Orixá regente
Este é um artigo que possui objetivo esclarecedor. Tentarei tornar compreensível um assunto que surge todo princípio de ano. A imprensa faz reportagens e as pessoas indagam umas as outras ou perguntam a si mesmas sobre o orixá que influenciará o novo ano que surge. Fazem isso na tentativa de adivinhas o que é preciso ser divinado. Adivinhar é fazer conjecturas sobre um tema usando a intuição, o que todo ser humano pode fazer. Divinar, todavia, é entrar em comunicação com o sagrado, através de rituais guiados por sacerdotes. É claro que todo ser vivo, por possuir uma parcela divina, é capaz de se conectar com os deuses. Mas a utilização de oráculos, os quais fornecem informações mais precisas sobre o destino da comunidade, requer uma preparação especial e um estilo de vida que propicia à intuição inerente a todos apresentar-se de maneira muito mais clara. A intuição se transforma aqui em revelação: quando os véus que encobrem os mistérios são retirados pelos deuses, a fim de que nossa jornada aconteça de uma maneira orientada e, assim, possamos cumprir a tarefa que nos foi legada com o mínimo de percalços possível, o que torna a vida bem mais leve.
Os leitores acostumados com os artigos que escrevo poderão estranhar a formalidade deste texto. É que “há tempo para tudo”: para contar anedotas, falar poesias, refletir sobre a vida… Esse tema pede seriedade! Faço isso porque creio ser a imprensa o meio ideal para esclarecer assuntos, que só não só melhor comentados por falta de oportunidade e conhecimento. Tendo agora esta oportunidade que me é dada pelo jornal A TARDE, não quero desperdiçá-la. Mesmo tendo eu a consciência de que nada se modifica de um dia para o outro, aproveitarei o momento para tentar fazer com que a população melhor compreenda as respostas do oráculo trazido pelos africanos para o Brasil, esperando que as sementes aqui jogadas possam um dia florescer e dar bons frutos.
A pergunta correta não é qual o orixá que rege o ano e, sim, qual o orixá que rege o ano para aquelas pessoas que cultuam as divindades e estão vinculadas à comunidade em que o jogo de búzios foi utilizado. Se isso não for bem esclarecido e, consequentemente, bem compreendido, parece que todos os sacerdotes erram em suas respostas, uma vez que uma iyalorixá diz que o orixá do ano é Iyemanjá, enquanto outra diz que é Oxum, ou um babalorixá diz que é Oxossi. Mesmo correndo o risco de o texto ficar enfadonho, insistirei em alguns pontos, a fim de elucidá-los melhor. No nosso terreiro, o Ilê Axé Opô Afonjá, o regente do ano 2012 é Xangô. A referida divindade, que se revelou no jogo feito por mim, não esta comandando o mundo inteiro, nem mesmo o Brasil ou a Bahia. Ela é o guia das pessoas que, de uma maneira ou outra (mais profunda – como é o caso dos iniciados; ou mais superficial – os devotos que freqüentam a “Casa”), estão vinculadas a mim enquanto iyalorixá, ou ao terreiro em questão.
O leitor, diante dessa explicação, poderá ficar confuso e sentir necessidade de perguntar: “E eu, que não cultuo orixá e não tenho relação com o candomblé, não serei orientado nem protegido por nenhuma divindade?” A resposta é: “Claro que sim! Por aquela que você cultua ou acredita”. Um católico, ou um protestante será guiado pelos ensinamentos de Jesus; um budista, pelas sábias orientações de Buda… Outra pergunta ainda poderá surgir: “E quanto às pessoas que não são religiosas, elas ficarão à toa?”. Não, é claro que não. Essas serão guiadas e orientadas pela natureza, que é a presença concreta do Deus abstrato. Seus instintos, protegidos por suas cabeças e corações, conduzirão suas vidas de modo que seus passos sigam sempre na direção correta.
