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Archive for Agosto, 2011

Ègbé, a idéia do post é homenagearmos as grandes Iyalorixás do Brasil, sacerdotizas que fizeram e fazem a história do candomblé brasileiro e, para começar, ninguém melhor que uma descente da familia real Arô do Ketu em Benin Nigéria.

Perfil – Mãe Olga do Alaketu.

Olga Francisca Régis, nasceu em Salvador, Bahia, em 1925. Filha de Dionísia Francisca Régis, descendente da princesa Otampé Ojarô da linhagem da família Arô, do antigo reino Ketu, Benin África ocidental. Mãe Olga do Alaketu como era conhecida faleceu no dia 29 de setembro de 2005, foi a quarta Iyalorixá na sucessão.
A princesa Otampé Ojarô recebeu no Brasil o nome cristão de Maria do Rosário Francisca Régis, e foi um mito na fundação do terreiro.
Otampé foi sequestrada no final do século XVII, aos nove anos de idade por soldados daomeanos juntamente com sua irmã gemea Obôko Mixôbi e ambas foram vendidas a traficantes de escravos. No Brasil, foram compradas no mercado de escravos aos 16 anos e alforriadas. Otampé teria voltado a África , se casado e posteriormente voltando a Bahia seu marido adotou o nome de João Porfírio Régis. Ao chegar a Bahia arrendou um tereno na antiga Estrada do Matatu Grande, fundando o Ilê Maroiá Láji, casa dedicada a Oxumare até os dias de hoje.
Filha de Oyá com Irôko, Mãe Olga sempre dizia que os Orixás são seus educadores. MÃE OLGA DO ALAKETU- 79 anos

INICIAÇÃO: 79 anos

Filhos carnais: 12

Filhos iniciados: mais de 100

Orixá: Oyá

Mãe Olga do Alaketu, criada de acordo com os costumes africanos, foi iniciada aos 12 anos de idade, no Ilê Axé Maroiá Láji, em Matatu de Brotas. Antes de ser iniciada no candomblé, trabalhava com pintura, tecelagem e bordados. Aos 79 anos, a yalorixá passa seus conhecimentos a filhos, netos e bisnetos.
A mãe-de-santo conta que, em paralelo ao candomblé, teve também uma criação católica e sempre freqüentou a Igreja. “Eu fui batizada e crismada, e minha tia foi criada em um convento”, explica.
Mãe Olga teve 12 filhos biológicos, mas apenas seis estão vivos. Eles sempre acompanharam a mãe nas tarefas do candomblé e cresceram seguindo a religião. Foram iniciados ainda criança e todos ocupam cargo no terreiro. “Minha relação com eles, dentro do axé, é de acordo com as regras africanas. Em casa, eles tinham obrigações com os estudos e com o trabalho”, explica.
No candomblé, a yalorixá diz que não existe diferença na maneira de amar e tratar os filhos biológicos e os filhos-de-santo. “Uma yalorixá deve ter tanto amor pelos filhos-de-santo quanto por aqueles gerados por nós. Sempre peço a Deus por todos eles, que tenham saúde, paz e prosperidade, em qualquer lugar”, diz mãe Olga. “Os orixás são meus educadores. Foi para eles que vivi 79 anos e ensinei a meus filhos a acreditar na força de Deus e dos orixás”, explica.

Educação
A Iyalorixá compara a forma que foi criada, na década de 20, com a educação dos dias atuais. Mãe Olga conta que foi rigorosa com a educação de seus filhos e critica a educação dos jovens na atualidade. “O dever de um filho é obediência e respeito aos pais, o contrário do que se ver hoje. Os valores estão se perdendo com a criação moderna”, diz.
Mãe Olga alerta para os pais terem mais cuidados com os filhos. “A violência está cada vez maior. Não se deve privar a diversão, mas é preciso saber para onde vão e com quais companhias”, afirma. “Peço que tenham fé nos orixás”.

Mãe Olga recebeu das mãos do então Ministro da Cultura Gilberto Gi e de Mãe Stella de Oxóssi, o Prêmio Opaxorô no ano de 2003.

Sites: Mãe Olga do Alaketu.

