Todos nós sabemos – se não por experiência própria, por relatos – o quão difícil é a vida dos e das responsáveis por zelar orixá e cuidar religiosamente da vida de outras pessoas, filhos e filhas de santo. Eu no conversar da vida escuto muito sobre as dores de cabeça e aporrinhações gerais que acontecem dentro de um terreiro por causa de filhos de santo e o quanto zeladores e zeladoras colocam a mão na cabeça demonstrando que tal caminho, apesar de lindo, é tortuoso e exige o exercício e desenvolvimento de várias virtudes para cumprir aquilo que o Orixá determinou para suas vidas.
Porém, se por uma via nós vemos zeladores e zeladoras dedicados a entender e (tentar) ajudar nas complicações, questionamentos e confusões de filhos e filhas de santo (sim, é muito difícil, mas tem gente que tenta), por outra, percebemos outros que simplesmente parecem não valorizar a cuia que receberam e se colocam além do sagrado tornando-se eles autoridades tamanhas que mais se assemelham (ou ultrapassam) nossas próprias divindades. Às vezes, a minha impressão é que o orixá deixou de reger tais oris porque estes já se autoproclamam senhores e senhoras da verdade, de suas decisões e das decisões nos caminhos de filhas e filhos de santo. Decisões tais que muitas vezes por vir com autoritarismo e violência desrespeitam a pessoa alheia, o orixá alheio e as nossas “regras éticas”.
Penso a hierarquia como um sistema dentro da nossa religião crucial para o aprendizado do respeito e manter uma organização na casa de acordo com as nossas regras de comportamento, e não uma maneira de sobrepor pessoas umas sobre as outras de qualquer forma. Abians, Iyawôs e egbomis, apesar das idades, oyês e responsabilidades são antes de tudo pessoas que merecem respeito e bom tratamento.
Fico me perguntando os motivos desse desrespeito que vem de cima para baixo (na relação zelador/filho de santo) e de baixo pra cima (na relação zelador/orixá) acontecer com tanta frequência. A partir de qual momento esses zeladores e zeladoras esqueceram que são apenas canais, apenas a mão de obra do Orixá para se tornarem eles mesmos tão irresponsáveis com os outros e tão frios e suas atitudes?
Pensando no que poderia diminuir esses egos inflados, lembro de como as federações religiosas, se realmente funcionassem, poderiam interceder e enquadrar esses religiosos de alguma maneira com algum tipo de punição material, pois nós sabemos que notícias correm e a fama desses tipos de pessoas costumam ganhar o mundo e as praças, mas sempre terá alguém desavisado, alguém inocente que poderá se aproximar e ser mais uma vítima das irresponsabilidades e autoritarismos daquele que deveria contribuir para seu crescimento espiritual.
Não estou falando nada que não seja do conhecimento de muitos. Os próprios comentários neste blog, os constantes pedidos de ajuda demonstram que esse tipo de religioso asqueroso está presente em muitos lugares e magoando, desiludindo muitas pessoas.
Eu, particularmente, sempre fui voltada aqui no blog (e fora também) a escrever sobre tudo de lindo que a experiência religiosa me traz; sobre as sensações que a dança, os Orixás e o meu convívio causam em mim. Também sei pelos comentários que há gente que se identifica com o que eu escrevo e fico muito feliz com isso. Porém, como nada é perfeito em nenhum mundo, temos que conversar sobre o que nos incomoda também.
Axé.
Dayane Silva
O que eu mais gostei no seu texto é que ele é cru. Cru e sincero e um assunto que deve ser sempre debatido e abordado, nunca acobertado. Acho que vc fez isso de forma certa, expressou tudo da forma certa. A religião tem lados bons e ruins, como toda e qualquer religião, mas o Orixá é perfeito. O Orixá é soberano, ele sabe o que faz. Quem não sabe são os seres humanos. E não é com o Orixá que nós devemos nos desiludir, perder a esperança, ou se decepcionar na religião. São com as pessoas, pq pessoas são falhas, algumas escolhem falhar. Mas nunca o Orixá. E as consequências sempre chegam, hora ou outra, pq Orixá sabe o que faz.
Infelizmente você tem toda a razão. Esconder debaixo do tapete não resolve. Temos que reformular o pensamento de todos (zeladores, yaos, etc). Zelador é serviço e não status.
Triste é que não andamos todos com estrela na testa. Alguns, como humanos, escorregam no caminho, deixam que o ego, como se disse, infle, outros agem de má fé. Antes de deixar que se infle o ego, melhor sentir o peso da responsabilidade do cargo pois assim, enxergar-se-há o papel de canal entre os orixás e os humanos, para que o peso recoste-se sobre os orixás e não sobre os ombros dos homens imperfeitos.
