Certo dia, a Jady (uma leitora do blog) perguntou-me como nós, “seres falhos”, temos o merecimento de receber a energia do orixá em manifestação.
Conversando com ela e mais tarde com outras pessoas percebi o quanto este assunto assola em seus pensamentos: a ideia cristã do pecado.
Antes de escrever eu gosto de observar e, principalmente, ouvir as pessoas; seus conceitos, suas opiniões, suas dúvidas, suas histórias… Daí vem a vontade de passar para o papel minha conclusão sobre o assunto.
Não vou falar, hoje, especificamente de Candomblé, de um assunto de Candomblé, mas de ideias que habitam as cabecinhas dos nossos adeptos por motivos de educação cultural e que quase nunca paramos pra pensar nelas.
Vamos falar um pouco sobre pecado. O pecado esteve, religiosamente, presente já nos “primeiros habitantes da terra”, Adão e Eva, segundo a história dos cristãos relatada na bíblia, e a ideia de pecado vem de ordem, uma ordem que deve ser seguida e não deveria ser quebrada. A partir daí surgiram os mandamentos que se desrespeitados, são transformados em pecados e se estes forem cometidos, virá a punição. É praticamente um ciclo.
Então, chega em terras brasileiras um povo, provindo de várias aldeias, várias etnias e nos traz um modo diferente de ver a vida, de vivê-la, de sentí-la… Representantes de sociedades de parâmetros excêntricos, peculiares e estranhos aos olhos da cultura, da visão ocidental estão presentes na nossa terra e refletirão para sempre suas marcar nos nossos rostos, nos nossos sorrisos, na nossa ginga e na nossa maneira de olhar.
Diante disso, temos a nossa religião, herança da mãe África, que dá-nos a oportunidade de viver estes novos conceitos, novos valores e estas novas visões a serem enxergadas e posteriormente aplicadas às nossas vidas, se assim quisermos, mostrando que a palavra “Liberdade” é ordem. No seu sentido literal e metafórico: Candomblé também é liberdade.
A sociedade nos estabelece modelos a serem seguidos, pensamentos a serem defendidos, desejos a serem guardados e praticamente oprimidos. Muitas vezes, nos perdemos nesse mundo de ideias, ideais, novas informações que nos chegam e que mudam a todo instante, obrigando-nos a nos ajustarmos a tudo isso. Tudo isso com qual finalidade? Para nos tornarmos aceitáveis perante os olhos de todos. Temos que nos moldar em estereótipos para participar, e nestes estereótipos estão incluídas maneiras de como se vestir, até maneiras de como pensar.
O mundo não está mais preocupado com a essência, e sim com a massificação, infelizmente. E é justamente essa essência que a nossa religião se importa, é com a essência que nos faz diferentes de qualquer outro ser, é essa essência que define nossos desejos, nossas vontades, nossa maneira de rir… Nossa maneira de amar… É ela que define toda a visão que temos sobre a vida e paralelamente não define o certo e o errado, o jeito bonito e o jeito feio, o que gera a culpa e o que não gera. Ela nos faz sermos nós mesmos, transparecermos no olhar quem somos, o que sonhamos e o que queremos de todo nosso âmago.
Chegar num estado de felicidade sem culpa, de se mostrar sem culpa é transcendental, tão transcendental quanto difícil. Difícil, pois somos seres adaptáveis, mas toda adaptação pede mudança, e às vezes mudar é tão difícil… Se livrar de amarras é um processo bem doloroso, pois nos acostumamos com tudo, até com a dor insistente e latejante. Cabe a nós querer prosseguir nesse processo de liberdade ou continuar nos martirizando com a ideia do pecado, da boa moça que tenta apagar suas idéias avessas ao restante do mundo.
Nós somos livres, fomos criados para isso e é assim que o orixá nos reconhece. Não somos falhos, imperfeitos. Apenas somos humanos, uma mistura de vícios e virtudes que anda pelas ruas, trabalha, estuda, ama, deseja, busca, ri, chora, vive… Às vezes por sonhos possíveis, às vezes por sonhos impossíveis para aquele momento presente.
