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Archive for Outubro, 2012

Eu escolhi ficar.

Podem muitas pessoas discordar, mas viver Candomblé não é igual a viver outras religiões. Eu não tenho muito respaldo pra falar sobre viver outras religiões porque somente me dediquei ao Candomblé quando o orixá me disse “venha”. E aí eu já noto a diferença básica: o nascer para. Candomblé não é uma religião de multidão, não é uma religião disposta a atrair fiéis na esquina, pois é vivida no seu ambiente muito particular, no seu mundo muito diferente desse mundo aqui de fora. Uma roça é praticamente um mundo paralelo, pois lá dentro o tempo é diferente, as sensações são diferentes, as personalidades são diferentes, os laços, assim como os conflitos, também. Aprendemos lá dentro como nos portar aqui fora.

Muitas coisas não têm explicação, muitos acontecimentos fogem das nossas rédeas, o orixá se faz presente de uma maneira que surpreende os desacostumados, apontam caminhos, criam laços, dão conselhos, nos freiam, nos dão a sacudida necessária, limpam as mágoas e abrem os nossos olhos para vermos além. E tudo isso vai acontecendo de uma maneira que quando vamos ver, já estamos envolvidas e cobertas de amor e fé (e eu penso que amor sozinho ainda é amor, fé sozinha ainda é fé, mas fé e amor é orixá).

Lembro-me de forma super clara os primeiros sinais que os orixás me deram, e me lembro também o quanto eu fiquei assustada e o quanto eu tentei correr desses sinais por ignorância, imaturidade, por ver o orixá fora e ainda não senti-lo cá dentro. Como toda adolescente, tive dúvidas, fiquei confusa e tentei buscar respostas em outros meios religiosos: fui para centro kardecista e recebi uma carta psicografada sobre os caminhos que eu tinha com “a religião da minha família” (o Candomblé); fui para igreja católica e recebi um “seu lugar não é aqui, minha filha” de uma senhora que eu recepcionei na porta da igreja. Depois destes sinais captei as mensagens e me abri para os orixás. De lá para cá muitas águas passaram por este rio e a mão que eu dei pra segurar a mão que orixá me estendeu é a que me segura até hoje e com a outra ele vai tecendo meus caminhos, criando os laços, fazendo meu coração estalar a cada abraço que ele diz “esse vale a pena”.

O que me faz permanecer não foi o que me fez entrar, pois existe “algo” que eu tento por em palavras para escrever aqui e nunca consigo. Eu sempre chamo de “terceiro olho”. Como se um “terceiro olho” aparecesse e fosse se abrindo aos poucos, respeitando o tempo e a maturidade que tenho. Cada visão, cada percepção chega quando é visto o meu preparo para tal. Conseguir enxergar paulatinamente pode parecer lento demais para alguns, mas para mim tem sido crucial. Cada imagem nova tem-me dado mais firmeza, cada imagem nova expande meu raio de certeza. E a sensação de sentir o meu Orixá feliz nada paga, ninguém consegue diminuir.

Sempre há um motivo forte para se entrar para a religião e um motivo mais forte ainda para permanecer nela. Ninguém fica de verdade por causa de axó, por causa de vaidade, por brincadeira, por laço afetivo ou somente por obrigação. Fica quem é disposto a soltar as rédeas, fica quem é disposto a por o ego abaixo do orixá, fica quem se permite sentir o orixá de verdade. E isso? É aprendido com o tempo, com humildade e com todos estes aprendizados que tanto são mostrados numa roça e falados um pouco aqui no blog. Fica quem é chamado.

Dayane Silva

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Leitores,

Sempre estamos postando também textos que não são de nossa autoria por vermos que as ideias que eles querem passar se assemelham com as ideias que fazem deste blog uma unidade. No decorrer destes anos me parece que este caminhar tem dado certo, pois já atingimos dez milhões de leitores (isto mesmo: 10.000.000,00).

