Os seres humanos são chamados ènìyàn (os escolhidos), porque eles foram ordenados “para transmitir a bondade” para o mundo, sob as ordens de Òlódùmarè. Em outras palavras, permanece a divindade na humanidade, e vice-versa.
Vamos agora considerar o Ori-inu. A ideia africana de espírito foi concebida e descrita de maneiras diferentes. Em yorùbá, a ideia do Eu transcendental, ou espírito, tem sido difícil de expressar em Inglês. Alguns chamaram o espírito de Èmí.
Èmí é invisível e intangível. Esta é a força da vida soprada em cada ser humano por Òlódùmarè. Não deve ser confundido com Eemi, que é simplesmente respiração. Èmí é o que dá a vida ao corpo. Quando ele o deixa, a vida cessa.
O yorùbá diria sobre um cadáver:
Èmí re ti bo.
Seu Èmí foi embora.
Porém, ela (Èmí) não é espírito.
Ela é invisível e intangível, é seguramente relacionado com a respiração, o que pode ser pensado em residir na boca e no nariz.
O verso abaixo nos mostra o quanto Èmí é importante.
O Odù Ìwòrì ‘Ìròsùn (Ìwòrì Gósùn) diz:
Ifá foi lançado para Oni Gósùn
Ao chorar por causa de sua pobreza
Ele foi aconselhado
A fazer oferenda com (osùn)
E uma abundância de dinheiro
Este foi o ebo prescrito
Quando o ebo for realizado
Não use o ebo para tocar sua cabeça
É o peito que você deve tocar
Seu Ori vai aceitar o sacrifício
Mesmo que o seu peito recuse a oferta
Após, o ebo ter tocado seu peito ele vai para Èşù.
Èmí é muito importante, pois enquanto ele estiver do nosso lado, estaremos vivos.
O verso abaixo canta, que por ser tão importante Ọrúnmìlà vem a se casar com ela, Èmí é um personagem importante em nossa vida.
Esse canto nos diz o quanto é importante cuidarmos de nosso corpo, de nossa alimentação, de não termos vícios, para não anteciparmos, por nossa própria ignorância, o dia de nossa volta para casa (Ợrùn) e deixarmos de cumprir nosso destino (Objetivo primordial na vida do ser humano, Abimbola).
Cuidemos de nossos hábitos, cuidemos de nosso corpo para que Èmí não nos abandone.
Odù Èjì Onile – Èjì Ogbè diz:
A cabeça do albino é cheia de cabelos cinza
O corcunda carrega o material de Òòsà sem ajuda
É de Lààlààgbàjà que ele tem trazido todas suas coisas
Estes foram os sacerdotes que fizeram divinação para Ọrúnmìlà
Quando ele estava vindo para ter Èmí
A filha de Òlódùmarè, como uma esposa.
Èmí, a filha de Òlódùmarè.
Descendentes daquele que senta-se sobre uma fina esteira e cuja cabeça está desprotegida da chuva.
Foi dito para Ọrúnmìlà fazer um sacrifício,
Ele fez.
Foi dito para ele fazer um sacrifício para Èşù,
Ele fez.
Seu sacrifício foi imediatamente aceito pelas divindades.
Ele disse: Eu realizarei, se Èmí não falhar.
Há esperança de ter dinheiro
Isto é certo
Existe a esperança de ter dinheiro
Se Èmí não falhar
Há esperança de ter esposa/marido.
Isto é certo
Se Èmí não falhar.
Há esperança de ter casa.
Isto é certo
Se Èmí não falhar.
Há esperança de ter filhos
Isto é certo
Se Èmí não falhar
Há esperança de ter saúde
Isto é certo
Se Èmí não falhar
Há esperança de ter todas as boas coisas da vida
Isto é certo
Se Èmí não falhar.
A concepção yorùbá da natureza humana se divide em duas partes: o material e o imaterial. O corpo material, a parte que age e reage ao ambiente físico, consiste no Ara, ou corpo físico, o Ojiji, ou sombra, e o Ije, ou mente.
Os aspectos imateriais, imperecíveis, incluem o Okan ou coração e o Èmí, ou espírito.