Assim fomos criados, assim habita a essência que Olodumare plantou em cada um no momento da nossa vinda ao Aiyê. E acertar e errar são possibilidades esperadas de nós. Eu odeio errar, errar com os outros e principalmente comigo mesma, mas ainda assim, acontece e não me puno por isso. Às vezes um erro nos ensina mais do que um acerto e eu tenho certeza que Oyá reconhece isso em mim e está presente, sempre presente.
Pois liberdade é vivermos em prol de nossos pensamentos, de nossos sentimentos, de nossas determinações.
Minha liberdade determina sempre minha felicidade, meu sorriso. E a sua?
“Tudo vale a pena se a alma não é pequena” Já diria nosso saudoso poeta das terras lusitanas Fernando Pessoa.
Axé!
Mais um voltando ao lugar de origem. 🙂
Excelente artigo!
Só faria uma pequena ressalva com relação ao conceito cristão de pecado, que vai, na sua essência, além da questão da obediência. De fato, o pecado, dentro da teologia cristã (neste caso católica romana), está na verdade relacionado com a visão cosmológica do ser humano e sua relação com a transcendência (que, por si só, já é uma visão cosmológica possível).
Enfim, o pecado, na concepção cristã católica romana (predominante na América Latina), preconiza que o ser humano, ou suas criações, em nenhuma circunstância poderá sobrepor-se ao Criador. Assim, comer não é pecado, mas a gula sim; o sexo não é pecado, mas a luxúria sim, e por aí adiante.
O ser humano está relacionado com a transcendência de forma integral e vital. Ou seja, pensarmos que a criatura humana é capaz de existir sem a transcendência (no nosso caso, a existência, apoio e axé dos orixás), é um equívoco grave, que gera consequências ainda mais graves para toda a humanidade. É um pecado (falta grave).
Infelizmente este conceito de pecado perdeu-se em meio a tantas regras e a má interpretação destas mesmas regras.
O que é importante, e aí o seu artigo é um primor, é a essência humana que é fundamental, assim como a existência da transcendência, que está relacionada com o ser humano de forma ontológica.
Axé!
Oi Daya,
Sou seu fã e adoro quando você nos coloca para pensar, refletir e emitir opiniões.
Não tem pecado no candomblé, então sem ressalvas. Seu texto serve para refletirmos e adorarmos cada vez mais o modo africano de viver adaptado ao contexto da família brasileira, é esse conjunto. Pecado é um ewó daqueles! Se não, o pecado é constante em nossa rotina de vida dentro da sociedade em que vivemos (não cobiçar a mulher do próximo, putz, beatas não vão a praia, coloquem as burkas imaginárias ou antolhos).
Outro dia fui a uma missa de sétimo dia e o padre, sem que quiséssemos ouvir o que ele dizia, danou-se a falar mal do modernismo do Padre Marcelo Rossi, imagina, dentro da própria Igreja com cristo crucificado ao fundo. Assim como o padre, quem envereda defendendo em nome do pecado, é mais pecador ainda, mais isso a ontologia explica? É tanta ciência.
Olodumare nos dá livre arbítrio e nós temos que respeitar as leis do Estado, e conviver nessa consonância é um grade desafio.
Axé.
Dayane adorei a ideia do texto, queria uma filha assim,
Este tema nos remete ao tempo do “quarto escuro e o velho do saco”, quem não se lembra?
Seriamos castigados por qualquer falha ou por um comportamento que não fosse condizente com a educação recebida.
Este formato foi levado para nossas vidas religiosas e o “quarto escuro e o velho do saco” sempre estavam pelos cantos de nossas mentes prontos a nos acuar e nos colcar em situação de reféns do medo de pecar.
Este texto que adaptei pertence ao Babalawo Fa’lokun Fatumbi, é de grande valia, pois Ifá corrobora com a ideia de que o pecado é um fantasma, um quarto escuro ou o velho do saco.
E devemos nos opor a este conceito cristão.
Tikara eni – Os elementos do Eu.
O alicerce de qualquer sistema metafísico é o conceito da vida.
Dentro de muitas formas de cristianismo, o ser é geralmente considerado “ruim” ou indigno. (lá vem o pecado)
É somente através do processo de aceitação de um conjunto específico de crenças que o indivíduo pode encontrar “salvação”.
Na minha experiência, essa visão de mundo não é consistente com suas formas.
O sacerdote africano de Ifá tem uma influência sutil sobre o culto do Ocidente.
