O Monoteísmo na Religião Tradicional Yorùbá
Por: Kofi Johnson, Ph. D. (Fayetteville State University), Raphael Tunde Oyinade, Ph. D. (Claflin University), Traduzido por Mário Filho*, M.A., (PUC/SP),
Original em:
http://organizations.uncfsu.edu/ncrsa/journal/v03/johnsonoyinade_yoruba.htm (Thinking About Religion, Magazine, Volume 3, 2004)
Introdução
Os Yorùbá, uma população aproximada em 40 milhões, ocupam o sudoeste da Nigéria. É um dos maiores grupos étnicos daquele país, dotado de uma rica cultura e, de várias maneiras, uma das populações mais interessantes da África. Sua tradição lhes dá um lugar único entre as sociedades africanas. Têm contribuído pelo estabelecimento das culturas do Caribe e da América do Sul, particularmente Cuba e Brasil, locais onde a religião Yorùbá é praticada. Na Nigéria os Yorùbá são um dos três maiores grupos étnicos. Segundo Ìdòwú (1962) “os Yorùbá compreendem vários clãs que se aproximam pela língua, tradições, crenças religiosas e práticas” (p.4). O propósito deste trabalho é descrever o conceito monoteísta de Deus entre os Yorùbá e suas divindades (òrìşà) de apoio. É nossa convicção que qualquer tentativa de construir uma teoria que descreva o conceito de Deus entre os Yorùbá não nos dará um quadro verdadeiro; portanto, este trabalho discutirá os pontos de vista de alguns estudiosos, seguindo por descrições dos atributos do Ser Supremo, concluindo com uma discussão de Olódùmarè como um Deus monoteísta, comparável com o conceito judaico-cristão. Uma certeza sobre os Yorùbá é o fato de que é muito difícil encontrarmos um Yorùbá que não crê no Ser Supremo. Se existe tal pessoa, ele ou ela deve ter sido exposto/a influências não africanas. Os Yorùbá creem no Ser Supremo, que é responsável pela criação e manutenção do Universo (Awólàlú 1979). Boudin, Sacerdote católico de descendência francesa, escreveu sobre o Deus Yorùbá nestas palavras: Os negros não possuem estátuas ou símbolos que representem Deus. Consideram-no como Ser Supremo Primordial, criador e pai das divindades e seres espirituais. Ao mesmo tempo, creem que este Deus, após iniciar a organização do mundo, encarregou Obàtálá de concluí-lo e governá-lo, então Ele se retirou para descansar e desfrutar de Sua felicidade (Awólàlú 1979, P. 4). Boudin está absolutamente correto ao dizer “os negros não possuem estátuas do Ser Supremo” (Awólàlú 1979). A razão é que Deus “é demasiadamente grande e impressionante para ser retratado ou ter uma forma concreta” (P. 4). Ele está em todo lugar e Ele é o Ser Supremo. O que é preocupante na análise de Boudin é que isso parece implicar que o Ocidente tem uma clara compreensão do conceito de Deus na cultura Yorùbá. Este não é o caso como anota Ìdòwú (1962): “… os autores desse conceito erraram; eles erraram dessa maneira porque ignoraram aquilo que constitui o verdadeiro núcleo da religião que se esforçam em estudar” (p.44). Ìdòwú (1975) aponta que o Ocidente não tem uma clara apreensão do conceito de Deus. O conceito de Deus não é um monopólio da sociedade ocidental tradicional. Examinando-se minuciosamente a declaração de Boudin, observa-se que ele não aprecia a ideia fundamental de Deus como é concebida pelos Yorùbá, especialmente no que diz respeito à criação. O mais preocupante é sua insinuação racial e sua atitude condescendente com os Yorùbá. Outro erudito francês, Bouche (Awólàlú 1979), diz: O homem Yorùbá pensa que Deus é demasiado grande para tratar diretamente com Ele, e Ele delegou os cuidados dos negros aos òrìşà. Senhor do Céu, Deus desfruta da abundância e do descanso, guardando Seu favor para o homem branco. Que o homem branco reze a Deus é natural. Quanto aos negros, eles devem sacrifícios; suas oferendas e orações são somente para os Òrìşà. (P. 4) As observações de Bouche demonstram sua carência de compreensão das crenças e simbolismo da cultura Yorùbá e suas relações com as práticas religiosas. O etnocentrismo de Bouche resulta em uma interpretação baseada na “opinião pessoal [que] é inspirada pelo orgulho racial e pela cegueira” (Awólàlú 1979 p.5). Se Bouche houvesse sido mais sensível culturalmente em seus estudos das crenças Yorùbá, saberia que os Yorùbá creem que todos os seres humanos são criados iguais por Deus e são, de fato, todos da raça humana. Ademais, observamos que Bouche não entendeu a relação entre o Ser Supremo e as divindades (òrìşà) (Awólàlú 1979). No século XIX, um oficial britânico, chamado A. B. Ellis, afirmou: Ọlọrun é o deus do céu dos Yorùbá, quer dizer, Ele é o firmamento deificado, o céu personificado… Ele é meramente um deus naturado, a personificação divina do céu, ele controla somente os fenômenos conectados, na mente nativa, como o “telhado” do mundo. Posto que Ele é demasiado preguiçoso ou completamente indiferente para exercer o controle sobre os assuntos terrenos; o homem, por sua vez, não perde tempo em esforçar-se para propiciar-lhe algo, mas reserva sua adoração e sacrifícios para agentes mais ativos. De fato, cada deus, Ọlọrun inclusive, tem, por assim dizer, seus próprios deveres […] ele não pode violar os direitos de outros (P. 5) Novamente, percebe-se o etnocentrismo dos eruditos ocidentais. Na observação anterior, a primeira, Ellis mostra sua falta de entendimento sobre Ọlọrun, associando-o a um “deus naturado”. Em seguida, Ellis mescla Ọlọrun com Eléèdá. O que Ellis diz está longe da verdade (Awólàlú, 1979; Ìdòwú, 1975) quando afirma que Eléèdá e Ọlọrun significam duas coisas diferentes. Ọlọrun, na terminologia Yorùbá, se refere ao Ser Supremo e Eléèdá se refere a Aquele que controla a chuva, enquanto Olódùmarè é o Recompletador dos riachos. Atualmente, esses termos (Ọlọrun, Olódùmarè, e Eléèdá) são intercambiáveis para o mesmo Deus, Ọlọrun. Eléèdá, na língua Yorùbá, significa aquele que cria e Olódùmarè significa o Todo Poderoso, o Ser Supremo. O erro de Ellis é que ele coloca Ọlọrun num mesmo patamar com as divindades, quando diz: “Ọlọrun não pode violar os direitos dos outros” (Awólàlú, 1979, p.5). Ellis indica que Ọlọrun não é, de maneira alguma, superior às divindades. Isto é falso (Ibid). Os Yorùbá creem que os òrìşà não podem existir independentes do Ser Supremo. Os Yorùbá veem as divindades como “seres espirituais e intermediários entre o homem e o Ser Supremo”. Pode-se compará-los aos anjos de Deus, que são os intermediários do Ser Supremo, de acordo com os conceitos cristãos. Ellis demonstra, claramente, sua ignorância quando ele aponta que a adoração é feita inteiramente aos agentes que seriam mais ativos que Ọlọrun. Seus comentários refletem outras inadequações quando diz que o Ser Supremo é muito preguiçoso, distante e indiferente. Em resposta aos erros de Ellis, Fádípè (Awólàlú, 1979) diz: Nenhuma outra observação poderia apontar o quão Ellis é ignorante sobre a rotina diária dos Yorùbá. Apesar de Ọlọrun ser uma concepção distante para o povo, o Yorùbá mediano usa o nome frequentemente em provérbios, orações e desejos, promessas, no planejamento do futuro, em tentativa de se livrar de acusações, para lembrar seu oponente do dever de falar a verdade em nome d’ele etc. De fato, para todos os fins, é muito natural invocar o nome de Ọlọrun que o de qualquer outro òrìşà. (p.6). Fádípè aclara os erros de Ellis e exibe o impacto de Ọlọrun sobre os Yorùbá. S.S. Farrow apoia Fádípè e vai mais longe, afirmando que “encontramos entre os Yorùbá (…) uma crença em um Ser chamado Ọlọrun, cuja posição é única em vários aspectos… Esta ideia não advém dos muçulmanos ou cristãos” (P. 34). O problema com Farrow, honestamente, encontrasse no seu entendimento do conceito de Ọlọrun, especificamente na frase “um Ser chamado Ọlọrun” (Lucas 1948). Ele parece sugerir que o Deus concebido pelos Yorùbá é diferente do Deus Supremo, que é o Criador de toda a terra (Lucas 1948; Awólàlú 1979). A melhor investigação acadêmica sobre o conceito do Ser Supremo entre os Yorùbá vem de E. B. Ìdòwú. Em seu livro, intitulado Olódùmarè – God in Yorùbá Belief, no qual Ìdòwú afirma que “Olódùmarè é o nome tradicional do Ser Supremo e que Ọlọrun, embora comumente usados na linguagem popular, acabou se tornando proeminente em consequência do impacto do cristianismo e do islamismo sobre os Yorùbá. ” (Awólàlú, 1979).
Nomeando Deus: Terminologia Yorùbá e suas definições.
Nossa revisão das opiniões dos estudiosos acerca do conceito de Deus foi uma tentativa de identificar importantes erros em suas assertivas acadêmicas. Infelizmente a maior parte dos estudiosos citados demonstra, em suas análises, uma carência de senso cultural para aqueles que lhes são diferentes. Para alcançar um acurado olhar do conceito Yorùbá do Ser Supremo, é importante examinarmos os nomes e significados que são associados a Ele. Deve ser enfatizado que os Yorùbá, alternativamente, usam os termos listado abaixo para descrever o Deus Supremo, que são conhecidos como “oríkì”, traduzido livremente como “apelidos”. Segundo Ìdòwú, o Ser Supremo é reconhecido por todas as divindades como o Líder a quem pertence toda autoridade e a quem é devido lealdade. Ele não é ninguém entre muitos. Seu estado de supremacia é absoluto… Na adoração, os Yorùbá O têm como última instância, considerando-o o primeiro e o último de cada dia. Ele é o proeminente. (Ibid, p.53). Esses nomes e suas definições estão abaixo (ver Bascom): Olódùmarè: O conceito denota aquele que tem a plenitude ou grandeza superlativa, a majestade eterna sobre tudo aquilo do qual o homem possa depender; Ọlọrun: literalmente o dono do Céu. O dono do céu ou senhor do lugar que está acima. Às vezes os Yorùbá usam Ọlọrun Olódùmarè juntos. Esta dupla palavra significa o supremo cujo domicílio está no céu. Eléèdá: O criador. Como o nome sugere o Supremo. É responsável por toda a criação. Àláàyé: A palavra significa o vivo. Isso significa que o Yorùbá crê que Deus é eterno. Elémìí: Encarregado da vida, Senhor do sopro vital. Usado para se referir ao Ser Supremo, sugere que todos os seres vivos devem sua respiração ao Supremo. Os Yorùbá creem que ao ser retirada a “respiração vital” pelo doador da respiração a alma também é retirada. Olojo Oni: Significa o dono ou o regulador deste dia ou dos sucessivos dias. Para chamar o Ser Supremo de Olojo Oni depreende-se que todos os homens e mulheres dependem totalmente do Ser Supremo.