De todos os aspectos do homem, a Èmí é visto como a sede da vida, porque é a parte do ser humano mais próxima dos deuses. A maior parte da humanidade usa tanto o Okan (coração) como o Ara (corpo). A vida/duração de Èmí é determinado pelas ações da pessoa enquanto na carne.
Um Owe (provérbio) yorùbá confirma isso:
Àkúnlèyàn
E da Adele aye tan
Oju n kan gbogbo wà,
Nós nos ajoelhamos no Ợrùn.
Para escolher o nosso destino
Porém, nos esquecemos,
Por que estamos com pressa na vida!
Por Odé Gbàfáomi
Fontes consultadas:
Áwo Dino (In memoriam)
Bàbá Sehinde A. Ademuleya
Dr. em Antropologia da Universidade Obafemi Awolowo, Ìbàdàn – Nigéria.
J. Olumide Lucas, A Religião do yorùbá, Londres, A. Brown & Sons, 1948.
Bom dia a todos os irmãos do Blog, kolofé aos mais velhos e mais novos.
Babá da Ilha como sempre nos benzendo com palavras sábias e de grande valia para nosso engrandecimento religioso e cultural! Parabéns Babá e que todos os Orixás, Voduns e Inkices possam iluminá-lo cada dia mais! O senhor merece!
Fomo de Azansú.
Ase ooooooooooooooo
Erinlè ki nba se o.
Ire
Èmí o sopro divino de Olodumare!
Adupé omo Erínlè, àse èèèpà Bábà!
Omo Giyan
Lindas palavras com grande Sabedoria BABA DA ILHA. Em meus pensamentos sempre tendo Èmi por muitos e muitos anos com Vós e todos nós sendo abençoados com palavras sabias com grandes ensinamentos de BABA. Muito AXÈ. De CidaD”omonja
Àse … bom texto, principalmente pela separação de èmí e èémí.
Conhecer estes princípios básicos são fundamentais para compreender o tema “Orí e Noção de Pessoa”.
Vários autores publicam conceitos deturpados devido a isso, pois quando não se separa os dois conceitos, não encontram “depois” o principio de imortalidade do homem, colocando-o no Ipòri ancestral, identificando-o equivocadamente com o “duplo” do ara-ayé.
Um adendo é que èmí é melhor aplicado para o conceito de ara-òrun (ser desencarnado).
Para o ara-ayé (ser encarnado) é mais adequado o uso de okàn (alma), ou báraa (expressão idiomática para designar a alma da própria pessoa) que a academia chama de enikèji (conceito discutível por ser dúbio).
Estes conceitos ajudam a compreender a diferença entre orí-cabeça criada por Obatala, e orí-destino, conceito abstrato de destino criado por Ajala. São coisas separadas e diferentes que juntaram-se numa única palavra: Orí.
Parabéns pela seleção do texto.
Mo juba Baba Fernando.
Erinlè ki nba se o
Ire aiku.
Vlatima muito obrigado pelo carinho.
Ire
Luiz obrigado pelas palavras.
Ire alafia.
Boa tarde, Dailha!
Muito bom o texto, porém muito complexo, sobretudo para nós ocidentais que enxergamos o mundo material e imaterial através da dicotomia e antagonismos, situações criadas, ou reafirmadas pela cultura judaico-cristã.
Qualquer ocidental dirá que somos corpo e alma, mas a realidade dos nossos ancestrais yorubá é bem outra e bem mais complexa. E estou nesse contexto de não entender direito parte do texto.
Èmí é invisível e intangível. Esta é a força da vida soprada em cada ser humano por Òlódùmarè. Não deve ser confundido com Eemi, que é simplesmente respiração. Èmí é o que dá a vida ao corpo. Quando ele o deixa, a vida cessa.
Então, Emi seria o que chamamos de alma, espírito? Ou é outro componente? E espírito é outra coisa? Eemi é a respiração, o oxigênio?
Um abraço.
EMI não é o espírito, faz parte da partícula divina, é o que põem em movimento nossa respiração, está além do plexo. De forma grosseira diríamos que é a força anímica do movimento dos pulmões. É complexo, requer estudo e pesquisa, basta estarmos com vontade de conhecer, buscar e trazer para o debate. Mário vc está sumido.
