrifícios podem ser realizados.

2-Sacrifício é a prática de oferecer como alimento a vida de animais, humanos, colheitas e plantações, aos deuses, como acto de propiciação ou culto. O termo é usado também metaforicamente para descrever actos de altruísmo, abnegação e renúncia em favor de outrem.

Os deuses necessitam do sacrifício para seu sustento e para a manutenção de seu poder, que diminuiria sem o sacrifício.

Os bens sacrificiais são utilizados para realizar uma troca com os deuses, que prometeram favores aos homens em retribuição pelos sacrifícios.

A vida e o sangue das vítimas dos sacrifícios contêm mana ou asé ou outro poder sobrenatural, cuja oferenda agrada os deuses

A vítima do sacrifício é oferecida como bode expiatório, um alvo para a ira dos deuses, que de outra maneira recairia sobre todos os homens.

O sacrifício é, na verdade, parte de uma cerimonia. Por vezes é consumido pelos fiéis. Habitualmente incorpora uma forma de redistribuição em que os pobres obtêm parcela maior do que sua contribuição.

Sacrifício na Grécia Antiga

Na religião da Grécia Antiga o templo não servia de lugar ao culto onde os fiéis se reuniam para celebrar os ritos, o templo é a casa de Deus a que se consagrou. O lugar de reunião dos devotos era o altar exterior, o bomos, bloco de cantaria quadrangular onde se desenrolava o rito central da religião grega, o sacrifício

O sacrifício era de origem alimentar, envolvendo um animal doméstico como os que hoje nos servem de alimento, que seguia numa procissão ritual até ao bomos. A cabeça era cortada com uma espada curta, a machaira, que até ali estava dissimulada debaixo de cereal no cesto ritual, o kanun. O sangue que jorrava sobre o altar era recolhido num recipiente, tal como ainda se faz num açougue ou matadouro, e abria-se o animal para se examinar as entranhas, e em especial o fígado, de modo a concluir se o sacrifício era aprovado pelos deuses. No caso afirmativo, a vítima é esquartejada e dividida nas suas diversas partes, tarefa que actualmente se faz num talho. As gorduras e os ossos maiores, completamente descarnados, eram deixados no altar para serem cremados, processo pelo qual se enviava o produto sacrificial aos deuses. Alguns dos pedaços internos, os splanchna, eram grelhados em espetos neste fogo, pelos executantes do rito, e posteriormente distribuídos pelos mesmos, garantindo assim o contacto entre os deuses e os executantes do rito. O resto da carne era cozida e dividida em partes iguais para ser consumida no local, como consumação geral da festa sacrificial por todos os participantes. As peles e a língua eram entregues ao sacerdote, ou cidadão imaculado, que procedera ao sacrifício.

O que no sacrifício grego é, para os deuses, uma oferenda, para os homens é uma refeição de festa que desde a imolação ao repasto estava envolvida numa atmosfera de fausto e alegria. Toda a encenação ritual era conduzida de modo a velar quaisquer traços de violência e assassinato, para fazer ressaltar a solenidade pacífica de uma festa feliz. O animal do sacrifício não chegava a perceber qual era o seu destino e ninguém se horrorizava com o prospecto da sua morte. Ainda hoje, nos açougues industrializados, procura fazer-se a matança sem que o animal perceba, para que não liberte as toxinas produzidas pela ansiedade anterior ao golpe que o leva à morte, que infestam e muitas vezes inutilizam a sua carne. Na sociedade grega antiga não se comia outra carne que não a dos sacrifícios.

Sacrifício no Judaísmo

No Judaísmo, o sacrifício é conhecido como Korban, palavra oriunda do hebreu karov, que significa “vir para perto de Deus”.

Judeus medievais como MaimônidesMaimônides, era natural que os israelitas acreditassem que o sacrifício fosse necessário na relação entre o homem e Deus. Maimônides concluiu que a decisão de Deus de permitir sacrifícios era uma concessão às limitações psicológicas do homem. Era esperado que os israelitas passassem de sacrifícios à adoração pagã em pouco tempo.