Recebi este texto por e-mail enviado pelo Pai Fernando dizendo que foi adaptado pela Iyalorixá Suami Portinhal para que fosse publicado aqui no blog e ainda por cima ele me incumbiu de fazer algum prefácio. Não sou editora e nada além para fazer um prefácio. Só posso dizer que a Iyalorixá Suami Portinhal é uma figura que eu “conheço de vista”, virtualmente, nunca falei e nem vi, mas sempre li algumas coisas dela pela internet, sempre gostei muito e hoje ela está aqui nos presenteando com uma indicação de um texto ótimo, coerente, elucidativo e, o melhor, real, pois retrata o que muito vem acontecendo na nossa comunidade quanto às questões comportamentais e aos valores que realmente pertencem ao Candomblé e aos valores que vêm sendo enxertados, confundindo nossos conceitos.

Só posso dizer uma coisa: que a Iyalorixá Suami Portinhal nos brinde mais vezes com mais indicações e também futuros textos de sua própria autoria. Será um prazer para nós.

 Mutunbá!

Dayane

A vida em um terreiro é uma lição de ética, moral e comportamento.

Candomblé não pode ser associado a uma religião sem ética e moral. Não a religião. A vida em um terreiro é uma lição de ética, moral e comportamento. Entretanto, mesmos nas casas mais tradicionais ainda há uma linha de pensamento na qual o próprio babalorixá diz: “não me interessa o que aquela pessoa faz do portão para foram, mas sim do portão para dentro”. Lamento, minha opinião é que quem diz isso está errado, muito errado.

Sim, importa sim o que a pessoa faz em qualquer lugar e em qualquer hora do dia. O candomblé não é um religião de igreja, você pratica ela todo o seu tempo. Não temos templo, o templo é o mundo e a gente está com o orixá o tempo todo. Assim o comportamento de uma pessoa importa sim.

Não existe o sentido secular, a separação entre o sagrado e o laico no candomblé. A religião é a continuidade de nossa vida e o terreiro é apenas um momento em que as pessoas se reúnem. Cerimônias podem ser feitas em qualquer lugar e alguns consideram que são até mais intensas quando se está em contato com o mundo natural. Desta maneira, uma pessoa não pode dizer que não interessa o que um adepto faz do portal para fora. Essa pessoa do portão para fora tem que ser a mesma do portão para dentro. Mais uma vez sou obrigado a dizer que pessoas que dizem que o que o membro de sua casa faz do portão para fora não o interessa é uma pessoa desinformada, não sabe o que se espera de uma religião e de um sacerdote.

Sob o ponto de vista conceitual, para podermos entender a ética da religião a gente tem que se mirar em duas coisas: a primeira é o conteúdo do ensinamento formal que esta nos ésé de Ifa e também nos itans, e mitos regionais. Essas histórias traduzem conceitos éticos e morais da religião.

O cuidado é não usar os mitos deturpados e estragados que circulam por aí e que servem apenas para transmitir e justificar vilanias. Dessa maneira, estudar esses mitos e itans é uma parte fundamental do aprendizado religioso. Nesse sentido as pessoas mais velhas são aquelas que aprenderam mais histórias e mesmo sem terem podido escrevê-las elas podem contar para os demais. Um mais velho legítimo é aquele que sempre atrai em torno de si pessoas mais novas ávidas por ouvirem suas histórias e casos e é uma pessoa sempre com conhecimento para transmitir, mas conhecimento que não sejam apenas vaidades pessoais, porque também já vi muita gente que a única coisa que faz é repetir histórias sobre si mesmo. Igualmente pessoas cuja única coisa que têm a contar são críticas, comentários pejorativos e patifarias que viu em outras casas é uma pessoa sem conteúdo que perde sua vida andando por lugares que não merecem a presença de ninguém. Eu penso assim, se você vai a um lugar e vê uma coisa ruim ou feia, a primeira coisa é “o que você esta fazendo lá?” Se esta lá é igual aos demais.

