Egbé sempre, aqui no blog, somos perguntados sobre quebra de preceitos, quebra de tabu, romper com os èèwò e as preocupações inerentes a este assunto.
Uma das maiores preocupações de alguns sacerdotes é saber se o suplicante está correspondendo aos alertas enviados pelo oráculo. Pois, não pensem que sacerdote não se preocupa com a pessoa mesmo depois do ebo entregue.
A preocupação não deveria tomar este lugar especial, uma vez que a vontade e as decisões cartesianas pertencem a pessoa em questão.
Este poema de Ifá nos traz à reflexão para tentarmos desmontar os porquês de várias situações que não se concretizaram positivamente ou a favor do suplicante.
Alabahun, a Tartaruga, vai nos deliciar com está história que mostra a inconformidade do pensamento humano, a corrente humana que pensa que tudo pode, a ala dos que acham que fechou a porta do Ilè Ase, minha ‘obrigação’ está terminada.
Ainda temos muito que aprender, refletir e praticar.
Os enamorados pelo culto, os abian, os recém iniciados, os mais antiguinhos, os cascudos, os Oyè, os sacerdotes e mesmo os mais velhos. Todos sem exceção, deveriam refletir sobre o texto, trazer suas experiências, contribuir para este assunto que é muito, mas, muito sério mesmo.
Ele é mais sério que o ebo realizado. Ele pode lhe custar o esforça de uma vida inteira, toda dedicação em prol de um objetivo.
Apreciem no meio do texto, o papel de Èşù como instigador e provador de caráter. As tentações lançadas fazem parte de seu arsenal de bondades, pois, se você não consegue resistir a carne, a curiosidade, a um tipo de alimento, cor ou comportamento, você deve voltar ao fim da fila, nascer novamente e prestar atenção aos bons conselhos.
O que sempre dizemos:
Nossa religião não proíbe ninguém de nada. Somente dos excessos.
Os tabus são assuntos relacionados ao seu mapa astral, assim como todos dizem que respeitam seu Òrìșà, ao não respeitar seus tabus/èèwò/quizilas, seja lá o nome que você queira dar a ele, você estará desrespeitando não somente ao seu Òrìșà, como também a Ifá/Ọrúnmìlà que trabalhou para que você tivesse a oportunidade de viver em paz, com prosperidade, saúde e equilíbrio.
Estamos zombando de uma força maior?
Estamos desrespeitando uma energia imensurável?
Estamos nos tornando desleixados em relação a todo esforço oferecido em prol de uma vida melhor para nós e nossa família?
Acredito que o texto esteja ficando longo e não estamos em uma palestra.
Que todos possam neste novo ano yorùbá, ter as bênçãos de Ęlà Ìwòrì, Ifá, Ọrúnmìlà e Irunmolè/Òrìșà.
Òfún’sá e Ògúndá maa as sejam os conselheiros de todos neste ano que se inicia.
Ire Aláàfia.
Ese Ifá do Odù Òwónrín’ Ìrètè
A curiosidade da Tartaruga lhe deixou na pobreza.
Introdução
Òpè kute
Foi o Áwo que lançou
Ifá para a Tartaruga
Que sobe na palmeira
No dia em que iria coletar
Frutos no campo de ailerolodún
Ele que levou o Áwo à casa da riqueza
É o mesmo que o leva
A casa da pobreza
Que é a casa do pai da tartaruga
Explicação:
Aqui está Alabahun (Tartaruga) seu pai se dedicou a colher Eyin (fruto do Ikin).
Quando Alabahun cresceu, também se dedicou a mesma profissão. Ele foi com seus Áwo para saber se ele iria prosperar em sua profissão e eles lhe disseram que ele teria que realizar ebo, disseram que teria que oferecer uma de suas ferramentas de trabalho no ebó. Alabahun tinha dois machados e ele ofereceu um no ebó como lhe disseram seus Áwo.
Depois de realizar o ebó, ele foi trabalhar com a único machado que restava. Quando chegou ao lugar onde se encontravam as árvores de palma, começou a trabalhar portanto os ramos de Eyin e quando havia somente um ramo em uma palma que se encontrava na beira do rio, Alabahun começou a cortar a penca e quando estava cortando o machado saiu de mão e caiu dentro do rio. Alabahun ficou chateado quando seu machado caiu no rio e disse:
Por que foi cair logo agora, quando faltava apenas uma penca para retirar?
Como vou me cobrar, se não terminar de colher e completar meu trabalho?
Alabahun desceu da palma para tentar encontrar seu machado e entrou na água, a correnteza o puxou e o arrastou até uma aldeia 9dentro da água). Nesta cidade, a maioria dos habitantes eram mulheres, muitas mulheres e de várias tonalidades de pele, dudu (negras), fun fun (brancas), pupa (rosadas), ayirin (várias cores) e também muito dinheiro, uma incalculável soma de dinheiro. Ao cair, Alabahun, naquela cidade, as pessoas daquele local não tinham um líder e já lhes haviam dito que eles encontrariam uma pessoa de fora da comunidade (estrangeiro) que iria ocupar este posto.