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A natureza e o Candomblé

Falar sobre Candomblé hoje, para os adeptos mais preocupados e mais ativos quanto à religião, não significa apenas discutir sobre assuntos do terreiro, orixás e obrigações.

Hoje convido a todos para percebermos sobre o espaço em que a nossa religião está inserida, falando sobre a Terra e seus recursos, essa grande mãe que nos fornece além da possibilidade de vida, a possibilidade de termos uma fé, uma crença que se baseia totalmente no seu funcionamento.

Se fizermos um balanço entre os pensamentos que existem nas diversas partes do mundo, veremos diferenças gritantes entre estes pensamentos e conceitos. Estamos inseridos numa sociedade de cultura ocidental – judaico-cristã – a cultura de onde surgiu o conceito econômico mais forte mundialmente, o capitalismo, e de onde surgiu e está cada vez mais inerente a nós a globalização. O dia tem hora pra começar e terminar; andamos nas ruas correndo, vidrados nos relógios; o trânsito é um caos: buzinas, berros, chingamentos; pessoas que se esbarram nas calçadas e nem se pedem desculpas. Falta gentileza, falta o pedir licença, falta o “obrigado”. O individualismo cresce, o egoísmo idem, a violência cresce e nisso, por causa desse tempo louco, dessa falta de calma que nos habita, cresce desordenadamente também o número de pessoas estressadas, depressivas, à beira de um ataque de nervos, que descontam seus vazios no consumo de remédios e de bens materiais como se o dinheiro comprasse a felicidade…

A ideia de que o dinheiro move o mundo e o dinheiro compra tudo está também inserida na nossa sociedade, a vontade para o “agora” é a que prevalece, então, se agora queremos energia elétrica construímos usinas hidroelétricas, independentemente dos prejuízos que estas usinas possam trazer à biodiversidade local ou à cultura de um povo “despejado” da sua própria terra; queremos móveis nas nossas casas independentemente da madeira ser de uma área de floresta protegida; não queremos que as ruas encham d’água durante as chuvas, mas não deixamos de lançar na rua, ou pela janela do carro, ou do coletivo, latas de refrigerantes, embalagens de comidas ou qualquer outro produto que não nos sirva mais.

Nós queremos uma vida melhor não só quanto a comida e a educação: queremos cidades mais limpas, mais puras, não sermos contaminados por uma leptospirose, por exemplo. Mas pouco as pessoas têm feito para mostrar esse tipo de cidadania.

Com tudo isso, a níveis urbanos, ou a níveis mundiais, quero falar sobre a natureza. A humanidade pede socorro e esse fato não é um terrorismo de pensamento, é uma realidade. Nós, como criados numa cultura ocidental aprendemos indiretamente que a natureza está para suprir as nossas necessidades, aprendemos que o homem está acima dela, que deus criou o homem sua imagem e semelhança e criou a natureza para servir a este homem criado a partir de deus. A partir desta concepção, a natureza é explorada, é extrapolada e vem sendo destruída pelo homem.

Como na natureza (assim como na vida) tudo é um ciclo, uma cadeia, sempre há as reações. Diferenças drásticas de temperatura são reações, chuvas torrenciais inesperadas são reações, queimadas desordenadas e quase incontroláveis em vários ecossistemas também são reações, e todas estas reações afetam de maneira direta ou indireta os ciclos que fazem a Terra funcionar e conseqüentemente também a nós, seres humanos, os seres causadores da maior parte de todo este silencioso caos.

Nós fomos criados numa cultura ocidental, porém fazemos parte de uma religião que tem como sua raiz conceitos totalmente contrários aos desta cultura.

Somos ramificações da natureza, fazemos parte dela, assim como ela faz parte de nós. Do que seríamos nós sem ela, do que seria nossa religião sem ela? Seria possível dar continuidade às nossas tradições sem a natureza? Não, meus irmãos. Nossos antepassados em África e também aqui no Brasil nos ensinaram que a natureza vem em primeiro lugar: agradamos a mãe Terra quando agradamos nossos orixás, saudamos a mãe Terra quando saudamos aos nossos orixás, tocamos a mãe Terra, pedimos sua licença, antes de cumprimentar um orixá ou um mais velho dentro da religião.