Ire alaafia
Grato pela resposta, são as atividades profissionais, mas agora estou com pouco mais de tempo.
Um abraço.
Olá, boa tarde ! tenho buscado esse site para adquirir conhecimentos, tanto nas matérias como nos comentários.. sou mto grato! Não sou iniciado e posso dizer até q sempre procurei me afastar da religião.. tive contato apenas quando criança, pois era vítima de estranha crise, de rolar no chão, até q como último recurso fui levado a um barracão e desde então a crise cessou.. Uma vez, enquanto eu participava da corrente, simplesmente desmaiei ao ouvir o som do adjá.. acordei quando já estava bem ao canto e ao centro a giria seguia normalmente.. nem senti ser carregado.. minha dúvida: seria isso bolar no santo ? outros motivos, depois de mtos anos, estão despertando em mim o desejo de retomar essa caminhada espiritual, mas não sei se pelo fato d eu ter rejeitado na infância eu tenho perdido o direito d vivenciar essa experiência… Desde já, grato por um possível comentário…
João,
Certamente, pelo seu relato você deve ter bolado. Justamente pelo fato de ser uma criança é que o Orixá está te despertando para a religião. O tempo do Orixá é diferente do nosso. Boa sorte!
Axé.
Da Ilha,
Venho ALERTANDO a tempo,..aqui no seu espaço !
Tacaram fogo em uma casa….
http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/11/terreiro-de-candomble-e-incendiado-no-df/
Boa tarde, Dailha!
O okan é imperecível? Ou coração aqui tem outra conotação?
Um abraço
O coração tem a conotação de sede das emoções, ele as guarda.
Ire
Àse … permitam-me esta sugestão de leitura sobre o tema proposto:
CONCEPÇÃO IORUBA DA ALMA
William Bascom
https://drive.google.com/file/d/0B0QWMww0gZVYblR4dWp0S1RMeFE/view?pli=1
(copiar e colar no navegador)
Luiz,
Willian Bascom é uma referência nos estudos sobre o povo de língua Yorubá. Ainda me pego em não acreditar em reencarnação nesta concepção ( eu e Da Ilha já cansamos de debater o tema) sinceramente não acredito.
Àse
Àse .. de fato Fernando, a questão do atunwa é mal compreendida, pois imagina-se algo como a reencarnação da alma individualizada no modelo kardecista, e não é isto. Idowu, em Olodumare, já avisava sobre.
Aí entra a importância de diferenciar-se èémí (respiração), de èmí (ser espiritual imortal).
Não há como escrever sobre este tema sem anotar esta diferença crucial.
Luiz,
Pois é, a maioria tem essa ótica kardecista de reencarnação, a enorme influência ocidental. Atunnwá é pura interpretação e assim entendo que a energia retorna mas não de forma individualizada.
Àse
Bom dia a todos e todas!
Esse assunto: corpo e alma, por sermos ocidentais, mesmo não sendo atrelado a alguma vertente religiosa cristã, mas fica no inconsciente essa dicotomia, essa composição dicotômica.
Isso também se deve à formação ocidental, pois um dos pilares é a cultura grega e lá Sócrates e Platão afirmam isso!
O Cristianismo, segundo Friedrich Nietsche, é uma leitura desse pensamento, dessa interpretação socrático-platônica.
O Espiritismo de orientação kardecista se considera cristão e nesse bojo está o conceição de evolução e etc.
Na cosmovisão yorubá a realidade é outra, corrijam-me se eu estiver errado.
Um abraço.
No meu entender, a cosmovisão ioruba não é outra. Apenas as palavras tem dúbio entendimento (ou seria desentendimento).
Expressões como “duplo no orun, copia no aye” … “uma parte vai e a outra fica” … “bara que dá movimento ao corpo” … “enikeji, o duplo” … etc, etc. São as expressões mal formuladas que geram dicotomia.
Os pesquisadores estrangeiras na prepotência de achar que pode entender a cultura do outro, escrevem absurdos que viram verdades, apoiados que são em seus títulos.
William Bascom, no texto indicado aqui, por não conhecer o significado da palavra ioruba “èémí”, confundindo-a com èmí, chegou ao extremo absurdo de escrever em inglês que:
“…durante a noite, a respiração sai e vai encontrar seus parentes em outras cidades…”.
