As 16 lamparinas de Òsun – Como Òsun Iluminou a noite.
Segundo os nagôs igbominas malês, o ritual das dezesseis lâmpadas de Oxum, é originário da súplica feita pelo poderoso caçador Olutimehin a Oxum Ieiebiru, e que faz parte da história oral da fundação do reino de Oshobô. Segundo nossa tradição oral, Olutimehin o caçador de elefantes, sedento e cansado, durante longa noite de caça, procurava por água próximo ao rio Oshobô. Absorvido por densa escuridão, que o impedia de encontrar o rio para aliviar sua sede, ele clama por Oxum Ieiebiru como aquela que ilumina a escuridão com seus dezesseis olhos. Como graça divina, surgem espíritos que iluminam o caminho para o rio. Segundo os antigos sacerdotes de nossa tradição ancestral, os ritos de iluminação são realizados de acordo com essa narrativa, que remete ao mito das Lamparinas de Oxum, a divindade da sociedade Geledê. A partir de hoje, 26 de Agosto de 2018, nós, igbominas da diáspora, retornamos a realizar o mesmo rito tal qual era feito por nossa matriarca, a venerável Ialorixá Marcolina Moreira de Araujo – Oxum-oin. O rito de iluminação feita com as lamparinas remonta os laços com a Oshogbo e com nossa matriarca Ìyá Marcolina de Oxum. Adendo: Há 600 anos foi realizado o primeiro ritual, em Oshogbo, e em nossa família faz 105 anos.
LAMPARINAS DE ÒSUN A narrativa que nos elucida o mito sobre as primeiras lamparinas (àtùpà) da divindade Oxum Ieieberu (Yèyébíru) nos foi passada pelos nagôs igbominas malês, na diáspora para solo brasileiro, da mesma maneira que era contada na cidade Oshobô (Òsogbo), em Nigéria. No início da fundação de Oshobô, a cidade era envolvida por dezesseis belos lampiões, que sustentavam a queima de um tipo de chama mística, a qual queimava durante o período do anoitecer ao alvorecer. O ambiente era denominado por “Os dezesseis olhos de Oxum” (Àtùpà Olójú Mérìndílógún Òsun), o qual se destinava a manter a proteção e a celebridade do lugar durante a noite. A chama acessa continha um encanto que protegia a cidade dos ataques humanos e perturbações sobrenaturais. Nos dias atuais, as lamparinas que representam “Os dezesseis olhos de Oxum” são acesas somente na festividade anual da cidade de Oshobô. Os nagôs igbominas malês, descendentes de escravos que viveram em solo brasileiro, preparavam seus “brilhos de fogo”(Ítànná) em panelas de ferro, contendo brasas que queimavam folhas secas de ervas aromáticas. Após o término do ritual, as cinzas eram distribuídas entre os componentes do ritual. OXUM – A LUZ NA ESCURIDÃO Os nagôs igbominas contam, em solo brasileiro, que Olodumare, o criador dos seres humanos, no primeiro dia da criação, determinou que houvesse a Luz no universo. A essa luminosidade deu o nome de Sol. Esse fulgor proporcionaria aos seres humanos o seu desenvolvimento, trabalhando e obtendo o fruto necessário para sobrevivência. Mas, a luz do sol não permanecia o tempo necessário para os seres humanos. Dessa forma, a noite surgia rapidamente, e, com ela, a escuridão longa e maçante, impedindo os seres humanos de se locomoverem. A escuridão era tamanha que não permitia a expansão da luz emanada pela lua. Os seres humanos, em desespero, clamaram aos orixás pela possibilidade de proporcionarem um período maior de luz solar. Após várias súplicas, Yèyébírú, apiedando-se dos seres humanos, pediu a Olodumare permissão para poder amenizar o sofrimento dos mesmos. Quando diante de Olodumare, Yèyébírú se pronunciou: “Senhor, me permita criar algo que faça com que o Sol permaneça por mais tempo iluminando o Mundo novo (Àiyé Titun), o Planeta Terra?” Olodumarê de imediato respondeu: “Sim, já provou por várias vezes que é um ser habilidoso. Assim sendo, eu deixarei realizar essa criação.” Tempos depois, Olodumare convocou todos os orixás a sua presença. Quando diante de todos, informou que Yèyébíru resolveu formalizar um encantamento por meio do qual faria com que o Sol permanecesse por mais tempo iluminando o “Aiyé titun” (O novo mundo). Os orixás, surpresos, perguntaram: “Quais artimanhas Yèyébíru irá aprontar desta vez?” “Saberemos daqui a pouco”, exclamou Olodumare. Tão logo Olodumare terminou sua fala, Yèyébíru, com toda a sua pele ungida por mel de abelhas, surgiu dançando diante de todos. Em sua cabeça, emanando fogo, havia uma lamparina feita de uma abóbora moganga (“elégédé”). Durante a dança, Yèyébíru entregou a Exu as sementes que havia retirado de dentro da moganga, pedindo ao mesmo que por meio de um redemoinho espalhasse as sementes no Novo Mundo (“àiyé titun”). Essa solicitação Exu executou imediatamente. “O que espera conseguir com esse procedimento?”, indagou Olodumare. Sem titubear, Yèyébiru respondeu: “Desejo que os seres humanos possam colher as mogangas, delas se alimentem, e façam delas lamparinas. Assim, iluminarão as noites.” Adendo: Este é o motivo pelo qual acendemos lamparinas durante os festivais consagrados a Òsun.
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