Nós temos as nossas divindades que fazem parte dos elementos da natureza. Elas estão representadas nestes elementos e os elementos estão representados nelas: os orixás. Olorun deu aos orixás seu respectivo elemento para que cada um o representasse, fosse responsável e com a ajuda dos humanos mantessem o equilíbrio entre a natureza e os seres habitantes da Terra. Nós não estamos acima da natureza e nem abaixo da natureza, pois fazemos parte dela, vimos dela e seja de qualquer maneira, voltaremos para ela.

Provavelmente, se esse pensamento fosse mais coletivo, a natureza não estaria revidando de forma tão agressiva ao tratamento que a temos dado. Por isso, nós como pertencemos a uma religião que tem por base esta natureza e dependemos dela para continuar na nossa fé, temos sim o dever de tentar impactá-la o menos possível, tanto como cidadãos nas ruas evitando lançar o lixo em outro lugar que não seja uma lixeira, por exemplo, como a nível religioso, como por exemplo, a disposição dos ebós quando levados para fora do terreiro ou quanto às oferendas direcionadas a Yemanjá no mar ou a Oxum nos rios, pois aqueles vidros de perfumes, ou outros objetos de plástico ou de vidro não somem simplesmente dentro da água, eles permanecem ali ou são levados de correnteza em correnteza e demoram dezenas ou centenas de anos até sejam decompostos.

Não quero aqui propor uma mobilização para sermos “politicamente corretos”, não é isso de maneira alguma. Apenas penso que se os diversos setores da sociedade se mobilizarem para contribuir com o meio ambiente, estas mobilizações, ainda que pequenas em seu grupos, repercutirão em ótimos resultados se forem observadas numa visão geral. E eu, como religiosa e esperançosa quanto ao futuro da religião a partir dos meus netos e tataranetos, me vejo no dever de contribuir de alguma maneira para um ambiente mais limpo, menos poluído e uma natureza viva e presente no nosso Candomblé nesta e noutras gerações.

Axé!

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Postarei uma matéria veiculada por um jornal que nos conta um pouco sobre esta riquíssima fonte de sabedoria e cultura dentro do nosso culto de òrìsá. Tenho muito orgulho de ter participado por quinze anos desta família, minha mãe, da qual me orgulho muito e seu irmão carnal são filhos deste àse, fizeram parte do primeiro barco da ilustrissíma Senhora Dª Regina Bomgbose, mo juba esa.

MATÉRIA JORNAL ICAPRA ”CANDOMBLÉ PERDE SUA IYÀ ÀGBÀ DA FAMÍLIA BAMGBOSE OBTICO”.

 Por: Prof. J. Benistes

Rodolfo Sawser

Uma das últimas Iyálorisas, pertencente a uma rica geração de matriarcas plenamente identificada com as rígidas normas do Candomblé. Regina Topázio de Souza, mais conhecida como Mãe Regina de Bamgbose, foi sempre consciente de suas origens, sabendo preservar com extrema autoridade, uma vida exemplar a ser seguida pelos seus descendentes e merecedora de estudos por ser parte integrante da história dos Candomblés do Brasil.

Sua biografia se reporta aos ancestrais familiares que viveram há mais de 200 anos no Brasil, sempre dedicados a criar uma vida de trabalho e de devoção total às crenças de seus antepassados. Foram tão competentes que influenciaram as demais raízes do Candomblé. A memória coletiva revela que Ìyá Násò, depois de organizar os primeiros momentos do Candomblé do Engenho Velho, em Salvador, resolveu ir para a África juntamente com Oba Tósí, Marcelina da Silva, por volta de 1837. Após 7 anos de permanência, retorna trazendo alguns africanos, entre eles, Bamgbose de Sàngo, que aqui no Brasil tomou o nome civil de Rodolpho Martins de Andrade, e que seria o patriarca de numerosos descendentes. Numa época escravocrata, assumiu condições de trabalho, como forma de ter e lhe dar condições na organização do culto, conforme desejo de todos.
A sua vinda foi de uma importância fundamental para o grupo que estava sendo formado, tentando dar forma a um modelo de ritual dentro de um padrão de possível aceitação na nova terra. Era um grupo ligado ao culto de Sàngo, como Iya Naso, Rodolpho Obitico, Joaquim Oba Sanya, Marcelina Oba Tosi e Aninha Oba Biyi, entre outros. Isto fez com que a participação deste Orisá nos ritos religiosos se tornasse relevante, com possível razão pela inclusão do Osú, como símbolo da iniciação, o uso do ileke, o obrigatório Àmàlà semanal e a seqüência de cânticos denominada Roda de Sàngo, ponto de partida para a manifestação dos demais Orisas.