O Culto de òrìsa no ocidente tende a ver o indivíduo como alguém que está sempre em perigo de “loucura” frente ao òrìsá.
Como resultado, o processo para evitar a ira do òrìsá é regularmente fazer oferendas em um esforço para mantê-los “feliz”.( e se livrar do pecado)
Porque o òrìsá representa forças poderosas da natureza, é difícil imaginar o oceano, o fogo, o ar ou a terra irritados com as ações específicas de qualquer indivíduo.
A idéia de que òrìsá estão decidido a punir aqueles que desobedecem, parece ser fortemente influenciado por noções católica do purgatório pós morte e pecado original.
Em contraste com este conjunto de crenças, Ifá ensina que o mundo é um sistema equilibrado, que trabalha com seu sistema de orientação interna que mantém a harmonia e o crescimento.
É da responsabilidade de cada indivíduo entender esta ordem interna e depois viver de acordo com seus princípios subjacentes. (o respeito a suas interdições que afetarão o seu equilibrio)
Em contraste com o cristianismo, Ifá não acredita que os seres humanos são cobrados pela “maldição de Eva”.
Ifá ensina que todos têm um direito inato para receber as bênçãos de riqueza, saúde e boa família.
A forma como estas coisas se apresentam é baseado na idéia de integrar todos os elementos da sua vida.
“Tikara-eni” é a palavra iorubá para o Eu.
Tikara, a palavra é uma combinação,
O que significa: ika que significa “quebrar” “mundo” e “ara” de aranhas, que significa “corpo físico”.
Eni é a palavra “quem” em iorubá.
Então, o conceito de Tikara-eni refere-se a todos os elementos da pessoa como um todo.
O equlibrio do ser estará ligado a sua interação com a natureza e suas forças.
Recaindo sobre ele o ire (sorte) ou ibi (infortunio), arbitralmente decidido.
Queridos,
O texto não é novo, porém a temática ainda é atual e atuante.
O que eu realmente quis enaltecer foi a essência que carregamos e também as nossas vontades internas. Não viso criticar a visão cristã do pecado e de nenhum segmento. Penso que devemos seguir a linha de pensamento do segmento que escolhemos como nossa forma de nos aproximar do Divino e sendo assim, nós, de Candomblé, não devemos vestir as roupas que não são originalmente nossas.
A nossa sociedade foi e é influenciada por uma ideia sobre pecado que adentra no universo até da nossa moral. Não quero declarar que somos totalmente livres e podemos fazer tudo que pensamos e desejamos, pois pra isso temos nosso senso crítico e o superego pra equilibrar nossas vontades.
Obviamente que dentro da nossa vida religiosa temos intérditos, porém estes têm leituras diferentes e práticas diferentes dos citados pecados cristãos. É isso que nós, adeptos, devemos internalizar.
Axé!
Abaixo o sincretismo! No Candombl no existe pecado, pecado coisa de cristo.
Dayane,
Outro dia eu estave refletindo sobre a responsabilidade que Olorum nos deu. Ele nos ama tanto que nos deu Orí. Qual outra religião nos permite ter um “Deus Particular” ? Há liberdade e confiança maior do que essa? Para mim não há.
Quando eu era criança escutava as pessoas dizendo que ao nascermos já éramos pecadores. Aquilo assolava a minha cabeça, pois eu pensava que não tinha feito absolutamente nada e já era uma pecadora. Vinha então em minha cabeça a imagem de um Deus injusto, rancoroso da sua própria criação. Como eu poderia amar um Deus assim? Eu tinha influências cristãs em minha vida, reflexo de pais separados e com crenças divergentes. Tudo que eu “aprontava” me diziam: Deus vai te castigar por isso!
Tenho duas filhas e tento criá-las longe dessa idéia do pecado original. Digo para a mais velha: Toda ação tem uma reação. Se vc agir de forma incorreta receberá algo desagradável. Se agir de forma correta receberá coisas boas sempre! E quem lhe dá isso não é Olorum, é vc mesma. A responsabilidade é SUA. Ela tem apenas 7 anos e compreende perfeitamente.
Tenho orgulho da minha religião. Não somos hipócritas. Não somos perfeitos. Mas para nós é permitido a realidade e a verdade para aqueles que buscam.
Obrigada por suas palavras.
Muito bom o texto Dayane.