Mas a moral e ética das histórias e versos não são uma coisa simples e previsível. É muito diferente da moral cristã e muito mais humana, muito mais permissiva a certos aspectos comuns da vida de todos. Ela não espelha pessoas santas e puras e sim pessoas normais que acertam e erram. A astúcia é uma coisa bastante permitida.

Eu posso afirmar que em todas as histórias que li nunca vi nada que mostrasse um exemplo de comportamento que não fosse ético ou digno. Pelo contrário é exigido que as pessoas sejam de fato corretas e úteis para a família e sociedade. Assim, não consigo encontrar justificativa para a classificação de antiética e amoral do candomblé.

Eu entendo sim que existem pessoas antiéticas e amorais que são babalorixás e iyalorixas e que espalham por aí besteiras e nulidades. Na verdade mercadores de feitiçaria, gente que nas histórias que li sempre eram as pessoas ruins, não as boas. Essas pessoas que vendem facilidades e prosperidades que elas mesmas não têm em seus feitiços furados são as que menos interessam por qualquer ética e moral.

Outro aspecto da moral é o qual seria moral da sociedade yoruba e que se reflete na religião e nos mitos regionais. Isso é natural em qualquer religião: a sociedade que a gerou influencia a sua ética. Da mesma maneira tudo o que eu pude observar sobre a ética da sociedade – e fiz algum esforço nisso – apontam para o reflexo que temos nos ésé e itan.

Essa é minha visão. Reconheço que o mundo conspira contra ela e que a atitude das pessoas é que conduz a essa classificação amoral. Reputo isso ao despreparo dos que têm cargo e também a conveniência de ter justificativa para fazer o que quiser. Muitos devem saber que existe um mau comportamento de pessoas que entram para um terreiro, fazem o mínimo de obrigações e abrem sua casa. A maior parte não busca nem aprender, seja por falta de esforço ou de interesse os mitos da tradição oral, gosta de dizer que o Candomblé é uma tradição oral apenas para justificar o fato que não querem buscar conhecimento que não tem. Muitos vêm de umbanda e trazem uma carga de conceitos católicos e espíritas e se consideram espíritas, acreditam naquela bobagem de karma, etc. O problema com esse grupo é que procuram usar os conhecimentos de outras religiões porque não procuram os da sua, mas reagem a ética e moral dessas religiões porque são do candomblé. Eu acho que já que elas são candomblecistas- que usem os itans de Ifá ao invés dos ensinamentos doutrinário-espírita de outras religiões. Fica mais coerente.

Fonte: Alexandre

Adaptação: Suami Portinhal

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A Galinha de Angola era uma ave muito feia e por isso, afastava as pessoas de perto de si, mesmo sendo muito rica. Ela vivia abandonada em uma grande floresta em meio a sua riqueza.

Cansada de ser desprezada, resolveu consultar o oráculo sagrado no Palácio de Obatalá. Quando lá chegou, o Sacerdote a colocou para fora, dizendo que ela deveria estar usando um Alá branco para entrar na casa do Grande Deus Funfun. Ainda mais triste, a Galinha de Angola resolveu ir para outra floresta e de uma vez por todas, deixar de conviver perto de
tudo e todos.

Após 21 dias caminhando, a Galinha de Angola parou em uma floresta, sem saber que era sagrada (Igbodu). Lá, ela encontrou um velho maltrapilho gemendo de dores. Esse velho disse:

“Pare! estou muito doente e não tenho dinheiro para me alimentar, me dê o que comer e beber, por favor,”!

A Galinha de Angola pegou tudo o que tinha e deu ao velho homem que, após saciar a sua fome e sede, caiu dormindo em sono profundo. A Galinha de Angola continuou preocupada com o velho e ficou ao seu lado enquanto ele dormia. Ao acordar, o velho perguntou-lhe, porque ainda estava lá, fazendo companhia para aquele velho maltrapilho.

A Galinha começou a dizer que não poderia abandoná-lo, pois ele estava precisando dela, dize sua história ao velho, falando que todos lhe achavam feia, com um aspecto repugnante e que não mais queria viver.