Quando estes conceitos vem do sacerdote intelectualizado (que convencionei chamar de acadafro, isto é, acadêmicos iniciados), estes não aceitam o questionamento que venham dos mais novos, por mais justo que seja.
Corpo é ara.
Alma é okan (metafísica). Expressão idiomática: baraa, refere-se à própria pessoa, a alma que acompanha o corpo, não é Exu. Coração físico também é okan (a palavra é dúbia).
Não é diferente.
Pai Fernando, boa tarde!
O que o senhor quer dizer com reencarnação não individualizada,entendo que a reencarnação yorubá não congrega o conceito dos espíritas, mas o que é individualizada, esta está em oposição à coletiva?
Desculpe-me, sou ocidental, por mais que não aceite, e tenho essa visão dicotômica que se antagoniza.
Um abraço.
Mario,
Reencarnação para mim não existe dentro do meu conceito religioso, não acredito em outras vidas, e todo esse kardecismo. Morremos e ponto final, nosso legado é o que deixamos através dos nossos descendentes. Na verdade quis dizer que nossa energia, o sopro da vida, retorna a sua origem, seria como se um raio de sol voltasse para o sol o grande Deus e se desintegrasse. O sol continuará emanando seus raios, mas de forma aleatória.
Axé.
Boa tarde,
Parece com a crença dos Testemunhas de Jeová e com a visão dos primeiros hebreus (os padres e pastores não mencionam isso nas igrejas), pois eles, os hebreus não acreditavam em vida após a morte, eles continuavam através de sua prole.
Então,pai, quer dizer que o Orun, os nove espaços com seus respectivos nomes é pura invenção que nossos ancestrais,criaram?
O Culto aos Eguns é uma farsa também?
Só estou questionando? Não estou afirmando que o senhor dissera isso!!!
Um abraço.
Mario,
Porque farsa? Eu cultuo Egun, Oyá…o que isso tem a ver com reencarnação?
Axé
Sim,pai! Se se retorna para o coletivo, para o todo, de onde vem esses eguns individualizados? Ou uns vão para o coletivo e outros não? É isso que não estou entendendo!!!
Um abraço.
Àse … o questionamento do Mario Carmelo procede.
“… uns vão para o coletivo e outros não…”
No caso dos que não vão, o que é que sobrevive?
Se não separar ” èmí ” de ” èémí ” … chega-se filosoficamente neste impasse.
O tema aqui é Noção de Pessoa.
Quem desejar pesquisar mais sobre o assunto, pode procurar aqui:
GOOGLEDRIVE
https://drive.google.com/folderview?id=0B0QWMww0gZVYbEpZSzhKNEhMS1U&usp=sharing
Mário,
Nosso egun é cultuado começando pelo ritual do Axé, tem obrigações de 1, 3, 7, depois a cada 7 anos.
Axé.
Obrigado, luizmarins
Mário,
Os espíritos dos mortos na cultura yoruba recebem o nome de oku, não é todo oku que se torna egun ,mas todo egun um dia foi um oku.
Axé
Boa tarde, Pai Fernando!
Então posso entender que os eguns não retornam ao coletivo, os que não se tornam eguns voltam para a massa original, é isso?
Um abraço.
Mário,
Uma coisa é o Èmí, outra é o egun. Os Eguns cultuados em nossos rituais voltam ao coletivo, são encaminhados e idolatrados para sempre, jamais esquecemos nossos antepassados.
Axé.
Pai, bom dia!
Então como explicar a manifestação dos eguns de Itaparica, por exemplo.
Acho que seja em Itaparica… Eles se manifestam em envólucros, falam e etc.
Acho que não estou entendendo!!!
Um abraço e obrigado pela tentativa de me explicar.
Mário,
Sim, os eguns ancestrais, a coletividade em si. Os Ojês, alapinis, cultuam esses eguns de sua comunidade. Nós os encaminhamos a sua familia para sua dimensão.
Essa energia desformada é vista por eles como um culto maravilhoso e puramente familiar, tribal. Alguns antigos afirmam, que são os eguns dos Orixás divinizados.
Axé.