Peço licença para dar a minha opinião e fazer uma pergunta.
Acredito que todos os Seres nasceram para serem livres, cada um com sua forma de vida.
A questão do pecado no candomblé esquecendo do “pecado original” dito pelos cristãos, lá no começo da nossa história, no candomblé o pecado não existe como é imposto pelas outras crenças, mas presa demais a liberdade dos seres, como dito no artigo.
Mas é importante acrescentar que a moral, a ética e o respeito por todos aqueles que convivem em sociedade é fundamental.
Já a questão Orisá, é uma coisa que me deixa sem respostas, embora tenha lido e relido o artigo. Muitas casas de asé fazem uso do contrário, usam o medo daquele filho de orisá para tirar a liberdade, ou seja, tirar o direito de ir e vir. Diante disso gostaria de saber como que essa atitude vinda do chefe do asé é visto pelos Orisás???
Bom dia amigos,
Gostaria de saber se alguem conhece uma casa de candomblé no Rio , no bairro recreio , barra , vargem grande , vargem pequena ?
E se alguem ta sabendo de alguma festa de iemanja na praia que tera esse mes ?? Obrigado
Se sim me passem os contatos
Obrigado
Pamella,
Sempre fique bastante a vontade pra opinar e perguntar.
Se você ler o meu comentário mais acima e o comentário do Ary, terá seu questionamente esclarecido.
Muitos chefes de terreiro ainda têm a assimilação do “medo” provindo do cristianismo, só que o orixá preza pela nossa retidão perante os nossos próprios costumes, entende? Nossos costumes e não a gula, a luxúria, etc. Nós temos as nossas próprias “proibições” que nem chegam a serem proibições, pois temos o livre arbítrio.
O orixá preza pela nossa responsabilidade perante ele, pelos nossos preceitos, pela nossa entrega, pela nossa obediência e retidão com o trato do orixá. Ele preza pela nossa consciência, pelo nosso caráter, pelo nosso senso de justiça.
O orixá, minha irmã, atua com o tempo: com o que pode acontecer hoje ou daqui há dez anos. Orixá não bate, não castiga. O que nós recebemos é sempre apenas fruto do que fazemos. Tudo é reação de uma ação. Quando a água evapora e se acumula nas nuvens a reação será uma precipitação: a chuva. Não é isso? Orixá não dá as costas e nem abandona.
Axé!
E kaa le o!
Dayane,
Interessantissímo o texto digno de uma Filosofa, e mais, uma filosófa poeta. Pelo fato de articular a reflexão(refletir “tornar atrás” segundo Kant) com a arte poética. Nos incitando a um exercício de reflexão de um modo suave a nossos ouvidos, sem ofensas e constrangimento, nos respeitando. Sendo assim conquistando nossa atenção tornando-os encantados pelo sopro de tua magia, pelo toque de teu axé.
“Não há nada como a liberdade.” (Nelson Mandela)
Modupé.
Dayane, Adorei este texto… Muito esclarecedor para uma abiã recente e que era do meio Evangelico.
Gosto muito do blog pois as vezes as pessoas não tem paciência, ou não sabem explicar as coisas direto e eu por não conhecer nada, fico quase sempre confusa rsrs, mas vcs são claros e objetivos e sempre nos esclarecem…
Muito obrigado a todos vcs do site… Que minha mãe Iemanjá ilumine cada dia mais essas cabeças que tanto nos auxiliam.
Agora, só uma perguntinha para não perder o costume, rs
Qual a visão do candomblé sobre o pós morte???
Nós morremos e acabou ou existe algum tipo de vida após a morte.
Existe céu e inferno ou isso também só existe na concepção cristã?
No candomblé existe reencarnação????
Sei que essas perguntas não são pertinentes a esse post…
Porém perguntei a uma irmã da casa que frequento e ouvi a Singela resposta: “Eu ainda não morri, como é q eu vou saber?”
Espero que vcs possame tirar mais essa duvida
Axé.
