Para homenagear o dia 13 de maio, data oficial da libertação dos Negros no Brasil, um post sobre o Candomblé Omolokô que hoje em dia interage com outras religiões sem a essência de seus ancestrais, mas que ainda resiste em algumas regiões.
O termo Omolokô, vem da junção das palavras “omo e loko ” filhos Lokô”. Lokô, que era governado pelo rei Farma, no sertão de Serra Leoa. Ele teria sido o rei mais poderoso entre todos os Manes. Sua cidade chamava-se Lokoja e se localizava à margem do Rio Mitombo, afluente do rio Benue, que por sua vez, é afluente do grande rio Níger.
Lokoja ficava próxima do reino Yorubá. O povo Loko também era conhecido pelos nomes de Lagos, Lândogo e Sosso. O nome Loko foi primeiramente registrado em 1606. Também há registro desse povo com o nome de Loguro. Os Lokos viveram até 1917 a oriente dos Temnis de Scarcies. De acordo com pesquisas realizadas, a tribo Loko estava divida em outras menores ao longo dos rios Mitombo, Bênue e Níger e no litoral de Serra Leoa. Em 1664, o filho do rei Farma foi batizado com o nome de D. Felipe. Evidentemente torna-se claro que o principio da sincretização afro-católica já acontecia na África antes da vinda dos africanos ao Brasil. Acredita-se que a tribo Loko pertencia a um grupo maior chamado Mane e que alguns de seus integrantes vieram escravizados para o Brasil e formaram o Omolokô.
Os povos Mane tinham por costume usar flechas envenenadas e arcos curtos, espadas curtas e largas, azagaias, dardos e facas que traziam amarrados embaixo do braço. Para combater o veneno de suas flechas, em caso de acidente, usavam uma bolsinha com um antídoto. Avisavam os seu inimigos o dia em que iriam atacá-los através de palhas – tantas palhas, tantos dias para o ataque. Traziam no braço e nas pernas manilhos de ouro e prata. Também eram ligados aos brancos que invadiram a África Negra. Adoravam assentamentos de deuses e ídolos de madeira, os quais representavam homem e animais.
Quando não venciam as guerras, açoitavam os ídolos. Se as batalhas eram vencidas, ofereciam aos deuses comidas e bebidas. Chamavam as mulheres de cabondos e tinham como marca a ausência de dois dentes da frente.
O vocábulo deriva de uma composição baseada em duas outras, oriundas da língua Yorubá com três versões distintas, segundo sua interpretação.
No primeiro ramo de análise, que é a versão de Léa Maria Fonseca da Costa,1 mãe-de-santo de Omolokô significa:
Omo: filho e Loko, que aludiria à árvore Iroko e resultaria em Filhos da Gameleira Branca.
De acordo com a versão de Tancredo da Silva Pinto,2 Tatá Ti Inkice, pai de santo de Angola, no livro Culto Omolokô – Os Filhos de Terreiro, de Ornato José da Silva:
Omo: filho e Oko: fazenda ou zona rural, na qual esse culto, por conta da repressão policial então existente, seria realizado desde a remota época da escravidão.
Por fim, pode-se ainda relacionar o significado da palavra Omolokô também ao Orixá Okô, da agricultura, que era cultuado nas noites de lua nova pelas agricultoras de inhame.
Ainda hoje existem as denominações de terreiro e roça para os locais em que os cultos afro-brasileiros são realizados. Nesse culto os Orixás possuem nomes yorubá (nagô) e seus assentamentos são similares aos do Candomblé.
O Omolokô é apontado por estudiosos e praticantes como um dos principais influenciadores da formação da Umbanda africanizada ao lado do Candomblé de Caboclo, do Cabula e do próprio Candomblé. Teria surgido, segundo Tancredo da Silva Pinto entre o povo africano Lunda-Quiôco.
Possui ritualística própria e seu representante mais expressivo é o Tatá Tancredo da Silva Pinto, já falecido, estafeta dos correios, morador do Morro de São Carlos, que foi um grande estudioso, colunista e escritor. Porém, há relatos da existência de uma escrava, Maria Batayo é a filha de escravos, Léa Maria Fonseca da Costa, que preservaram o Omolokô dissociado da Umbanda conforme é abordado na obra de Ornato José da Silva.
A diáspora dos Orixás cultuados no Omolokô é a mesma utilizada pelo Candomblé e sua organização dogmática o faz diferir também por isso da Umbanda que os cultua em número menor e de forma majoritariamente sincrética.
O Omolokô instaurou-se no Rio de Janeiro, segundo estudiosos, no século XIX, a partir do conhecimento trazido por negros vindos da África e seus descendentes. A herança do período colonial que sofreu influência de diversas vertentes religiosas da África, predominantemente o culto aos Orixás e aos inkices, tornou peculiar a sua forma de culto, mantendo a cosmologia de cada origem, acrescida de rituais religiosos contemporâneos.
No Rio de Janeiro, a partir da miscigenação e influência do Espiritismo francês, instaurou-se um novo movimento denominado Omolokô, disseminado prioritariamente por Tancredo da Silva Pinto. Mantém-se como um exemplo deste seguimento a casa-de-santo Okobalaye, fundada na cidade de São Gonçalo, e o Centro Espírita São Benedito, sediado à rua Vereador Maurício de Souza, 97, Engenhoca, Niterói, RJ, chefiada por Pai Matuazambi, de origem nagô.
