No dia 09/02/12, fomos convidados eu e meu irmão Muiji por nossos amigos Nelson Tomeje e Márcio de Jagun, a falar sobre “Tradição e Cultura Bantu” no programa Orí na rádio Metropolitana do RJ.
No decorrer da entrevista, meu entrevistador Márcio de Jagum, me perguntou o que poderia ser feito para se manter a tradição de uma casa de Angola, eu respondi que era muito fácil, mas extremamente difícil, pois depende muito dos filhos ou descendentes desta tradição, manter e seguir os ensinamentos que lá existem.
Claro que existirão diferenças entre a casa matriz e as descendentes de lá, pois os filhos são pessoas que pensam diferentes, com Jinkisi (plural de Nkisi) diferentes e suas festas próprias, mas no grosso no geral, todas têm que se parecer ou ser iguais daquela que descendem.
Você tem que reconhecer uma casa tradicional pelas suas cantigas, ritos e toques próprios.
Alguns anos atrás, quando se entrava em uma casa de candomblé, sabia-se exatamente a qual tradição religiosa pertencia aquela casa, simplesmente por sua cerimônia seguir a casa matriz, mas, Infelizmente hoje em dia, existe uma busca incessante e muito das vezes bastante irresponsável pelas por um resgate dissimulado, não um resgate de suas raízes e dentro de seu Ndanji (raiz, axé), mas sim por um resgate de uma cultura que não lhe pertence, que não é seu, um resgate da cultura alheia, das casas que não fazem parte de sua tradição.
E isso causa uma miscigenação e uma mistura que não deveria acontecer, a mistura de tradições de casas diferentes em uma só.
Festas inapropriadas, cantigas, roupas, Jinkisi e tudo o mais que não pertence aquela casa.
Aprender é essencial, mas aprender com responsabilidade e passar aos seus, sua verdadeira tradição.
Não estou aqui querendo dizer quem é certo ou quem é errado, e sim, dizer que o certo é você ser fiel seguidor das tradições de sua casa e não fazer da sua casa um “axé cadinho”… Cadinho daqui, Cadinho dali…
Vamos nos ater as nossas tradições culturais de nosso axé, vamos usar tudo que temos em nosso poder, sem burlar as regras e normas da preservação de uma casa e seus costumes.
O Candomblé só depende de nós mesmos, de nossas consciências e de nossas responsabilidades, para se manter forte, grande e opulento.
Não vamos jogar fora a grande oportunidade que os Deuses nos deram de manter aqui, uma cultura de outro continente.