Adorei o texto, mas tenho muitas duvidas hoje tenho 40 anos iniciei aos 15 anos na umbanda, depois devido a morte da mãe de santo fui para o camdonble, minha vida corria as mil maravilhas, Conversava muito com eles, todas as noites apareciam para mim, enquanto eu trabalhava e tinha dinheiro para agradar os orixas, perdi o emprego, sem entender nunca mais consegui entrar na casa que frequentava e não encontrei mais nenhuma para ir, perdi tudo o que tinha marido, casa, hoje vivo literalmente na miseria, vespera de natal ainda não paguei o aluguel que venceu no dia primeiro., to doente pressão altissíma, goooooooorda dos nervos, tenho dois filhos. Fora outras coisas que eu posso expor aqui. Agora minha intuição desapareceu os orixas não aparecem mais, parece que estou cega, não vejo não escuto nada. Minha dúvida é quanto eu dava comida para os orixas minha vida ia bem, agora que não posso frenquentar uma casa de santo, não tenho dinheiro para nada, cadê os orixas???? será que me fizeram alguma coisa, será que o mal é tão mais forte que os meus orixas que eu sempre cuidei quando eu podia financeiramente falando, uma casa de santo.
O que eu faço, por favor
Me lembrei de uma coisa, a mãe de santo me dizia sempre para colocar nomes debaixo de uma pedra no quintal e fazia uma ritual, sempre era eu que fazia pois ela dizia que os santos que eu tinha era a unica que poder para fazer aquilo. O curioso é como se tudo o que eu aprendi na casa incluvi este que eu que fazia todos os dias eu não consigo me lembrar é como se tudo tivesse sido apagado da minha mente. è possível?? o que se passa??
é por isso que eu fico intrigada, a mãe de santo está viva, porque uma amiga minha a viu na rua com a filha dela. È como se esse tempo da minha vida não tivesse existido, pois eu não consigo me lembrar de nenhum ritual nem para me ajudar., to desesperada pelos meus filhos, que são pequenos e NÃO tem que pagar pelos os meus erros.
Alguém me esclarece, por favor
Desesperada, troque este nome, para começar a atrair coisa boas para vc.
Primeiramente vc deve entender o que está se passando com vc.
Tem um texto em minha foto chamado Eewo. Leia reflita e vamos conversar mais.
Ire o.
Caboclo,
Muito obrigada pelas suas sempre tão bem colocadas palavras.
Axé!
Angélica,
A “singela” rs resposta da sua irmã traduz mais ou menos como a maioria dos candomblecistas veem a morte.
Nós acreditamos na vida após a morte sim, pois temos o culto à egun que denota nosso imenso respeito à nossa ancestralidade que partiu.
A diferença é que a visão de céu, inferno, umbrau, etc não existem na nossa concepção. Brindamos a vida e fazemos que ela renda sempre bons frutos para nós e para os nossos possíveis decendentes aqui na terra. Quando morremos nosso egun vai se juntar à sua ancestralidade e a energia que temos do nosso orixá retorna ao Orun à sua “matriz”.
Axé!
Dayane
Agradeço sua resposta
Oi ..bom dia …gostaria de pedir ajuda ..pois quebrei meu kelê e gostaria muito de saber o que posso fazer para me redimir perante meu pai e meu orixá …
espero ensiosa sua resposta
Laura, jáera para vc estar aos pés de seu òrìsá e de seu pai. Os motivos são seus e não nos interessa discuti-los.
Procure seu pai hj mesmo e converse com ele.
Ire o.
Meus respeitos aos mais velhos, aos mais novos!
Dayane, muito bom o texto, poético mesmo, nos faz pensar…
Essa idéia do pecado é ainda anterior ao cristianismo, vêm da lei mosaica, do antigo testamento dos judeus, e como bem sabemos, uma das maneiras de expiar os pecados era justamente através de sacrifícios (o que, pensando em uma cultura materialista, dispôr de um animal em uma terra árida e pouco produtiva era um prejuízo enorme), orações, jejuns, lembrando que na realidade, o que motivava a busca desta retratação diante de Deus era apenas o receio de retaliações, era uma espécie de desagravo para evitar castigos. Já nos evangelhos, encontramos um Cristo que trás a mensagem do amor, aliás, o único “mandamento” que ele deixa é o de “amar a Deus e ao próximo como a si mesmo – nisto está contido toda a lei e os profetas”.
