Que nossa musicalidade sagrada já tem extrapolado os muros das casas de axé nós já estamos cansadas e cansados de saber e de ouvir. Sua utilização para outros fins sempre foi alvo de críticas e polêmicas no meio religioso, mas, longe de discutir opiniões, o que eu me propus hoje foi trazer exemplos de belos, lindíssimos e inspiradores trabalhos musicais que utilizam em seus arranjos elementos de nossas musicalidades de forma enfática ou auxiliar.
Eu não entendo de arranjo, de crítica musical ou qualquer coisa do gênero, apenas sei dizer “gostei” ou “não gostei”. Por isso, trago para o blog alguns grupos que eu vim conhecendo e que tenho escutado nos últimos tempos para que quem não conhece também os conheça. Selecionei alguns nomes, procurei algumas palavras que falam sobre os grupos e links para vocês ouvirem as faixas de cada um.
Infelizmente esses grupos não veiculam muito (ou quase nada) nos grandes canais midiáticos e fazem o trabalho de divulgação pela internet usando também a contribuição de internautas que compartilham, disseminam, tiram a música da internet e levam para o seu dia a dia (como eu).
Espero que vocês gostem!
Abayomy Afrobeat Orquestra
“O repertório da orquestra formada por 13 integrantes é composto por composições próprias, releituras de músicas brasileiras e do Afrobeat, gênero musical criado pelo ativista nigeriano Fela Kuti.
A banda nasceu em outubro de 2009 para a primeira edição carioca do Fela Day, evento que celebra o nascimento de Fela Kuti, realizado simultaneamente em diversas cidades do mundo. Desde então, vem se destacando pela qualidade musical, com shows dançantes e vibrantes.
Abayomy é uma palavra da língua Yoruba plena de significados positivos, algo como “encontro feliz” ou “aquilo que nos dá prazer”. Afrobeat é um gênero musical e um movimento cultural criado por Fela Kuti, na Nigéria (África), nos anos 70, e tem como base a percussão africana, com ricas improvisações e identidade contemporânea, mesclando música Yoruba com jazz, highlife e funk, e uma marcante presença de vocais”. (http://www.overmundo.com.br/agenda/abayomy-afrobeat-orquestra)
LINK ~> https://www.youtube.com/watch?v=TN4jo-rpV
Xo
Guga Stroeter & Orquestra HB
“O álbum Xirê Reverb de Guga Stroeter e Orquestra HB debruça-se sobre a seqüência de canções devocionais que é praticada nos terreiros da nação Ketu, uma das mais tradicionais da Bahia. Além dos 3 tambores e do agogô, foram acrescidos instrumentos de sopro, contrabaixo, piano, vibrafone e recursos eletrônicos sintonizando esses cantos ancestrais – interpretados por Aloísio Menezes – com as sonoridades da música contemporânea.” (http://www.tratore.com.br/)
LINK ~> https://www.youtube.com/watch?v=u9I4UyBbMXc
Neste endereço estão as faixas do CD completo: https://soundcloud.com/guga-stroeter
Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz
“As raízes ritmicas afrobaianas observadas através da harmonia do jazz. Esta é a proposta musical do grupo Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz, a BigBand instrumental baiana de percussão e sopros.
Criada em 2006 pelo instrumentista Letieres Leite, a Rumpilezz é regida pela sensibilidade sonora e marcada pela influência do Jazz em sua construção harmônica. Suas composições, concebidas a partir das claves e desenhos rítmicos do Universo Percussivo Baiano, têm como referência histórico-musical as grandes agremiações percussivas como o Ilê Aiyê e Olodum, os Sambas do Recôncavo e o culto sagrado afrobaiano do Candomblé.” (http://rumpilezz.com/a-orkestra/rumpilezz/)
LINK ~> https://www.youtube.com/watch?v=kXjyilEmD_s
Grupo Bongar
“O Bongar é composto por seis jovens integrantes do terreiro Xambá do Quilombo do Portão do Gelo, em Olinda. O grupo foi fundado em 2001, com o propósito de levar aos palcos a tradicional festa do Coco da Xambá, que se realiza na comunidade há mais de 40 anos, no dia 29 de junho. O grupo Bongar tem um trabalho voltado para preservação e divulgação da cultura pernambucana. A formação musical dos integrantes tem origem no universo popular, especificamente da comunidade religiosa Xambá. O Bongar mostra em suas apresentações toda a musicalidade do Coco da Xambá, uma vertente desse ritmo tão presente no Nordeste do Brasil, além de ciranda, maracatu, candomblé, entre outros ritmos da cultura de raízes. O Bongar também realiza oficinas de percussão e dança popular, confecção de instrumentos, aulas-espetáculos e palestras. O público, através do show do Bongar terá a oportunidade de conhecer, não só a música e a dança deste coco tão peculiar, mas compreender a formação histórica e cultural desta Nação. O Bongar tem uma musicalidade muito forte de diversas influências musicais, vivenciadas nos cultos afro-brasileiros, principalmente da linhagem Xambá. Os integrantes do grupo herdaram toda essa musicalidade desde a infância, ouvindo os mais velhos e aprendendo com eles os toques, as loas e as danças, durante as festas da Casa Xambá”. (http://www.xamba.com.br/bon.html)
LINK ~>https://www.youtube.com/watch?v=kSZaP65FRBs
Grupo Korin Orisha
Korin Orishá é um grupo musical surgido em 2006 que em 2009 fez o lançamento do seu primeiro álbum, Suíte Afro-Recifense, com cânticos sagrados dos Orixás no culto nagô pernambucano.
