Ewé ÒSÍBÀTÁ – A Folha sagrada
Uma das folhas preferidas de nossas Grandes e Veneradas Mães é a folha de òsíbàtá (oxibatá), também muito conhecida popularmente como ninfeia, folha de lótus, lírio d’água ou golfo d’água. Seu nome botânico é Nymphaea sp., que tem como origem a palavra em latim nympha (divindade feminina das águas, bosques e dos montes). Existem diversas espécies de ninfeias, sendo que a maioria é originária da África, Europa e Ásia, embora algumas até sejam encontradas no Brasil. Suas flores podem possuir diversas tonalidades como o branco (N. alba), azul (N. caerulea), vermelho (N. rubra), e amarelo (N. luteum). A ninfeia azul é nativa do Nilo (Egito), e segundo relatos era uma das plantas consagradas a uma divindade muito antiga, conhecida como Nefertem ou Nefertum. A flor era muito apreciada pelos antigos egípcios, não apenas pelo seu odor inebriante como também por suas propriedades curativas. Segundo alguns mitos, Nefertem utilizou essa flor como oferenda ao deus do Sol, Ra, para que as dores do seu corpo envelhecido o deixassem. Outra lenda relata que Isis, deusa da maternidade, fertilidade, protetora das crianças e também associada aos mortos foi quem ensinou aos homens a utilização de seus rizomas na alimentação. Foram encontrados vestígios de grandes buques de ninfeia ofertados no túmulo de Ramsés II, que as cultivava em seu palácio, assim como Amenófis IV. Suas flores serviam como adorno nos festivais religiosos e também como oferendas aos deuses e os mortos, podendo também ser ofertadas como presentes a pessoas importantes ou como sinal de amizade. Assim como as iyabás estão associadas ao elemento água as ninfeias são classificadas como plantas emersas, ou seja, parte de seu corpo fica enraizado no lodo e outra parte fica acima da água. Costumam ser encontradas em rios de águas calmas ou em lagos. Suas folhas são grandes, coriáceas, de coloração verde brilhante em cima e avermelhadas por baixo. Suas flores surgem solitárias, apresentando ambos os órgãos sexuais (hermafroditas). Elas se abrem bem cedo e se fecham por volta do meio dia, realizando esse movimento por até três a quatro dias, quando se fecham (submergindo) e dão origem as sementes. A planta possui propriedades calmantes, antiespasmódicas, sedativas e psicoativas devido provavelmente à presença de alcaloides como apomorfinas e a nuciferina, presentes principalmente na espécie caerulea. Doses de 5 a 10 gramas das flores podem alterar o grau de consciência, assim como a percepção visual. Uma de suas propriedades mais conhecidas, tanto pelos gregos como pelos egípcios era o seu poder anafrodisíaco, em especial a espécie alba. Podia ser utilizada sobre os órgãos genitais em casos de compulsão sexual obsessiva e ninfomania. Segundo sugerem Pessoa de Barros & Napoleão (1999) a planta poderia possuir ainda propriedades abortivas.
No campo da aroma terapia a flor de lótus do Egito traria harmonia e expansão da consciência, purificando os chacras e promovendo um bem estar sistêmico.
No culto aos orixás costuma ser associado a todas as iyabás: Oxum, Iemanjá, Oyá, Obá, Nana e Ewá. Uma vez que é uma planta ligada a água também é consagrada a Oxalá (ninfeia branca), que é um Orixá úmido por natureza. Uma observação interessante é que embora possua propriedades calmantes e sedativas não é considerada uma ewé eró e sim um ewé gun (Pessoa de Barros, 2011).
Seu nome em Yorubá (òsíbàtá) significa “não se submete”, nos lembrando que é uma planta de grande axé e que deve ser utilizada com cuidado. Por sua ligação estreita com a grande Mãe Oxum e também com Oxalá, é indispensável em determinados rituais, como o odu Èje. Esse momento marca o final do processo de iniciação e o início de uma caminhada independente.
REFERENCIAS: BARROS, José Flávio Pessoa de; NAPOLEÃO, Eduardo. Ewé òrisà: uso litúrgico e terapêutico dos vegetais nas casas de candomblé jeje-nagô. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. BARROS, José Flávio Pessoa de; A floresta sagrada de Ossayin o segredo das folhas. Rio de Janeiro: Pallas, 2011.
Texto: Jonas Gunfaremim .
O Oxibatá é fundamental na liturgia de todo Iyawo, sendo preponderante nos ritos a Oxun, a verdadeira “Mãe do segredo”- “Iyawo”.
Fernando D’Osogiyan
Fernando, estou espantada aqui ao ler o artigo pelo nível de sincronicidade o qual passei da hora que acordei até agora, até ler o que você escreveu…
Primeiro, gostaria de registrar que gosto muito dos seus artigos, pois os considero muito bem fundamentados e coerentes.
Segundo, também sou de Osogiyan, e meu segundo Orixá é Oxum.
Hoje no caminho de casa para o trabalho estava vendo em uma rede social algumas imagens sobre o budismo, e em uma delas vi um desenho artesanal de uma Flor de Lótus, a qual imediatamente me identifiquei, pois é a forma como desenho flores desde criança, e nunca tinha associado à uma Flor de Lótus, ao chegar ao trabalho, em um momento livre pesquisei sobre as Flores de Lótus, e achei informações das tradições e religiões asiáticas, e havia uma parte falando das características associadas as cores das flores.
A flor branca entre outras coisas tinha um significado associado a pureza suprema. E ao pensar sobre isso, associei de imediato à Oxalá. Pensei que esta seria a flor dele!
Até comentei com meu noivo que construiríamos em nossa casa um espelho d’água para plantar Flores de Lótus.
Daí agora a tarde estava pesquisando sobre outra coisa, até chegar aqui na página, e quando fui à página inicial para ver o artigo mais recente, não por acaso foi exatamente este (que foi postado hoje!), falando da folha da Flor de Lótus no Candomblé, e da própria flor! E de sua ligação com Oxalá e Oxum!
Bem, estou escrevendo porque ainda estou meio perplexa com tamanha sincronicidade!
Escrevendo também para lhe agradecer, pelos seus escritos e ensinamentos através desta Página.
Sua bênção?
Axé.
Uma correção. Em grego, “nympha” não significa “virgem”. Virgem, em grego, é “parthena” (daí o nome do Templo Parthenón, dedicado às virgens de Palas Athena).
Ninfa (νυμφη) é apenas o nome dos elementais da floresta e dos rios.
E a vitoria regia
Julio obrigado pela informação.
Ire
Bom dia, pai Fernando!
Texto muito bom, esclarecedor, embasado historicamente, com particularidades linguísticas, religiosas e científica ocidental, muito bem estruturado.
Pai, essa planta tem cântico específico nos processos ritualísticos, devemos chamar esse cântico de orin, ou ofo? Essa letra é cantada ou entoada?
Um abraço.
Boa tarde Mário,
Sempre atento!
Toda folha tem um cântico específico e que pode ser entoado de acordo com o ritual. A sassanha do Oxibatá é linda.
Axé.
Julio,
O texto refere-se a Ninfa como a Divindade mitológica dos rios, dos bosques e dos montes, já a variação do termo grego Ninfa refere-se, no meu entender, ao desconhecido e que existe na natureza ou que ainda não é do nosso conhecimento, porém existe. De toda forma, agradecemos sua colaboração o registro e a correção.
Àwuré
Ana,
Osogiyan lhe abençoe sempre.
Axé.
Mário,
Korin, sassanha, folha Oxibatá:
Àwa ni imólè se ni ke awo
Àwa ni imólè se ni kewá
Òjuòró ke lomi
Òsíbàtá ni imólè ke odo
Àwa ni imólè se ni kewá
Àsá ò!
Fernando, axé! Muito obrigado pela aprendizagem. O universo das folhas no candomblé é um dos meus grandes fascínios! Gostaria de fazer uma pergunta, mas que não tem a ver com o que foi postado. Eu procurei uma publicação específica para realizar a pergunta, mas não encontrei. É sobre a quartinha. É uma dúvida bem específica, eu busquei a resposta na internet, mas não encontrei. Eu só posso ter e usar uma quartinha para meu Orixá somente se eu tiver o assentamento dele? Ou, caso eu não tenha o santo assentado, mas possuo um local onde realizo as oferendas aos Orixás e acendo minhas velas, eu posso inserir uma quartinha e cuidá-la para o Orixá? Muito obrigado! Axé em todos!
Boa tarde, pai Fernando!
Muito obrigado, imaginei que o senhor perceberia que nas entrelinhas, eu também estava pedindo a letra do cântico, pois existem variantes e nem sempre são confiáveis.
Um abraço.
Colaborando com as cantigas:
Kợrin ewé Òsíbàtà
Òsíbàtà t´òké omi
Òsíbàtà t´òké odò
Òsíbàtà t´òké omi
Òsíbàtà t´òké odò
Awole nìdì òpè
Òsíbàtà t´òké omi
Òsíbàtà t´òké òdàn
Òsíbàtà t´òké omi
Ojúoró nii Lóke omi
Ojúoró nii Lóke omi
Awole nìdì òpè
Òsíbàtà nii Lóke odò
Ojúoró nii Lóke omi
Ojúoró nii Lóke omi
Òsíbàtà fica sobre as águas
Òsíbàtà fica sobre o rio
Òsíbàtà fica sobre as águas
Òsíbàtà fica sobre o rio
Sempre juntas estão
Òsíbàtà fica sobre as águas
Òsíbàtà fica sobre o brilho
Òsíbàtà fica sobre as águas
Ojúoró sobre a água
Ojúoró sobre a água
Sempre juntas estão
Òsíbàtà fica sobre o rio
Ojúoró sobre a água
Boa tarde, Dailha!
E obrigado!
Um abraço.
Se ooo
Mario.
Ire alaafia
Alan,
A quartinha é o recipiente onde colocamos água, a principal fonte de energia do ser humano. Não tem problema algum em ter sua quartinha sempre com água na sua casa, isso, independe de ter Orixá assentado ou não.
Axé.
Fernando, obrigado pela orientação! Sempre me recorro aqui para tirar minhas dúvidas, pois sei da seriedade de todos. A água da quartinha, eu troco no dia seguinte? Existe alguma forma correta de despachá-la? Última dúvida: eu havia lido que, no caso de Oxalá (meu Pai), podíamos oferecer leite ou água de coco na quartinha. Isso procede?
Muito obrigado, mais uma vez, e axé em todos!
Muito esclarecedor,gostaria de ver no site alguma matéria sobre insatisfação com a religião dos orixás,sobre as marmotas que acontecem e sobre aqueles que querem sair da religião por causa dos absurdos que alguns “pais/mães de santo” fazem pelo brasil a fora,ja vi muitas pessoas com uma total revolta com a religião e não achei sequer um texto sobre o assunto na internet.Acho importante falar sobre o inicio mas também deve-se falar sobre o fim,sobre as pessoas iniciadas que não se adaptaram a religião e querem seguir sem vínculos.Infelizmente são poucas as pessoas realmente sérias na religião,virou cabide emprego.Aluguel de prateleira para santo e muitos sequer ensinam os filhos a fazer axé,trabalhos e ebós para defesa e etc… mesmo depois de prontos,é tudo abaixo de dinheiro,conheço cada história de arrepiar.Obrigado pelo site esclarecedor.
Bruno,
Aqui só nos dispomos a esclarecer e ensinar o pouco que aprendemos, indicamos boas Casas de candomblé, desmistificamos as alucinações viciadas da religião, enfatizamos o Dogma, a Liturgia, a teologia. Sabemos que existem péssimas casas, péssimos zeladores e os comerciantes da boa fé, assim como em toda religião. Portanto, aqui fazemos a nossa parte sem entrar diretamente nas dores e deveres de cada um. Num mundo tão globalizado e cheio de informação, as nações que originaram o candomblé estão informatizadas, participativas e contribuindo socialmente, entra enganado numa religião quem quer, não lê e não procura informações.
Axé.
Alan,
Na quartinha só se coloca água! E troque sempre na mudança da lua.
Axé.
Fernando, haviam me informado coisas bem diferentes. Obrigado pelo esclarecimento, vou seguir como informou! Axé!
MOTUMBÁ ASÉ MOTUMBÁ BÀBÁ !BÀBÁ O INHAME JAPONÊS AQUELE PEQUENO PERTENCE A QUAL ORIXÁ E GOSTARIA DE SABER SE POSSO USAR COMO SUCO,SE ALGUM PROBLEMA!ADUPÉ BÀBÁ!
Isa,
Não há problema algum, este inhame também pode ser ofertado a Ogun.
Grande abraço, saudades
Oyá lhe abençoe!
Motumbá. E o Bruno.
Então quem é de Agué não possuo qualidade?
Me explique
Sou do Ketu
brunnomac,
Exatamente, você é de Agué, o próprio Ossayin e que pode ser conhecido em várias cidades Nigerianas e adjacentes por vários nomes.
Axé.
Entendi. Todos me chamam de Agué mesmo.
Mas mo caso ainda não sei a qualidade? Será que só saberei nos 7?
Ainda falta 2 e meio
Obrigado
Peço orações, dos mais velhos do blogue, dos irmãos e também dos mais novos pra minha mãe que está com dengue, o nome dela é Maria Lúcia!
brunno,
Como disse, Ossaiyn é um só e não tem qualidades, porém é conhecido por vários nomes.
Axé.
Pai Fernando, boa tarde!
Fiquei curioso, num desses espaços, o senhor afirmou que há um cântico onde Oxun exalta a maternidade, que cântico é esse?
Um abraço.
Bom dia, pai Fernando!
O abyan e yaô usam branco, tecido de algodão, sem adereços coloridos…
Por quanto tempo deve permanecer assim?
Um abraço.
Mário,
No candomblé ketu/Nagô o abiyan usa apenas o morim branco, sem quaisquer adereços e deve permanecer assim mesmo após se iniciar até a obrigação de 3 anos ou de acordo com as normas do Orixá da Casa.
Axé.
Boa tarde, pai Fernando!
O doce, no culto a Oxun, está embasado em alguma literatura de Ifá, e se estiver, qualquer tipo de doce serve e qual seu significado?
Um abraço.
Mário,
Apaziguamento, embora um Orixá feminino e das águas doce, você não imaginaria essa energia afrontada!!
Axé.
Osibata foi usado para tratamento de cálculo renal com grande êxito em seu resultado.
Boa tarde!
Parabéns Babá Fernando pela iniciativa de desmistificar o que pode sim ser dito. Lendo o artigo e os comenta´rios dos irmão, percebo que o bom senso ainda existe.
Axé!!!!!!
Ivan,
Obrigado, Axé!
Ana, o Oxibatá e o lotus azul do egito são ninféias são plantas totalmente diferentes do lótus asiatico. Mas possuem o mesmo simbolismo, conforme diz Helena Blavatsky na Doutrina Secreta.
Onde encontro essa planta, preciso muito.
O ideal seria você encontrar um erveiro na sua região.
Vou lhe dar um telefone e vc pode tentar encomendar essa folha.
Fale com a Beth do Mercadão de Madureira.
21- 970187960 Whatsap
Ire alaafia