O Velho respondeu que o seu exterior não importava em nada, pois por dentro, ele era um dos seres mais belos que existia. Disse que aquela era uma floresta sagrada e que na verdade, ele era Obatalá. A Galinha de Angola ficou surpresa com a revelação, pedindo-lhe desculpas por entrar na floresta sagrada.

Obatalá pegou Efun e começou a pintar a Galinha de Angola, que ficou muito bonita. Além disso, Obatalá disse que, o maior símbolo para os iniciados era o Osù e modelou um na superfície da cabeça da Galinha de Angola, dizendo que, a partir daquele momento, ela seria o Animal mais Sagrado do Culto aos Òrìsàs, pois somente ela, traz o Grande Osù em sua cabeça.

Essa história é um grande ensinamento, pois mostra que não podemos julgar ninguém por sua aparência, mostra que não devemos jamais negar comida e bebida. Nossa religião oferta, ajuda e acolhe, essa é mensagem que devemos guardar.

Que nosso Pai Òsùmàrè Aràká continue olhando e abençoando todos.
texto: Terreiro de Òsùmàrè

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Arugbá Òsún

A festa anual das oferendas a Òsún, realizada em Osogbo na Nigéria é uma reatualizarão do pacto que o primeiro rei local contraiu com o rio do mesmo nome.
“Laro”, o antepassado do atual rei, depois de prolongadas atribulações procurando um lugar favorável onde pudesse instalar-se com seu povo chegaram ao rio Òsún, onde a água corria permanentemente.

Segundo se conta alguns dias mais tarde uma das filhas desapareceu nas águas quando se banhava no rio e, passado algum tempo, delas saiu, esplendidamente vestida. Declarou aos seus pais que fora admiravelmente recebida e tratada pela divindade que ali morava.

Laro foi fazer oferendas de agradecimento ao rio. Muitos peixes, mensageiros da divindade, em sinal de aceitação, vieram comer o que o rei jogou na água. Um peixe de grande tamanho veio nadar perto do lugar onde ele se encontrava e cuspiu água.

Laro recolheu essa água em um cabaça e bebeu-a, celebrando assim um pacto de aliança com o rio. “Em seguida estendeu as mãos e o grande peixe saltou nelas e assim assumiu o título de Ataojá, contração da frase yorùbá” A lewo gba eja (aquele que estende as mãos e pega o peixe).

A partir disso ele declara “Òsún gbo”, isto é, (Òsún encontra-se em estado de maturidade, suas águas sempre serão abundantes).

Daí originou-se o nome da cidade, Osogbo.

No dia da festa “Odùn Òsún” o “Ataojá” vai com grande pompa até o rio. Leva na cabeça uma coroa monumental feita de pequeninas contas. Usa um pesado traje de veludo e caminha com gravidade e calma, rodeado por suas esposas e dignitários.
Uma filha do “Ataojá” carrega nessa procissão anual, uma cabaça de Òsún. Ela tem o título de “Arugbá Òsún” (aquela que carrega a cabaça de Òsún) e só pode exercer essa função antes da puberdade.

Ela representa a menina que desapareceu outrora no rio. Sua pessoa é sagrada e o próprio “Ataojá” inclina-se diante dela.

O Ataojá vai sentar-se numa clareira e acolhe as pessoas que vieram assistir à cerimônia. Os reis e chefes das cidades vizinhas comparecem ou enviam seus representantes. A todo momento chegam delegações precedidas por orquestras. Troca de saudações, prosternações e danças, como marca de cortesia recíproca que se sucede em crescente animação.

No final da manhã, o Ataojá, acompanhado de sua corte e convidados aproxima-se do rio Òsún e manda jogar nele, através da Iya Òsún e do Aworo, oferendas de comidas: “agídí”(massa feita de milho), inhames cozidos,”iyanli”(espécie de sopa) etc.

