Por: Áwo Falase Adesoji Òyasanya Fatunmbi
No capítulo de abertura do livro Paz Interior (Falokun Fatunmbi), há uma citação yorùbá que diz:
As divindades (Òrìsà/Irùnmolè) não podem dar o que sua cabeça (Ori) não quer aceitar.
É a parte mais profunda da sabedoria, já que implica na nossa participação em nossas vidas e a interação com o mundo é crucial.
O Espírito por si só não vai colocar nosso ego em alinhamento com o nosso Eu mais elevado e o nosso destino, ele não é participante ativo (Pois, Orí é determinante).
Em outras palavras, somos co-criadores quando se trata de manifestar os nossos destinos escolhidos. As escolhas são fruto do livre arbítrio, isto é soberano/imperativo, por este motivo estamos sempre prestando conta de nossas atitudes e escolhas, não existe perdão sobre faltas cometidas, caímos, levantamos, seguimos em frente e buscamos não incorrer novamente no mesmo erro, neste ponto vem a elevação espiritual e aplicação do conhecimento que aos poucos se transforma em sabedoria, este é o grande salto (o pulo do gato) de nossa religião, ver o ser humano se transformar e buscar o primórdio de sua formação esta é a atividade fim de nossa religião, melhorar o Ser enquanto humano. Pois, ele é o produto da Fonte (Deus), a razão da existência do culto de òrìsà.
Sim. Você e Ori são a razão de tudo isto que acontece dentro de um Ilè Àse.
Este foi o motivo de Olódùmarè ter mandado seus 400+1 òrìsà/irùnmolè para este mundo físico, cada um com sua responsabilidade e poder sobre um parte da natureza e dos homens, ligados como uma manta holográfica.
Não temos cor, gênero, culturas e etc., diferentes, apenas somos todos intransigentes e Deus não nos deu a faculdade mental para ser usada desta forma míope e mesquinha.
Ifá nos ensina que cada pessoa escolhe o seu destino e sua preparação para vir ao mundo entre os estágios de ida e vinda ou atunwa, o processo de nossa viagem através do canal de parto faz com que o Orí esqueça os detalhes do nosso destino escolhido.
O propósito e o processo do ritual e também várias cerimônias de Ifá nos colocam em alinhamento com o nosso Eu superior, para que nos lembremos daqueles detalhes que estavam escondidos, como resultado de nossa jornada aqui na Terra, o que nos permite cumprir o acordo que fizemos no reino espiritual.
Como participamos ativamente de vários rituais e cerimônias, informamos a memória antiga o nosso papel e o propósito de estar aqui na Terra, para que possamos cumprir nossos respectivos destinos.
Em Paz Interior, Awo Falokun Fatunmbi nos ensina o seguinte:
A forma de ver o mundo, informa como vemos a nossa vida.
A forma como vemos nossa própria vida, informa como tratamos os outros.
A forma como tratamos os outros é uma medida de caráter.
Na linguagem da religião yorùbá tradicional, Ayanmo não é Ìwà Pèlé.
Ìwá pèlé ni Ayanmo.
Que significa:
Ayanmo não é o bom caráter.
O bom caráter é destino.
Se é através de um bom caráter que se cumpre seu próprio destino, então ele confunde a mente, como se poderia negar a outra pessoa o seu destino, um assunto que ela tem direito.
A adivinhação por Ifá é uma das pedras angulares da nossa prática, nós consultamos Ifá, òrìsà e os antepassados com freqüência para ajudar a guiar-nos através da vida de maneira mais eficaz. É através da adivinhação que aprendemos a melhor maneira de alcançar este fim. Isso pode significar que podemos dedicar nossas vidas para o culto de uma divindade em particular ou a Ifá e isto seria revelado através do processo de consulta ao oráculo.
Eu não sei como outro ser humano pode negar o destino de outro ser humano simplesmente por causa de orientação sexual ou gênero; para mim esta postura está dizendo que você sabe mais do que Ifá e nem mais do que Òlódúmarè.
Se nossa capacidade é tão grande e não há necessidade do culto de Ifá / Òrìsá como teríamos a capacidade de transcender as nossas limitações com tanta facilidade se não apagá-los todos juntos.
Voltando ao ponto onde Áwo Falokun diz:
A forma como nós nos vemos informa como tratamos os outros.
Há um debate em curso sobre a função do local onde gays e lésbicas se encaixam no mundo de Ifá, tanto tradicional, com os diversos sistemas na diáspora.
Primeiro, pessoalmente, estou cansado dessa conversa porque eu sinto que não serve para nada.
Segundo que eu compartilho minha vida com alguém e isto não é nenhum motivo de preocupação para ninguém.
Em terceiro lugar, homens gays e mulheres lésbicas precisamos parar de dar o seu poder a nossos irmãos e irmãs em linha reta (de forma aberta e direta) para que possamos nos sentir validados.
Eu entendo que ter aliados, é importante, contudo, devemos ter certeza de que nos valorizam em primeiro lugar. Nos meus trinta anos ou mais, crescendo nestas várias tradições tanto homens como mulheres gays (tanto lésbicas e heterossexuais) têm estado na vanguarda em manter estas tradições vivas e funcionando, apesar da discriminação, obviamente.
Àse.
Tradução:
Odé Gbàfàomi.
Motumbá Da Ilha!!!
Qual seria efetivamente a leitura, segundo a Tradição original, sobre a questão da orientação sexual?
Pergunto em relação a Tradição original, porque, evidentemente, dentro dos cultos que surgiram na diáspora, certamente temos a contaminação por parte dos valores e adaptações dos ambientes (cultural / social, etc) em que se desenvolveram, que, se por um lado não invalida o sistema completamente, por outro lado, trás o comprometimento enquanto Tradição / Verdade revelada (de modo análogo ao que acontece atualmente com o cristianismo, budismo, islamismo – talvez em menor grau -, taoismo e todas as demais religiões Tradicionais que aos poucos sucumbem ao modernismo, onde verdadeiros mestres espirituais são raros).
Assim sendo, creio que existe um posicionamento claro dentro dos ensinamentos Originais que determinam a posição do homem e da mulher na sociedade Yoruba segundo à Tradição religiosa, até porque, dentro de uma Tradição legítima não há espaço para especulações teológicas desprovidas de fundamentos claros, adaptações ou apenas “para agradar o freguês”.
Sim, porque é mais que corriqueiro adeptos atribuírem preferências sexuais ao “santo que carregam”, quando não, aos “catiços” e outras invencionices esdrúxulas.
Reporto ainda que não é mérito da questão estabelecer nenhum embate proselitista pró ou contra o homossexualismo, pois como deixa claro o autor do texto, o que cada um faz da própria vida é um problema pessoal e de foro íntimo.
O único ponto que eu desejaria esclarecer é: baseado no sistema de Ifá, na Tradição que tem um extenso sistema cosmológico, cosmogônico, teológico, litúrgico, etc, ou seja, uma Tradição completa no sentido de revelação da Verdade, qual seria, a partir da Literatura, o real papel dos homens e mulheres na sociedade?