Por isso quando Alabahun chegou a esta cidade, todos os habitantes foram atrás dele e o agarraram e Alabahun não sabia o porquê. Ele se assustou pensando que ele seria agredido e disse?
O que eu fiz para vocês?
Elas o levaram e o sentaram no trono do rei e ali lhe deram dinheiro, mulheres e etc.
Nesta cidade não havia nenhum homem e Alabahun havia sido o único que havia chegado a este lugar.
Eles disseram à Alabahun que naquele povoado elas tinham uma proibição, que era comer Eyin (fruto do Ikin). Elas levaram Alabahun ao pé de uma palma de Eyin e aquele tipo de Eyin não era o que ele conhecia, este era muito grande. O rei desta cidade não podia comer Eyin. Ele foi advertido que se ele comesse aquele fruto, as consequências iriam ser terríveis.
No entanto eles lhe impuseram esta proibição. Ele podia entrar em qualquer parte do palácio, porém existia uma casa onde ele não podia entrar. Este era o quarto menor do palácio. Assim o tempo se passou, até que um dia, ao saírem todos do palácio e Alabahun ficar sozinho, ele se perguntou:
Por que não posso comer Eyin, se este sempre foi o fruto do meu trabalho?
Ele disse:
Eles são tão bonitos e tão grandes!
Eu vou provar um!
Ele foi e comeu um, porém, pegou outros e os levou para seu quarto real para continuar comendo. Como Alabahun estava desfrutando do Eyin, Èşù o induziu dizendo:
Não vê que rico é o Eyin que disseram para você não comer?
Então, vê aquele quarto que te disseram para não entrar?
O que você está esperando para entrar nele!
E desta forma Alabahun foi induzido por Èşù, entrou no quarto e ele viu que ali estava a raiz da palma de onde havia caído seu machado e ao seu lado estava sua ferramenta.
Quando ele foi nomeado rei, suas roupas sujas foram tiradas e elas também estavam ali.
As pessoas da cidade agarraram Alabahun e o mandaram outra vez para fora, com a mesma roupa e sem nenhum dinheiro.
O que leva um Áwo a riqueza
Também leva um Áwo a pobreza
Que é a casa do pai da tartaruga.
Ifá diz que esta pessoa deve fazer ebo.
Este Ese explica como Alabahun teve a riqueza por meio de ebo que os Áwo realizaram, porém, ao mesmo tempo os mostra que tão importantes é o respeito ao quarto, pois, ainda que o ebo tenha lhe trago toda riqueza, ele rompeu com o tabu e isto o levou novamente a mesma pobreza que ele já havia vivido com muito sofrimento.
De que valeu o sacrifício feito, se não respeitou as proibições?
De nada.
Por esta razão é que explicamos que tão importante é conhecer e realizar os sacrifícios e mais importante ainda é respeitar os tabus ditados por Ifá.
Muitos sacerdotes tanto de Ifá como de Òòșà (Òrìșà), são consagrados (iniciados) corretamente na religião, porém, muitos não conhecem seus èèwò e o que é pior, os conhecem e não os respeitam.
E quando seus assuntos começam a dar errado, com certeza sua vida se tornará um calvário.
O respeito aos tabus (èèwò) deve ser levado muito a sério, para que sua vida não se torne um rio de lamentações.
Os sacerdotes de Ifá e Òòșà, devem levar sito muito a sério, para ter uma vida mais tranquila e com menos inconvenientes, pois, se os ebo nos levam a prosperidade, o respeito ao tabu nos faz manter esta mesma prosperidade.
Bom dia, Dailha!
Um dia alguém me disse, que quando comemos algo que é interdito, estamos agredindo a nossa sacralidade!!!
É isso?
Um abraço.
Excelente texto, é exatamente o meu aprendizado e entendimento sobre o tema.
Os Ewós dos Orixás são sagrados e devemos respeitá-los para sempre, inclusive, faz-se o juramento pós iniciação, advertindo o iniciado da responsabilidade assumida perante aos Orixás guardiãs do Axé.
Muitos não entendem os Ewós por falta de informação, ignorância e educação de ariasè.
Axé.
Mário a sacralidade é o ato de reconhecer algo como sacro/sagrado.
Sendo assim existe uma avaliação de alguém, de uma sociedade ou de uma energia superior.
Um banner solto no Face book de uma Ìyálòrìsà de Òya diz:
Que eu me ame
Que eu me respeite.
Pois, sou meu próprio Templo
E abrigo um espírito divino.
Se temos este dom de abrigar um espírito divino, se somos partícula da divindade maior, ao fazermos o que não nos é permitido, estamos invadindo a sacralidade do corpo, o desrespeito a sacralidade de uma orientação recebida, além de estarmos ofendendo a energia que será atingida com a transgressão (ex.:Comer, pelos seus filhos, ou dar mel para Òsóòsì).