Conhecido e citado como Bamgbose (Ajuda-me a carregar o Ose) viria a ser reverenciado como Obitiko, (A família que se reúne), na relação dos ancestrais citados durante o ritual de Ipade, ao lado de Asika, Ajadi, Oduro, Kayode, Adeta Okanlede e demais personagens importantes da ancestralidade afro-brasileira. Os nomes dos homens aqui relacionados possuem muita importância, pois os antigos Babalawos eram considerados como irmãos das mães de santo e, assim, vistos como Tios merecedores do maior respeito e reverencia. Tinham eles entrados franca em todas as comunidades e sempre consultado. Eram raros, e não como nos dias atuais. Rodolpho Bamgbose aqui teve vários filhos, sendo que uma de suas filhas viria a dar sentido à família Bamgbose. Julia Maria de Andrade, falecida em 1925 e conhecida como Vovó Julia de Sàngo Aganjú, cujo nome iniciático era Oba Dára (O bom rei). Casou-se com Eduardo Américo de Souza Gomes, um africano natural de Abeokuta, onde nasceu em 1833, e para lá tendo voltado. Um dos filhos do casal seria personagem importante na linhagem religiosa, Felisberto Nazarenos Sowzer, ou Souza, de Ogunjá, iniciado por um tio, Ewetundé, cujo nome dado foi Oguntosí (Ogun é digno, poderoso). Outro filho foi para a Nigéria e não retornou.

Em uma de suas visitas ao Rio, em 1886, Bamgbose, juntamente com Joaquim Vieira e Aninha, organizou um grupo no Bairro da Saúde, num local de reunião de antigos cativos e libertos, talvez um antigo Zungu, deixando alguns símbolos e pedras ligados a Sàngo, que viria fazer parte da história do futuro Axé Opo Afonjá, do Rio. Em uma viagem de Recife para Salvador, passou mal vindo a falecer em Salvador, em 1908. Felisberto, que ficou conhecido como Benzinho, nasceu em Lagos, na Nigéria, vinda criança para o Brasil, tornou a voltar para a África e mais tarde retornando como Babalawo Ifásesi. Talvez seja que neste transito o seu sobrenome Souza. Era inteligente instruí, pois sabia falar inglês e nagô. Passou a viver com uma senhora africana chamada Damásia com quem teve duas filhas, Tertuliana Sowzer de Jesus, iniciada para Ibualámo Ode Tibuse, e Caetana Américo de Souza, já falecida, e que fez Osun Iyeponda. Fundou o Ilê Axé Lajuomin em 1941, em Salvador. Air Jose de Souza de Osogiyan Iwin Solá (Osoguiyan gerou a honra e prosperidade). Filho carnal de Tertuliana e iniciado por Caetana, sua tia viria a fundar, em Salvador, o Ilè Odo Oje, Casa do Pilão de Prata, em 1964. Caetana tem seu rosto esculpido em bronze com o título de Mãe Preta, na frente do Terreiro.

Em seu segundo casamento, com uma filha de Santo de Vovó Júlia, teve quatro filhos: Crispim de Souza, de Osoosi, Taurino de Souza de Obatalá, Regina Topázio de Souza, nascida em 1914, de Yemonja Oguntè, com o nome iniciático de Omi Olà (As águas da fortuna, da riqueza), e Irene Souza dos Santos, nascida em 1919, de Sàngo, cujo nome dado foi Oba Dipo (O rei ocupa o seu lugar), e que teve como Mãe-Pequena, Aninha Oba Biyi. Regina com 6 anos de idade, e Caetana com 13 anos foram iniciadas num mesmo barco, pelas mãos de Judith de Oya, uma filha de santo de Benzinho. Vindo para o Rio, no início do século passado, Benzinho passou a exercer suas atividades na Rua Marques de Sapucaí, no centro da cidade, e depois, na Rua Navarro, no Catumbi. Aqui viveu na mesma época de Abedé, Alágba, Pequena de Osalá e Aninha que aqui estava tendo ambos feitos o ajejê de Abedé em 1933. Foram os autores dos textos da Fecundação os Odús, um sistema de jogo de búzios, mais prático do que o intrincado sistema de ifá, devidamente adaptado à nossa realidade. Todos os Caminhos para a prática do jogo foram legados os seus filhos, tendo sido, mais tarde, adotado por todos que se utilizavam da prática do jogo por Odú.