Atributos do Ser Supremo
Para reforçar melhor a compreensão da crença Yorùbá, é necessário explorar as características de Olódùmarè que O diferenciam de todas as outras coisas que Ele criou. Ele é o Criador. Entre os Yorùbá, o mito da Criação sustenta que no princípio o mundo era um pântano, um deserto aquoso. Olódùmarè e algumas divindades viviam no céu, descendendo e ascendendo através de teias de aranha ou de correntes. Eles freqüentemente visitavam a terra, especialmente para caçar. A humanidade ainda não existia, pois não havia terra (Parrinder 1986). Um dia, Olódùmarè convocou Seu Comandante-em-chefe, Òrìşà-ńlá (Obàtálá), a Sua presença e lhe disse que Ele (Olódùmarè) queria criar a terra firme e que Òrìşà-ńlá seria responsável por isso. Como materiais Olódùmarè lhe deu terra fofa, uma casca de caracol, um pombo e uma galinha. Òrìşà-ńlá desceu à terra pantanosa. Ele lançou a terra da casca do caracol, colocando o pombo e a galinha sobre a terra e eles começaram a ciscar e a dispersar a terra ao seu redor. Òrìşà-ńlá reportou-se a Olódùmarè dizendo-lhe que o trabalho havia terminado. Olódùmarè, então, enviou um camaleão para examinar o trabalho. O camaleão voltou e disse à Olódùmarè que o trabalho estava feito, mas a terra não estava seca o bastante. O camaleão foi enviado uma segunda vez. Desta feita relatou que a terra era grande e seca. Olódùmarè orientou novamente a Òrìşà-ńlá, o Chefe das divindades, a equipar a terra. Òrìşà-ńlá tomou para si Ọrùnmìlá, a divindade do oráculo, como seu conselheiro e orientador. A missão era plantar árvores e dar alimentos e riquezas aos seres humanos. Ele providenciou a palmeira (Igi Ope) que ao ser plantada proporcionaria alimento, bebida, azeite e folhas para abrigo. Após equipar a terra, Òrìşà-ńlá pediu para liderar uma delegação de dezesseis pessoas já criadas por Olódùmarè. Para povoar a terra, Olódùmarè pediu a Òrìşà-ńlá que moldasse formas humanas. Òrìşà-ńlá moldou formas humanas e as guardou sem vida, ainda. Ocasionalmente, Olódùmarè viria e sopraria a vida nestas formas. Tudo o que Òrìşà-ńlá poderia fazer era modelar as formas humanas, mas lhe faltava o poder de lhes dar vida. A criação da vida era confiada, unicamente, ao Deus Supremo, Olódùmarè. Diz-se que Òrìşà-ńlá chegou a ficar com inveja de Olódùmarè por não compartilhar a capacidade para criar vida com Ele. Então, um dia, quando ele havia terminado de moldar formas humanas, ele se escondeu, próximo às formas moldadas, durante a noite, de modo que pudesse ver Olódùmarè. Mas, Olódùmarè, sendo Onisciente, colocou Òrìşà-ńlá para dormir, e quando este acordou, as formas humanas moldadas haviam vindo à vida (Parrinder 1967). Esta é a história da criação contada pelos Yorùbá. Ele é único. Os Yorùbá creem que Olódùmarè é único. Isso significa que Ele é único; não há nada como Ele. Esta crença em sua unicidade previne as pessoas de criar imagens gravadas ou pinturas ilustrativas d’Ele. Há símbolos ou emblemas, mas nenhuma imagem que possa ser comparada a Ele. Talvez, essa seja a razão pela qual os observadores estrangeiros da religião Yorùbá, afirmem, equivocadamente, que Olódùmarè é um Deus distante e sobre quem os homens são incertos. Ele é Onipotente. Como Onipotente o Yorùbá crê que para Olódùmarè nada é impossível. Descrevem-no como “Oba a sè kan ma kù” (o Rei cujos trabalhos são feitos com perfeição). As coisas que ele aprova são bem sucedidas, mas as que não recebem sua bênção tornam-se difíceis ou impossíveis. Os Yorùbá cantam: “A dùn íșẹ bi ohun tí Olódùmarè l’ọwó sí. A sòrò íșẹ bi ohun tí Ọlódùmarè kò l’ọwó sí” (Fácil de fazer como aquilo que recebe a aprovação do criador; difícil como aquilo que o criador não aprova). Por esse motivo chamam-no também de Ọlọrun Alágbára (Deus poderoso), Oba ti dandan re ki Ìşèlè (Rei cujas ordens nunca deixam de ser cumpridas). Ele é Imortal. Olódùmarè nunca morre. Os Yorùbá creem que é inimaginável para o Elémìí (O Dono da Vida) morrer. Eles o louvam cantando “A kí ìgbò ikú Olódùmarè” (Nunca se ouvirá sobre a morte de Olódùmarè). Ele é Onisciente. Olódùmarè sabe tudo. Nada Lhe é ocultado. Ele é o Sábio. Tudo está ao alcance de Olódùmarè. O Seu conhecimento penetra todas as coisas (Mbiti, 1975). Os Yorùbá descrevem-no “A rínú rode Olumọ Okàn” (Aquele que vê o exterior e o interior do coração). Ele é rei e juiz. Os Yorùbá veem Olódùmarè na importante posição de Rei. Eles o chamam de “Oba Ọrun” (Rei do Céu). Referem-se, às vezes, a Ele como “Oba a dáké dájò” (O Rei que se senta em silêncio e distribui justiça). Ọlọrun, conhecido como Olódùmarè, é o Senhor do Céu, conceito reminiscente do Deus judaico-cristão ou do Allah dos muçulmanos. O Senhor do Céu é o criador de todas as coisas e de outros òrìşà, e parecido com o Nyame dos Asanti e de outras culturas da África Ocidental. Ele está acima e além de outros semideuses. Ao contrário de outros òrìşà, Olódùmarè não possui templos; no entanto, orações Lhe são dirigidas, mas não Lhe são oferecidos sacrifícios. Olódùmarè não somente cria, mas sustenta e protege os homens; Ele também protege as pessoas de maquinações de outros homens. Por sua vez, Olódùmarè não está distante e nem desligado para que não intervenha nos assuntos terrenos. A maioria dos sacrifícios prescritos pelo Bàbáláwo, Sacerdote de Ọrúnmìlá, são levados a Ọlọrun por Èsù. De acordo com os Yorùbá todas as pessoas são crianças de Deus. Como deidade a quem se atribui o controle do destino da humanidade, Ọlọrun pode ser considerado como Deus do destino. O que devemos destacar é que os Yorùbá dão ao Ser Supremo vários nomes e que as òrìşà não vivem independentes do Ser Supremo, pois Ele é O Criador deles.
O papel das divindades
Para complementar a compreensão do leitor sobre a crença Yorùbá, é, também, importante entender as divindades. Nosso trabalho irá, agora, identificar as divindades e explicar seus papéis.
– Èsù, o Mensageiro divino: Èsù, também conhecido como Elégbà ou Elégbára, é o mais jovial e astuto das òrìşà (Bascom, 1969). Ele é o mensageiro divino que entrega os sacrifícios prescritos pelo Bàbáláwo a Ọlọrun, após terem sido colocados nos altares. O altar é feito de um pedaço de laterita (uma terra vermelha) encontrada em Ilé-Ifè, Nigéria. Os Yorùbá creem que Èsù é um trapaceiro que se delicia em causar problemas ou que ele serve outros òrìşà trazendo problemas aos seres humanos que os ofenda ou que os negligenciem. Para ilustrar, vejamos o que dizem de Sàngó, deus do trovão, que desejava matar uma pessoa com seus raios: ele deve, primeiro, pedir a Èsù que desobstrua os caminhos para ele. Esse pensamento é errôneo! Èsù, na verdade, pode utilizar várias penalidades que tem à sua disposição, pois ele é conhecido como guardião da lei, Olopàá, porque ele pune aqueles não fazem os sacrifícios prescritos pelos Sacerdotes e recompensa aqueles que os fazem. Quando algum dos òrìşà deseja recompensá-los na terra, envia Èsù para fazê-lo. Alguns estudiosos ocidentais têm feito grandes esforços para pintar Èsù como o equivalente do “Diabo” judaico-cristão. Isto é um erro. O papel de Èsù é o de um mensageiro que entrega os sacrifícios a Olorun e para outros òrìşà. Sua notável destreza em realizar seu papel como guardião divino não é coerente para identificá-lo como o Satã dos cristãos ou dos muçulmanos (Bascom 1969). Sem se importar a qual òrìşà é devoto, todos rogam a Èsù com frequência de modo que ele não lhes traga problemas.
– Ifa (Ọrúnmìlá), Òrìsà da adivinhação: É um amigo muito próximo de Èsù. É conhecido como “clérigo” de outros òrìşà e visto como Bàbáláwo. Bàbáláwo é definido como um homem instruído ou um erudito por causa de seu conhecimento e sabedoria nos versos de Ifá. Ele trabalha como intérprete das mensagens entre os òrìşà e os seres humanos. Ọlọrun, o Deus Supremo, deu-lhe poder (Àse) de falar para os òrìşà e se comunicar com os seres humanos através do oráculo. Por exemplo, quando o deus do trovão ou qualquer outro òrìşà requer um sacrifício especial, ele envia essa mensagem aos seres humanos por meio de Ifá. Importante frisar que Ọrúnmìlá é aquele que transmite e interpreta os desejos de Ọlọrun à humanidade. Ọrúnmìlá prescreve sacrifícios os quais são levados por Èsù. Qualquer òrìşà pessoal pode ser adorado, porém todos os crentes da religião Yorùbá recorrem a Ifá em casos de necessidade. Baseados no parecer do Bàbáláwo, os sacrifícios apropriados a Èsù são identificados e feitos sendo levados por Èsù a Ọlọrun (Bascom 1969). Nem todos os devotos de Ifa podem se tornar um Bàbáláwo. O título de Bàbáláwo é dado somente aos devotos especiais que tenham um largo conhecimento de Ifá. Requer-se uma iniciação de alto custo financeiro e muitos anos de aprendizagem para interpretar as figuras (Odù), prescrever sacrifícios e remédios.