A transgressão pode atrasar muitos projetos, pode jogar fora anos de estudos, anos de preparação profissional e etc.
Tabu/Èèwò/Quizila é uma coisa muito séria, tão séria que ele está inserido nas 16 Leis de Ifá, Odù ÌKá’fún (Leis supremas de Olódùmarè), aqui postadas por mim. Então não pensem (aqui estamos alertando a todos), que vai existir perdão, que vai existir minha ‘Mãezinha linda e maravilhosa’, nossa religião não passa a mão a cabeça, o sacerdote passa, porém, o òrìsà cobra, Olodumarè cobra e Esù vai cumprir o seu papel acionando os Ajogun (forças negativas como por exemplo, doenças, perdas, morte, aflições, brigas e muito mais).
Meu caro amigo e grande professor, além de sacerdote, TODOS deveriam atentar para este pequeno detalhe, alguns deveriam ler o texto umas 20 vezes e estudar a história do pensamento.
Acredito que quando a pessoa tem senso e muito bom senso, quando o livro chega nesta página ela deveria esquecer o que é livre-arbítrio.
Abraços.
Ire Alaafia
Alaafia.
Ire Baba
E quando a pessoa não sabe, orixá também cobra pela transgressão?
Sou abiã de Xangô e não sei se eu tenho e qual esse meu impedimento/quizila. Existe alguma quizila que seja para todos os filhos de Xangô? Ou quizila só aparece na feitura?
Desde já, muito obrigado. Esse site é de uma importância imensurável para nossa religião. Já gastei muitas e muitas horas lendo os textos e os comentários também. Candomblé só se aprende na roça, com os pés no chão. Mas ter um site pra nos dar aquele auxilio nas duvidas que aparecem quando estamos longe do nosso axé não tem preço.
Eu amo vocês, por tudo! E desejo tudo de bom sempre!
Axé!
Anonimo muitas vezes nos pegamos tentando descobrir o porquê de tudo que fizemos (ebo) ter sido aceito, alaafia, tudo certinho e o resultado não aparece.
Nestas horas devemos ter a humildade de reconhecer nossas falhas, as determinações impostas pelo jogo/Odu/orisa, muitas vezes estes impedimentos, cor/comida/animal/atitudes e etc., podem durar meses e deve ser seguido a risca.
Os não iniciados não terão os impedimentos que os iniciados tem. Nem todos (mesmo sendo de um mesmo orisa) tem o mesmo tabu. Quando o sacerdote é versado ele saberá buscar as nuances de cada Ori/caminho.
Portanto, se você recebeu alguma ordem/observação a este respeito siga a observação, se ainda não tem siga seu rumo, dentro das regras mais rígidas do comportamento e vc com certeza será abençoado.
Ire
Baba,
Pq o orisá não pode beber agua durante o xire? vi que existe todo um segredo para que o orixa possa beber agua, cobrindo a quartinha, cobrindo o orixá, qual seria o motivo?
Will eu ainda não passei por este detalhe no Candomblé, mas, no culto Tradicional não temos problema algum com o beber água.
Ire
Will,
No Ketu/Nagô não há problema algum em o Orixá tomar água, apenas resguardasse o Orixá dando-lhe água somente no sabaji ou ariasé.
Axé.
Boa tarde a todos! Fiquei com uma dúvida. Fui iniciada a pouco tempo e o meu pai de santo me disse que não poderia comer carne de porco e tomar cerveja, nada que contivesse bebida alcoólica, perguntei a ele o motivo, me disse que seria por causa da kizila. Eu ainda fiquei sem entender…Então a kizila esta relacionada com o orixa, com o ebo que foi feito, com o bori então seria várias tipos de privações…É isso? E tem a ver com dificultar minha vida, meu caminho, não somente passar mau, onde posso ler mais sobre isso? Obrigada
Juliana,
O seu zelador tem lhe esclarecer qual é a kizila, afinal, foi ele quem jogou tirou seus ebós, viu seu odú, e pelo seu Orixá determinar os ewós.
Axé.
Muito obrigada! Fernando
Tenho uma dúvida… as pessoas iniciadas para Osalá são orientadas a nao beber cachaça, mas segundo a mitologia Yorubá, a quizila de Osalá é vinho de palma… Por favor, alguém pode me esclarecer isso?
João,
O Ewó é para qualquer bebida alcoólica em excesso.
Axé.
Suspeitei desde o princípio… Muito obrigado pela transparência! Infelizmente os Babalorisas de forma geral não são tão transparentes quanto o senhor. Acho que na verdade nem sabem. Desde que fui iniciado realmente tomei outra postura, diminui a bebida drasticamente e corrigi outros hábitos que não condizem com um iniciado, muito menos com um Ogan. Mas essa, e outras, era uma coisa que me martelava o juízo.
João,
Esse é o verdadeiro comportamento de um Ogan, servir de exemplo, ter o orgulho de ser respeitado na sua Casa e no seu Axé.
Àwúre.