Os peixes disputam as comidas sob o olhar atento das sacerdotisas de Òsún.

 A seguir o Ataojá vai ao recinto de um pequeno templo vizinho e senta-se em cima da pedra (Okutá Laro) onde seu antepassado Laro repousou outrora.

O Ataojá está rodeado pelos dignitários do culto de Òsún:

Iya Òsún, a mulher que se encontra à frente das sacerdotisas.

Aworo, o homem que se encontra à frente dos sacerdotes e seus substitutos.

Jagun Òsún, a mulher guerreira de Òsún.

Balogun Òsún, o guerreiro de Òsún.

Ololigan Òsún, o homem que se encontra à frente de todos aqueles que fazem oferendas a Òsún.

Ìyálòde Òsún, à mulher que se encontra à frente de todos os adoradores de Òsún, com exceção dos “Ìwòrò”.

Iyangba Òsún, a mulher que, a cada quatro dias, vai procurar água pra lavar os seixos de Òsún.

Àkùn Yungba Òsún, chefe dos cantores do culto a Òsún.

Prosseguindo ao cerimonial da festa a “Iya Òsún e o Aworo” realizam a adivinhação para saber se a divindade ficou contente com as oferendas que acabam de fazer-lhe e se tem alguma vontade a exprimir.

A seguir as pessoas cantam em torno do Ataojá, sentado na OKUTA LARO.

Seguem-se então cantigas em louvor a Òsún seguido de cânticos em comemoração a ação de  Òsànyìn cujas palavras evocam as virtudes simbólicas de certas folhas.

Ìrókò, que produz calma.

Ògègè a árvore na qual se sobe pra ficar protegido.

Òdúndún, sempre fresca.

A parte religiosa pública chegou ao fim. O Ataojá, seguido pela multidão volta à clareira onde recebe seus convidados e os trata com uma generosidade digna da reputação de Òsún.

Fora desta data anual são feitas oferendas a Òsún a cada quatro dias (semana yorùbá).

A festa anual (Odùn Òsún) retorna portando a cada noventa e duas semanas yorùbá, perdendo um dia em cada ano solar normal e dois dias a cada ano solar bissexto.

O Ataojá, referindo-se a deusa Òsún diz:

“O povo de Osogbo e o Ataojá tem um pacto com o rio Òsún”.

Eles acreditam que o espírito de Òsún mora no rio Òsún e tem ali seu palácio, em lugar próximo de Osogbo. Pensam também que todos os lugares profundos do rio Òsún, a partir de “Ìgèdè” onde ele nasce até a laguna de “Leke” onde ele despeja suas águas, são habitados pelos espíritos de todos os seguidores, servidores e amigos quando ela vivia.

Esses lugares profundos recebem a denominação de “Ibú”.

Finalizando diz: Todos os rios tributários que deságuam no rio Òsún são os dedos da deusa e todos os peixes que nele existem, bem como em seus afluentes são os mensageiros de Òsún.

Os tesouros de Òsún são guardados no palácio do “Ataojá” templo este que fica situado nas proximidades do rio Òsún.

Fonte: http://www.rulers.org/nigatrad.html

Texto: Notas sobre o culto aos Orixás e Vodoo

Pierre Fatunmbi Verger

Em homenagem a Obinrìn Òsún Eclair, que águas de Òsún possam diariamente lhe limpar de dentro para fora, Odùn de.

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Trabalhos!

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Na Encruzilhada da Vida

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Quando se fala em encruzilhada, imediatamente surge na cabeça dos brasileiros a ideia de Exu e de “bozó”, nome pelo qual o povo gosta de designar as oferendas que o povo de candomblé faz fora do terreiro-templo. Claro que a referida divindade está, sim, ligada aos entrecruzamentos de caminhos. Mas o simbolismo da encruzilhada e, consequentemente, da cruz está presente em muitas religiões, sendo, assim, universal. O catolicismo soube enaltecer e ao mesmo tempo popularizar a imagem da cruz, mostrando Jesus sacrificando-se pela humanidade, momento em que ultrapassou seu estágio humano. A cruz, com seus quatro “braços” que apontam para os quatro pontos cardeais, é símbolo de orientação no espaço, para que a jornada humana não seja perdida.