Na Bíblia hebraica, Deus ordena que os israelitas ofereçam sacrifícios de animais no santuário, ou tabernáculo. Quando os israelitas já haviam chegado à terra de Canaã, ordenou-se que todos os sacrifícios terminassem, excepto os que aconteciam no Templo de Jerusalém. Na Bíblia, Deus pede sacrifícios como um sinal de sua aliança com povo de Israel. O sacrifício também era feito para que Deus perdoasse os pecados, uma vez que o animal estaria sendo punido no lugar do pecador.

Sacrifício no Islão

O sacrifício de um animal, em língua árabe, se diz Qurban (قُرْبَان). No entanto, a palavra possui em certas regiões uma conotação pagã. Na Índia, porém, a palavra qurbani é utilizada para o rito islâmico de sacrifícios de animais.

No contexto islâmico, o sacrifícios de um animal é comumente referido como Udhiyah (أُضْحِيَّة), significando sacrifício. Udhiyah, como um ritual, é oferecido apenas em Eid ul-Adha. Os muçulmanos dizem que isso não tem nada a ver com sangue e ferimentos (Corão 22:37: “Não é a sua carne tampouco seu sangue que alcança Alá, mas sim a sua fé que o alcança…”). O sacrifício é feito para ajudar os pobres, e para recordar o profeta Abraão que não se opunha a sacrificar o filho (de acordo com os muçulmanos, seria Ismael) a pedido de Deus. O animal a ser sacrificado pode ser um cordeiro, uma ovelha, uma cabra, um camelo ou uma vaca. Deve ser saudável e estar consciente.

O rito islâmico de sacrifício é chamado Dhabĥ . Em nome de Alá, a garganta e as veias jugulares do animal são cortadas rapidamente com faca bem afiada. A espinha dorsal e o pescoço não devem ser quebrados até que o animal pare de se mover, evitando dor ao animal. São explicitamente proibidas outras formas de sacrifício de animais como morte a pauladas, eletrocussão e perfuração do crânio com lança.

A razão por que se invoca o nome do Criador no momento do sacrifício é por alguns considerada equivalente à aceitação do direito do Criador sobre todas as criaturas. Trata-se de um tipo de permissão garantida ao autor do sacrifício, resulta em sentimento de gratidão por poder comer a carne do animal sacrificado. A carne é normalmente distribuída entre os parentes necessitados. No entanto, dependendo do propósito ou da ocasião, pode ser consumida pela pessoa que sacrificou o animal. Todos os animais devem ser sacrificados dentro das formas acima, não se importando se a carne será utilizada em comemoração religiosa ou consumo pessoal. Será então considerada Halal, e própria para consumo.

Sacrifício no Candomblé

Sacrifício – vem da palavra sacrificar que no sentido religioso é oferecer em holocausto por meio de cerimonias próprias. No candomblé, esta parte do ritual denominada de sacrifício não é propriamente secreta; porém não se realiza senão diante de um reduzido número de pessoas, todos fiéis da religião. Deve-se temer que a vista do sangue revigore, entre os não iniciados, os estereótipos sobre a barbárie ou o carácter supersticioso da religião africana.

Uma pessoa especializada no sacrifício, o Axogun, que tem tal função na hierarquia sacerdotal, é quem o realiza .O Axogun não pode deixar o animal sentir dor ou sofrer porque a oferenda não seria aceita pelo Orixá. O objeto do sacrifício, que é sempre um animal, muda conforme o Orixá ao qual é oferecido; trata-se, conforme a terminologia tradicional, ora de um animal de duas patas, ora de um animal de quatro patas, galinha, pombo, bode, carneiro. Na realidade não se trata de um único sacrifício: sempre que se fizer um sacrifício a qualquer Orixá, deve ser antes feito um para Exú, o primeiro a ser servido.

Esse sacrifício não é só uma oferenda aos Orixás. Todas as partes do animal vão servir de alimento, nada é jogado fora. O couro do animal é usado para encourar os atabaques, o animal inteiro é limpo e cortado em partes, algumas partes são preparadas para os Orixás e o restante é destinado aos demais. Tudo é aproveitado: até a porção oferecida aos Orixás é posteriormente distribuída entre os filhos da casa como o ASÉ Orixá. É usada para confraternização: unem-se os filhos a comer com o pai ou mãe, havendo repartição do Axé gerado pelo Orixá. (Acredita-se que após algum tempo que a comida esteja no Peji ela fica impregnada pelo Axé do Orixá). O sacrifício no candomblé é a renovação do Axé, feito uma vez por ano para cada Orixá da casa ou em circunstâncias especiais.