Agora lembremos que Cristo, a propósito, foi crucificado justamente por defender adúlteras, prostitutas, cobradores de impostos, pessoas que estavam a margem da sociedade naquela época (assim como o Candomblé sempre foi reconhecido como uma religião que não discrimina ninguém) ou seja, vai de encontro ao conceito que você bem explorou no texto: “Apenas somos humanos, uma mistura de vícios e virtudes que anda pelas ruas, trabalha, estuda, ama, deseja, busca, ri, chora, vive…”. Ele não julga, não condena, pelo contrário, apenas orienta que os erros e as falhas dos semelhantes sejam perdoados. Porém foi um incômodo muito grande para as classes dominantes, principalmente as sacerdotais que arquitetaram um meio de silencia-lo por trazer essa mensagem de “Liberdade”, condenando velhos conceitos e valores equivocados, mensagem similar a de Buda 500 anos antes que defende a ruptura dos sistemas de castas na Índia e principalmente, estimula a compaixão.
Evidentemente que tivemos toda uma idade média para obscurecer os conceitos originais do cristianismo, e o que é de se pasmar, utilizar de uma maneira pervertida esses conceitos manipulando o povo e cometendo as maiores atrocidades: cruzadas, inquisição, a escravidão de diversos povos, e até mesmo atualmente, manipulam os incautos ainda em alianças políticas ou com objetivos puramente mercantis em religiões mais modernas (que inclusive, muitas vezes, tem enquanto estratégia para arrecadar mais “colaboradores” criticar ou referir inverdades em relação as religiões de matriz Afro, mas sigamos adiante, pois estamos refletindo sobre o conceito de pecado e não sobre religião).
Em um primeiro momento naquela cultura, há um Deus duro, belicoso, exigente, que contempla com benefícios aqueles que seguem “seus mandamentos” e castiga aqueles que falham (os pecadores). Em um segundo momento nessa mesma cultura a mensagem muda, ao invés do castigo, a possibilidade do perdão. Quanto aos benefícios, já não são de ordem material, acúmulos de riquezas, “Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. O benefício maior é a paz interior, a paz de espírito.
Creio que possa ser essa a essência plantada por Olodumare em nossos corações, vivermos o presente, aceitar que acertamos, que erramos, procurando, é claro, estarmos sempre conscientes, mas sem medos ou preocupações excessivas, confiando em Deus, divindades que são a mais pura manifestação desse mesmo Deus, Consciência Cósmica, vivermos como nossos ancestrais, o dia a dia, confiando nessa providência Divina e sabedores que como herdeiros diretos, nada nos falta ou faltará, porém devemos estar atentos para que não venhamos a agir como na antiga dispensação, não nos igualemos a antiga cultura judaica de agradarmos as divindades em busca de benefícios, favorecimentos em nosso culto. Temos que tomar cuidado com a pretensão de achar que Orixá está aí para nos atender, nos servir em troca de oferendas, que Orixá precisa ser “agradado” para não nos castigar, como dizia-se antigamente, “não nos dar uma surra”, pois seria uma visão equivocada, e arriscaria dizer mais, até mesmo mesquinha, egocêntrica e talvez ingênua, tentar manipular ao bel prazer uma energia sagrada e tão pura.
É excelente a colocação do Sr. Da Ilha e devemos prestar atenção: “O Culto de òrìsa no ocidente tende a ver o indivíduo como alguém que está sempre em perigo de “loucura” frente ao òrìsá. Como resultado, o processo para evitar a ira do òrìsá é regularmente fazer oferendas em um esforço para mantê-los “feliz” (e se livrar do pecado). Porque o òrìsá representa forças poderosas da natureza, é difícil imaginar o oceano, o fogo, o ar ou a terra irritados com as ações específicas de qualquer indivíduo.”
Ou seja, assim como Deus não é o velhinho de barba branca no céu nos julgando e condenando pelos nossos pecados, assim também não devemos ter uma visão antropomórfica dos Orixás. Toda a mítica, em qualquer sistema religioso é a base de um simbolismo para que possamos tentar compreender minimamente através de idéias aproximadas um sistema metafisico que está além da nossa capacidade racional e ordinária (principalmente os ocidentais com os conceitos cartesianos/newtonianos). Seja na bíblia, alcorão, mitologia hindu, chinesa, ou em nosso caso, a mitologia africana, devemos ter discernimento para extrair o conceito, procurar entender que está no cerne dessa tradição, ir além do superficial, do aparente, do exotérico para chegar-se ao esotérico. Parafraseando novamente o Sr. Da Ilha: ” Ifá ensina que o mundo é um sistema equilibrado, que trabalha com seu sistema de orientação interna que mantém a harmonia e o crescimento. É da responsabilidade de cada indivíduo entender esta ordem interna e depois viver de acordo com seus princípios subjacentes. (o respeito a suas interdições que afetarão o seu equilíbrio)”.
