O Abìyán
O Abiyan é toda pessoa que depois de fazer uma consulta através dos búzios com o Babalorixá ou Iyalorixá, tenha tomado no mínimo um Obí e tenha um fio de contas lavado de Oxalá.
O procedimento e comportamentos básicos de um Abiyan.
. Estar vestido de branco principalmente se a casa for de Oxalá; ressaltando que:
– Para os homens – calçolão branco e camiseta branca;
– Mulheres – saia/camisú branco;
. Ao chegar à casa, ir direto beber um copo d’água para esfriar o corpo da rua, sem fazer paradas e evitar qualquer conversa.
. Tomar seu banho de ervas e colocar sua roupa de ração descrita acima;
. Bater a cabeça no Axé, na porta dos quartos de Santo; para o Babá/Iyá, “trocar” à benção com TODOS os seus irmãos, sendo por ordem hierárquica (dos mais velhos aos mais novos), de acordo com a ordem iniciada.
. Perguntar ao Babá/Iyá, sobre a função que deverá fazer na Casa; muitas vezes por ordem do Babá/Iyá, as funções podem ser determinadas pelas Ajoiês (Ekédi) da Casa.
. O Abiyan deverá fazer suas refeições sentadas na ení (esteira), e assim que terminarem, deverão levantar as mesmas e guardá-las; não devem colocar os pés calçados nas enís;
. O Abiyan somente poderá dormir em ení, caso se faça necessário terá a autorização do Babá/Iyá, para dormir nos quartos dos Orisás;
. O Abiyan ao levantar não deve falar com ninguém, deve antes beber um pouco de água; isso é para apagar os vestígios ou traços negativos provocados pelo mau hálito.
. O Abiyan não deve ocultar do Babá/Iyá qualquer tipo de dúvida, problema e mal entendido.
. O Abiyan não deve fumar na frente de seu Babá/Iyá e tão pouco tomar bebidas alcoólicas.
. O Abiyan nunca fica de pé em frente ao Babá/Iyá e sim agachado, com a cabeça baixa.
. O Abiyan nunca interrompe o Babá/Iyá quando estiver conversando com alguém. Quando tiver visita no barracão (egbomis, ekedis, ogãs, zeladores), seja em dia de festa ou em dia corriqueiro, é correto que os filhos se abaixem próximo a ele para dirigir a palavra. Diz então: AGÔ (Licença) e esperar ele dizer AGÔ YA, e de cabeça baixa, falar com ele em tom de voz baixa.
. O Abiyan não deve passar pelo o Babá/Iyá com a cabeça erguida, e sim um pouco curvado para frente. Sempre que for servir o Babá/Iyá, deve-se levar o pedido numa bandeja ou prato e abaixar-se para servir.
. O Abiyan não pode usar jóias, brincos e bijuterias.
. O Abiyan só deverá entrar nas rodas de Xirê se forem chamados pelo Baba/Iyalorixá.
. O Abiyan tem suas funções na casa relacionadas à limpeza e manutenção, salvo se for um Abiyan antigo e de confiança com Orixá assentado, poderá exercer outras funções.
. O Abiyan não tem Orixá definido ainda, por isso é denominado um Abiyan (aquele que está começando em um novo caminho)
. O Abiyan deverá sempre pedir Agô para entrar e sair de cada ambiente do terreiro e esperar a resposta, Agô ya.
. O Abiyan só poderá ir embora com autorização do Baba/Iyalorixá.
. O Abiyan não questiona rituais litúrgicos de sua casa, respeita a hierarquia e se coloca sempre no seu lugar.
. O Abiyan deve aproveitar o máximo esse período de aprendizado, humildade e retidão, pois é nesse momento que irão refletir quanto a futura iniciação, as responsabilidades do que é ser um iniciado, um Iyawó.
A Vivência no axé, a disciplina, observar o comportamento dos mais velhos, ser verdadeiro com seus sentimentos para com o Orixá, estar despojado de vaidades, e entender que o mais importante não é “fazer o santo e sim saber o porque de se iniciar para o santo”. Não há pressa para iniciação, Orixá entende e nos concede essa oportunidade de aperfeiçoamento e adaptação, salvo as raras exceções
Ser um bom Abiyan é estar se preparando para no futuro ser um bom Iyawó.