“O resultado é um diálogo entre instrumentos de corda (violino, viola e violoncelo) e de sopro (flauta, clarineta e fagote), típicos de uma formação clássica, com sabor afro-brasileiro: tanto a percussão, por meio de atabaques do candomblé, abê e gongê, quanto o canto, preservado na língua iorubá, remetem à experiência musical e religiosa africana”, como diz a matéria de Luiz Fernando Moura, publicada no Jornal do Commercio (22/09/09).
“Herdamos uma tradição cultural dos africanos trazidos para o Brasil na época da escravidão. Temos que nos impor a missão de restaurar, reviver ou, pelo menos, não deixar morrer essa cultura”, explica o babalorixá do candomblé nagô, professor José Amaro Silva dos Santos (UFPE), regente, arranjador e produtor do grupo.
Com o resgate em mente, o Kori Orishá rodou 16 Estados brasileiros com patrocínio do Sesc. Passou por Acre, Amazonas, Roraima e Tocantins. No Sul, atravessou Paraná e Rio Grande do Sul. Entre vários shows pelo Nordeste, o grupo viajou por vários municípios pernambucanos e terminou a turnê no Rio de Janeiro somando um total de 42 apresentações.” (https://www.facebook.com/ogelawo?fref=nf)
LINK ~> https://www.youtube.com/watch?v=P7bv4SxbPiI
Alabê Ketujazz
“Alabê Ketu Jazz é um grupo musical que apresenta a percussão tradicional do candomblé da nação Ketu em uma roupagem jazzística.
As composições são diálogos da percussão com o saxofone, como no Candomblé dialoga o Rum (o atabaque que conduz o ritual) com o Orixá.
Alabê Ketu Jazz é o encontro do Jazz com a música tradicional do Candomblé, religião Afro brasileira.” (http://www.coletivobaoba.com/identidade-grafica-e-visual-da-banda-alabe-ketu-jazz/)
LINK ~> https://www.youtube.com/watch?v=t13f_Yj3i4g
Opanijé
Novidade do hip hop que vem de Salvador, o Opanijé disponibilizou seu disco de estreia na rede. Lançado no ano passado, o trabalho inova por trazer ritmos e referências da cultura afro dentro do rap.
A banda carrega a raiz africana já no nome. Opanijé, no candomblé, é um toque sagrado entoado para orixás e é tocado junto com uma comida chamada Obulajé. O termo vem do iorubá e quer dizer “aceitar comer”. A produção desse primeiro disco, que começou a ser gravado em 2011 e terminou ano passado, é de Andre T. O lançamento é do selo Garimpo Musical. (http://revistaogrito.ne10.uol.com.br/page/blog/2014/03/14/novidade-do-rap-baiano-opanije-mistura-hip-hop-e-cultura-afro/)
LINK ~> https://www.youtube.com/watch?v=NaRzqxLqtwU
Metá Metá
“Metá Metá – que significa três em um em iorubá – apresenta um repertório com várias canções inéditas, de compositores contemporâneos.
Descrição
O trio trabalha com a diversidade de gêneros musicais brasileiros, utilizando arranjos nus e econômicos que ressaltam elementos melódicos e signos da música de influência africana no mundo, explorando o silêncio e o contraponto, fugindo das ideias convencionais, seja nas características estéticas, ou seja, no modo alternativo de compartilhar a sua arte. No show, o trio chama ao palco os músicos Marcelo Cabral (baixo), Samba Ossalê (percussão) e Sérgio Machado (bacteria). Com a banda, Metá Metá revela o lado mais pulsante do cd, com grooves dançantes, e arranjos em que a polifonia explorada pelo trio se expande para dialogar agora com referências do rock, afrobeat e dos batuques brasileiros em geral.”