– Odùduwà. O Criador da Terra (O Legislador) Os Yorùbá creem que ele é o criador da terra. Consideram-no como progenitor de todos os Yorùbá e o primeiro a governar a terra como rei de Ilé-Ifè.
– Òrìşà-ńlá. Grande Òrìsà Òrìşà da brancura. Òrìşà-ńlá, Òṣàalá ou Obàtálá é melhor descrito como o rei da brancura. Acredita-se que ele seja o criador da humanidade, fazendo os primeiros homem e mulher. Tem o papel de amoldar os seres humanos no ventre, antes que nasçam. Trabalha na escuridão com uma faca; ele esculpe seus corpos como um escultor, separando os braços, pernas, dedos das mãos e dos pés e faz as aberturas para os olhos, nariz e boca. Aquele que ele formou como albino (àfín), corcunda (abuké), aleijados (arò), anão (aràrá) e mudos (odi) serão consagrados a ele. Não são resultado de erros; ele os faz assim para marcá-los como seus seguidores e que sua adoração não será esquecida. Òrìşà-ńlá é conhecido como o “Rei do pano branco”. Seus devotos podem usar outras roupas, mas o branco lhes é o traje mais apropriado.
– Ògún, o deus do ferro:
Ògún é deus do ferro e patrono de todos aqueles que se utilizam de ferramentas de ferro. Conhecem-no como patrono dos caçadores, e dos guerreiros e, em consequência, deus da guerra, patrono dos ferreiros, barbeiros e, recentemente, patrono das locomotivas e automóveis. Os Yorùbá creem que sem Ògún as pessoas não poderiam cortar seus cabelos, fazendas não poderiam ser lavradas, os cursos dos rios e nascentes seriam tomados pelo crescimento de ervas daninhas e ninguém poderia fazer fogo sem as faíscas que eram usadas antes dos fósforos serem importados. Os demais òrìşà dependem de Ogún porque ele limpa os caminhos para eles com seu machete. Ele é notabilizado como ferreiro e guerreiro. Se Ògún é enraivecido ou luta contra qualquer um dos inimigos de seus seguidores, ele poderá causar a morte destes. Por exemplo, a pessoa pode ser mordida por uma serpente; levar um tiro, por engano, de um caçador; ser ferido em um acidente de veículo; ser cortado por uma faca ou um ferreiro pode atingir seu dedo. Ògún é sempre utilizado para validar um juramento, enquanto os cristãos usam a bíblia para fazê-lo.
Ọránmíyàn (Ọrányàn), o filho de Ògún e de Odùduwà: Diz-se que Ọránmíyàn possui dois pais Ògún e Odùduwà. Um mito conta que Ògún, certa vez, trouxe muitos escravos da guerra e os deu a Odùduwà, o rei, exceto uma mulher, conhecida como Lankange. Como Ògún se apaixonou por Lankange, ele a manteve consigo. Quando Odùduwà soube disso ele deu ordens para que Ògún lhe trouxesse Lankange. Antes de fazê-lo, Ògún explicou à Odùduwà que ele havia copulado com Lankange. Não obstante, Odùduwà tomou Lankange como sua esposa. Quando Lankange deu à luz a Ọránmíyàn, a criança era meio branca como Odùduwà e meio negra como Ògún (Bascom, 1969).
– Sàngó, o deus do trovão: Filho de Ọránmíyàn. Vivendo no céu, ele lança tempestades de raios à terra, matando aqueles que o ofendem ou deixando suas casas em chamas. Sàngó luta contra aqueles que causam problemas e com os que se utilizam de magias para prejudicar outros, bem como seus devotos que o ofendem. Sàngó é ligado ao fogo porque ao falar, fogo sai de sua boca. Veneram-no pelos seus poderes mágicos. Segundo um dos mitos, Sàngó deixou Ilé-Ifè (cidade a sudoeste da Nigéria) quando foi derrotado em um combate mágico e, por isso, se enforcou. Quando começou a relampejar, seus devotos gritavam: “Oba kò so” (o Rei não se enforcou) (Tidjani-Serpos, 1996).
Discussão Os Yorùbá, assim como os Akan de Ghana, reconhecem o providencial cuidado de Ọlọrun e de deuses menores dos quais eles se aproximam quando estão em apuros. Creem que a maioria dos deuses menores são agentes de Ọlọrun, o Deus Supremo. Ọlọrun não destrói a vida, ele cria e alimenta a vida. Ele é aquele que atribui o destino. Quando Ọlọrun lhe dá enfermidade, Ele o provê da cura apropriada. Antes do nascimento de uma criança, a alma se apresenta ante Ọlọrun, para receber um novo corpo, novo sopro e seu destino para sua vida na terra. Ajoelhando-se ante Ọlọrun, essa alma recebe a oportunidade de eleger seu próprio destino. Acredita-se que a alma pode fazer qualquer pedido, seja razoável ou não. Destino envolve um dia fixado, no qual a alma retornará ao céu, a personalidade individual, a ocupação e a sorte. A hora da morte não pode ser adiada, mas outros aspectos de seu destino podem ser modificados pelos atos humanos. Os òrìşà ajudam os indivíduos a usufruir o destino prometido por Deus (Ọlọrun). Como resultado, por toda sua vida, deverá fazer sacrifícios ao seu guardião ancestral e aos deuses. Os encantamentos e as magias serão prescritos pelo Bàbáláwo para assistir os indivíduos quando em apuros. Quando se está em apuros, deve-se consultar um Bàbáláwo para determinar o que deverá ser feito para melhorar seu legado na terra. O Yorùbá acredita que quando a pessoa morre, ela se despede visitando os membros do clã. Se a pessoa teve uma vida repleta, suas múltiplas almas prosseguem para o outro mundo, onde vive o Deus do Céu. Quando a alma alcança o céu, ela prestará contas a Ọlọrun. Se a pessoa foi boa e destacada na terra suas almas serão enviadas ao céu bom (Òrun rere). Se seus atos foram maus, como o envenenamento de seu vizinho, assassinato de alguém de quem tinha confiança, ser mentirosa e fraudulenta, ela será condenada ao céu mau (Ọrun burú) ou ao “Ọrun àpadì” pelo Deus do Céu. Aqueles que não viveram completamente suas vidas permanecerão na terra como fantasmas. Por exemplo, aquele cuja vida foi tirada por um acidente de automóvel ficará na terra como um fantasma. Uma coisa é certa sobre o destino atribuído: nenhum mortal poderá mudá-lo. Se cada ser humano vem ao mundo com um destino pré-fixado e se Ọlọrun é tão bom, como os Yorùbá explicam as ocorrências de morte prematura? Os Yorùbá tentam responder a tal questionamento das seguintes maneiras: Primeiro: a pessoa pode ter ofendido aos deuses menores de tal modo que atraíram para si o castigo;
Segundo: a pessoa pode ter sido destinada a isso, e isso é o que ela requereu a Ọlọrun antes de ter nascido;
Terceiro: podem culpar outras pessoas por terem colocado um “feitiço” nele de modo a lhe causar a desgraça.
Portanto, os Yorùbá creem no poder benevolente de Ọlọrun, ainda que para eles seja possível a ambos (homens e poderes sobrenaturais) induzir as pessoas em certos atos que interfeririam no destino designado por Ọlọrun a cada ser humano individualmente. Assim, quando infortúnios acontecem ninguém culpa Ọlọrun, pois os Yorùbá creem que os agentes (òrìşà) de Ọlọrun é que são os culpados, por terem sido irresponsáveis (Agyakwa 1996, p.59). A questão central é: Como poderá o criador africano, tal como Olódùmarè ser supremo e não ser adorado? A resposta a essa questão levou S. S. Farrow, J. O. Lucas e outros a interpretar erroneamente as funções e as relações entre as deidades e Olódùmarè (Awólàlú P. 7). Em resposta a Farrow e Lucas, John Mbiti e Bòlájí Ìdòwú esclarecem esse mal entendido que tem afetado o monoteísmo africano. Esses eminentes eruditos evidenciam que “os deuses supremos africanos são, de fato, estreitamente envolvidos nos assuntos humanos e foram objeto de adoração religiosa em muitas sociedades. ” (Ray 2000, P. 25-26). Ambos enfatizam que o “conceito africano de Deus se encaixa perfeitamente no modelo de monoteísmo judaico-cristão” (Ibid.). Bòlájí Ìdòwú, em sua obra, Olódùmarè: God in Yorùbá Belief, apresenta evidências de que o conceito do Ser Supremo é um princípio monoteísta da religião Yorùbá. Segundo Ìdòwú, a religião Yorùbá é um “monoteísmo difuso” na qual muitas divindades Yorùbá “não são mais que conceitualizações de atributos de Olódùmarè, o Deus Supremo Yorùbá” (Ray). Como Ray aponta em African Religious: Symbol, Ritual and Community, “Ìdòwú baseou sua interpretação no fato de que a religião Yorùbá concebe Olódùmarè como o regente (Oba) e os deuses menores podem ser pensados como Seus ministros, analogamente à hierarquia política da tradição na qual o rei Yorùbá estabelecia regras aos seus subordinados por meio de seus ministros (veja Awólàlú, p. 17-18; Ray 2000, p. 26). Outra perspectiva diferente que apoia as observações de Ìdòwú foi feita por Philip John Niemark em seu livro The way of Orisha no qual considera Olódùmarè como o Deus Supremo da religião Yorùbá o que significa que o Yorùbá é monoteísta. Ele concebe os òrìşà ou deidades como “energias” ou intermediários de Olódùmarè, que lidam com os seres humanos nos afazeres diários ou frustram o cumprimento dos destinos na terra (ver Neimark, p.14 e Ray. p. 26). A fim de colocar em discussão o argumento de o Yorùbá ser monoteísta, Ray escreve: Semelhante a um regente Yorùbá, ou Oba, Olódùmarè reina supremo no céu distante e regula o mundo através de seus intermediários, os òrìşà. Olódùmarè habita o céu e Ele é transcendente, Onisciente, Todo-Poderoso. Diferentemente dos òrìşà, Ele não tem templos ou sacerdotes, e nenhum sacrifício ou oferendas Lhes são feitas, porque ele não pode ser influenciado ou conquistado por isso. Ainda assim, Olódùmarè pode ser invocado por qualquer pessoa, em qualquer lugar, em qualquer hora e deixá-Lo saber das necessidades do peticionário. (Ibid. P. 10) Opoku (1978, p. 5) apoia o posicionamento de Ray ao afirmar que é um erro descrever a religião Yorùbá como politeísta. Segundo ele, (…) politeísta é grosseiramente inadequada como descrição da Religião Tradicional Africana, pois uma religião não pode ser tachada de politeísta simplesmente por haver muitas divindades nesta religião. A questão fundamental no que diz respeito ao politeísmo está na relação existente entre os deuses e o panteão, e aqui, a crença religiosa dos egípcios, babilônios e gregos, que são exemplos clássicos do politeísmo, pode lançar considerável luz na nossa compreensão do termo. No politeísmo clássico, os deuses no panteão são independentes uns dos outros. Um dos deuses pode ser considerado como chefe, mas ele nunca poderá ser visto como criador dos outros deuses. Na Religião Tradicional Africana, no entanto, o quadro é totalmente diferente: Deus, o Ser Supremo, está fora do panteão de deuses. Ele é o Criador eterno de todos os demais deuses, do homem e do Universo. Isto O faz absolutamente único, e Ele se distingue de outros deuses ao ter um nome especial. Este nome é sempre no singular, e não é um nome genérico, como Obosom (para os Akan) ou òrìşà (para os Yorùbá). Todas as outras divindades possuem um nome genérico em adição ao seu nome específico. Esta é a maneira africana de mostrar a unicidade de Deus. Isso ilustra a estrutura hierárquica da tradição Yorùbá. Awólàlú lamenta que algumas pessoas que escreveram sobre a religião Yorùbá falharam em considerar a interação da cultura e como a transmite as crenças religiosas aos Yorùbá. O uso do domínio secular para ilustrar o conceito monoteísta de Deus pelos Yorùbá é demonstrado na posição do Oba como Pontifex Maximus (Awólàlú, P. 17) e, perceptivelmente, Olódùmarè representa o Deus conceitual, assim como ele é percebido na cultura ocidental. Awólàlú observa que dessa maneira, Olódùmarè tem a palavra final (Awólàlú, P. 17). Esta interpretação errônea da posição de Olódùmarè levou Tidjani-Serpos (1996, p. 18) a nos advertir: Sim, nós podemos, com humildade e tolerância, ouvir conscienciosamente a crítica à nossa herança cultural, sem, no entanto, recusar-nos a estar em completa sintonia com nosso tempo. Nós podemos, calma e abertamente, discutir com serenidade nosso passado sem optar por olhar nossa própria cultura através do ponto de vista dos valores de outros povos. Essa é a razão pelas qual alguns estudiosos como Mbiti, Ìdòwú, Awólàlú, apenas para citar alguns, não quiseram iniciar um debate entre as antigas e as modernas crenças, mas sim definir um correto registro.
Conclusão Os modernos investigadores são tendenciosos e prejudiciais em suas análises do conceito Yorùbá de Deus. O que aprendemos ao examinar o conceito de Deus pelos Yorùbá é que a religião Yorùbá é monoteísta. Dos vários nomes dados a Olódùmarè, um claro quadro de Deus emerge. Veem-no como o Senhor do céu, o Criador de toda humanidade, o Doador da vida e Ele é entendido como invisível. Por Sua invisibilidade, os Yorùbá não se preocupam em Lhe erigir um altar ou uma “representação física” (Opoku, P. 18). Ainda que as divindades sejam reverenciadas, elas são criadas por Deus para realizar funções específicas, à semelhança dos anjos, que foram criados para servir a Deus.
Referências:
Agyakwa, K. O. (1996). The problem of evil according to Akan and Whiteheadian metaphysical systems. Ìmódòye: A journal of African philosophy, 2, 45-61. Awólàlú, J. O. (1979). Yorùbá beliefs and sacrificial rites. London: Longman Group Ltd. Bascom, W. (1969). The Yorùbá of southwestern Nigeria. New York: Holt, Rinehart, and Winston. Ìdòwú, E. B. (1962). Olódùmarè: God in Yorùbá belief. Ikeje: Longman Nigerian Plc. Ìdòwú, E. B. (1975). African tradition religion. Maryknoll, N. Y.: Orbis Books. Lucas, J.O. (1948). The religion of the Yorùbá. Lagos, Nigeria. Mbiti, J. S. (1975). Introduction to African religion. Postsmouth: Heinemann Educational Books, Ltd. Niemark, P. J. (1993). The way of Orisha. New York: Harper Collins. Opoku, K. A. (1978). West African traditional religion. Accra, Ghana: FEP International Private Ltd. Parrinder, G. (1954). African traditional religion. Westport: Greenwood Press. Parrinder, G. (1967). African mythology. New York: Peter Bedrick Books. Parrinder, G. (1969). Religion in Africa. New York: Praeger Publishers. Ray, B.C. (2000). African religions: Symbol, ritual and continuity (2nd ed). Upper Saddle River, New Jersey: Prentice-Hall. Tidjani-Serpos, N. (1996). The postcolonial condition: The archeology of African knowledge: from the feat of Ògún and Sàngó to the postcolonial creativity of Obatala. Research in African Literatures, 27, 3-19. Thinking About Religion, Volume 3 Copyright © 2004
* Mestre em Ciência da Religião e em Ciências Policiais. Professor universitário no CAES/SP.
Obs. Muitas lendas têm pequenas ou grandes variações de uma região para a outra em território nigeriano, não devemos levar todos os dados ao pé da letra. Devemos nos ater ao conjunto da obra e sua mensagem principal que fala do monoteísmo da religião.
Odé Gbàfáomi
Da Ilha,
Brilhante o texto, elucidativo e esclarecedor para os estudiosos da religião yoruba. Muitas das minhas reflexões foram respondidas neste texto, principalmente em relação à criação do mundo, os nomes de Deus e como ele coordenou esta obra que é a humanidade. Mais interessante ainda é saber os nomes destes responsáveis e suas respectivas funções. De fato, sempre acreditei que seria impossível pensar ou criar uma imagem física de Deus (Olorun ,Olodumare). É inconcebível comparada à sua magnitude, não cabe em uma estátua, figura ou templo.
Temos que ter cuidado com que a modernidade teoriza sobre a religião yoruba, pois muitos deturpam a realidade dos fatos. A má interpretação dos itáns, que mudam de acordo com a região geográfica, pode trazer prejuízos a cultura. Um exemplo disto é designar a religião como politeísta que diverge do conceito yoruba primitivo.
Aproveitando o ensejo, o que seria o conceito de Irunmole? Me peguei pensando nisso no final do texto…
Asé o!
Da Ilha,
A mensagem sobre Monoteísmo é maravilhosa, parabéns por nos trazer valiosas informações. Um único DEUS entre os Yorubás, no caso Olodumare.
Apenas ressalvo as informações sobre as divindades principalmente sobre Oduduwá que para os Yorubás é progenitor feminino (a própria Terra) e o progenitor masculino é Orixan’lá).
Não podemos confundir com o outro personagem que tinha o pseudônimo de Odudua que vindo de Meca fundou Ilê Ifé em terras de Obatalá e que era pai de Oranian, portanto não são Orixás.
Àwúre.
Mo juba Baba, não há confusão.
O conhecimento dos dois nomes é corriqueiro.
Oduduwa, o Legislador, o rei dos Yoruba, aquele que anda pelas ruas da cidade e auxilia os que tem fome.
Sem confusão com Oduduwa, nosso òrìsà.
Veja parte de um de seus oriki:
Odùdúwà saudações!
Meu pai, que cria o comportamento.
Odúà, que faz as pessoas terem boa conduta.
O harmonizador da cidade de Ifè.
O guerreiro que, ao acordar pela manhã anda ativamente por toda cidade de Ife.
O benfeitor que não deixa as pessoas passarem fome
O próspero que semeia a prosperidade na vida dos outros
O bom juiz que julga a favor e contra
O senhor do àse da cidade de Ifè.
Ire alaafia.
Enfim, apos este texto. Devo crer que o candomblé é de fato MONOTEISTA?
O monoteísmo e claro como água. Olodumare é nosso deus único.
Ire
Boa tarde!
Além de o texto ser muito rico, mostra a teologia yorubá no tocante ao monoteísmo, pois quando se fala nessa temática, apenas o Judaísmo, Cristianismo e Islamismo são postos como tal.
Quando se fala em sociedades compostas de estamentos sociais, estruturas complexas que não tinha a linguagem escrita, só se fala no império inca, no entanto até onde sei, o povo yorubá era reino (estrutura política, econômica e etc) e não possuía a linguagem escrita.
Está na hora de mostrar os valores não eurocêntricos, textos como esse contribuem para mostrar os valores dos despossuídos, excluídos, não é apenas Europa que possui, que conhece… Há sim! O deus é único, agora a visão que cada sociedade, cultura tem e conceitua é que é diferente.
Um abraço.
GOSTEI DO BLOG. PARTILHO REFLEXÃO DE ALINE- Eliane Maciel (ALINE) diz para todos aqueles que refletem sobre suas palavras,que nesta semana, independente de suas religiões ou filosofias, reflitam sobre a verdade, a justiça e a lucidez das atitudes de cada um.
Façam realmente uma reflexão sobre os seus objetivos, sobre o que realmente lhe faz feliz e suas falhas. Auto-conhecimento, auto-analise.
Lembre-se, escolham a paz e a harmonia para o seu ser permanecer na luz, independente dos acontecimentos e tomada de decisões e livre arbítrio de outras.
Somos responsáveis pelo nosso ser e pelo universo que criamos de pensamentos, palavras e ações.
“Cada um dá o que tem”, procure corrigir suas falhas para poder viver em atitude, com dignidade e respeito.
Só podemos dar aquilo que temos, e recebemos aquilo que plantamos.
Que vocês possam, como um espelho, refletir para o outro o que sentem por si.
E aqui do polo norte, na meditação e no silêncio, peço ao DEUS todo poderoso e único que ilumine as mentes, as consciências e que proteja todos aqueles que portarem luz, independente de credo, cor, religião ou país, apenas o ser, em sua totalidade humana.
Um grande abraço nosso professor, sempre enriquecendo com sua lucidez.
Ire alaafia
Luz, perfeito.
Ire
Cida Irunmolè são as energias divinas, que estão no Cosmos ajudando Olodumare a reger tudo o que existe de material e imaterial. Acreditamos serem em número de duzentos +1, sendo este +1 Èsù e algo que está encoberto (awo=segredo).
Nesta palavra colocamos o que chamamos cotidianamente de orisa (um conceito muito abrangente, onde cabem muitas definições e teses. Quem são os verdadeiros orisa e quem são os irunmolè?).
Ire
Desculpem-me, mas não responderam a minha pergunta feita no dia 19/04:
Aproveitando o ensejo, o que seria o conceito de Irunmole? Me peguei pensando nisso no final do texto…
Existe algum texto no blog que fale sobre isso, assim eu poderia ler, sem problemas…
Obrigada
Cida eu respondi a sua pergunta.
Ire
Da Ilha, Mo juba,
Colaborando e Esclarecendo sobre “Oduduwa” fundados de Ilê Ifé.
Oduduwa foi e ainda é um personagem histórico de parte do povo Yoruba. Oduduwa foi um temível guerreiro invasor, vencedor dos ìgbós (terra de Obatalá) e fundador da cidade de Ilê Ifé. Segundo historiadores, Oduduwa teria vivido entre 2000 a 1800 anos antes de Cristo. Oduduwa foi pai dos reis de diversas nações yorubás, tornando-se assim cultuado após sua morte, devido ao costume yoruba de cultuar os ancestrais. Segundo o historiador Eduardo Fonseca Júnior, Oduduwa chamava-se Nimrod, que desceu fugido com seu exército do Egito após sua tentativa fracassada de tomar o poder de seu irmão mais velho, veio até chegar a Yarba onde fixou residência. Ao longo do caminho até Yarba, Nimrod ou Oduduwa fundou diversos reinos. Segundo o historiador, Nimrod trocou de nome e passou-se a se chamar Oduduwa, “aquele que tem existência própria”; onde Ile-Ifé é aquele que cresce e se expande. Segundo o Professor José Beniste, Oduduwa é assim chamado devido ao fato dele cultuar uma divindade chamada Oduá, que na verdade chama-se Odulobojé, que é a representação feminina, com o poder da gestação. Passou a ancestral que foi divinizado com ajuda das confrarias e de várias sociedades dominantes mantendo a dinastia. Na cidade de Oyó quem governava é Oranian um de seus filhos que também manteve a dinastia e o reinado através das famílias e com a ajuda das sociedades secretas (Ogbonis) que funcionavam como conselheiros com poderes até de destronar o Rei. Como podemos observar Oduduwa (o fundador de Ilé-Ifé), segundo grandes pesquisadores como Pierre Verge, José Beniste, Eduardo Fonseca Júnior, Itaoman, Arno e tantos outros,Oduduwa foi um personagem históricos.
Existem ainda versos ditos serem de Ifá que o transforma como sendo o Rei sobre qualquer outro Rei, naturalmente o clã de Ilê Ifé legislaram em causa própria que, aliás, é comum naqueles que comandam a política de um Estado ou uma fé religiosa.
Antigos historiadores contam que Nimrod só conseguiu se firmar e se estabelecer em Ilê Ifé quando restaurou o poder dos Ìgbós sobre o culto a Obatalá, harmonizando e dividindo os poderes de forma paralela.
Àwúre.
Boa tarde,
Para refletir.
Não seria inapropriado, já que monoteísmo significa único deus, chamar os orixás de divindades, ou deuses???
Um abraço.
Àse! Saudações.
Peço desculpas, mas mais uma vez venho fazer observações necessárias ao estudo e à pesquisa.
A frase mais importante deste artigo é está:
“…É nossa convicção que qualquer tentativa de construir uma teoria que descreva o conceito de Deus entre os Yorùbá não nos dará um quadro verdadeiro …”
O autor está absolutamente certo. O conceito de um deus monoteísta ioruba não é verdadeiro e não corresponde à forma de ser da religião iorubá (John Bewaji, Olodumare Deus na Crença Ioruba e o Problema Teísta do Mal (trad. de Luiz L. Marins).
A religião iorubá não pode ser monoteísta por uma razão muito simples: ela não é teísta. E o que é uma religião teísta? O que é teísmo?
Resumindo, teísmo é caracterizado por religiões onde o deus supremo revela-se, age, interage e cria diretamente … por exemplo, o deus jeová: a) criando ?Adão e Eva, revelando-se a eles … b) entregando as tábuas da lei à Moisés.
Não é esta a forma de agir de Olodumare nos itan-odu.
Não O vemos criando e agindo diretamente com a humanidade. Tudo é criado e realizado através do Poder Delegado aos Orisa.
A religião iorubá é “orixaísta”, ainda que este termo seja regionalizado por falta de uma definição melhor.
Assim, para concluir, eu parabenizo o autor deste texto, que teve a dignidade e a clareza suficiente de escrever o parágrafo acima citado.
Alaafia!
Mo juba Baba.
Acredito piamente que a melhor das intenções está colocada nas suas e nas palavras dos Doutores Nigerianos autores do artigo.
Acredito piamente que um único Deus se revela em todas as religiões, sendo nominado de acordo com esta cultura.
Acredito piamente que o Único Deus se revela em lendas e atos, por toda face do planeta e mesmo assim as pessoas não o enxergam como um Deus único.
Acredito piamente na boa vontade e parcialidade dos homens ao venerar o ‘seu’ Deus.
A “ausência de Olódumare se dá em que momento?
No momento do sopro divino ele está presente, no momento das bênçãos e confirmação de todos os ebo ofertados pelo ser humano ele é o sancionador.
Que Deus é este que de tão ausente tem ligação direta com o cumprimento do destino de cada ser humano deste mundo?
No Odù Osetura ele tem participação direta na anulação da magia de Òsún e devolve a normalidade ao planeta.
Em Ogbè’sá ele interfere diretamente na qualidade do trabalho apresentado pelos adivinhos para o povo da Terra.
São numerosos exemplos de sua participação que ficariamos horas discorrendo sobre iton que falam de sua participação no cotidiano da vida humana.
O que Èsù faz como Olopá?
A quem ele se reporta constantemente sobre as delegações dadas ao òrìsà e o comportamentos dos seres deste planeta?
Se isto não é onisciência…
O tema é complexo, é motivo de debates acalorados e etc., porém, eu fico com a certeza de que um universo holográfico e interligado, depende exclusivamente da energia de uma única fonte.
Obrigado pela elevação de nosso debate e continue a nos prestigiar com suas ideias.
Ire alaafia.
Um pequeno exemplo vem nesta parte do Esè Ifá de Osetura:
Jogaram Ifá para Akin Osó, o filho de Eninare, (aquela que foi colocada no caminho do bem, Òsún), no dia em que ele conseguiria levar a oferenda ao poderoso Òrun.
Disseram: Que ele deveria primeiro fazer uma oferenda.
Disseram: Que quando ele acabasse de fazer a oferenda.
Disseram: Que no lugar a respeito do qual ele estava consultando Ifá,
Disseram: Ali, ele seria coberto de honras.
Disseram: Acontece que a importância que ele ali alcançasse.
Disseram: Essa posição seria para sempre e não desapareceria jamais.
Disseram: As honras que ele receberia ali,
Disseram: O respeito seria interminável.
Disseram: Você verá uma anciã no seu caminho,
Disseram: Faça-lhe o bem.
Assim, quando Òsétúrá acabou de preparar a oferenda:
Seis pombos, seis galinhas e seis centavos.
Quando estava em seu caminho, ele encontrou uma anciã.
Ele carregava a oferenda no caminho que levaria a Èsù, quando encontrou essa anciã no seu caminho.
Essa anciã (Ìyàámi) era da época em quê a existência se originou.
Ela disse: Akin Osò! A casa de quem vai hoje?
Eu ouvi rumores a respeito de todos vocês.
Na casa de Olófin, que os dezesseis Odù mais idosos levaram uma oferenda ao poderoso Òrun sem sucesso.
Ela disse: Assim seja!
Ela Disse: É a sua vez hoje?
Ele disse: Sim, é a minha vez.
Ela perguntou: Tomou alimentos hoje?
Respondeu ele: Eu tomei alimentos.
Disse ela: Quando você chegar a sua casa, diga-lhes que você não irá hoje.
Ela disse: Esses seis centavos que você me deu,
Ela disse: Há três dias que não tenho dinheiro para comprar comida.
Ela disse: Diga-lhes que você não irá hoje.
Ela disse: Quando chegar amanhã, você não deve comer você não deve beber antes de chegar lá.
Ela disse: Você deve levar a oferenda.
Ela disse: Todos esses que ali foram, comeram da comida da terra, essa é a razão pela qual Olòrun não lhes abriu a porta!
Quando Òsétúrá voltou a casa do Oba Àjàlaiyé, todos os Odù Ifá estavam reunidos lá.
Eles disseram: Você deve estar pronto agora, hoje é sua vez de levar a oferenda ao Òrun, talvez à porta seja aberta para você!
Disse ele: Estarei pronto no dia seguinte, porque não fui avisado na véspera.
Quando chegou o dia seguinte, Òsétúrá foi encontrar Èsù Òdàrà e lhe perguntou o que deveria fazer.
Èsù respondeu: Como?
Jamais pensei que você viria me avisar antes de partir.
Disse ele: Isso vai acabar. Hoje eles lhe abrirão a porta!
Perguntou ele: Tomou algum alimento?
Òsétúrá lhe respondeu que uma anciã lhe tinha dito na véspera que ele não devia comer absolutamente nada.
Então Òsétúrá e Èsù Òdàrà puseram-se a caminho. Partiram em direção aos portões do Òrun.
Quando chegaram lá às portas já se encontravam abertas.
Quando levaram a oferenda a Olódùmarè e Ele a examinou.
Olódùmarè disse: Haaa!
Você viu qual foi o último dia que choveu na terra?
Eu me pergunto se o mundo não foi completamente destruído.
Que pode ser encontrado lá?
Òsétúrá não podia nem abrir a boca (diante de tanto esplendor) para dizer qualquer coisa.
Olódùmarè lhe deu alguns “feixes” de chuva.
Reuniu, como outrora, as coisas de valor do Òrun, todas as coisas necessárias para a sobrevivência do mundo e deu a eles.
Disse que ele, Òsétúrá, deveria retornar.
Quando deixaram a morada de Olódùmarè, eis que Òsétúrá perdeu um dos feixes de chuva.
Então a chuva começou a cair sobre a terra.
Choveu, choveu, choveu, choveu…
Na minha humilde convicção e nos meus estudos está implícita a verdade de um Deus Único.
Se òrìsà governasse o mundo não haveria necessidade dos nossos ebo serem sancionados pela autoridade máxima, que permite que o ase (bênção) seja liberado.
Oyigiyigi é um termo que tem dezenas de maneiras de ser interpretada.
Convenhamos que a autoridade humana não pode querer se atrever a querer entender Deus. Isto é uma verdadeira tolice.
Mo beere surè Baba.
Depois desta explanação sobre o pai dos yorùbá, cabe aos nossos internautas deixarem as duvidas de lado e se guiarem pela aula de nosso mais velho.
Obrigado pela colaboração, muito importante, é verdade.
Ire alaafia.
Àse … agradeço a oportunidade de expor meus pensamentos para os leitores.
Antes de afirmamos que uma religião é monoteísta, politeísta, henoteísta, ou qualquer-coisa-teísta, primeiro precisamos definir o que é “teísmo”.
A relação de Olodumare é com os Orixás, e não diretamente com os seres humanos, tal qual Jeová com Moisés ou Jesus das religiões teístas.
Os Iorubás cultuam Olodumare através do Poder Delegado aos Orixás, e é isto que caracteriza a “Religião dos Orixás” ou “Orixaísmo”, para usar um termo mais moderno.
Os itans mostram que Olodumare não é Onisciente, nem Onipresente. Estes são conceitos teístas publicados pelo pastor e reverendo Idowu no seu livro “Olodumare …”, fonte utilizada pelo articulista.
No próprio odu Osetura publicado por Juana Elbein (fonte que aqui utilizou) vemos que, quem relata os acontecimentos a Olodumare, é Exu, visto que Orunmila não sabia como resolver a questão.
O itan citado por você em sua réplica confirma a relação de Olodumare com as divindades, não com os seres humanos.
Ao dizer que a religião Iorubá não é monoteísta, não estou afirmando que é politeísta … eu dizendo que ela não é teísta … portanto, o conceito teológico é outro.
Grato pelo espaço.
Alaafia!
Caros colegas,
Talvez essa discussão não caiba para uma neófita, mas fiquei intrigada com a questão “orixaísmo”, “orixáista”, “religião dos orixás” oriunda da explanação feita pelo nosso colega Luiz sobre Olodumare:
“Não O vemos criando e agindo diretamente com a humanidade. Tudo é criado e realizado através do Poder Delegado aos Orisa (…) “Os itans mostram que Olodumare não é Onisciente, nem Onipresente. Estes são conceitos teístas publicados pelo pastor e reverendo Idowu no seu livro “Olodumare …”, fonte utilizada pelo articulista.”
Ressalvas a parte, se aceitarmos que a religião yoruba “consente” a delegação dos poderes de Olodumare, obviamente, ela aprova a existência um poder originário. Poder este que agrega em si todas as funções, autoridades e a incumbência de manusear suas próprias leis permissivas ou limitativas. Em síntese, o poder de minudenciar as restrições.
Convergindo com esse pensamento, o poder originário legisla (cria leis), fiscaliza (amplia ou restringe), sanciona (aprova) ou rejeita devido a sua competência exclusiva e personalíssima. Por exceções e para melhor alcance de suas normas, o poder originário pode transferir “PARTE” de suas funções de forma indireta, gerando assim o poder delegado.
Neste ínterim, Olodumare, como o sancionador do Universo, interage diretamente nas relações humanas, pois Esu sozinho e nem por delegação tem a “competência” de deferir pedidos. Portanto, o poder originário alcança e determina, em sentido amplo (lato sensu) e o poder delegado em sentido estrito (stricto sensu). Em outras palavras, os Orisás são limitados em suas ações nos termos da delegação e se caracterizam por atos de execução. A transferência do poder não os isenta de levar a instância maior (Olodumare), cabendo a Ele a decisão final do que foi motivado.
A corroborar essa linha de entendimento, a onisciência e onipresença está logicamente inserida neste contexto. Os Orixás apresentam seus pareceres sobre o mundo e a humanidade. Tal como um defensor ou promotor que apresenta e sustenta sua tese jurídica ao Juiz, porém o Magistrado já possui os conhecimentos dos fatos previamente relatados.Por analogia, Olodumare já conhece os acontecimentos, os sacrifícios que foram feitos e originaram a petição no ebó levado por Esú. Se não houvesse onisciência e onipresença, Olodumare delegaria as aprovações e reprovações diretamente a Esu. Logicamente, ele saberia mais do que o próprio Criador, sendo Este mero coadjuvante nesse processo decisório. Numa visão simplista, quando Olodumare pede que Esú verbalize o conteúdo do ebó, ele está fiscalizando o trabalho de Esú como mensageiro e comunicador do Universo, bem como o acesso aos portais do Órun.
Neste contexto, o poder originário revela-se no modelo cristão da Santíssima quando Jesus (que é Deus através da Santíssima Trindade) delega aos apóstolos suas funções, mas aclara na passagem bíblica que os espíritos só temem a Deus e se submetem apenas a vontade Dele, indiretamente, na figura dos apóstolos:
“Eu lhes dei autoridade para pisarem sobre cobras e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo; nada lhes fará dano. Contudo, alegrem-se, não porque os espíritos se submetem a vocês, mas porque seus nomes estão escritos nos céus.” (Lucas 10:19-20).
Em suma, na esteira do entendimento da filosofia yoruba, a função executória de Olodumare pode ser dividida em duas fases: a primeira quando ele confecciona a criação nos primórdios da Terra):
“Para reforçar melhor a compreensão da crença Yorùbá, é necessário explorar as características de Olódùmarè que O diferenciam de todas as outras coisas que Ele criou. Ele é o Criador. Entre os Yorùbá, o mito da Criação sustenta que no princípio o mundo era um pântano, um deserto aquoso. Olódùmarè e algumas divindades viviam no céu, descendendo e ascendendo através de teias de aranha ou de correntes. Eles freqüentemente visitavam a terra, especialmente para caçar. A humanidade ainda não existia, pois não havia terra (Parrinder 1986).
Na segunda, quando ele delega a execução dos demais feitos, inclusive a humanidade, comprovando assim que Ele não abre mão de seu poder criador e originário da vida humana:
“Um dia, Olódùmarè convocou Seu Comandante-em-chefe, Òrìşà-ńlá (Obàtálá), a Sua presença e lhe disse que Ele (Olódùmarè) queria criar a terra firme e que Òrìşà-ńlá seria responsável por isso (…) Para povoar a terra, Olódùmarè pediu a Òrìşà-ńlá que moldasse formas humanas. Òrìşà-ńlá moldou formas humanas e as guardou sem vida, ainda. Ocasionalmente, Olódùmarè viria e sopraria a vida nestas formas. Tudo o que Òrìşà-ńlá poderia fazer era modelar as formas humanas, mas lhe faltava o poder de lhes dar vida. A criação da vida era confiada, unicamente, ao Deus Supremo, Olódùmarè. Diz-se que Òrìşà-ńlá chegou a ficar com inveja de Olódùmarè por não compartilhar a capacidade para criar vida com Ele”.
Em suma,não há a possibilidade de Olodumare deixar-nos a própria sorte, sem termos o respaldo da sua onisciência e onipotência. Ele não pode exaurir-se em si mesmo tão somente porque “delegou” suas funções aos Orisás. Ele usou o poder delegado visando a ampliação do seu campo de atuação, mas continua a sancionar as petições humanas com propriedade personalíssima e intransferível. Nesse entendimento, a atuação Dele com toda a sua magnitude é inquestionável, pois uma decisão modifica, em efeito dominó, o destino e a existência de várias vidas, tanto no Aiyê quanto no Órun.
Portanto, a visão monoteísta é plausível, respeitável e irrevogavelmente aceitável. A Origem, o poder originário é Olodumare e este não se exclui nem divide, apenas transfere por delegação PARTE de suas funções para fins, não cabendo aos Orisás nem a Esu decidirem pela humanidade:
“Então Òsétúrá e Èsù Òdàrà puseram-se a caminho. Partiram em direção aos portões do Òrun. Quando chegaram lá às portas já se encontravam abertas.
Quando levaram a oferenda a Olódùmarè e Ele a examinou.
Olódùmarè disse: Haaa!
Você viu qual foi o último dia que choveu na terra? Eu me pergunto se o mundo não foi completamente destruído. Que pode ser encontrado lá?
Òsétúrá não podia nem abrir a boca (diante de tanto esplendor) para dizer qualquer coisa.
Olódùmarè lhe deu alguns “feixes” de chuva.
Reuniu, como outrora, as coisas de valor do Òrun, todas as coisas necessárias para a sobrevivência do mundo e deu a eles.
Disse que ele, Òsétúrá, deveria retornar.
Quando deixaram a morada de Olódùmarè, eis que Òsétúrá perdeu um dos feixes de chuva.
Então a chuva começou a cair sobre a terra.
Choveu, choveu, choveu, choveu…”
Vou lembrar dessa discussão brilhantemente rsrsrs…quem sabe não vira meu trabalho de conclusão de curso na Sociologia ou na Filosofia!!
Abraços a todos pela belíssima discussão!
Ase!!
Bom dia!
Muito rica essa discussão, até porque é assim que se enriquece o tema.
Bom, parece que o deus Jave também é desprovido de onisciência, pois em Gêneses ele diz: Adão, onde estás? Por que estás nu?
O fato é que todo texto está sujeito a uma decodificação, sobretudo quando se trata de escritos milenares, onde a cosmo visão era outra, estilo literário e mais ainda, nem sempre existiram os sinais estigmológicos e os sinais diacríticos.
È necessário, fazer um estudo mais profundo e nas culturas ágrafas, o procedimento é outro, mesmo assim, a sua oralidade não escapa à exegese.
Abraço a todos/as
Obrigado Senhora Cida Soares pela participação, fez uma bela argumentação, mas não posso concordar que a tese do monoteísmo seja irrevogável. Cabe lembrarmos a fala do articulista Kofi:
“…É nossa convicção que qualquer tentativa de construir uma teoria que descreva o conceito de Deus entre os Yorùbá não nos dará um quadro verdadeiro; portanto, este trabalho discutirá os pontos de vista de alguns estudiosos…”
É importante lembrar também que, o que embasa o conceito teológico da religião ioruba são os itan odu e não as belas dissertações inteligentemente construídas.
Quero reprisar que não vemos nos itan odu, no orixaísmo, a relação direta com a humanidade da forma como ocorre nos textos bíblicos.
O conceito teológico ioruba não esta devidamente classificado, visto que foi cunhado com a visão do colonizador, e está muito longe de ser teísta … (monoteísta, politeísta, henoteísta, etc).
O articulista Kofi embasa os conceitos relativos de Olodumare no pastor evangélico Idowu, no livro “Olodumare …”
Estas fontes clássicas foram criticados por Bewaji, que sugere abandona-las pois não refletem o pensamento Ioruba. (ver em minha página: “Bewaji …Olodumare e o problema teísta do mal”).
Sugiro também a leitura sobre a entrevista de Pierre Verger “O perigo para as religiões afro-brasileiras” … que agora também se estende para a Religão Tradicional Yoruba com o crescimento da Igreja de Orunmila de Lagos (Ijo Orunmila).
Sobre a pretendida onisciência de Olodumare, há varias passagens de itans onde vemos que ele não a tem, assim com também não a tem o deus Jeova bíblico, tomado emprestado da Terra de Ur. A contestação da onisciência de Deus já começa no texto bíblico,
Os conceitos teológicos cristãos foram sobrepostos aos ao conceitos Iorubas pelas escolas cristãs em território Ioruba, há mais de cem anos. (Popoola).
Sobre a Onisciência, que não é o tema central deste debate, cito dois itans:
“Em Ogbe’sa quando Orunmila e Oxum estão na presença de Olodumare, este pergunta se Oxum é uma divinizadora, e Orunmila diz que sim” … (Abimbola, the bag of the wisdom).
Se Olodumare onisciente fosse, não perguntaria.
No próprio itan aqui publicado, vemos a seguinte passagem:
” Òrìşà-ńlá reportou-se a Olódùmarè dizendo-lhe que o trabalho havia terminado. Olódùmarè, então, enviou um camaleão para examinar o trabalho. O camaleão voltou e disse à Olódùmarè que o trabalho estava feito, mas a terra não estava seca o bastante. O camaleão foi enviado uma segunda vez. Desta feita relatou que a terra era grande e seca.” …
Se Olodumare onisciente fosse, não precisaria enviar o camaleão.
Alaafia !
Caros colegas,
Obrigada pelos elogios e pela contribuição.
Sem me aprofundar no assunto em tela, acredito que quando Deus (Olodumare, Deus Católico, Krishna, Jeová, Maomé, Buda e tantos outros) questiona os envolvidos é por caráter meramente participativo. Uma alusão à acessibilidade que Deus dá a todas as criaturas. Quando Ele envia o camaleão, metaforicamente, diz que todos fazem parte do processo de Criação do Mundo (humanidade, ecossistema, animais, seres humanos e divindades).
Devemos lembrar que no âmbito religioso, os personagens do sagrado tem como características básicas a humildade e a disponibilidade.No que concerne em ouvir os seres humanos com suas explicações, aflições e dissabores. Eis o motivo da oração, dos orikis e dos oduras para que possamos evocar Deus em qualquer lugar ou hora, sem marcar previamente ou mediante autorização. Deus se coloca em pé de igualdade com a Criação, estabelecendo assim um diálogo menos ofensivo ou pretensioso de sua parte.
Não posso deixar de citar um exemplo meramente ilustrativo: uma audiência em que o juiz sabe que o réu possui pouca instrução. O Magistrado reduz a sua eloquência e seu vocabulário rebuscado para atingir o mesmo grau de conhecimento do réu. Assim o Magistrado consegue estabelecer um diálogo para averiguar informações e fatos, sem o pesar da relação de superioridade intelectual que naturalmente é imposta.
Não vejo o camelão como o “X-9” de Olodumare, o que seria até engraçado… Imaginem: “Adão, você está nú porque assim desejou para seduzir Eva e agora vai fazer isso, isso e mais isso. Não precisa nem explicar mais nada! Eu sei de tudo até o último dia de sua vida!”
Eu se fosse Adão me calaria, sairia de fininho e nunca mais falaria com esse Ser tão arrogante e prepotente cujo nome é Deus. Afinal como vou dialogar com quem não me concede oportunidade de expressão, pois Ele sabe tudo e faz questão de mostrar isso..
Fica a reflexão para todos!
Termino por aqui (prometo é minha última postagem, sem delongas!!)
Um abraços a todos que teceram suas ideias de forma inteligente sobre o tema…Asé.
Olodumare ki ba se ó!
O Odù abaixo nos encanta com esta pérola:
Ọyẹku L’Ogbè
O que fazemos em segredo
Que Olódùmarè não está ciente
Esta foi a declaração de Ifá para Jénmí
O filho de Òşún
O que estamos fazendo em segredo
Que Olódùmarè não está ciente
Esta foi a declaração de Ifá para Èmílaáyín
O filho de Ợbàtálá (Òrìṣànlá)
Jenmi, você é o filho de Òşún
Èmílaáyín, você é, concretamente, o descendente de Ợbàtálá
Em todas as questões ocultas
Ifá irá expô-los e trazê-los as claras.
Ase.
Epá Odù, Epá òrìsà.
Sagrado Oyeku L’Ogbè.
Àse!
Por favor Da Ilha, poderia informar a fonte deste ese-ifa.
É importante para o estudo da dicotomia mitológica Ioruba.
Grato.
A fonte está em:
Ifá La Lave del Entendimento ou a versão em Inglês:
The Key to its’ Understanding.
Fáşínà Fálàdé
Ire alaafia
Àse .. obrigado. Tenho a versão em inglês.
A tradição oral, especialmente a Ioruba, é dicotômica por natureza, sendo que esta dicotomia não implica em conflito social, visto que cada grupo vivie seu próprio mundo mitológico religioso.
O Fasina Falade pertence à Igreja de Orunmila de Lagos (Ijo Orunmila Ato), ligado a Orunmila Youngsters International e Indigene Faith of Africa, que vem reformando os mitos dentro de um conceito de Ifá teísta. Esta igreja foi originalmente formada por ex-padres, portanto, é natural a forma teísta de seu corpo mitológico.
(ver “Solagbade Popoola e o novo mito Ioruba da criação do Universo, Revista Olorun, n. 21, p. 32, www olorun com br)
Evidenciando esta dicotomia mitológica Ioruba, veremos a seguir um extrato de um ese ifa coletado por Abimbola, do babalaô Ifatoogun, de Ilobu, onde vemos a não onisciência de Olodumare:
Ogbe’sa
[…]
Olódùmàrè perguntou: Quem é o próximo?
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) disse que a próxima pessoa vinha a ser sua companheira
O qual era uma mulher
Olódùmàrè então perguntou:
Ela também é uma advinha, uma olhadora?
O qual Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) respondeu, “Sim, isto é verdade”
Olódùmàrè então pediu a ela para consultar o oráculo para ele
Quando Oxun (Ọ̀ṣun) examinou Olódùmàrè,
Ela viu tudo em sua mente
Mas ela não disse para ele tudo o que viu
Ela mencionou a essência
Mas ela não disse as raízes do problema assim como faz Ifá
Olódùmàrè então perguntou a Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) o que era aquilo?
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) então explicou a Olódùmàrè
[…]
Fonte: Wande Abimbola, The Bag of the Wisdom. In: Osun Across the Waters, Joseph Murphy & Mei-Mei Sanford (org), Indiana University Press, 2001
Luiz eu acredito que faremos um grande debate onde os vencedores (não há disputa aqui) serão os internautas, pelo alto padrão colocado por vc em nossa conversa.
De verdade, verdadeira (está frase é minha mãe, família, Bangbose dos tempos de Cavalcante, aqui no Rio) eu não vou me convencer, creio que vc muito menos, são muitos argumentos pró e contra.
Eu fico com os estados alterados de consciência dos iniciados (eu inclusive) que me permite a viagem pelo Cosmos, a comunicação como as forças da natureza e a grandeza deste Deus único, maravilhoso, poderoso, que tudo sabe e tudo vê (com ou sem os seus olhos), a única fonte e que está interligado a tudo e a todos.
Podemos continuar com este assunto, que engrandece não só a religião como a todos envolvidos direta e indiretamente.
Àse Da Ilha …
Meu interesse é apenas o estudo e a pesquisa, de forma isenta, sem querer convencer ninguém ao meu pensamento, até porque, a dicotomia é dos iorubás, e não nossa. São eles que possuem várias formas de pensamento religioso, algumas mais tradicionais, outras mais aculturadas.
Não podemos negar a influência das religiões estrangeiras na moderna teologia ioruba.
Busco apenas o estudo isento, deixando de lado a questão da fé, porque fé nunca poderá ser estudada, apenas sentida.
Na questão da oralidade das religiões africanas, nenhuma verdade é absoluta. Cada grupo vive sua própria verdade.
Um debate não tem a finalidade de mostrar quem está certo ou errado, pois isto é relativo à fonte estudada.
Assim, seja qual for o tema, minha finalidade é mostrar os vários lados do pensamento ioruba relacionados ao tema em debate.
O erro surge quando um pesquisador, líder religioso ou não, movido pela fé, tenta mostrar apenas um dos lados desta visão.
Fiz questão de falar neste texto do Monoteísmo Ioruba, porque ele está sendo divulgado na internet como se fosse a verdadeira forma dos iorubas entenderem Olodumare, e isto não é assim, tanto que o próprio articulista Kofi chama atenção para isto, no inicio do texto.
Sugeri a leitura de Bewaji, que traduzi e publiquei na Revista Olorun, justamente para oportunidades como esta, pois este autor mostra a influencia das religiões estrangeiras na teologia ioruba moderna. (Revista Olorun, n. 10, pg. 6, www olorun com br)
Dentro de um debate respeitoso, a partir do momento que uma das partes diz “eu acredito que …” o debate encerra-se, porque trata-se de uma confissão de fé, e cabe respeito.
Penso que já foi dito tudo que era necessário, e de minha parte podemos respeitosamente encerrar, para não cansar os leitores.
Àse a todos!
Luiz Erinlè ki nba se o.
Muito gostoso este debate onde as convicções são respeitadas, as opiniões idem e seguimos enfrente sem divergências pessoais ou religiosas.
Seja bem vindo, sempre.
Ire onà ajè, ire aiku, ire alaafia.
Boa noite! Eu gostaria de saber se alguém pode me ajudar…eu tenho rezas por assim dizer de ajê saluga porém não tenho a melodia das rezas alguém poderia me ajudar por favor abçs
Reza de evocação de Ajê”
Ajê Ogugulusô
Ajê Salugã
Ajê onisô bujé
“Gbadura Ajè Saluga:
Ajé de o
Anan ye
E wo ilé ire
E so l’ojo o
Ajé jájá de
More anan ye
E wo ilé ire
E so l’ojo o
Ajé olówó
Ajé olólà…
Adura Ajè Saluga
AJE SE MI PELEPELE
AJE SE MI RE
ATO POLOWO IRE
AJE O
JE NRI E MU NA
JE NRI E MU LO
ELA IWORO
AJE JE NRI E NA DOJO AIE MI
KI NBA AJE JI
KI NBA AJE SUN
AJE SALUGA
PESE AJE FUN MI
Oríkì Ajè.
Aki beru loruko ti a npe Ifá
Akiberu loruko ti a npe Odù
Olómo sawe loruko ti a npe Ajè
Ajè ko yawa je ni ile mi o.
Vando eu não conheço a melodia.
Ire
Mário eu acho que o que divino deve ser chamado de divindade. Deuses se tornou corriqueiro, mas ele é único e não devemos misturar ou dar este título a outra divindade.
Esta é a minha opinião.
Ire
Equívocos Antropológicos:
“Olódùmarè pode ser invocado por qualquer pessoa, em qualquer lugar, em qualquer hora e deixá-Lo saber das necessidades do peticionário. (Ibid. P. 10) Opoku (1978, p. 5) apoia o posicionamento de Ray ao afirmar que é um erro descrever a religião Yorùbá como politeísta.”
Nota: A Olodumaré não se entoa preces, não se faz sacrifícios, não se ergue templos, ele é um Deus distante e inerte a criação. (Baba Kejaiye)
Ray, afirma, segundo ele, (…) politeísta é grosseiramente inadequada como descrição da Religião Tradicional Africana, pois uma religião não pode ser tachada de politeísta simplesmente por haver muitas divindades nesta religião. A questão fundamental no que diz respeito ao politeísmo está na relação existente entre os deuses e o panteão, e aqui, a crença religiosa dos egípcios, babilônios e gregos, que são exemplos clássicos do politeísmo, pode lançar considerável luz na nossa compreensão do termo. No politeísmo clássico, os deuses no panteão são independentes uns dos outros. Um dos deuses pode ser considerado como chefe, mas ele nunca poderá ser visto como criador dos outros deuses. Na Religião Tradicional Africana, no entanto, o quadro é totalmente diferente: Deus, o Ser Supremo, está fora do panteão de deuses. Ele é o Criador eterno de todos os demais deuses, do homem e do Universo.
Nota: Olodumaré não é criador de todas as coisas, nem de todos os deuses e existem vários deuses greco-romanos, que são sim, criadores de outros deuses. (Baba Kejaiye)
E muito me admira de um Sacerdote Ifá mencionar Oduá a deusa da criação do Aiye como Oduduwa!
E não misturem conceitos do Culto de Tradição de Orixá, com o Culto de Tradição de Ifá, são Religiões com ethos-cosmológicos distintos!
E foi impressão minha ou estão falando de Universalismo? Não me admira que o Ifá tenha sido corrompido com a entrada dos Europeus, parece que esta influência já chegou ao Brasil.
Que se faça as devidas correções, Religião Tradicional Yorubá é Politeísta, sim!
Olá Eurico,
Seja bem vindo com suas considerações.
Politeísmo e Monoteísmo é notório em todo o continente africano.
Axé.
O que é Politeísmo?
Politeísmo (do grego: polis, muitos, Théos, deus: muitos deuses) consiste na crença em mais do que uma divindade de gênero masculino, feminino ou indefinido, sendo que cada uma é considerada uma entidade individual e independente com uma personalidade e vontade próprias, governando sobre diversas atividades, áreas, objetos, instituições, elementos naturais e mesmo relações humanas. Ainda em relação às suas esferas de influência, de notar que nem sempre estas se encontram claramente diferenciadas, podendo naturalmente haver uma sobreposição de funções de várias divindades.
O reconhecimento da existência de múltiplos deuses e deusas, no entanto, não equivale necessariamente à adoração de todas as divindades de um ou mais panteões, pois o crente tanto pode adorá-las no seu conjunto, como pode concentrar-se apenas num grupo específico de deidades, determinado por diversas condicionantes como a ocupação do crente, os seus gostos, a experiência pessoal, tradição familiar, etc.
São exemplos de religiões politeístas as da antiga Grécia, Roma, Egito, Escandinávia, Ibéria, Ilhas Britânicas e regiões eslavas, assim como as suas reconstruções modernas como a Wicca, Xamanismo , Druidismo, Dodecatonismo e ainda o Xintoísmo.
Wikipédia
O que é Monoteísmo?
O monoteísmo (do grego: μόν£ος, transl. mónos, “único”, e θεός, transl. théos, “deus”: único deus) é a crença na existência de apenas um só Deus.[1]
Diferente do politeísmo que conceitua a natureza de vários deuses, como também diferencia-se do henoteísmo por ser este a crença preferencial em um deus reconhecido entre muitos.
A divindade, nas religiões monoteístas, é onipotente, onisciente ,disable e onipresente, não deixando de lado nenhum dos aspectos da vida terrena.
Exemplos de religiões monoteístas incluem a fé bahá’í, o islamismo, o judaísmo e o zoroastrismo.
Wikipédia
Àse.
Eu sei que já falei isto lá atrás, mas diante do retorno do post, sinto a necessidade de falar novamente.
Ninguém é obrigado a concordar, mas para equilíbrio da balança é preciso se colocar os dois pratos.
Antes de falar quero lembrar a fala do próprio articulista:
“…É nossa convicção que qualquer tentativa de construir uma teoria que descreva o conceito de Deus entre os Yorùbá não nos dará um quadro verdadeiro; portanto, este trabalho discutirá os pontos de vista de alguns estudiosos…”
Só isto já abre-nos um parêntese para repensar o suposto teísmo ioruba (monoteísta, politeísta, henoteísta, ou qualquer coisa teísta).
Antes de afirmar que a religião iorubá é qualquercoisateísta, é preciso falar do teísmo.
Teísmo não é apenas um DEUS superior acima de outros deuses criados ou não por Ele.
Uma das características do teísmo é a interação e a revelação deste DEUS com o homem ou a humanidade. Exemplo disto é Jeová entregando diretamente as tábuas da lei à Moisés no Monte.
No teísmo, caso DEUS use de um mensageiro, este não poder próprio de decisão. Vem apenas fazer a vontade do Pai.
Tal interação de Deus com a humanidade não ocorre nos itan-odu. Olodumare não interage com a humanidade, pois para isso ele delegou poderes aos Orixás.
Os Orixás possuidores que são do poder delegado (asoju-eni Oba) de Olodumare tem poder e decisão próprios. Vem ao mundo para fazer a sua vontade (vontade dele, Orixa.)
No itan Ose’tura que narra sobre Osun ser a 17ª pessoa dos Irunmoles (Elbein dos Santos, Èsù, 2014, p. 73) temos, que muito resumidamente mostramos a seguir:
“No primórdios, quando Osun se zangou e estava pondo o mundo em ruínas com seu poder de aje, Orunmila, após consultar o oráculo e não encontrar a solução, foi ao Orun falar com Olodumare, e lá encontrou Esu Odara, que relatava para Olodumare o que estava acontecendo no mundo, dizendo-LHE que o problema era causado por Osun.”
Foi assim que Orunmila ficou sabendo que tudo era causado por Osun, que não havia sido convidada para participar dos rituais.”
Vemos nesse resumo que Olodumare não tem onisciência, embora tenha onipotência. ELE é informado por Èsu.
O mito continua quando Olodumare dá a Osetuwa o feixe de chuvas que ele carrega para o ayé e assim salva o mundo.
Note que não houve ação “direta” de Olodumare. Tudo foi resolvido por e pelo Orixá. Isto é Orixáismo. Isto é a religião de Orixa.
Mas os próprios iorubas atuais aculturados com a religião estrangeira já não pensam mais assim, perderam o conceito de orixaísmo. Dizem: “..Ifa é a palavra de Olodumare..” como se DEUS falasse diretamente no oráculo, tal qual Urim e Tumim, da religião hebraica.
Não … a religião ioruba não é monoteísta, nem qualquer coisa teísta. A religião ioruba é ORIXAÍSTA. O conceito do monoteísmo vem da religião estrangeira.
Segue sugestão de leitura para o tema:
OLODUMARE E O PROBLEMA TEÍSTA DO MAL, John Bewaji.
https://drive.google.com/file/d/0B0QWMww0gZVYTUZtN05JclU5amM/view?pli=1
Ire!
Luiz,
Concordo plenamente, sempre disse que quem cultua Orixá é Orixalista ou como você descreve Orixaísta.
Àwúre
Olodumare não é Onipresente, pois depende de Iyangui, não é Onipotente pois para criação do Aiye precisou de Odú e para criação da espécie humana precisou de Obatalá. Não é Onisciente pois necessita de Orunmilá. E não confundir Orixás (deuses genitores do planeta) com Imoles (divinizados) que em sua composição revelam o Politeísmo Yoruba, haja visto que nem mesmo Olodumaré é único auto-gerado no Orun e suas gerações e a encarnação dos Orixás nos corpos dos grandes reis e suas devidas divinizações retiram da religião uma sombra de um culto somente a deuses “naturais” até mesmo porque a natureza não são os imoles e estes tem características próprias de deuses que as manipulam. Baba Kejaiye
Baba Kajaiye,
Olodumare é o único que cria e criou tudo, portanto está em tudo por ele criado e a ser criado, pois ele é o incriado, assim, ele é porção em Iyanguí, Orunmilá, Obatalá, etc., ele se destina de várias forma e facetas.
Olodumare o verdadeiro Eledá.
Axé.
Colaborando.
Baba Kajaiye essa é realmente a sua verdade?
Eu respeito, mas, gostaria de conhecer essa historia e quais Odù revelam essas passagens.
Aprender é e sempre será saudável.
Ire Baba