Voltando ao tema, como podemos ver acima em especial as linhas por mim sublinhadas o sacrifico ainda é praticado pela maioria das religiões ditas modernas de alguma forma, senão vejamos:

Os Judeus e os muçulmanos ortodoxos as praticam em matadouros especiais, os animais são mortos de forma ritual por um sacerdote sacrificador autorizado, como podemos ler abaixo:

“Cashrut ou kashrut (em hebraico: כַּשְרוּת), também conhecido como kashruth ou kashrus na tradição asquenazita, é o termo que se refere às leis alimentares do judaísmo. A comida, de acordo com a halachá (lei judaica) é chamada de kosher, do termo hebraico כשר (kashér), que significa “próprio” (neste caso, próprio para consumo pelos judeus, de acordo com a lei judaica). Os judeus que seguem o kashrut não podem consumir comida não-kosher, porém existem exceções quanto à utilização não-alimentícia de produtos não-kosher, como, por exemplo, numa injeção de insulina de origem porcina ministrada a um diabético.

A comida que não estiver de acordo com a lei judaica é chamada de treif ou treyf (em iídiche: טרייף, do hebraico |טְרֵפָה, transl. trēfáh). Num sentido mais técnico, treif significa “rasgado”, “dilacerado” e se refere à carne que veio de qualquer animal que contenha algum defeito que o torne impróprio para o abatimento. Um animal que tenha morrido por qualquer meio que não o sacrifício ritual é chamado de neveila, que significa literalmente “coisa suja”

Muitas das leis básicas do cashrut derivaram de dois livros da Torá, o Levítico e o Deuteronômio, com a adição dos detalhes estabelecidos pela lei oral (a Mishná e o Talmude) e codificadas pelo Shulkhan Arukh e pelas autoridades rabínicas posteriores. A Torá não afirma explicitamente o motivo da maioria das leis cashrut, e diversas razões foram apresentadas para estas leis, desde filosóficas e ritualísticas, até práticas e higiênicas.

Por extensão, a palavra kosher passou a significar “legítimo”, “aceitável”, “genuíno” ou “autêntico”, num sentido mais amplo.[1]

O islamismo também tem um sistema relacionado, embora diferente, chamado de halal, e os dois possuem um sistema comparável de sacrifício ritual (shechita no judaísmo e dhabihah no islã).

Conforme podemos observar os sacrifícios são realizados no mundo todo onde judeus e muçulmanos vivam, da mesma forma que os praticantes das religiões de matriz africana, no Brasil, existem matadouros religiosos que servem essas religiões em São Paulo e nos demais estados.

Portanto qual seria a diferença entre os sacrifícios?

Nós os praticantes de religiões de matriz africana somos diferentes?

Judeus e Muçulmanos podem sacrificar e nós não?

Segundo as leis brasileiras somos iguais perante todos ou será que não ?

Seria a religião praticada pelos Judeus e Muçulmanos considerada superior?

A proibição do sacrifico de animais no estado de São Paulo será estendido a todas as religiões ou apenas aos de matriz africana?

A igreja católica apostólica romana deixaria de comer o corpo de Cristo e beber seu sangue e distribuí-lo aos cristãos? Isso a meu ver á antropofagia ou não ?

Ao beber o vinho(sangue de cristo) durante a missa, deixaria de faze-lo na frente de crianças? Isso a meu ver é apologia ao alcoolismo, ou não ?

Vamos proibir as crianças de irem as igrejas aja visto que são o prato principal dos padres católicos no mundo todo?

Vamos proibir os incautos de irem aos templos neo-pentecostais e sacrificarem seu dinheiro ?