LINK ~> https://www.youtube.com/watch?v=4mT_fITFSz0
Grupo Abaçaí, Orquestra HB e Convidados : Agô! Cantos Sagrados de Brasil e Cuba
“Brasil e Cuba possuem praticamente as mesmas origens religiosas quando se pensa em África. Com o passar do tempo, a música sacra dos dois países correram paralelas (gerando cada qual sua expressão musical popular particular), mas sempre por caminhos tão diferentes que nos dias de hoje parece ser muito difícil encontrar uma conexão entre as duas culturas sem que o resultado sonoro resulte estranho em alguns momentos.
(…) O modo como se canta e se fala influencia de tal forma uma composição que há sutilezas que se manifestam ainda que de forma quase imperceptível, mas no resultado final da obra mostram traços indeléveis de formação e reconstrução das culturas humanas. Mas no geral, os músicos, das cordas, sopros, cantores e ritmistas – com a direção do grande Ari Colares – brasileiros e cubanos se encontram, na verdade, num grande xirê – uma celebração da música e das artes no retorno feliz a suas raízes ancestrais.” (http://discosbrasil2.blogspot.com.br/2010/10/grupo-abacai-orquestra-hb-e-convidados.html)
LINK ~> https://www.youtube.com/watch?v=fXdLIMBD-UY
(Fora estes, há tantos outros trabalhos que também são compostos nos moldes parecidos de alguns desses grupos citados: ainda temos Rita Benneditto com o seu famoso Tecnomacumba, Lucio Sanfilippo, Mariene de Castro etc. Os afoxés são detalhes à parte que mereciam um post somente para eles, dada a quantidade, história e beleza.)
Axé,
Dayane
Gente,
Assim como eu não entendo de crítica musical, não tenho a mínima noção de design. Dei o meu máximo pra tentar ficar um post enxuto e agradável, mas não ficou de uma forma bem apresentável visualmente porque, além das minhas inaptidões tecnológicas, há anos apanho das ferramentas do wordpress (mas insisto em tentar haha). 😉
Motumbá,
O conteudo é maravilhoso, Dayane. Alguns eu já conhecia, e os outros passei a conhecer(e gostar). Obrigado por compartilhar essas preciosidades.
Axé.
Ouvindo esta http://youtu.be/u9I4UyBbMXc e adorando. Não vejo a hora de conseguir ouvir tudo com calma e atenção. Valeu, Dayane! 🙂
Prezada Dayane eu já vi algo parecido nas mídias ninjas. Como sou músico – compositor e instrumentista, além de estudar toques dos candomblés, umbandas e etc… Os trabalhos q assistir são mts bons. Há trabalhos com instrumentos de sopros… algo formidável. Q pena q a mídia clássica não divulgam estes trabalhos. Das religiões de matrizes africanas o q for permitido sair para fora dos ilés tem q ser divulgado mesmo, sem perder o respeito devido, é lógico.
Axé!!!!!!!
Jefferson temos um compositor erudito em Juiz de Fora – MG, que compôs lindas musicas e as exibiu em diversas salas da Europa em homenagem a Òya, Òsún e outras.
Espaço existe sim, desde que exista coragem de exibi-los.
Ire
Pois é, Jefferson. O que a mídia clássica não mostra a internet, com o que tem de transgressora, leva para as pessoas. O que há de grandes novos artistas autenticos, novas obras reflexivas disseminadas na internet não está no gibi. As razões para essa tentativa de obscurecimento para mim são claras, a cultura de massa está aí para comprovar. Mas aos pouquinhos e com muita boa vontade a gente vai dispersando o que há de bom e que ainda tentam aprisionar em grupos distantes.
Estamos aqui pra isso, pra quebrar com a ordem estabelecida! 😉
Axé!
Oi Dayane, apresento um programa na Rádio Cultura FM de Brasília que trabalha a influência da religiosidade popular na música brasileira, e gostaria de conversar com você sobre a influência do tambor e do terreiro na música brasileira. Pode ser por telefone. Se houver interesse, por favor me responda no e-mail barracaodacultura@gmail.com .
Parabéns a toda a equipe pelo grandioso portal.
Forte abraço.
Oi Dayane,
gostei muito dessa postagem
gostaria de deixar aqui também um link que acabei de descobrir, uma página do youtube com discos raros de umbanda e candomblé. Espero que seja uma fonte de pesquisa e divertimento.
Um abraço, axé
https://www.youtube.com/channel/UC8eDzVxw60Qxm9jbk6wJt8A/videos