Benzinho Bamgbose morreu no Rio, em 1943, com 66 anos de idade, tendo mais tarde seu corpo sido transferido para Salvador no mesmo cemitério onde seu avô foi enterrado na Igreja do Pelourinho. Seus descendentes, Caetana e Irene, abriram casa em Salvador; Regina de Yemonja ficou no Rio e abriu sua casa, em Santa Cruz da Serra, o Ilê Axé Iya Omi, na Baixada Fluminense em Duque de Caxias, em 1957, ficando à frente até o seu falecimento. Os Bamgbose possuem grande expressão e sobretudo reconhecimento em razão de seus descendentes serem muito atuantes no meio religioso com a distinção de serem iniciados dentro deste àse poderosíssimo, realizando suas obrigações, de preferência entre si. Sendo a família biológica do Candomblé, de maior número de integrantes, transformaram o importante título Yorubá, em uma denominação marcante representativa de rica linhagem familiar, a Família dos Bamgbose.

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Kimbanda

O Kimbanda é um herbalista (que pesquisa plantas curadoras) ou curandeiro espiritual em muitas sociedades africanas e também em muitas sociedades da diáspora africana, tais como aquelas no Haiti, Cuba e Brasil.
Outro termo que designa o curandeiro da tribo é Nganga, que em determinado momento, em parte do território Banto, na África do Sul, acabou ganhando o significado totalmente ao contrário, como se o mesmo se tratasse de um “feiticeiro mal”, e não o seu termo original, que é tido como um benfeitor da tribo.
O Kimbanda é bastante familiarizado com muitas das causas físicas das doenças, e utiliza ervas e plantas da medicina popular em sua prática médica. O tratamento, porém, costuma ser sempre acompanhado de amuletos e fórmulas mágicas para controlar os espíritos maus. É uma crença comum a existência de feiticeiros, pessoas que tentam fazer o mal aos outros usando, por exemplo, magias maléficas.
A tarefa do curandeiro é anular o feitiço empregando os mesmos métodos magísticos.
Os efeitos que o Kimbanda atribui aos medicamentos são devidos não somente às propriedades reais dos elementos naturais (pantas, por exemplo), mas também e sobretudo, à força simbólica desses mesmos elementos.

KIM: Médico ou sacerdote dos Cultos bantos.
BANDA: Lugar ou cidade.

KIMBANDA – O CURANDEIRO.

Artigo: Renato da Silveira
Professor da Universidade Federal da Bahia
Doutor em Antropologia pela E.H.E.S.S de Paris

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O JULGAMENTO DIVINO.

Esta semana um comentário no Blog me despertou um sentimento de frustração em relação a algumas pessoas e o modo de se relacionar dentro e com a nossa religião. Baseado nas afirmações indígenas e suas parábolas nigerianas vêem no texto abaixo o destino de pessoas que não encaram os desígnios da egregóra com seriedade.

As faltas cometidas são serias e os atos tanto de iniciados, oyès e sacerdotes, nos remetem a contemplação e pensamentos muito tristes. Os tabus são rompidos, a ética é esquecida em alguma gaveta, o desrespeito com os mais velhos e anciãos são recorrentes, já vimos este fato ocorrer no nosso Blog. Eu sempre digo que este mundo é o “mercado”, onde fazemos nossas compras e levamos para nossa verdadeira casa, o Òrum, que tipo de mercadoria viemos comprar?

Com que produtos devemos alimentar o nosso Eledá, que ficou no òrum esperando nossa volta?

Leiam e reflitam.