Obs: O Abiyan pode a qualquer tempo desistir da frequentar a Casa de santo, não incidindo qualquer tipo de responsabilidade.
O Ìyáwó
Para ser um ìyáwó, palavra de origem yoruba, é a denominação dos iniciados para Orixá que levam o Adôxú, portando passando a ser sacralizados, popularmente chamamos de “Feito no Santo”.
Os preceitos são diversos para um Iyawo, assim como sua responsabilidade cresce perante a sua Casa. Aprendeu a ser um abiyan e levará esse aprendizado para sempre em sua rotina.
Ressalto que um Iyawo, será sempre um Iyawo, independente de ter algum cargo ou posto futuro. É importante também, fazer a observação que nem todo Iyawo possuirá um cargo ou posto*, não deixando de fazer suas obrigações espirituais por este motivo.
* Cargo e/ou posto, não é uma escolha deliberada pelo Babá/Iyá; cargo e/ou posto, está no caminho de cada um, salvo quando a casa cria cargos transitórios e específicos pelo seu zelador.
Além de manter os direitos e deveres do Abiyan, Abaixo, resumo algumas normas que o iyawo deverá ter e manter na sua Casa de candomblé.
. O Iyawo, manterá seus 16 fios de conta de cada Orixá no pescoço, toda vez que estiverem na Casa, assim como o mokan (símbolo do Iyawo), até sua obrigação de 7 anos, podendo ter o delogun de seu Orixá na obrigação de 3 anos. O contra-egun, é retirado pelo Babá/Iyá, após o preceito de 3 meses, após a iniciação.
O Iyawo, deverá dormir sempre em sua ení; suas refeições deverão ser servidas em prato de ágata e bebida na caneca de ágata; usar roupas brancas neste período. (Existem casas antigas que mantém essa tradição para sempre)
O Iyawo feminino deverá estar sempre de O Ojá ( pano de cabeça)e tirá-lo quando for dar adobále ou Iká e pano da costa.
O Iyawo não deve entrar em cemitério, só em casos muito especiais, assim mesmo com a cabeça coberta, fio de contas e contra-egun. E somente com a permissão do Babá/Iyá.
O Iyawo não deve entrar em hospital, matadouro, etc, só em casos especiais, assim mesmo com a cabeça coberta. Somente com a permissão do Babá/Iyá.
O Iyawo não deve impor seus desejos, nem mesmo entre os irmãos de barco, evitar conflitos falando sempre com seu Jibonã ou Iransé.
O Iyawo para sempre respeitará sua raiz e seus mais velhos (avós, tios, primos, irmãos mais velhos), manter a hierarquia é respeitar e dar segmento a seu axé e principalmente a sua religião.
O Iyawo não deve tornar publico as coisas que delas participarem em caráter de segredo na Casa de Santo
O Iyawo não deve menosprezar os outros e nem se colocar em falso pedestal de autossuficiente, e sim ser humilde.
O Iyawo nunca, jamais, em tempo ou hipótese alguma, seja no seu barracão ou no barracão do alheio, deve-se sentar na mesma altura que do Babá/Iyá. Ele já passou por vários sacrifícios para estar sentado confortavelmente ali. Você ainda está no meio do caminho. Mesmo que o dono da Casa chame, cabe a você recusar.
O Iyawo não deve ocultar para o Babá/Iyá algum problema que possa aparecer na Casa e demais membros.
O iyawo não deve falar mal da sua Casa ou de casas co-irmãs.
O Iyawo deve evitar participar de grupinhos, mexericos, fofocas.
Todo Abiyan, Iyawo, Ogan, Ajoie, Egbomi, tem que entender que estão na religião por quererem praticar a religiosidade, pois somos uma Religião com: Dogmas, Teologia e Liturgia.
Devemos todos ter o comprometimento com a Casa, após alguma festividade interna ou não, de deixarmos tudo em ordem, arrumado e limpo, pois com contribuição de todos, fica muito mais fácil a organização administrativa da casa, pois o Ilé Àse é sua segunda Casa.