Senhores Deputados Estaduais e Federais, Senhores da Sociedade de Proteção aos animais, Senhores de bom senso desta terra brasilis, por favor temos tantas coisas mais importantes a fazer, vamos gastar nosso tempo com a educação, a saúde, a corrupção que assola nosso país. Deixem nossa religião em paz.

Texto: Oga Gilberto de Esu

Vice presidente do Orisa Wolrd
International Congress of Orisa Tradition an Culture

Fontes de pesquisa:

O sagrado e o Profano-Mircea Eliades

Wikipédia

Read Full Post »

Dia Nacional da Consciência Negra
Zumbi e Princesa Isabel – liberdade aos negros

O dia 20 de novembro faz menção à consciência negra, a fim de ressaltar as dificuldades que os negros passam há séculos.

A escolha da data foi em homenagem a Zumbi, o último líder do Quilombo dos Palmares, em consequência de sua morte. Zumbi foi morto por ser traído por Antônio Soares, um de seus capitães.

A localização do quilombo ficava onde é hoje o estado de Alagoas, na Serra da Barriga.

O Quilombo dos Palmares foi levantado para abrigar escravos fugitivos, pois muitos não suportavam viver tendo que aguentar maus tratos e castigos de seus feitores, como permanecerem amarrados aos troncos, sob sol ou chuva, sem água e sofrendo com açoites e chicotadas. O local abrigou uma população de mais de vinte mil habitantes.

Ao longo da história, os negros não foram tratados com respeito, passando por grandes sofrimentos. Pelo contrário, foram escravizados para prestar serviços pesados aos homens brancos, tendo que viver em condições desumanas, amontoados dentro de senzalas.

Muitas vezes suas mulheres e filhas serviam de escravas sexuais para os patrões e seus filhos, feitores e capitães do mato, que depois as abandonavam.

As casas dos escravos eram de chão batido, não tinham móveis nem utensílios para cozinhar. As esposas dos barões é quem lhes concedia alguns objetos, para diminuir as dificuldades de suas vidas. Nem mesmo estando doentes eram tratados de forma diferente, com respeito e dignidade. Ficavam sem remédios e sem atendimento médico, motivo pelo qual inventaram medicamentos com ervas naturais, ações aprendidas com os índios durante o período de colonização.

Algumas leis foram criadas para defender os direitos dos negros, pois muitas pessoas não concordavam com a escravização. A Lei do Ventre Livre foi a primeira delas, criada em 1871, concedendo liberdade aos filhos dos escravos nascidos após a lei. No ano de 1885, criaram a Lei dos Sexagenários, dando liberdade aos escravos com mais de sessenta anos de idade.

Porém, com a Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888, foi que os escravos conquistaram definitivamente sua liberdade.

O grande problema dessa libertação foi que os escravos não sabiam realizar outro tipo de trabalho, continuando nas casas de seus patrões, mesmo estando libertos. Com isso, a tão esperada liberdade não chegou por completo.

As oportunidades de vida que tiveram eram limitadas apenas aos trabalhos pesados, como não haviam estudado e não aprenderam outros ofícios além dos braçais, porém, alguns conseguiram emprego no comércio.

O dia da consciência negra surgiu para lembrar o quanto os negros sofreram, desde a colonização do Brasil, suas lutas, suas conquistas. Mas também serve para homenagear àqueles que lutaram pelos direitos da raça e seus principais feitos.

Na data são realizados congressos e reuniões discutindo-se a história de preconceito racial que sofreram, a inferioridade da classe no meio social, as dificuldades encontradas no mercado de trabalho, a marginalização e discriminação, tratando-se também de temas como beleza negra, moda, conquistas, etc.

Publicado por: Jussara Barros

Read Full Post »

O início mais importante.

cambone2

Esqueça os fundamentos, rezas e ofós. Você precisa mesmo aprender a entender, sentir e viver religiosidade.

Você acabou de se iniciar no Candomblé e quer se tornar um grande Egbomi, Babá ou Iyalorixá?