Ìdájó Ti Olórun – O Julgamento Divino.

Há um lugar definido, fora desta terra, para onde os falecidos vão. O nome utilizado para este lugar é Òrun que, num sentido geral, significa Céu, o lugar onde Olodumarè, os Òrìsás e os espíritos diversos habitam. 
A denominação de todos esses habitantes do Òrun é Ara Òrun, cuja principal diferença entre eles e os araàiyé (habitantes da terra) é a de que aqueles não necessitam do èmí, a respiração, para sobreviver, no dizer de J. E dos Santos – “o òrun é todo espaço abstrato paralelo ao aiyé”.  Outros alegam que o Òrun é muito longe, sendo por isso que o recém-morto tem que adquirir energia, consumido a comida e a bebida oferecidas durante a s cerimônias fúnebres, antes da ida para a longa viagem.
Para uma conclusão lógica da localização do Òrun, devemos nos fixar no seguinte: se Olodumarè é a origem desta alma que continua a viver depois da morte, ela forçosamente irá regressar à sua origem.
O Òrun é dividido em outros tantos espaços para acomodar todos os tipos de espíritos. São em número de nove, segundo as tradições, embora tenhamos conseguido relacionar apenas oito, com denominações diversas e condizentes com suas finalidades:
– Òrun Rere- o bom lugar para aqueles que foram bons durante a vida.
– Òrun Àlàáfíà- o local de paz e tranqüilidade.
– Òrun Funfun- òrun do branco e da pureza.
– Òrun Babá Eni- o òrun do pai das pessoas.
– Òrun Aféfé- o espaço da aragem, local de correção, onde os espíritos permanecem e tudo é corrigido, e lá ficarão até serem reencarnados.
– Òrun Ìsàlú ou Àsàlú- local onde são realizados os julgamentos.
– Òrun Àpàádi – o òrun dos “cacos”, do lixo celestial, das coisas
quebradas, impossíveis de reparar e de serem restituídas à vida terrestre através da reencarnação.
– Òrun Burúkú- o mau espaço, quente como pimenta e destinado às pessoas más.
Alguns dos òruns relacionados se equivalem pela finalidade que possuem, os mortos são encaminhados a um desses espaços após o fator decisivo do julgamento divino, pois, na realidade, o julgamento ocorre durante todo o tempo de vida da pessoa na terra. As divindades contrárias ao mal acompanham as pessoas em sua vida diária e dão a sua punição.
O juízo final fica a cargo de Olodumarè, decidindo quais são os bons e quais são os maus, e os encaminham para os respectivos òrun. O julgamento é
baseado nos atos praticados na terra e devidamente registrados no orí inú, que retorna para Olódùmarè. A maneira como é feito julgamento pode ser entendida através do seguinte provérbio:
 “Todas as coisas que fazemos na terra, damos conta de joelhos no céu”

Somente quando se é absolvido por Olodumarè é que se tem a oportunidade de
reunir-se com seus ancestrais, podendo-se reencarnar e renascer dentro
da mesma família.
Se alguém, porém é condenado vai para o Òrun Àpáàdi, onde irá sofrer com os maus. Quando finalmente for libertado, não terá oportunidade de viver uma vida normal e será condenado a errar, por lugares solitários, comendo alimentos intragáveis.
Isto é lembrado em trechos de palavras de despedida a uma pessoa que morre:

“Não coma centopéias
Não coma vermes
Coma as coisas boas que eles comem no céu
Coma com eles”

Fonte: http://br.geocities.com/cleidepizani/

 *Os nomes dados aos espaços do òrum carecem de confirmação.

 

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Irmandade da Boa Morte.