É bom lembrarmos que esta disponibilidade, não é somente para quem está se iniciando e sim para todos.
Obs: Esses direitos e deveres cabem a minha Casa e naquilo que aprendi nas Casas de Axé dos meus Egbomis.
Texto: Bàbálorìsá Fernando D’Òsògíyán – Ilé Àse Òsòlúfón Íwìn
Colaboração: Ìyá Kékeré Mônica D’Òsóòsì – Ilé Àse Òsòlúfón Íwìn
Foto: Carybé
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[…] via Nação Ketu/Nagô: Seus Deveres e Responsabilidades — Candomblé […]
Parabéns, uma aula de ensinamentos, que não devem ser ocultados em nenhum barracão, o Camdomblé precisa de respeito, de dentro pra fora.
Boa tarde a todos do blog.
Lendo este texto, fez me lembrar que há exatamente 5 anos atrás me iniciei para orixá e devido algumas tristezas, não mais voltei. Hoje, minhas obrigações estão atrasadas desde o primeiro ano e assim sucessivamente. A vida deu inúmeras voltas, não estou em nenhum terreiro, deixando a vida seguir seu fluxo. A minha duvida seria em como meu orixá se sente em relação a isso tudo? Está satisfeito ou me deixa em livre arbítrio? Minha vida está tomando um bom rumo, bem diferente do que eu imaginava ou esperava, mas ainda assim me preocupo com os votos da iniciação.
Gostaria de uma orientação e palavras sobre o assunto.
Abraços
Lua pode parecer estranho, mas, o òrìsà não está preso a esse tipo de sentimento. Òrìsà é uma energia que permite ao iniciado chegar a ela, dependendo de vários fatores (não basta ser iniciado), quando deixamos de cuidar dessa energia, que pensamos estar presa dentro de um assentamento, o elo se rompe, a antena catalizadora (nosso assentamento) já não tem tanta importância, podemos dizer que ele perdeu seu encanto (mas, pode ser reativado). O que de pior pode acontecer é em relação ao nosso destino, com a energia de nosso òrìsà nos ajudando a seguir o caminho poderíamos estar muito mais fortes e protegidos, sem contar as portas que deveriam ser abertas durante nossa vida. Mas, não se desespere, se você realmente quiser retornar a vida espiritual, venha por inteiro, decidida, com pensamento firme e norteada, aí sim, você estará pronta para o convívio junto ao sagrado.
Que as bençãos venham até você.
Ire alafia
Olá, boa tarde. Gostaria de partilhar uma experiência com vcs. Há algum tempo estou afastado da religião, por alguns motivos que prefiro não expor aqui. O fato é que desde então, sinto falta de uma maior aproximação entre mim e meu orixá (Oxóssi). Ontem, dia dele, estava muito angustiado. Acendi uma vela para Exu (orisa), pedindo para que ele abrisse os portais da comunicação, facilitando o contato entre mim e meu pai. Tb acendi uma vela para Oxóssi, fazendo as preces necessárias, implorando para que o mesmo me desse um sinal de que ainda estava comigo e que não havia me abandonado como eu pensava. Pois bem, durante o sono, tive um sonho, onde eu estava em casa com minha mãe e minha tia. Em determinado momento, entrava um animal de grande porte. Não sei dizer ao certo qual era, mas era tipo um leopardo, ou uma onça. No sonho, minha mãe e minha tia o alimentavam, enquanto eu sentia medo por ser um animal feroz. Talvez eu esteja enganado, mas acordei com a convicção de que está foi a forma que Oxóssi escolheu para atender meu pedido, e mostrar que apesar de tudo ele ainda me ouve e continua comigo.
Ase.
Linda matéria esclarecedora..tenho muita vontade de iniciar ,aprender e levar o candomblé pra frente e ter orgulho de fazer parte dessa cultura tão maravilhosa..
É só voltar e busco um ilê !!!
Qm sabe alguma Ialarorixá/Babalorixá
Me recebe e eu me inicie …apalusos a vcs
Zé,
Podemos indicar algumas boas casas para você conhecer, de que estado e cidade você é?
Axé.