Que Xangô – divindade da eloquência, da estratégia, do fogo que produz o movimento necessário a todo tipo de prosperidade – possa receber, de meus filhos espirituais, cultos suficientes para que fortalecido possa torná-los cada vez mais fortes para enfrentar as intempéries que todo ano traz consigo. Obrigada, Ano Velho, pelas experiências passadas para o Ano Novo.
Maria Stella de Azevedo Santos
Iyalorixá de Ilê Axé Opô Afonjá
Jornal A TARDE 04/01/2012
Amigos,
Republiquei este post pois acho muito esclarecedor e enriquecedor aos leitores do nosso blog.
Feliz 2018 !
Axé.
[…] via Orixá regente — Candomblé […]
Olha Babá, por coincidência, este texto chegou bem na hora em que estavamos ao telefone!
Obatalá nos abençoe sempre! ________________________________
Perfeito e oportuno!
Não conhecia o texto. Mas tinha essa idéia na minha cabeça. Grata pela informação. Valéria.
Estimulante!
Fantástico. Uma perfeita explicação. Adorei. Peço permissão para publicar no meu blog e página no facebook.
Axé
Crônicas,
Sem problemas, apenas de o crédito, ok?
Feliz 2018!
Axé.
Babá Fernando, quais caminhos de orixás não são feitos em Ori feminino?
Paulo,
É um assunto que gera muita controvérsia! Certa vez respondi que era Exú e recebi até emials de mulheres se dizendo feitas de Exú. Prefiro então entender que não há restrição quanto ao ori feminino, se é que me entende.
Axé.
Mestre babaorixa o texto esta muito bem escrito e compliendido, obrigada pelo esclarecimento ,mais quero perguntar te mestre outro assunto agora encorporo e paresse que não to encorporada vejo tudo ,mais não tenho dominho dos meus membros ou do que pensa ,os pensamentos se mistura ,ja cheguei a pensa que não incorporo e nada pai to confusa me ajude ,estou triste demais,obrigada espero sua resposta.
Babá Fernando, compreendo o que quis dizer. Realmente as vezes, é mais sensato não expor aquilo que aprendemos, para não gerar constrangimentos desnecessários. Sua benção!
Baba Fernando, Exu não pode ser feito ou não pode ser dono do Ori feminino? Essa pergunta claro, ainda levando em conta as casas que fazem Exu em homem.
Pra espantar discórdia, pergunta direcionada a sua casa e não ao candomblé inteiro.
Asé
Eu vou aproveitar o ensejo do tema pra deixar mais uma pergunta. Outro dia num grupo de debates sobre candomblé eu vi uma discussão acirradíssima sobre isso.
O tema era mulher ser feita em Ogum, eu conheço uma feita inclusive, amiga minha e muitíssimo devota, mas parece que não é comum fazê-lo. Porque?
No meio da discussão citaram mulheres importantes para o candomblé feitas em Ogum, bem como bons motivos para não fazê-lo em um Ori feminino. Eu fiquei bem quieta porque a briga ali era de peixe grande e estava bem quente pra eu ir lá perguntar qualquer coisa.
Chegou a surgir o caso de um homem iniciado em Nanã e daí foi o estopim pra discussão pegar fogo de vez.
Eu vou fazer mais uma pergunta e deixo em aberto pra quem quiser responder. Se chega um homem na sua casa e o jogo indica Nanã como dona do Ori, ou outro exemplo uma mulher de 50 anos e dezenove divórcios e o jogo indica Ewa. Como que soluciona uma situação dessas?
Asé!
mestre babaorixa Paulo estou a espera de sua resposta anciosa
Fernanda,
Exú pode ser dono de Ori feminino e masculino, e temos milhares por aí, algumas casas entendem que podem iniciá-los, já outras casas entendem que não se inciam e argumentam que outros Orixás tomam a frente na iniciação.
Axé.
Fernanda,
Isso é muito simples de responder, entenda que podemos nascer para um Orixá e nos iniciarmos para outro, é o caso de Exú, Ewá, Nanã e vários outros Orixás. Caberá ao Zelador ter sabedoria, experiência, entender a ciência de um Ori e dos Odús.
Axé.
Entendi Baba, muito obrigada, asé!