Vou me atrever a dar um conselho: Não se preocupe com nada disso. Não queira ser grande. Não tenha pressa de aprender os Ofós, Orikis, Gbaduras, Rezas, Fundamentos, Qualidades, Caminhos, Quedas de Búzios e nada dessas coisas…

Use esses primeiros 7 anos (no mínimo) para viver a sua religião. Respire o Candomblé. Crie intimidade com a religiosidade, com os costumes, o terreiro, e com a família de santo.
Crie uma relação com suas roupas brancas (elas te fortalecem a medida que são usadas): Aceite-as no seu dia-a-dia. Use suas contas em locais públicos e se empodere do que é seu. Sua estética religiosa é também um ato político contra a opressão racista que inferioriza nossas vestes e símbolos sagrados

Não se incomode com o fato de precisar andar de cabeça baixa em alguns momentos, mas se incomode se alguém te maltratar nessa condição.
Não há problema algum ser Abian, Iyawo, Elegun. São fases importantes da religiosidade. Aproveite esse tempo.
Não é tempo livre, é um tempo de estudo, de conhecimento de si, de afirmação e construção de identidade.
É a gestação de uma Identidade ancestral. Molde a si com aquilo que melhor te serve. Vista-se do que te completa a alma.

Saiba reconhecer e respeitar o seu lugar que, por mais que grande parte dos sacerdotes menospreze as novas vidas de axé, são extremamente importantes para a continuidade.
Tenha consciência disso. Você é especial
E saiba que a religião só existirá se você continuar.

Aproveite esse tempo bom para mergulhar na história do continente africano.
África não é um país. É um continente incrível formado por 54 países.
Conheça a história do negro no Brasil.
Conheça e se Indigne com a história da escravidão.
Entenda o racismo estrutural que fomenta a intolerância religiosa e demonização da fé nas divindades africanas.
Entenda que os Orixás são Negros e Negras. São Reis e Rainhas criados à semelhança de seus e suas descendentes

Os tempos são difíceis, a Intolerância Grita em nossas caras, e para você que acaba de chegar, os fundamentos e toda a complexidade do rito não devem ser prioridades, nesse momento.
Leia sobre racismo. Assista filmes, documentários, compre livros, vá à palestras, junte-se a movimentos sociais, crie grupos de estudos. Conheça a história da sua religião, da sua nação, do seu Orixá do seu País.

Aprenda a responder contra a violência, munido de verdades e pautado em direitos sociais.
Você não precisa ser negro para entender o que é e combater o racismo. Como não é preciso ser gay, lésbica ou trans para fortalecer as pautas sobre diversidade de gênero.
E pra quê saber dessas coisas que não tem a ver com você? Respondo que o Candomblé é uma religião que em essência deve acolher e respeitar a todos, e cabe a nós lutar por direitos assegurados. Qual o sentido e lutar pela liberdade religiosa se não respeito à liberdade de escolha de alguém?

É importante para resistir. É importante entender e conhecer o mínimo da história daqueles que lutaram para que você usasse suas roupas brancas e fios de contas!

Não se preocupe com roupas bonitas!

Entenda a urgência de se combater, por exemplo a intolerância religiosa, mas antes de brigar, procure saber como ela acontece e o porquê de acontecer contra nós.

Texto e Foto: Roger Cipó © Olhar de um Cipó – Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved
Roger Cipó © Olhar de um Cipó – Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved

Publicação:   – Ilé Àse Òsòlúfón Íwìn – R.J

Read Full Post »

Aulo Barretti Filho (nascido em São Paulo, 23/08/1953 – 2016), odontólogo. Pesquisador, escritor e professor da religião tradicional Yorùbá, da afrodescendente e babalorixá do candomblé do Ilé Àse Ode Kitálesi em São Paulo e Asojú Oba Alákétu (em Kétu no Benin), mais conhecido como Aulo de Oxóssi.”Presidente da FUNACULTY – Fundação de Apoio ao Culto e Tradição Yorùbá no Brasil” (Silva, 2000, pp. 47-48, nota 29), que desde 1985 fomenta as questões sócio-culturais e religiosas do povo yorùbá no Brasil.