Referências/Fontes
- Ikipédia
- Luan de N’Zanbi
- Fernando D’Osogiyan
A bença pra quem for de bença, grande artigo e muito detalhado com referencias,ajuda muito a todos nos que estamos aqui para aprender em ensinar, desmistifcando de que omoloko para alguns trata-se de umbandomble
Ègbé,
no site:: http://www.fub.org.br/artigos/?art=omoloko, tem mais artigos sobre Omolokô.
Axé.
maravilhoso texto que traz para nos,uma grande pesquisa sobr os terreiros antigos de candomblé do estado do rio de janeiro.parabens.
maravilhado pela oitava vez ,no entanto isso me trouxe uma curiosidade gigantesca vcs poderiam trazer um texto com conteudo sobre o primeiro yawô da historia do candomblé uma vez lí bem rápido que foi uma galinha d´angola…
desde já olorum modupé
Sua benção Babá Fernando!
Lendo o texto uma questão ficou bem clara para mim: preciso estudar muito, mas muito mesmo. Obrigado!
Asé babá!
Luiz,
Todos nós moderadores aqui do blog, vivemos em constante aprendizado, pesquisando, ouvindo, estudando, colhendo informações, observando, aprendendo com os mais velhos, eternamente.
Oxalá lhe abençoe,
Axé.
Sou abiaxé e filho de santo da já falecida mãe de Santo Léa Maria Fonseca da Costa do Ilê Okobalayê. Fico imensamente feliz em ver o nome dela etenrizado nesse belo texto que retrata um pouco da história do Omolokô; meu axé. Parabéns aos moderadores do blog!
O assunto nao é esse babá…veja reportagem do UOL sobre um decisão a respeito de nossa religião na justiça federal!
O Tata Tancredo Pinto, assim como o João da Golmea são exemplos de resistência contra a opressão q sofria/sofre os cultos de matrizes africanas no Brasil. Alguns os chamavam de “marmoteiros”, mas poucos lutaram como eles. O Tancredo era semianalfabeto e debatia com autoridades. Produziu livros e etc. O Joao da Gomea brigou com governantes, em prol do candomblé. Visitem meu blog: http://pedagogojefersontoleranciareligiosa.blogspot.com.br/
Baba Fernando, vc tem alguma coisa a dizer sobre o fato da Justiça do RJ ter alegado que os cultos afrobrasileiros não são considerados religião?
Axé!
Jeferson,
Foi retaliação do Juiz federal!
Segue matéria:
A definição aconteceu em resposta a uma ação do Ministério Público Federal (MPF) que pedia a retirada de vídeos de cultos evangélicos que foram considerados intolerantes e discriminatórios contra as práticas religiosas de matriz africana do YouTube.
O juiz responsável entendeu que, para uma crença ser considerada religião, é preciso seguir um texto base – como a Bíblia Sagrada, Torá, ou o Alcorão, por exemplo – e ter uma estrutura hierárquica, além de um deus a ser venerado.
A ação do MPF visava a retirada dos vídeos por considerar que o material continha apologia, incitação, disseminação de discursos de ódio, preconceito, intolerância e discriminação contra os praticantes de umbanda, candomblé e outras religiões afro-brasileiras. “Para se ter uma ideia dos conteúdos, em um dos vídeos, um pastor diz aos presentes que eles podem fechar os terreiros de macumba do bairro”, disse o procurador regional dos Direitos do Cidadão, Jaime Mitropoulos.
De acordo com o site Justiça em Foco, o MPF vai recorrer da decisão em primeira instância da Justiça Federal para continuar tentando remover os vídeos da plataforma de streaming do Google.
“A decisão causa perplexidade, pois ao invés de conceder a tutela jurisdicional pretendida, optou-se pela definição do que seria religião, negando os diversos diplomas internacionais que tratam da matéria (Pacto Internacional Sobre os Direitos Civis e Políticos, Pacto de São José da Costa Rica, etc.), a Constituição Federal, bem como a Lei 12.288/10. Além disso, o ato nega a história e os fatos sociais acerca da existência das religiões e das perseguições que elas sofreram ao longo da história, desconsiderando por completo a noção de que as religiões de matizes africanas estão ancoradas nos princípios da oralidade, temporalidade, senioridade, na ancestralidade, não necessitando de um texto básico para defini-las”, argumentou Mitropoulos.
boa tarde!!!
Baba Fernando, não sei se entendi errado. O Omoloko é uma religião que originalmente não há orixás ou similares? É uma outra realidade?
Um abraço.
Mário,
Omolokô originalmente cultuava Orixás, quando veio para o Brasil sofreu várias influências até se juntar aos rituais da Umbanda.
Axé.
Uma coisa que não me ficou muito clara, o Omoloko em si, tem raiz bantu ou yorubá?! Pois nunca conheci uma casa dessa nação que cultue Oriixás, e sim N’kisis.
Parabéns pelo blog! Kozandio!
Amanda,
Origináriamente o Omolokô é de origem Yorubá, posteriormente já no Brasil, passou a cultuar também Inkísses e as divindades da Umbanda, deu-se então uma enerme mistura, desfigurando por completo a essência do Omolokô africano.
Axé.