Exaltação à vida! Aiyê – Orun

A história da confraria religiosa da Boa Morte se confunde com a maciça importação de negros da costa da Àfrica para o recôncavo canavieiro da Bahia, onde o gênio aventureiro ibérico edificou belas cidades como a de Cachoeira, segunda em importância econômica na Bahia durante três séculos. O fato de ser constituídas apenas por mulheres negras, numa sociedade patriarcal e marcada por forte contraste racial e étnico, emprestou a manifestação afro-católica, como querem alguns, notável fama, seja pelo que expressa o catolicismo barroco brasileiro, de indeclinável presença processional nha rua, seja por certa tendência para a incorporação aos festejos propriamente religiosos de rituais profanos pontuados de muito samba e rega-bofe. Há que acrescentar ao gênero e a raça dos seus membros a condição de ex-escravos ou descendentes deles, importante característica social sem a qual seria entender tanto aspectos ligados aos compromissos religiosos da confraria, onde ressalta a enorme habilidade dos antigos escravos para cultuar a religião dos dominantes sem abrir mão de suas crenças ancestrais, como também aqueles aspectos ligados à defesa, representação social, política dos interesses dos adptos.

Origem Remota e uma Luta Antiga. No Brasil Colonial e depois, já no país independente mas ainda escravocata, proliferaram irmandades. Para cada categoria ocupacional, raça, nação – sim, porque os escravos africanos e seus descendentes precediam de diferentes locais com diversas culturas. Dos ricos, dos pobres, dos músicos, dos pretos, dos brancos, etc. Quase nenhuma de mulheres , e elas, nas irmandades dos homens entravam sempre como dependentes para assegurarem benifícios corporativos advinhos com a morte do esposo. Para que uma irmandade funcionasse, diz o historiador João José Reis, precisava encontrar uma igreja que acolhesse e ter aprovados os seus estatutos por uma autoridade eclesiástica. Muitas conseguiram construir a sua própria igreja como a do Rosário da Barroquinha, com a qual a Boa Morte manteve estreito contato.
O que ficou conhecido como devoção do povo de candomblé. O historiador cachoeirano Luiz Cláudio Nascimento afirma que os atos litúrgicos originais da Irmandade de cor da Boa Morte eram realizados na igreja da Ordem Terceira do Carmo, templo tradicionalmente frequentado pelas elites locais. Posteriormente as irmãs transferiran-se para a igreja de Santa Bárbara, da Santa Casa da Misericórdia, onde existem imagens de Nossa Senhora da Glória e da Boa Morte.
Desta, mudaran-se para a bela igreja de Amparo desgraçadamente demolida em 1946. Daí saíram para a igreja Matriz, sede da freguesia, indo depis para a igreja da Ajuda. O fato é que nãose sabe ao certo precisar a data exata de sua origem. Odorico Tavares arrisca uma opinião: a devoção teria começado mesmo em 1820, na igreja da Barroquinha, tendo sido os Jêjes deslocando-se até Cachoeira, os responsáveis pela sua organização.
Outros ressaltam a mesma época divergindo quanto à nação das pioneiras, que seriam alforriadas Ketu. Parece que o “corpus” da irmandade continha variada procedência étnica, já que fala-se em mais de uma centena de adptas nos seus primeiros anos de vida. Historicamente essa data parece fazer sentido.
A historiografia dessas notáveis mulheres cachoeiranas continuava a desafiar a inteligência de jovenspesquisadores. Seus rituais secretos ligados ao culto dos orixás também estão a requerer leitura etnográfica que respeite, naturalmente, os limites à manutenção dos segredos, tão importantes na manutenção dessa vertente religiosa. O que tem ressaltado é o aspecto externo do culto referido quase todo ao simbolismo católico e a sua apropriação afro-brasileira.
Durante o começo do mês de agosto, uma longa programação pública atrái a Cachoeira gente de todos os lugares, o mais representativo documento vivo da religiosidade brasileira, barroca, íbero-africana. Ceias, cortejos, missas, procissões, samba de roda colocam cerca de 30 remanescentes da Irmandade que já possui 200, no centro dos acontecimentos da provinciana cidade e, ultimamente, nos principais órgãos noticiosos da capital e tele-jornais.A festa propriamente dita tem um calendário que inclúi a confissão dos membros na Igreja matriz, um cortejo representando o falecimento de Nossa Senhora, uma sentinela, seguida de ceia branca, conposta de pão, vinhos e frutos do mar obdecendo a costumes religiosos que interditam o acesso a dendê e carne no dia dedicado a Oxalá, criador do Universo, e procissão do enterro de Nossa Senhora da Boa Morte, onde as irmãs usam trajes de gala.