Ação e reação?
Atenção: “É da responsabilidade de cada indivíduo entender esta ordem interna e depois viver de acordo com seus princípios subjacentes”.
Percebamos, é da responsabilidade de cada um vivenciar de maneira plena a própria religiosidade (independente da religião), de forma correta, coerente, aprendendo com os itans, refletindo sobre a mensagem em cada história dos mais velhos, em cada café na cozinha da roça, em cada cantiga, nas características míticas dos Orixás, desprendendo-se de medos, receios, preconceitos e limitações!
Em meu ponto de vista, o único pecado em qualquer religião é apenas a ignorância, a falta de entendimento e a desinformação!
Ase o!
Leo, concordo plenamente, sendo que o erros de sua vida no ayè, serão computados em sua ‘folha corrida’, rs.
A evolução espiritual vai usar estes dados para que o Onibodè de encaminhamento a este espirito no òrun.
Isto é uma revelação para aqueles que acreditam em atunwá (reencarnação do espirito, para que a evolução não pare) e façam uma reflexão de seus atos e comportamento tereno.
Olodumarè em suas escrituras sagradas, código de Ifá e seus odus, nos deixa vários recados sobre o tema.
No Odu Iká’fun vamos encontrar várias informações sobre este tópico. (materia já postada aqui no blog).
Onon rere o.
oiii quebrei meu kele …o q faço?
meu orixá poderá me perdoar ou serei eternamente castigado?
detalhe ..meu pai nao quer me receber e tbm nao quer falar sobre isso uk faço?
Laurah, o que é quebrar o kele?
Vc cometeu um ato que dasabone a sua conduta perante o òrìsá?
EU sinceramente lhe pergunto, será que vc não sabia que teria que passar por tudo isto?
Será que vc achou que a benevolencia de um òrìsá chegaria ao extremo de ‘fingir’ que não viu nada?
Laurah, vc quebrou o maior dos tabús referentes ao òrìsá, não precisava, não é nehum bicho de 7 cabeças guardar seu corpo e sua mente, por um período tão curto.
Não sou seu zelador, mas apoio a atitude tomada por ele. Se vc quebrou o kelè, agora assuma seus atos, òrìsá não vai lhe matar, lhe dificultar a vida ou fazer algo que lhe prejudique. Apenas ele irá lhe virar as costas, toda obra que estava reservada para o seu caminho será abandonada.
Infelizmente vc procurou e achou, não se brinca com o sagrado e o invisivel.
Que lhe sirva de lição para toda sua vida.
Laurah, o que tem que fazer é se jogar aos pés dele e pedir muita misericordia.
Dayane,
Esse texto sobre o pecado e o candomblé é esplendido. Sempre quando posso uso esse site/blog como fonte de pesquisa e estudo, recomendo á todos que conheço. É gratificante observar que dentro da nossa religião existem pessoas inteligentes como você e seus colegas. Enfim, parabéns por esse texto que quebra esse tabú sobre o pecado, os cristãos e o candomblé.
Axé!
Thiago de Oxum
Faço somente uma ressalva sobre a expressão pecado empregada no texto:
O pecado é católico, não cristão, uma vez que a leitura e ensinamentos sobre o pecado foram moldados na filosofia da doutrina católica romana. Para o Cristo a palavra pecado tem o significado de “erro”, por isso Disse: “Quem não tiver “pecados” atire a primeira pedra. Leia-se na palavra entre haspas, ERRO.
Enquanto não temos consciencia de que algo é errado, continuamos no erro. Ou pecando. Axé!
Ola meu kele caiu so antes do tempo estipulado, a palha da costa ficou podre e quebrou so, mas continuei com o resguardo, sera com isso o Orixa me dara as costas. Por favor preciso de uma resposta urgente.
Grato
Claudio,
Nesses casos você não deve procurar ninguém que não seja sua zeladora e falar com ela sobre o ocorrido. Procure-a. 🙂
Axé.