Livros: Dos Yorùbá ao Candomblé Kétu – Origens, Tradições e Continuidade. (Org.) São Paulo, Edusp, 2010. ISBN 9788531412202
“Òsóòsì e Èsù, os Òrìsà Alákétu”. In: Dos Yorùbá ao Candomblé Kétu. Aulo Barretti Filho (org.), pp. 75-139. São Paulo, Edusp, 2010.
“Dall’oralità alla scrittura – La Riafricanizzazione”. In: La Voce Degli Dei. Bruno Barba (org.), pp. 118-135. Gênova, Cisu, 2010. ISBN 9788879754835

Como uma população fica mais pobre?Certamente não é apenas com o perder do dinheiro, a maior riqueza de uma população esta em pessoas que querem mudar a sociedade e principalmente aquelas que lutam por Respeito. O bom acaso é que nossa religião prevê que quando uma pessoa parte para o Orun ela pode se tronar um Ancestral um mentor. Assim desejamos!

Nosso sentimento a família carnal e espiritual.

Read Full Post »

candomble-antigo

Nós, afro-religiosos, não temos um livro de tradições escritas ou uma “bíblia” com textos proféticos como os cristãos. As sociedades africanas baseiam-se na tradição oral e não escrita para perpetuar e repassar seus conhecimentos, tal como o mestre ensina seu aprendiz, o sacerdote da religião africana passa oralmente seu conhecimento para seus iniciados. Estes por sua vez absorvem o conhecimento e a tradição, não se utilizando de papel e tinta para escrever, mas usando a memória. Quando esta cultura embarcou nos navios negreiros e veio para o ocidente ela se estabeleceu e se manteve na forma de tradição oral. Sob a opressão e dificuldades brotaram as religiões afro-brasileiras, com adaptações necessárias a sua sobrevivência na nova terra. Assim nasceu o Candomblé, o Batuque, o Tambor de Mina, o Xangô, e as demais vertentes da religiosidade africana, cada uma com suas peculiaridades, mas todas elas baseadas na tradição oral e na memória. Esta memória se forma com a vivência e a convivência religiosa. O processo de iniciação como bem se sabe, remete-se a um processo simbólico de nascimento do neófito, como se ele fosse uma criança, e ele vai “crescer” e aprender os conhecimentos e absorver a tradição de sua família religiosa. Os mais velhos remetem a importância da senioridade, aqueles que já viveram e aprenderam o suficiente na comunidade religiosa para ensinar.

No entanto, na atualidade, se tem visto uma transgressão nesta norma. Muitos são aqueles que anceiam pelo conhecimento, mas poucos aqueles que esperam seu tempo, agregando conhecimentos fragmentados, e no anseio de ser sacerdote a todo custo, até mesmo comprando seus títulos. Segundo Carol Tavris (1993, p. 1) com relação a memória”…“Para um acontecimento ficar guardado a longo prazo, uma pessoa tem de o perceber, codificar e ensaiá-lo – falar sobre ele – ou ele decai…”. E aí que se perde a memória religiosa e surgem os novos cultos, muitas vezes alegando “evolução”, quando na verdade se trata de desconfiguração da tradição religiosa.

Cada raiz religiosa possui suas particularidades, existem diferenças no modo de aprendizado e na forma de condução dos rituais por parte de cada um que aprende, o chamado fundamento de cada um, no entando, a tradição impõe certas normas não podendo se perder da memória. Apesar de duas ou mais árvores do mesmo fruto não serem exatamente iguais, os frutos são os mesmos, logo a religiosidade africana, apesar de ser uma tradição oral, sem um manual ou livro escrito, deve seguir um parâmetro para que como qualquer outra religião tenha suas características e tradições perpetuadas e preservadas. Hoje observamos em diversos momentos, usos indevidos de roupas, colares ritualísticos, desrespeito às hierarquias e profanação de rituais e elementos religiosos da cultura africana; Invencionismos, muitas vezes baseado em algo visto, mas não compreendido, em algo lido em algum livro, mas não vivenciado, ou baseado na famosa frase “está dando certo” como se a religiosidade fosse uma mágica que precisa funcionar seja qual for o método utilizado.

Religião tem uma raiz, tem características que não podem ser perdidas, tem uma tradição a qual seguem, não vamos desconfigurar nosso Candomblé, preservemos a tradição e a memória de nossos antepassados.

 

Hùngbónò Charles

Read Full Post »

%d bloggers gostam disto: