“Ka Nzo Ndombe”!!!
“Ka Ndombe”!!!
“Candomblé”!!!
Prometemos que a partir de julho voltaríamos com publicações quem tenham por objetivo, esclarecer alguns temas relacionados a Religião dos Òrìsàs e, para iniciar essa nova série de postagens, escolhemos falar sobre a origem do nome “Candomblé”, bem como, compreender o motivo que fez com que essa expressão fosse escolhida para denominar a Religião dos Deuses Africanos no Brasil, ao passo que essa denominação é desconhecida em terras yorùbá. Vale salientar que esse termo surgiu na Bahia, sendo que em outros Estados, o “Candomblé” originalmente recebeu outras denominações. Exemplificamos com o “Xangô” (Recife) ou Batuque (Rio Grande do Sul).
Há algumas teorias para a etimologia do termo “Candomblé”. Para nós, o que parece fundamentalmente plausível é que a expressão seja a corruptela de uma frase do idioma Kimbundo, falado em Angola por milhões de pessoas. A frase seria: “Ka Nzo Ndombe”.
“Ka Nzo Ndombe” significa em Kimbundo “Pequena Casa de Negros” ou “Pequena Casa de Nativos”. O “Ka” é utilizado como diminutivo. “Nzo” significa “Casa” (vide o nome de diversos Terreiros de origem Angola, que carregam em seus nomes a palavra “Nzo”) e por fim, “Ndombe” (Negro/Nativo).
Assim, acreditamos que o “Ka Nzo Ndombe” tornou-se “Ka Ndombe”, até popularizar-se como conhecemos e falamos hoje “Candomblé”.
Desse modo, não é difícil imaginar um grupo de negros provindos de Angola, dizer: “Vamos ao Ka Nzo Ndombe”. Afinal, eles deixaram como herança para o português do Brasil, uma infinidade de termos e expressões que tem na sua origem, o Kimbundo. Exemplificamos: “Marimbondo”, “Quitanda” (Kitanda), “Farofa” (Falofa) e tantas outras palavras.
Também não é difícil de imaginar, que nos primórdios do Candomblé na Bahia, os lugares de louvação aos Deuses Africanos fossem casebres em lugares distantes do comércio, onde se agrupavam os negros nativos, ou seja, “Ka Nzo Ndombe” (Pequena Casa de Negros/Nativos).
Mas fica a questão da razão da utilização de um termo Kimbundo para nomear uma religião, não somente dos negros de Angola, mas Yoruba, Dahome (Jeji), Egba, etc. Sobre isso, é importante destacar que no Brasil, originou-se um fenômeno de irmandade e de laços étnico-religiosos que no continente africano, a princípio era inexistente. Inexistente por questões como a distância física entre Angola e Nigéria (mais de 2 mil quilômetros), bem como, as disputas territoriais entre Nigéria e Dahome (Benin). Esse conglomerado religioso e de respeito mútuo emergente no Brasil, dificilmente pode ser imaginado no continente africano.
Isso é, sem dúvidas, um aspecto cultural que nos diferencia. Esse respeito e ligação entre os povos são identificados igualmente em alguns cânticos. Basta observar, como exemplo, aquele que se tornou um hino no Brasil para as casas de origem Yorùbá, que diz que os Filhos do Alaketu (Rei de Ketu) devem-se abraçar (…Omo Alaketu Famora…)
Essa união ora edificada pelos negros religiosos que aqui se estabeleceram responde a questão do surgimento do termo “Candomblé”, bem como, sua utilização por povos distintos à origem Angola. Mas se a expressão “Candomblé” nasceu no Brasil, qual então é o nome para a religião dos Òrìsàs em terra yorùbá? No ventre da nossa cultura, a Religião dos Òrìsàs é conhecida como “Isese Lagba” (Ixéxé Lagba) ou ainda como “Esin Ibile Yoruba”.
O Terreiro de Òsùmàrè espera ter contribuído um pouco, para o esclarecimento dos temas relacionados ao nosso Candomblé.
Que Òsùmàrè Araka abençoe todos com paz, saúde e felicidades!!!
Texto: Casa de Òsùmàrè
Mo jùbá Baba Fernando.
Acrescentando que hoje em dia muitos dizem que fazem YTR, Yorùbá Traditional Religion, é apenas nomenclatura.
Pois o que vale mesmo na boca dos mais velhos é Işẹşẹ, é isso que eles fazem.
Excelente texto.
Ire Aláàfià.
Muito esclarecedor!!! Boa noite
Date: Tue, 13 Jan 2015 13:38:24 +0000 To: jccneves@hotmail.com
Boa noite.
Penso que só através do conhecimento é que poderemos entender o significado das coisas. O estudo e a explicação do termo Candomblé, foi muito feliz. Parabéns
Boa tarde, pai Fernando!
Texto muito bom e esclarecedor, só gostaria de contribuir com uma achega.
Aqui em Pernambuco, alguém me disse que a denominação da religião africana ser Xangô, foi em virtude de que a maioria dos escravizados que para aqui vieram, eram filhos de Xangô, então as pessoas diziam: Vamos ver o Xangô de fulano, isto é, a manifestação daquele orixá, naquela pessoa. Então para os inadvertidos, entendiam que Xangô era o nome da religião.
Não sei se tem sentido, mas foi o que me disseram, como também já me disseram que Candomblé significa casa de oração!
Quanto a contribuição linguística, sobretudo do Banto (conglomerado de 300 idiomas) é tão grande que existe uma tese sobre o assunto, o senhor deve saber disso.
Um abraço.
Olá, recentemente venho estudando o candomblé, e se não for incômodo queria que alguém tirasse uma dúvida minha.
Como ocorre a iniciação no candomblé de Angola?
Morixiuz tudo que revelado dentro do ‘quarto sagrado’ é tabu ser conversado, informado, passado e etc.
Somente quem passa pelos mistérios da iniciação conhece e faz juramento de nunca revelar o que se passa lá dentro.
Ire
Entendi, da ilha. Mas eu poderia saber apenas o tempo em que a pessoa passa recolhida na casa?
Morixiuz vamos dizer que você vai precisar dispor de um mês, ou um pouco menos.
Vinte um dias recolhido e os outros com compras e outras coisas que podem aparecer.
Ire
Obrigado, Da Ilha.
🙂