Esqueça os fundamentos, rezas e ofós. Você precisa mesmo aprender a entender, sentir e viver religiosidade.
Você acabou de se iniciar no Candomblé e quer se tornar um grande Egbomi, Babá ou Iyalorixá?
Vou me atrever a dar um conselho: Não se preocupe com nada disso. Não queira ser grande. Não tenha pressa de aprender os Ofós, Orikis, Gbaduras, Rezas, Fundamentos, Qualidades, Caminhos, Quedas de Búzios e nada dessas coisas…
Use esses primeiros 7 anos (no mínimo) para viver a sua religião. Respire o Candomblé. Crie intimidade com a religiosidade, com os costumes, o terreiro, e com a família de santo.
Crie uma relação com suas roupas brancas (elas te fortalecem a medida que são usadas): Aceite-as no seu dia-a-dia. Use suas contas em locais públicos e se empodere do que é seu. Sua estética religiosa é também um ato político contra a opressão racista que inferioriza nossas vestes e símbolos sagrados
Não se incomode com o fato de precisar andar de cabeça baixa em alguns momentos, mas se incomode se alguém te maltratar nessa condição.
Não há problema algum ser Abian, Iyawo, Elegun. São fases importantes da religiosidade. Aproveite esse tempo.
Não é tempo livre, é um tempo de estudo, de conhecimento de si, de afirmação e construção de identidade.
É a gestação de uma Identidade ancestral. Molde a si com aquilo que melhor te serve. Vista-se do que te completa a alma.
Saiba reconhecer e respeitar o seu lugar que, por mais que grande parte dos sacerdotes menospreze as novas vidas de axé, são extremamente importantes para a continuidade.
Tenha consciência disso. Você é especial
E saiba que a religião só existirá se você continuar.
Aproveite esse tempo bom para mergulhar na história do continente africano.
África não é um país. É um continente incrível formado por 54 países.
Conheça a história do negro no Brasil.
Conheça e se Indigne com a história da escravidão.
Entenda o racismo estrutural que fomenta a intolerância religiosa e demonização da fé nas divindades africanas.
Entenda que os Orixás são Negros e Negras. São Reis e Rainhas criados à semelhança de seus e suas descendentes
Os tempos são difíceis, a Intolerância Grita em nossas caras, e para você que acaba de chegar, os fundamentos e toda a complexidade do rito não devem ser prioridades, nesse momento.
Leia sobre racismo. Assista filmes, documentários, compre livros, vá à palestras, junte-se a movimentos sociais, crie grupos de estudos. Conheça a história da sua religião, da sua nação, do seu Orixá do seu País.
Aprenda a responder contra a violência, munido de verdades e pautado em direitos sociais.
Você não precisa ser negro para entender o que é e combater o racismo. Como não é preciso ser gay, lésbica ou trans para fortalecer as pautas sobre diversidade de gênero.
E pra quê saber dessas coisas que não tem a ver com você? Respondo que o Candomblé é uma religião que em essência deve acolher e respeitar a todos, e cabe a nós lutar por direitos assegurados. Qual o sentido e lutar pela liberdade religiosa se não respeito à liberdade de escolha de alguém?
É importante para resistir. É importante entender e conhecer o mínimo da história daqueles que lutaram para que você usasse suas roupas brancas e fios de contas!
Não se preocupe com roupas bonitas!
Entenda a urgência de se combater, por exemplo a intolerância religiosa, mas antes de brigar, procure saber como ela acontece e o porquê de acontecer contra nós.
Texto e Foto: Roger Cipó © Olhar de um Cipó – Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved
Roger Cipó © Olhar de um Cipó – Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved
Publicação:
Excelente esse texto, principalmente também para aqueles que tem pouco de tempo de iniciado, que são curiosos demais, que querem pular etapas de conhecimento, que querem confrontar os dogmas de seu Axé, que não confiam na relação entre seu Orixá e o zelador, que não consideram as horas de sono e cansaço dedicados à sua iniciação e mesmo assim desrespeitam a hierarquia, confrontando seus fundamentos até em outras casas através de jogos, pondo em dúvida o conhecimento do seu zelador, expondo sua casa, que seu próprio Orixá o induziu a escolher.
ìyáwó é aquele que respeita a terra que o primeiro pingo de ejé tocou quando se iniciou, o comprometimento vitalicio para com seu axé.
Axé.
Muito bom texto.Parabéns.Uma verdadeira aula.Algumas pessoas estão preocupados com o luxo e o status e não com o viver a religião.
Achei o texto esplêndido. Serve para todo a awujo, desde os mais novos ao mais velhos. Asè.
Motumbá Babá, o sr poderia indicar leituras no sentido do texto?
Asé
Boa tarde gostaria de compartilhar minha dor faleceu ontem seu tata gitade meu tateto a quem devo gratidão por ter cuidado de minha mãe oya balé e os mais velhos vão fica seus ensinamentos como seu blog de ensimentos da nossa cultura afro brasileira gostaria de jogar u buzio com senhor como posso marca obrigada pela atenção aguardando uma resposta. Me chamo Luciana de oya
daianans,
A melhor leitura após você ler esse texto é vivenciar a religião, frequentar e aprender na prática, em loco.
Axé.
Luciana,
Enviarei meus contatos para seu email.
Axé.
Mo jubá a todos, o que vemos é que as pessoas estão pouco preocupadas com a religião em si, tem muito abiam que virá yawo e já quer discutir fundamento. Sou novo no Orixá apenas 5 anos, mas meu Babá sempre diz que tudo tem seu tempo que antes de aprender encantamento, fundamento eu tenho que aprender sobre meu Orixá pra só depois ir mais além no culto.
Bom dia srs! Queria que me orientassem em uma questão se possível. Eu não sou iniciado no candomblé. Ainda não frequento mesmo como abiã, pois estou resolvendo algumas questoes pessoais, antes de me entregar de corpo e alma, ao candomblé, religião que escolhi. Minha duvida é: como devo rezar no meu dia a dia, ja que ainda nao sei qual o meu orisá? Para Olodumare? Esú? Ori? Osalá?
Muitad duvidas minhas foram sanadas lendo os textos maravilhosos do blog. Mas essa ainda permance. Serei grato se puderem me orientar.
J.P,
Reze simplesmente elevando seu espírito a Olodumare!
Axé.
Bori e feitura? Ou primeiro ritual para o Abian virar Iyawo? Tem algumas roças que realizam e outras não como o primeiro ritual do novo Iyawo!
Marcio,
Quem consente a realização de uma feitura é o Ori, portanto, antes de se inciar o abiyan tem que tomar borí, se não, pode ocorrer do Ori não aceitar a iniciação e, por conseguinte, a pessoa não estará sacralizada como feita. Ori é um Orixá, é dele a primazia do Oxú.
Axé.
Na minha casa (não vou passar o nome por respeito) Você fica de preceito, toma os banhos de ervas,deita com a comida do seu Orixá na cabeça por 3, 7 ou 12 horas! Dizem que é o Bori! conversando com alguns amigos uns dizem é o Bori e Outro dizem que não! Sendo nação de Keto isso realmente pode ser considerado um Bori? Mais uma vez obrigado!
Marcio,
O bori é uma cerimonia dedicada ao Orí, portanto as comidas são oferecidas ao Orí e não ao seu Orixá. No Ketu, essas oferendas ficam o tempo necessário ao ritual e ao número de pessoas que participam do Borí, pois depois que a cabeça come, as comidas são partilhadas por todos os presentes, devemos celebrar com seriedade e alegria este ritual de Axé de muita energia positiva.
Axé.