A encruzilhada, portanto, é um lugar de pausa, um momento parado no tempo, que leva à mudança de um estágio a outro ou, simplesmente, de uma situação a outra. Quando, portanto, oferendas nas encruzilhadas são depositadas, está se pedindo inspiração para o novo caminho que se deseja trilhar. Está se pedindo a quem? A Exu, que é, na crença nos orixás, a divindade orientadora dos caminhos, responsável por mostrar a direção correta a ser tomada, tendo em vista que as dúvidas e incertezas possam, por fim, dar o descanso necessário à mente. Exu é a nossa bússola, aquele que nos protege para que não fiquemos desnorteados. Afinal, enquanto seres humanos, nós somos muito instáveis.

Em rituais celebrados pelo candomblé, a característica de instabilidade do ser humano é cantada: Pákun aboìxá; Ibà pa ràn tán axó dá ma aro; a fi dà wa rá àxé akó ma orixá; orixá wa baba alaye = Apague o fogo dos incêndios e nos proteja do aguaceiro; apague o fogo, o calor que se alastra; termine com as muitas discussões e tristezas criadas; nós somos instáveis, transforme-nos, imploramos sempre pelas suas instruções e sua doutrina, orixá. Seja nosso mestre, o dono do nosso modo de viver. Cecília Meireles, em seu poema Ou isto ou aquilo, também nos lembra dessa particularidade, que tanto desgaste dá à mente humana:

“Ou se tem chuva e não se tem sol/ ou se tem sol e não se tem chuva!// Ou se calça a luva e não se põe o anel/ ou se põe o anel e não se calça a luva!// Quem sobe nos ares não fica no chão,/ quem fica no chão não sobe nos ares.// É uma grande pena que não se possa/ estar ao mesmo tempo em dois lugares!// Ou guardo o dinheiro e não compro o doce/ ou compro o doce e gasto o dinheiro.// Ou isto ou aquilo… ou isto ou aquilo…/ e vivo escolhendo o dia inteiro!// Não sei se brinco, não sei se estudo/ se saio correndo ou fico tranquilo// Mas não consegui entender ainda/ qual é melhor, se é isto ou aquilo.”

A vida nos coloca sempre em encruzilhadas, onde somos obrigados a escolher que atitude tomar, por isto se diz que é na encruzilhada que se encontra o destino. É que as encruzilhadas, isto é, os cruzamentos de caminhos, são espaços sagrados, daí a responsabilidade que se deve ter com os rituais e, consequentemente, os pedidos feitos nestes locais. Por exemplo, é comum o hábito de se depositar oferendas para determinadas “entidades”, com o objetivo de conseguir um amor. Inocentes pessoas que, sem o conhecimento devido, não sabem que os amores assim conseguidos são passageiros, tanto que em latim a palavra encruzilhada é conhecida como trivium, significando aquilo que é trivial, que é efêmero.

Repetindo, as encruzilhadas são lugares sagrados onde se pede ajuda aos deuses para que tenhamos critérios nas escolhas feitas, a fim de não nos perdermos no caminho. São também nesses locais que pessoas que possuem o devido preparo espiritual, com muita responsabilidade e respeito, realizam rituais cuja finalidade é despachar, no sentido de expulsar, as energias negativas, que o sagrado consegue transmutar em energias positivas, para depois serem devolvidas aos homens, já livre de todas as impurezas. Pois as encruzilhadas são lugares, e momentos, de reflexão para escolha do caminho a seguir, mas também são lugares naturais para que possamos nos desvencilhar das negatividades por nós criadas ou em nós respingadas.

Texto de: Maria Stella de Azevedo Santos | Iyalorixá Mãe Stella do Ilê Axé Opô Afonjá

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