A celebração da assunção de Nossa Senhora da Glória, seguida de procissão, em missa realizada na Matriz dá curso à contagiante alegria dos caichoeiranos que irrompe em plenitude, nas cores, comida e bastante música e dança que se prolongam por diversos dias, a depender dos donativos arrecadados e das condições de pecúlio do ano.
Como todas as confrarias religiosas baianas, a Irmandade da Boa Morte possui uma estrutura hierárquica interna para gerir a devoção diária e doméstica de seus membros. A direção é composta por quatro irmãs responsáveis pela organização da festa pública de agosto e substituídas anualmente. No topo da administração da vida da Irmandade da Boa Morte está a juíza Perpétua, posição de maior destaque e atingida por status adquirido, ocupada pela mais idosa adepta. A seguir, situam-se os cargos de procuradora Geral, Provedora, Tesoureira e Escrivã, estando a Procuradora à frente das atividades executivas religiosas e profanas.
Para serem aceitas as noviças além de estarem vinculadas a alguma casa de candomblé, geralmente Jêje, Ketu ou Nagô Batá na região e professarem o sincretismo religioso, deverão se submeter a uma iniciação que impôe um estágio preparatório de três anos, conhecido pelo nome de “irmã bolsa”, aonde é testada a sua vocação. Além de irmãs de devoção, são algumas vezes irmãs de santo e quase sempre parentes. É notável como a ancestralidade africana se reelabora no interior das instituições religiosas baianas e como as irmandades leigas acabam prestandoserviço a esse processo de intercurso cultural.É admirável que, a propósito de celebrarem a morte, essas mulheres negras cachoeiranas tenham sobrevivido com tanta majestade e garbo. O mais incrível é o que o sistema de crenças tenha absorvido com tamanha funcionabilidade e creatividade os valores da cultura dominante, realizando, em nome da vida, complexos processos de apropriação como o evidenciado na descida da própriaa Nossa Senhora à irmandade, a cada ciclo de sete anos, para dirigir em pessoa os festejos, investida da figura de Procuradora-Geral, celebrando entre os vivos a relatividade da morte.
Tais elementos podem ser constatados tanto na simbologia do vestuário, quanto nas comidas de preceito que evidenciam recorentes ligações entre este (Aiyê) e outro mundo (Orun), para utilizar aqui duas expressões já incorporadas à linguagem popular da Bahia. Assim como as confrarias, a devoção a Boa Morte foi muito comum na bahia colonial e Imperial. Sempre foi uma devoção popular. Na igreja Nossa Senhora do O Rosário na Barroquinha ela ganhou expressão e consistência. Deve-se dizer que ali teve origem uma das mais respeitáveis casas de candomblé da Bahia; fundada no século XVII, a Casa Branca do Engenho Velho da Federação.
Devoção popular e mais que isso, racial, na medida em que agregou principalmente negros e mestiços. Suas origens temontam ao Oriente tendo sido adotado por Roma no século VII. Já dois séculos depois a festa da Assunção de Nossa Senhora está disseminada por todo o mundo católico. Trazida de portugal para o Brasil- onde era conhecida como Nossa Senhora de Agosto – ganhou interpretação peculiar, características próprias e por causa disso, a devoção sempre criou atritos com as autoridades da igreja. Sua difusão entre a comunidade baiana, entre a comunidade baiana, entre outras coisas, deveu-se ao fato de que a mediunidade popular característica dos cultos africanos sempre relativizou o problema da morte, na medida em que os adeptos do candomblé acreditam em reencarnações sucessivas.
Emprestou, portanto, ao culto originalmente católico elementos do seu sistema de crenças e componentes sócio-históricos da dura realidade escravista que fez do cativeiro sofrível martírio para os que vieram na diáspora.
De sorte que a devoção a Nossa Senhora da Boa Morte passou a ter também um significado social, permitindo a agregação dos escravos, facultando a manutenção de sua religiosidade num ambiente hostil e delimitando um instrumento corporativo de defesa e de valorização do indivíduo, tornando-se, por todas essas razões, um inigualável meio de celebração da vida.

Bibliografia:copilação de matéria da revista Candomblé Mitos e Lendas-editora Minuano
Centro cultural Pai Toninho de Xangô

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