E ainda, se há alguma restrição ou objeção na senda religiosa dentro da Tradição Original, e se, de algum modo, há a condenação do indivíduo (não religioso) que opta por uma orientação homossexual dentro da sociedade Yoruba?
Axé!!!
Leo podemos entrar na área cultural nigeriana: Homossexualismo é punido com 10 anos de cadeia.
Homossexual não inicia para Ifá/Òrìsà.
Mulheres não podem ser “Babalawo de saia”, ou seja, não podem ser completas dentro do Culto de Ifá, pois, elas são proibidas de ver Odù, o òrìsà do Igbodù, falo desta forma para que todos entendam, elas não podem Te’fa Odù (Marcar no Opon Ifá o Odù revelado em uma consulta, pois não usam Ikin que são instrumentos de adivinhação).
Dizem alguns mais velhos que em Ifá existe a proibição para a iniciação de homossexuais,isto está gravado no Odù Òfún’Ìrètè, porém, os Awise Ifá (Porta-voz da religião autorizados a falar em nome dos mais velhos de Ilé Ifé), dizem que tudo é bobagem, que todos são filhos de Olódùmarè e etc.
Chegamos a um denominador comum:
Lá entre eles, homossexual é punido com cadeia, são apedrejados e não se iniciam para nada.
O branco quando chega:
Tem dinheiro, paga altos valores e eles não enxergam nenhum traço de homossexualidade na pessoa, temos testemunho de pessoas que viram Transsexuais sendo iniciados e o ‘sacerdote’ dizer: Eu pensei que fosse uma dama.
Portanto preconceito existe de uma forma lúdica para a diáspora e ferrenho entre eles.
Uma decisão muito triste e lamentável em todos os sentidos.
Lidamos com uma sociedade nigeriana Tradicional machista que morre de medo das mulheres, que maltrata (aqui falamos do dia a dia e forma de se dirigir), explora e não dá o devido valor as mulheres, porém, morrem de medo da magia Gèlèdè, pois, sabem que não podem enfrentar o poder feminino (Aqui vemos outro tabu que é rompido diariamente no Brasil, homens com Gelè – pano na cabeça – simbolo desta sociedade e de uso restrito e fundamentado das mulheres).
Expliquei de forma muito veloz o papel do homossexual na sociedade Nigeriana e em Ifá/Òrìsà.
Diríamos que o papel masculino é prover, o da mulher(s), cuidar dos filhos, da casa, do comercio do excedente de suas plantações e do movimento financeiro da família.
Como sociedade, ainda em pequenos rincões poligâmicos, o homem pode ter quantas mulheres ele for autorizado a ter (tem que consultar Ifá), porém, tudo é dividido equitativamente.
Se vai dar um colar e são cinco mulheres, então, cinco colares.
Um carro, não, cinco caros.
Sexo, tem que ser igual para todas, cada noite em um quarto da casa.
Se transar duas vezes com a esposa de segunda feira e alguém descobrir, ele tem que transar duas vezes a semana toda, com todas elas.
É difícil, ou um prazer, depende da idade (smile).
Portanto Leo, tanto lá, quanto cá, o comercio da fé é um problema que se alastra de forma esplendorosa, com muita força e agora impulsionado com o Boom do petróleo.
Quem lê Ifá pode colocar seu ponto de vista a vontade.
Aproveite a leitura e veja como os posicionamentos divergem:
Òfún-Ìrètè
Óleo de palma é bom para complementar o inhame para o consumo
E inhame é bom como complemento para a alimentação com óleo de palma
A escada é boa para a escalada da viga
Uma mulher é melhor para um homem fazer amor com que seus companheiros
Para um homem é melhor uma mulher para dormir como sua companheira
Se um homem dorme com um homem isto irá resultar em pedaços, furúnculos e bouba (doença de pele)
Se uma mulher faz amor com a mulher do companheiro
Isto irá resultar em trevas, federá a sujeira, mau odor e irritação
Se um homem faz amor com uma mulher
E uma mulher dorme com um homem
O resultado é como se sentir no topo do mundo
A sensação é como ter prazer ilimitado e incondicional
Órgão de Òfún-Rete é forte e túrgido
Este foi quem lançou Ifa para um celibatário radical
Quando ia casar com a descendência de Olete Olófá
O celibatário radical chamou Olete mas ela não respondeu
Não é um problema que Ifá não possa resolver.
Falokun Fatunmbi comentou:
Agbo atò.
Pediram-me para interpretar vários Odù que foram postados que abordam questões de preferência sexual.
Quero começar dizendo que fui ao Awoni a vinte anos atrás e fiz esta mesma pergunta.
Seria um tabu para gay e lesbicas se iniciarem em Ifá?
Os Áwoni são os Áwo do Oni de Ilè Ifé. O Ooni de Ifè é o líder espiritual de Ifá e ele dá ao Áwoni o direito de interpretar ou mudar o Odù.
O Áwoni me disse que não há tabu contra homens gay e mulheres lesbicas se iniciarem em Ifá, esta posição tem sido repetida por Chefe Wande Abimbola, que é um Áwoni muito antigo e o Áwo mais velho da diáspora.
Na minha humilde opinião, isso deve ser suficiente, debater mais, seguir em frente com sua vida.
Este problema deve manter sua cabeça elevada devido a uma tendência crescente na interpretação teológica de odu. Acredito que odu tem a intenção de refletir a visão mística do profeta Orunmila. Essa visão é uma mensagem transcendente expressa em linguagem simbólica. É da responsabilidade teológica de todos awo para traduzir a mensagem transcendente que se aplica à situação histórica atual. A tendência crescente em Ifa é permitir que o fundamentalismo de algumas formas do cristianismo e do islamismo influenciem a interpretação do odu. O fundamentalismo é a fonte do dogma. Dogma é a noção de que os seres humanos são capazes de conhecer e entender a vontade de Deus. Dogma é sempre a justificativa para o racismo, o sexismo e a homofobia. Quando uma pessoa acredita que racismo, sexismo e homofobia refletem a vontade de Deus, o próximo passo é sancionar a violência como uma metodologia para fazer cumprir a vontade de Deus.
Eu entendo que na visão mística do profeta Orunmila, Ifa é antidogmático. Se examinarmos o Odù em Iwa Pele fica claro que o ponto dentro do odu é o tabu para julgar os outros e que quando nos envolvemos com o tabu de julgar os outros, há sempre consequências trágicas. Nós não julgamos os outros, porque a visão de Orunmila inclui a ideia de que, como seres humanos, temos a capacidade de transformar ibi em ire. Esse é o ponto de Ìwòrì meji, da elisão I Awo Ori, que significa: O mistério da consciência.
Orunmila ensinou que o mistério da consciência está em um estado constante de fluxo. Cada momento de nossa vida traz a possibilidade de elevação, revelação e crescimento espiritual. Além disso, a tarefa de interpretar odu não só envolve aplicar a mensagem a um contexto histórico específico, que também envolve a aplicação da mensagem para uma pessoa real com um problema real. Os fundamentalistas não reconhecem essa necessidade, em vez disso, pregam o dogma de que todos os odu se aplicam a todos.
Eu sou da opinião de que ao se aplicar todos os Odù para todos, estaremos na contra mão da mensagem transcendente de Orunmila. Se o Odù deve ser aplicado para todos, então não seria necessário fazer adivinhação.
Tomemos um exemplo óbvio. Há um Odu Ifá que diz:
Orunmila um dia foi ao mercado comprar um escravo.
Do ponto de vista fundamentalista, dogmático você pode interpretar que isto significa que os adoradores de Ifa precisam possuir escravos.
Esperemos que seja evidente que este tipo de fundamentalismo do ponto de vista dogmático não é consistente com a mensagem transcendente do profeta Orunmila.
Fundamentalista tendem a escolher os versos eles interpretam literalmente como uma forma de evitar esses tipos de contradições.
Aqui está o ponto, se você é um fundamentalista, que é o seu direito, pelo menos, seja coerente com a aplicação do seu processo teológico.
Tomemos o exemplo de Òfún Irẹtẹ:
Óleo de palma é bom para complementar o inhame para o consumo
E inhame é bom como complemento para a alimentação com óleo de palma
A escada é boa para a escalada da viga
Uma mulher é melhor para um homem fazer amor com que seus companheiros
Para um homem é melhor uma mulher para dormir como sua companheira
Se um homem dorme com um homem isto irá resultar em pedaços, furúnculos e bouba (doença de pele)
Se uma mulher faz amor com a mulher do companheiro
Isto irá resultar em trevas, federá a sujeira, mau odor e irritação
Se um homem faz amor com uma mulher
E uma mulher dorme com um homem
O resultado é como se sentir no topo do mundo
A sensação é como ter prazer ilimitado e incondicional
Órgão de Òfún-Rete é forte e túrgido
Este foi quem lançou Ifa para um celibatário radical
Quando ia casar com a descendência de Olete Ọlọ́fà
O celibatário radical chamou Olete mas ela não respondeu
Não é um problema que Ifá não possa resolver.
Este ese Ifá vem do trabalho de coletas de baba Pópóolá e eu quero agradecer a ele por fornecer este excelente exemplo de um versículo que nos dá a oportunidade de examinar diferentes abordagens para a interpretação.
Em primeiro lugar, não há nada no verso que sugere que este odu aplica-se a toda a humanidade, não há versos, que eu saiba, onde o profeta Orunmila ensinou que todo versículo se aplica a todos. Um fundamentalista que interpreta o Odu através do uso do dogma, diria que todos os versos são a palavra de Olodumare e, portanto, a expressão da vontade de Deus e, portanto, se aplicaria a todos.
That is a way to interpret odu.
Há também o que os teólogos chamam de abordagem existencial à escritura. Isso significa que o teólogo tem a tarefa de aplicar a mensagem para a situação. Um existencialista acredita que é impossível para os humanos entender a vontade de Deus. Escritura é a aproximação da vontade de Deus usada como uma ferramenta de resolução de problemas, e não como um mecanismo para o controle e a manipulação do espírito humano. Quando olhamos para a linguagem simbólica da escritura, enquanto em um estado alterado de consciência, temos a possibilidade de acesso a toda a gama do potencial humano no ato de dar orientação a alguém que está em crise.
Vejamos o verso a partir do ponto de vista existencial.
Òfún Irẹtẹ
Óleo de palma é bom para complementar o inhame para o consumo
E inhame é bom como complemento para a alimentação com óleo de palma
Comentário:
Normalmente o ese Odù começa com o nome do Áwo e o nome do Áwo é a solução do problema. Neste Odù o verso começa com um proverbio. O proverbio sugere que a missão do inhame é boa, junto ao óleo de palma.
Verdadeiro.
O proverbio não diz que a única maneira de comer inhame é com a mão e que todos devem comer inhame com óleo de palma.
Interpretar o provérbio como dogma, é colocar viés pessoal em uma observação aceita que claramente tem exceções. Eu iria ao ponto de dizer que não existem duas pessoas que comem seus inhames da mesma forma.
A escada é boa para subir a viga.
Comentário:
Novamente, isto é auto evidente e, novamente, ele não diz que todos devem usar uma escada para subir e não diz que não usar uma escada seja uma coisa ruim.
Uma mulher é melhor para um homem fazer amor com que seus companheiros
Para um homem é melhor uma mulher para dormir como sua companheira
Comentário:
Mais uma vez, temos uma evidente observação cultural. Eu não conheço nenhuma pessoa LGBT que não entenda a função reprodutiva da sexualidade masculina e feminina. Eu não conheço pessoas LGBT que não entendem que homens e mulheres heterossexuais geralmente têm um grande prazer durante o processo de procriação.
Então, qual seria o ponto em termos de uma interpretação existencial do versículo?
Parece-me que este versículo está abordando a questão da preferência sexual por uma pessoa que é ambivalente, sobre sua preferência ou confuso sobre a sua preferência sexual. Há pessoas que experimentam a certeza sobre a sua preferência sexual e há algumas pessoas que experimentam a dúvida sobre sua preferência sexual. Se uma pessoa traz sua dúvida para Ifá isso não significa que haja um tabu contra o gênero sexual.
Seu problema não é meu problema e é por isso que fazemos adivinhação.
Na minha humilde opinião, uma interpretação fundamentalista e tão dogmática deste verso é um pouco míope, ou seja, uma visão curta.
A palavra Ifa significa: A sabedoria da natureza.
Nós assimilamos que o significado de Ifá òrìşà é o amor incondicional para o espírito e nós transformamos este amor em sabedoria. A disciplina espiritual de Ifá fala sobre a transformação de Ifé em Ifá.
A sabedoria é a integração do conhecimento com a experiência, temperada pela compaixão e a empatia. Isso significa que nossa primeira obrigação como um adivinho é sentir empatia por alguém que está passando por uma confusão na escolha da sua preferência sexual e oferecer uma resolução para a confusão baseada não na nossa preferência, mas com base no destino da pessoa que veio a nós em busca de orientação. A psicologia e a biologia têm estudado a questão da preferência sexual em profundidade. Como Áwo, se vamos interpretar uma mensagem espiritual transcendente que se aplica a um momento histórico e local específico para uma pessoa específica, temos a obrigação de conhecer e compreender a informação relacionada com a nossa fonte e a confusão do cliente.
Os psicólogos nos dizem que a atração de gênero tem duas fontes. Uma é hereditária e a outra é de desenvolvimento.
Se uma pessoa tem uma inclinação hereditária em direção a sua intimidade de gênero, que por sinal, foi uma escolha feita no Òrun antes de vir à Terra, esta é uma escolha daquele momento e Olódùmarè e o Áwo não tem nada a ver com esta escolha.
A questão do desenvolvimento é baseada na dinâmica de traumas de infância. Se uma criança é abusada sexualmente por um membro do sexo oposto, esse abuso pode causar uma aversão ao sexo oposto. Tal aversão pode ou não ser compatível com inclinações hereditárias.
Nosso trabalho como Áwo é curar a raiva, a vergonha, a decepção e a confusão causadas por abuso sexual na infância e colocar o cliente em posição de fazer a escolha de sua preferência sexual desinibida por traumas da infância. Se você disser a um cliente que sofreu trauma sexual na infância que sua preferência sexual é negativa, você estará negando qualquer possibilidade de cura. Você traz um grande dano para esta pessoa que já sofreu danos inimagináveis e contradições. Está auto descrito qual é a função de um Áwo.
Se um homem dorme com um homem isto irá resultar em pedaços, furúnculos e bouba (doença de pele)
Se uma mulher faz amor com a mulher do companheiro
Isto irá resultar em trevas, federá a sujeira, mau odor e irritação
Comentário:
Há odu que avisam o cliente contra a possibilidade de doenças sexualmente transmissíveis como o resultado de encontros heterossexuais. Parece-me que é um alerta contra a possibilidade de doenças sexualmente transmissíveis como o resultado de encontros homossexuais. Para fazer a suposição tola de que a advertência contra doenças transmissíveis homossexual implica um tabu contra homossexualidade, então você teria que aplicar a mesma lógica boba para a ideia de que você pode contrair doenças transmitidas heterossexualmente.
Para mim, a ideia de interpretar a linha acima deste ese Odù como um tabu contra a intimidade de gêneros, é uma distorção da lógica que está abaixo de nós, homens e mulheres que fazem o esforço de transformar Ifè em Ifá.
Se um homem faz amor com uma mulher
E uma mulher dorme com um homem
O resultado é como se sentir no topo do mundo
A sensação é como ter prazer ilimitado e incondicional
Comentário:
Isto é simplesmente uma repetição da referência anterior. Você pode ver isso como a expressão de um tabu (o que claramente não é) ou você pode vê-lo como um incentivo para alguém que pode ter sido abusado e que está considerando uma escolha diferente em relação à preferência sexual. De um ponto de vista cultural, a cultura yorùbá tradicional tem uma forte advertência em termos de ter certeza que os antepassados têm corpos através do qual podem reencarnar. Na cultura yorùbá tradicional a ênfase no valor das crianças faz com que algumas pessoas com preferências pelo mesmo sexo considerarem a bissexualidade.
Isso significa que eles desejam filhos sem negar a sua preferência.
Na minha experiência, a poligamia yorùbá tradicional suporta essa opção.
Órgão de Òfún-Rete é forte e túrgido
Este foi quem lançou Ifa para um celibatário radical
Comentário:
Esta é a frase-chave para a compreensão da aplicação deste ese Odù. Eu nunca conheci um awo que acredita que cada verso em cada odu divinado para um cliente se aplica a esse cliente. A adivinhação envolve determinar quais versículos se aplicam à orientação que a pessoa precisa. A estrutura do Odù Ifa como tão maravilhosamente explicado por chefe Wande Abimbola é que no odu Ifa o nome do cliente é o código para o problema a ser discutido no verso. O nome do cliente é celibatário radical.
O nome do cliente sugere uma pessoa que não é casada e que, aparentemente, não tem interesse no casamento. Uma pessoa que se contenta com a possibilidade da sua vida como um (alguém que possivelmente se contenta com um estilo de vida e de gênero) solteirão que veio a Ifá para confirmar a validade de sua escolha com base no seu destino, pois o escolheu no Òrun.
Para ficar claro, dada a pergunta, a resposta poderia ser qualquer uma, continuar a ser gay, tornar-se heterossexual ou abraçar a bissexualidade como uma forma de criar uma família.
A expressão celibatária radical não sugere uma pessoa ruim fazendo coisas más que precisa ser punido. A interpretação, celibatário radical feita por um fundamentalista, do ponto de vista dogmático desafia todas as regras de interpretação do Odù.
Na minha experiência, a língua yorùbá é muito objetiva e o Odù Ifá diz o que isso significa e significa o que ele diz.
Quando ia casar com a descendência de Olete Ọlọ́fà
O celibatário radical chamou Olete mas ela não respondeu
Comentário:
Isso vem que ser a confirmação evidente que estou no caminho certo com a minha interpretação desse versículo. Celibatário radical quer casar Olete que não está interessada.
Olete vem da elisão: O ilè ate, ou seja, o espírito da família está numa encruzilhada que significa que o cliente precisa tomar uma decisão.
A decisão é explicitada em linguagem clara, de que ele permanecerá solteiro ou ele se casará. A inferência aqui é que o Olete não está interessada em casamento porque Celibatário radical não está interessado em mulheres. A falta de interesse não vem com uma declaração explícita de que a ausência de interesse é ruim, é apenas uma observação do que é o momento do cliente. O versículo se aplica ao cliente que recebeu o Odù Òfún Irẹtẹ ou não.
O Odù se aplica a todo o homem que tem dúvidas sobre se casar com base em sua orientação sexual, é uma hipótese que está além de ser um bobo. Deixe-me ser gentil aqui e dizer que é uma suposição que não parece ter o apoio das palavras do ese Odù.
Não é um problema que Ifá não possa resolver.
Comentário:
Exatamente, o problema não é mais do que Ifá não possa resolver.
Preste atenção: Observe que o versículo não dá uma solução.
Deixe-me dizer isso de novo, observe que o versículo não dá uma solução.
Ele simplesmente diz:
Ifa pode resolver o problema e como ele resolverá o problema?
Ele resolverá o problema perguntando:
Deveria esta pessoa se casar?
Baseado na minha experiência como um adivinho, quando você fizer essa pergunta a resposta pode ser sim ou não.
Se você basear a resposta sobre o seu medo pessoal relativo a intimidade de seu gênero, então a resposta será sempre sim.
Como um Àwo que acredita que o profeta Orunmila era um existencialista que gostaria de fazer o julgamento do que responder a pergunta baseada no medo sobre a sua intimidade sexual, seria incoerente com a mensagem do profeta Orunmila como eu o entendo.
Isso é simplesmente a minha opinião.
Ire Baba
PELO DIA DE HOJE …QUE OYÁ TE ILUMINE CADA VEZ MAIS….QUE SEU RAIO TE DEFENDA DO MAL…ELIMINANDO TODOS OS TEUS INIMIGOS…E COM SUA ESPADA ABRA SEUS CAMINHOS PARA A PAZ!
Rainha.
Que a alegria da dança de Òya possa estar em sua vida em todos os momentos.
O Ìyá, Ìyá o.
Se for tambor Bembe, ela dança, oh, ela vai dançar.
Quem dança Tambores Bata?
Òya dança!
Quem dança Sekere,
Òya dança!
Esposa de Sàngó, é a única que dança, seja o que for.
Epá Òya ooooooooooooo
Meus respeitos Da Ilha!
Como bem observado, entre a sabedoria dos mais velhos e os posicionamentos do porta voz, evidente, até por ser um fundamento básico da religião, escutemos os mais velhos!!
O que de fato fica claro é que o relativismo (essa praga) tornou-se “método” de argumentação que por si só é uma falácia cognitiva dentro da sociedade moderna, senão, vejamos:
“O Ooni de Ifè é o líder espiritual de Ifá e ele dá ao Áwoni o direito de interpretar ou mudar o Odù” – Ser o líder espiritual, embora o dignatário de tal posto mereça todo o respeito, não dá subsídios para permitir que leituras e interpretações sejam feitas de maneira deliberadas, apenas de acordo com as circunstâncias ou achismos “intuitivos”, afinal, há um método Tradicional perpetuado por inúmeras gerações, um método matemático, preciso!
“Dogma é a noção de que os seres humanos são capazes de conhecer e entender a vontade de Deus. Dogma é sempre a justificativa para o racismo, o sexismo e a homofobia. Quando uma pessoa acredita que racismo, sexismo e homofobia refletem a vontade de Deus, o próximo passo é sancionar a violência como uma metodologia para fazer cumprir a vontade de Deus.” – Não, dogmas não são “a noção” e sim, baseados em concílios, estudos exaustivos e embates teológicos pautados no Verdadeiro Saber, são a interpretação da Verdade Revelada para termos objetivos e que norteiam os adeptos da religião.
E ainda, não são os dogmas a justificativa para o racismo, sexismo o homofobia, pois dentro de todas As Tradições verdadeiras, em seu corpo dogmático, haverá sempre a orientação que leva o indivíduo ao autoconhecimento, à transcendência, ao estado de atenção e Presença, sendo desse modo contraproducente e incompatível para o verdadeiro religioso qualquer comportamento discriminatório ou violento, o que não significa por sua vez que isso denote uma aceitação “new age” de que vale tudo na religião professada. Excessos e “fundamentalismos” são normalmente utilizados como “argumentos” de manobra de massas ignorantes, utilizadas por interesses relacionados à politicagem, poder, dinheiro ou pura esquizofrenia (vide fundamentalistas que invadem roças ou igrejas e depredam os símbolos religiosos).
Seguindo essa linha de raciocínio relativista, o autor tece considerações sobre a interpretação do Odu:
“Óleo de palma é bom para complementar o inhame para o consumo
E inhame é bom como complemento para a alimentação com óleo de palma
A escada é boa para a escalada da viga
Uma mulher é melhor para um homem fazer amor com que seus companheiros
Para um homem é melhor uma mulher para dormir como sua companheira”
Nessa primeiras sentenças o autor considera em si que os versos são “auto evidentes”, entretanto, os versos posteriores tornam-se relativos, baseados na “experiência” do autor, e ainda, com uma série de justificativas sobre a função do sacerdote de ser “compassivo”, mas que na verdade, denota uma leitura complacente com os “traumas” do consulente. Ora, evidente que a missão de um sacerdote é de ser um guia e não a de julgar quem o procura, mas daí subverter interpretações sugerindo até a bissexualidade como opção dentro da Tradição Yoruba? Sim, estamos falando de uma Tradição, então postulados da psicologia, biologia, ciências modernas, relativamente novas e bastante controversas em diversos sentidos não devem ser usadas como subterfúgios para justificar interpretações de uma Tradição milenar.
O autor prossegue:
“Se um homem dorme com um homem isto irá resultar em pedaços, furúnculos e bouba (doença de pele)
Se uma mulher faz amor com a mulher do companheiro
Isto irá resultar em trevas, federá a sujeira, mau odor e irritação
Comentário:
Há odu que avisam o cliente contra a possibilidade de doenças sexualmente transmissíveis como o resultado de encontros heterossexuais. Parece-me que é um alerta contra a possibilidade de doenças sexualmente transmissíveis como o resultado de encontros homossexuais. Para fazer a suposição tola de que a advertência contra doenças transmissíveis homossexual implica um tabu contra homossexualidade, então você teria que aplicar a mesma lógica boba para a ideia de que você pode contrair doenças transmitidas heterossexualmente”.
Não trata-se aqui simplesmente como considera o autor de “um alerta” sobre a possibilidade de transmissão de doenças, e sim, de maneira simbólica, a total incompatibilidade de energias (positivo + positivo ou negativo + negativo) dentro da esfera natural do Universo (o que não impede que cada um faça o que supostamente deseja fazer) e que por si só trará consequências (independente de patologias). E ainda, o que o autor considera uma lógica boba (e nesse caso, usemos a referência da patologia), de fato, o fato de ser heterossexual não salvaguarda de doenças, mas, um comportamento ético segundo valores da própria Tradição (mesmo no caso da poligamia), esses sim são garantia de sanidade física uma vez que o indivíduo respeite sua(s) companheira(s). No Brasil, cabe o mesmo princípio, levando-se em consideração a questão da monogamia em nossa sociedade / cultura.
Prosseguindo:
“Se um homem faz amor com uma mulher
E uma mulher dorme com um homem
O resultado é como se sentir no topo do mundo
A sensação é como ter prazer ilimitado e incondicional”
Creio que reforça o simbolismo anterior relacionado a necessidade da compatibilidade e da prosperidade resultante do equilíbrio dinâmico dos dois polos energéticos que compõe o Universo.
E por fim:
“Órgão de Òfún-Rete é forte e túrgido
Este foi quem lançou Ifa para um celibatário radical
Quando ia casar com a descendência de Olete Olófá
O celibatário radical chamou Olete mas ela não respondeu
Não é um problema que Ifá não possa resolver.”
Caracterizar que simplesmente a rejeição de Olote se dá por um “desinteresse pela mulher” ou mesmo, pelo “espírito de família” não condiciona de fato a nenhum tipo de opção de orientação sexual. Mas vejamos que ser celibatário deve tratar-se de uma opção e que, se realmente estiver relacionada ao momento ou mesmo enquanto opção definitiva para dedicar-se a valores nobres e tão importantes quanto a constituição da família, ótimo. Caso contrário, avalia-se, esclarece-se o ponto, e direciona a melhor solução segundo a Tradição.
Em suma e retornando aos versos iniciais:
“Óleo de palma é bom para complementar o inhame para o consumo
E inhame é bom como complemento para a alimentação com óleo de palma”
Não trata-se de culinária, comer ou não com as mãos, o simbolismo é claro: duas energias, uma estática, fria, calma, passiva, etc, complementada por uma energia quente, dinâmica, fluida, etc, ou seja, energias complementares que visam o equilíbrio (yin / yang).
“A escada é boa para a escalada da viga” Equilíbrio que é base fundamental para ascensão da consciência, estados mais amplos de percepção, de conhecimento, de entendimento, de crescimento sustentável na esfera espiritual, a alquimia interior que proporciona a capacidade de discernir, de ter lucidez, de enxergar além do campo dos prazeres sensoriais e imediatistas.
“Uma mulher é melhor para um homem fazer amor com que seus companheiros
Para um homem é melhor uma mulher para dormir como sua companheira”
Base e princípio da Natureza e do Universo, tanto no microcosmo quanto no macrocosmo.
Motumbá Meu Velho, motumbá!!!!
Axé!!!!
Leo vou estudar seu cometário, porém, pelo pouco que li, creio que devemos abrir nossa cabeça e tentar entender o recado contido nas entrelinhas dos comentários.
Nenhum gênero está neste mundo por defeito, vontade ou simplesmente capricho.
A Vontade de Deus se expressa nas mais variadas formas.
Ire
Sim Babá, sem dúvida, compartilho desse ponto de vista, Deus permeia a tudo e todos, sem distinção!
Como disse anteriormente no primeiro comentário, não vejo por um ângulo proselitista e tampouco sexista, afinal, orientação sexual não determina caráter (este sim o valor mais importante) e nem deve ser parâmetro de nenhuma espécie de discriminação, em absoluto, isso seria até uma desonestidade moral e religiosa de qualquer buscador na senda espiritual.
O ponto que eu quis abordar é que, dentro da Tradição (e isso dentro de qualquer Tradição Revelada legítima), o espaço para a relatividade e adaptações doutrinárias é um terreno muito sinuoso e escorregadio, que em geral, distorce os ensinamentos originais.
A nossa sociedade moderna carrega profundamente a herança renascentista e a ciência cartesiana baseada em uma lógica desenvolvimentista que tem como pressuposto fundamental o aspecto evolucionista (o darwinismo social) que determina que tudo, absolutamente tudo deve “evoluir”.
O próprio termo Tradição já denota o equívoco dessas atualizações modernas e arbitrárias que vemos em todas as principais religiões. Traditio, do latim, significa entregar, passar adiante, transmitir desde o ponto da origem (Revelação) para as gerações subsequentes, preservando-se assim os fundamentos dessa Verdade Revelada. Uma vez que a ortodoxia é perdida, a religião entra em colapso durante um período e se não morre, permanece apenas como sombra da Verdade Original.
Isso é algo que vemos em todas as religiões atualmente. Daí advém os “fundamentalismos” no sentido negativo do termo e acontecem as maiores barbaridades, sobretudo na esfera da intolerância: pescoços cortados, templos invadidos, pedofilia, corrupção, tudo porque a Essência da Religião se perde, ficando apenas a Forma.
Por tanto, preservar a ortodoxia religiosa é aspecto fundamental e por isso, creio eu, interpretar de um ponto de vista pessoal uma doutrina e sob a influência do modernismo pode causar danos irreparáveis (como aliás vem acontecendo) à Tradição. Daí chegamos à con-Tradição.
Então reforço, a questão da opção sexual é algo de foro íntimo e não cabe a ninguém tecer julgamentos e condenações baseados nesses aspectos. É simplesmente ridículo, mesquinho, denota ausência de espírito crítico e entendimento intelectivo e, principalmente, de qualquer sentido religioso (religare).
Entretanto, dentro da Tradição Religiosa, deve-se observar criteriosamente e seguir-se rigorosamente o que é preconizado desde os ensinamentos originais, sob o risco de não agindo assim, subverter-se a Ordem e com isso, comprometer toda a efetividade dessa Tradição enquanto Caminho Espiritual. Desse modo, restaria assim apenas a Forma, como um balcão de negócios com iniciações que visam o retorno financeiro e a exaltação do ego dos envolvidos ou a “comercialização do axé”, com a venda de feitiços que “resolvem qualquer problema”.
Posto isso, peço desculpas por qualquer interpretação equivocada, até porque meus conhecimentos são superficiais, não conheço os meandros da Tradição e me afastei do Candomblé há um bom tempo justamente pelos descaminhos que presenciei e ainda não encontrei porto seguro para continuar…
Postei o comentário apenas para ensejar um desenvolvimento maior do tema ortodoxia baseado no momento atual da religião e o futuro da mesma, uma vez que, com a globalização, temo que interpretações generalistas ou uma espécie de “academicismo”, uma geração de papagaios que apenas repetem o que estão nos livros e apostilas, com roupas bonitas e vistosas e sem entenderem de fato o que significa seguir uma Tradição seja o futuro que resta.
Tenho fé que não! Acredito que zeladores da Tradição se perpetuarão, ainda que em quantidade muito reduzida, não permitindo que essa Sabedoria se perca em sua essência, preservando o verdadeiro Axé oriundo dos mais remotos ancestrais.
Sua bênção meu velho!
Meus respeitos!!
Axé!!!
Leo obrigado pelo entendimento, pela cabeça aberta.
Porém, vamos abrir um pouquinho mais esta cabeça.
Ifá/Òrìsà não tem dogmas, se tivermos dogmas vamos ficar amarrados, Ifá é e prega a evolução (O Darwinismo social, tecnológico e ritualístico).
Vamos voltar a milênios, quando òrìsà andava pela Terra e se oferecia humanos, Òrúnmìlá deu a ordem de trocarem o ser humano pelo animal (evoluimos na ritualística).
A evolução da agricultura fez o ser humano fincar bases e criar as condições para a formação das cidades e suas sociedades (cultura, culinária e etc., evoluímos novamente).
A sociedade já não mais aceita a poligamia, casamentos arranjados, preconceitos de gênero e outras coisa mais (evolução social).
Isto é Ifá.
O que não podemos mudar é a forma de acessar o divino, a iniciação, os rituais e invocações.
Buscar a energia com as folhas corretas, as encantações das folhas e suas rezas cantadas, faz diferença o tom de como se canta uma folha, um ofò àse e muito mais. Esta Tradição não se pode perder, aqui não pode haver inovação ou invenção (o que mais vemos no momento).
Veja como a reza da reafirmação da crença é dogmática e preconceituosa:
Ifáiyable
(Afirmação da Crença)
Eu acredito no Criador, o proprietário do Hoje e do Ontem e o proprietário de todos os dias que virão.
Aquele a quem todos os Imortais homenageiam, eles existem para conhecer suas leis e mandamentos.
A Origem e Criador de todas as coisas descobertas e a serem descobertas.
Creio no Espírito do Destino, o grande testemunho da Criação, segundo do criador e proprietário da medicina que é mais poderosa do que qualquer outra medicina.
A Órbita Imensa que lutou no dia da morte, aquele que regenera a juventude e as criaturas de má sorte, ele que é perfeito na Casa da Sabedoria, o mais potente e que salva-nos.
Eu acredito nos Mensageiros, acredito no Espírito Santo da Manifestação, que é o mensageiro enviado pelo Criador.
Eu acredito na inspiração das receitas mais Purativas e corretivas do Chefe dos Mensageiros.
Eu acredito em Akodá e Aseda, a Alma e Espírito do Conhecimento e da Sabedoria desde o início dos tempos.
Eu acredito que através dos ensinamentos do Espirito da Inspiração, o Rei que limpa e corrige o mundo, desce, espalha sua mão a fim de iluminar o caminho da vida e depois ascende.
Eu acredito que este poder dentro do poder, também exista dentro da sociedade das mulheres sábias.
Eu acredito que é por propiciação e expiação que o mundo é feito.
Eu acredito em Ijoriwo Áwo Agbaiye, Áwo do Universo.
Eu acredito nos ensinamentos de Áwo Iweri como o guia para a regeneração e renovação.
Eu acredito que existe salvação na exaltação de bom caráter.
Eu acredito que o espirito dos seres humanos não morre.
Eu acredito em regeneração e reencarnação.
Eu acredito nos princípios sagrados da Cura.
Eu acredito que os alimentos de purificação do pacto são abundantes entre os parentes de Ife.
Eu acredito na santidade dos princípios do casamento, que é honroso para os homens e as mulheres, que devem estar sempre dentro da boa conduta.
Aos pés do Criador eu bebo da terra e faço minha aliança de fé.
Àse.
Um exemplo claro que não houve evolução na Matriz, porém, os seus sacerdotes saíram mundo afora e evoluíram, vide minha primeira resposta, Abimbola e o Awise de Ifè.
A questão principal para mim é:
Quem vai ficar preso aos dogmas?
Ire baba
Meus respeitos!!!
É Da Ilha, talvez o desencanto seja meu diante de tanta bobagem que já vi, mas percebo, a vida é uma eterna busca de equilíbrio, o Caminho do Meio, não devemos radicalizar, apenas buscar sempre o bom senso (“Eu acredito que existe salvação na exaltação de bom caráter”) e seguir adiante…
Mojubá Meu Velho!
Adupé!! Motumbá!!!!
Axé, Axé, Axé!!!!!
Leo
Leo é por ai.
Ire onà alaafia
Ótimo texto, Da Ilha, pra se começar falar sobre um assunto que tantas pessoas colocam como “tabu”.
Estes assuntos devem sim ser discutidos com olhos na tradição e também com olhos no contexto socio-cultural que temos hoje, pois não vivemos de purismos e os contatos com o outro sempre transformam (a nós e até nossas pré-noções). Todo um conjunto de valores foi construído em épocas específicas a partir das discussões vigentes naquele momento, porém a partir do momento em que a complexidade social modifica e levanta outros tópicos nós devemos sim discuti-los e não rechaça-los porque não faz parte de um sistema dinâmico constituído outrora.
Não tenho tempo agora de discorrer mais sobre o assunto, mas estimo muito iniciativas que questionem os papéis propostos relativos tanto a gênero quanto a sexualidade das pessoas.
Apenas uma observação em relação ao uso do termo “homossexualismo”: há muito tempo ele caiu em desuso devido aos significados ligados a doença atribuídos ao termo. Hoje utilizamos o termo homossexualidade por ser mais de acordo com o assunto de vivência de sexualidade. Então, por favor, vamos utilizar a palavra homossexualidade.
Axé,
Dayane
Dayane quando postávamos alguma resposta que esbarrava na homossexualidade ou homossexualismo (eu particularmente estou me lixando para o termo, me basta tratar todos de uma forma igualitária e sem descriminação), nós nos víamos debaixo de pedradas, tiroteios, xingamentos e acusações de homofobia.
Hoje estamos discutindo o assunto com mais profundidade, dando uma ênfase sócio religiosa a questão e não aparece ninguém para colaborar ou corroborar com a ideia lançada.
As vezes penso que as pessoas querem que a gente aja e pense por elas.
Eu acreditei em um texto dinâmico que traria as pessoas a discutir esta relação e interação entre gêneros para o engrandecimento da religião e ao mesmo tempo agregar opiniões e conhecer o que está sendo feito e discutido Brasil afora.
Parece que não atingimos o objetivo.
O mais importante continua sendo “O MEU ÒRÌSÀ”, com quem come, o que veste, com quem tem fundamento e etc….
É a vida, a vida que segue.
Ire Obinrin Òya.
Da Ilha,
Tudo está resumido na frase: As divindades (Òrìsà/Irùnmolè) não podem dar o que sua cabeça (Ori) não quer aceitar.
Sinceramente muito blá blá blá e o mundo cheio de hipocrisia. Para quem acredita em reencarnação fica o dever de casa sobre a homossexualidade a bigamia, a poligamia, adultério, as indas e vindas e o mundo cada vez mais gay, talvez até bem melhor, afinal o Orixá não escolhe cabeça.
Vale a reflexão
Fernando curto grosso e perfeito.
Um mundo cheio de hipocrisias.
A responsabilidade pelas ações são unilaterais, sacerdote não pode ‘quebrar este galho’.
Ire Alaafia.
Sigamos, Da Ilha.
Eu prefiro a persistência do: “água mole, pedra dura, tanto bate até que fura.”
Axé,
:=(
Ire ajè omodé
MOTUMBÁ!GOSTARIA DE SABER,SE QUANDO UMA PESSOA É INICIADA EM UM ORIXÁ E A QUALIDADE É FEITA ERRADA,TEM QUE SÓ ARRUMAR A FUNDAMENTAÇÃO OU TERÁ QUE FAZER OUTRO ASSENTAMENTO.DESDE JÁ AGRADEÇO A RESPOSTA.
Nei
Tem que acertar o caminho e ver fundamento que concerne ao Orixá. A pessoa não foi feita errada, apenas não viram ou não sabiam ver a qualidade do Orixá. Dependendo das diferenças entre os fundamentos de cada Orixá, poderá acertar as ferramentas ou até assentar novamente dentro do caminho correto.
Axé.
Discutir Homossexualismo/Homossexualidade…hoje é coisa do passado !
ja esta ultrapassado esse assunto !
Ja é fato sacramentado na sociedade !
Afinal qual o sexo dos anjos ?
Afinal qual era a opção sexual/sexualidade de Jesus ?
Afinal todo hétero tem a sua sexualidade normal ?
Claro que não ,..consultórios de psiquiatria , prostíbulos, casa de swing, grupos de orgias estão sempre cheios !!!
Ser conhecedor profundo da psique humana é utópico !
O espírito antes de tudo,..deverá aprender sobre o Amor, o Respeito, o Perdão,a Ternura,…a Caridade…os verdadeiros VALORES que alimentam alma eterna
Pedro Diniz concordo plenamente com suas colocações, agora, querer deixar claro que este assunto ‘é rua pavimentada’ na sociedade é querer ser utópico.
Buscamos discutir o que ainda é novidade na cabeça de muitos, onde o preconceito existe e não é demostrado, mas, ninguém quer para si, filho ou filha que não seja hetero.
Lidamos com seres humanos constantemente, não precisamos sair na esquina para ver, saber e conhecer como é forte a maré que joga contra.
É quando o mar está calmo que devemos manter nossa vigilância sempre em alerta.
Discutir este assunto de forma soberana e sadia é confortável.
Faz parte do presente e ainda fará parte de muitas gerações.
Como disse o Odù Eji Onilè:
Depois que me iniciei, voltei a floresta e me reiniciei.
Ou seja:
Depois que assunto for discutido e arrumado na sociedade, vamos dar a ele o devido cuidado e atenção para que se torne um coisa do passado.
Ire
Ok ! Homossexualidade…do ser humano ,
existe desde dos primórdios da humanidade…até entre os animais…
É o mesmo que querer entender porque o homem usa drogas..
Não se tem a resposta disso ! O que o leva a usa-la , a optar por ela…
são milhares de condições ..fora as que não se conhece até hoje !
Agora ! Devemos sim ! Discutir o tratamento e a visão que nós temos em
relação ao nosso próximo.
Isso é que deve ser discutido ! O porque da discriminação e até de agressividade a um irmão que se encontra em um estágio x,y ..z
Antes devemos estudar os nossos comportamentos diante do próximo
invés de estudar o comportamento pessoal alheio !
Se sequer mal nos olhamos no espelho,…mal entendemos ainda a nós mesmos…queremos apontar o dedo , condenando, esse ..aquele
Prezado amigo da ilha, vc sabe q sou polêmico e gosto de conflitos, então se me permite vou colocar mais dendê neste trem (no bm sentido!)
Só para constar prezado Diniz a ação q é entendida como homossexualidade ocorre deveras desde os primórdios, todavia, o termo homossexualidade é oriundo da modernidade. Só existindo para afirmar em contra partida a existência de uma heterossexualidade (tambem um termo da modernidade).
Da ilha eu tenho uma leve impressão q o q hoje entendemos como religiões, sobretudo, as mais milenares carrega com si uma série de coisas q na época era tida como positivas ou boas naquela sociedade, entretanto, na atualidade há coisas q nao servem mais. O q rituais mais “públicos” as vezes tentam se readaptar, já os mais privados conservam seus velhos costumes, como em religiões milenares q houvem sacrifícios humanos no privado, por exemplo, será q hoje ainda prossegue? Há relatos na tal bíblia defendida por alguns evangélicos de sacríficos deste tipo. Assim como do homem Natherdantal também sacrificar seres humanos para rituais e para alimentação. Em contra partida – O rato, por exemplo, um elemento sagrado q hoje perdeu tanto prestígio devido a suas associação com doenças graças a urbanidade. Voltando a sexualidade, a relação entre pessoas do mesmo sexo era abominada em diversas religiões milenares severamente com pena de morte. Pois na epoca quem dava as cartas sobre com quem deitar era Deus, revelado em seus profetas. Hoje é a ciência q as vezes mata escondidamente. Sendo assim, este Deus q temia a união afetiva entre dois homens e duas mulheres, hoje ele passa a ser visto como? Abraão por exemplo esbanjava um cheiro de macho, pois tinha várias mulheres para lhe servir. O mesmo ocorria com algumas etnias q louvavam o Obá (xangô) mesmo q algumas bastante secreta. Como as sociedades Ogbonis, por exemplo…O q não quer dizer q por ter o caráter secreto não possa ser estudada, assim como o fato de ser muita aberta não impede q as pessoas lêem com maus olhos. Mircea Eliade – um grandede estudioso dos simbolos religiosos com base em sua historicidade, filosofias, cosmogonias, mitologias e etc…Ao analisar diversas religiões milenares incluindo Indianas onde a base do apocalipse cristão se encontra lá, por exemplo. Ele percebeu q em quase todas cosmogonias há ideia de bem e mal, assim como a ideia de Deuses e Diabos q não necessariamente tem a conotação feita pelo cristianismo. O mesmo sua repulsa para alguns modos de vida mal entendido, neste caso, a afetividade entre pessoas do mesmo sexo. Embora, os homens gregos amarem entre si, inferiorizando as mulheres, a igreja católica extrai deles só o q interessa, taxando de sodomia a prática entre dois homens. Mas quando estudamos as matrizes africanas percebemos um alto teor q hoje poderíamos chamar de machista e de misoginia. O temor q os patriarcas de algumas etnias africanas tem para com as mulheres, ou com relação a uma sociedade matriarcal. Embora não gostar mt das leituras do Babalawo Adilson de Oxalá, em seu livro: a cabaça da existência, o mesmo afirma que Exu e Orumilá temiam fervorosamente o poder as mulheres traziam em seu útero podendo invocar a cólica das Iyamis. O q seria aquele passaro gigante a não ser a projeção da força daquelas q geram em seu núcleo a vida? Gaia – a terra, mãe ancestral de todos(as) deuzes(as) gregos, representa o grande útero que é nosso planeta e sem sua origem não havera vida. Por q q Odudua, por exemplo, teve tanta importância na origem do universo consoante a cosmogonia yoruba? Por q Oxum acompanhara por um tempo Orumilá? Todavia, essas represetações das mulheres nas cosmogonias, ainda sim é fraca ou escondida. Pois quem escreve/conta esta história são os homens. Os profetas, Olwos, e etc…Foram escolhidos por Deus, por não uma Deuza e etc…Isto é: mesmo com a presença das mulheres nas cosmogonias, elas ainda não tem a pompa q deveriam. Talvez por serem temidas por algo oculto q trazem-na consigo? As sociedade yorubas onde deram origem aos candomblés parecem alijar a mulher de algumas questões, assim também como os homens são alijados de outras funções. Ou seja, o q predomina nestes segmentos, até mesmo cosmogônico é um BINARISMO. Sendo assim, onde entra o Homossexual? e o que adere aos dois (bissexual) e os q trasngride esta forma (transsexuais)?? Deste modo, como q este Deus passa a ser cultuado?? Será q hoje em dia ele aceita essas pessoas, ou as excluem?? Como q os profetas, sendo homens, ou enviados, ou discípulos lidam com isso?? Gostei mt de uma reflexão sua Da ilha. No momento em q vc aponta uma contradição nas práticas de alguns iniciados em ifá:ao dizer q homossexual não pode ser Olwo, mas houve casos de se iniciarem transsexual justificando q o cara parecia moça. Interessante, o Odu saberia se ele era uma moça? Ou o Odu não importa se é moço ou moço? Assim sendo, a leitura do Odu é influenciada por nossos costumes, ou o Odu q influencia nossos costumes? Ou vice-versa? Os profetas de hoje, seriam os de antigamente, ou seja, o Deus de hoje é mais reflexivo e bondoso, ou apenas adapta ao contexto q ele o criador mesmo criou?????
AXÉ!!!!!!!!!!
Jefferson eu diria que boa parte das respostas sobre as mulheres está em Òsétúrá e em Ogbè’sá.
Quanto a questão sexual, eu acredito que se ela existe é por que alguma forma de existência lhe pertence com todo o direito.
Uma vez Òrúnmìlá perguntou a Òlódùmarè:
Por que o senhor colocou no mundo os corretos, os errados e os indiferentes?
Ele respondeu:
Quero ver como eles se comportam!
Então…
Por que não teríamos uma resposta para a questão sexual?
Onde a reposta está guardada?
Dentro de nossa religião, em qual o Odù temos esta informação?
São perguntas que não querem liberar as respostas ou eles não tem esta resposta e usam sua cultura como escudo e repulsa.
E tome lenha…
Ire
Da ilha
Qual o fundamento/ importância da VELA no candomblé ?
que benefício teria ao ritual/filho de santo/orixá em queimar um simples pedaço de parafina ?
Paulo por anos a fio eu convivi e fui adepto do Candomblé, sempre acendi vela e lamparina, nunca tive problemas e nunca recebi qualquer informação contrária ao meu gesto de acender uma vela, pelo contrário, eu era muito incentivado.
Quando passei a frequentar e praticar o Culto Tradicional eu aprendi que a vela ou a lamparina (desde que não tenha sido ‘preparada’ para alguma finalidade) tem a função de produzir fogo e o fogo é a transformação.
Tudo que passa pelo fogo, nunca mais voltará a ser como era.
Portanto, o fogo tem a função de transformar e como ele passa a ser um elemento de transformação ele se torna um item de ebó e em ebó somente acrescentamos se o oráculo permitir.
Este é o benefício do fogo.
Ire
ok ! Esta foi uma bela explicação…
Um Feliz Natal e 2015 repleto de Paz e Luz
Da mesma forma.
Ire
Prezado Da ilha,
Como várias pessoas lêem este blog, teria como vc explicar melhor o q seria “Culto Tradicional”, pois mts devem se perguntar: como assim quando era do candomblé? e agora é desse tal de Culto Tradicional?
Abraço meu caro!