E a desilusão com a religião é tão facilmente obtida por esses erros. Àquele que poco conhece, é confuso, justamente pela autoridade que o zelador ou zeladora mostra, saber o que é religião e o que é desmazelo no papel que se cumpre. Seu texto é mais que conveniente, servindo de alerta aos incautos para que não se afastem da religião por conta dos erros alheios e para zeladores, que de boa fé, se deixaram desviar da missão que lhes foi dada. Obrigada e bom final de semana.
Verdade.na minha opinão tem os que se omitem após manifestação de Orixá, e a pessoa passa a se sentir perdida e sem entender nada que está acontecendo. Aconteceu comigo. E tem algo que as Federações deveriam se manifestar : fatos macabros cometidos por psicóticos e charlatões que se auto-denominam pais de santo e viraram notícia na mídia.Não há quem se levante e diga: “isto é chartlatanismo” . Também procedimentos internos como ver mães de santo tratarem os filhos e pessoas da assistência com grosseria e por aí vai: nem todos acolhem as pessoas que procuram um terreiro ou barracão. E não temos a quem nos reportar. Excelente texto.
Boa tarde,
gostaria de expressar a minha satisfação em participar de um canal como este. Dayane, você está de parabéns por suas abordagens, sempre com muita sabedoria e equilíbrio.
Por favor, gostaria que falasse um pouco sobre a questão mercantilista que vêm tomando conta de nossa religião. É lamentável que o capitalismo esteja minando toda a energia ancestral que permeia o axé.
Um abraço a todos e muita luz!!!
Olá Dayane..
Eu estive lendo seu artigo e estou plenamente de acordo com suas palavras. Esse tipo de pessoa chega a tirar a fé de quem os procura. Pois quando vc descobre com que tipo de pessoa está se cuidando, vem a decepção e vc fica perdido e sem saber pra onde correr me entende. Você passa a ter medo de procurar novas ajudas e se deparar com o mesmo tipo de pessoa a qual vc já se decepcionou. Gostaria de saber o que os orixás acham de tudo isso. Se há alguma cobrança e que tipo. E pq os orixás permitem caiamos nessas mãos erradas. Como saber quando a pessoa está realmente interessada em ajudar. Peço que perca um tempinho e dedique-me um pouquinho de seu carinho, para me responder essas perguntas.
Meus agradecimentos. Abraços.
Date: Fri, 17 Oct 2014 22:06:25 +0000 To: sueligimenes25@hotmail.com
Dayane,
Parabéns pelo texto e abordagem de um assunto tão polêmico em nossa religião.
Porém, apresento minha visão particular e crítica que ressalta minha experiência dentro do culto, principalmente, no que tange à hierarquia.
Decerto, sabemos que a religião veio para o Brasil pela imigração compulsória dos escravos e, aqui chegando, o culto sofreu algumas alterações de forma adaptar-se à realidade nacional que diverge da praticada na origem, ou seja, nos países africanos. Desta feita, uma nova forma de culto surgiu denominada “Candomblé” com especificidades e características próprias. Neste contexto histórico, remontamos a escravidão como o mais puro exemplo da hierarquia, o “mando e desmando” dentro de um grupo social, sendo muito utilizada dentro da sociedade escravocrata e nas comunidades mais primitivas.
Contudo, vivemos um contexto histórico, econômico, político e social bem diferente das épocas apresentadas. Hoje, as pessoas possuem mais acesso à educação e a informação, logo, algumas delas possuem um caráter questionador sobre alguns conceitos e preceitos. Além disso, a filosofia de Ifá ultrapassa as barreiras, as fronteiras e está disponível para leigos, responsáveis por casas de culto africano e a quem se interessar pelo assunto. Ou seja, se você tem uma vontade real de se aprofundar, fatalmente, encontrará muito conteúdo disponível nacional e internacional sobre o tema. Basta apenas motivação (palavra oriunda do latim MOVERE, que significa mover para realizar determinada ação).
Portanto, há uma grande disfunção da hierarquia nos terreiros de candomblé, posto que a relação de superioridade não é garantia efetiva do conhecimento, da sabedoria e da ética, sendo muito mais fácil a dominação pela imposição da minha personalidade, da minha superioridade ou da minha função de representante dos Orisás neste planeta, bem como o conhecimento que eu possuo (ou não possuo). Desta feita, consigo sem muito esforço fazer valer a minha atuação como déspota perante aos demais, angariando a obediência de todos. Frequentemente, o Yawo se vê em situações que não tem suas respostas atendidas (e com a desculpa trivial de que não é a hora), suas críticas não são ouvidas, é obrigado a ver comportamentos deploráveis e levianos dos seus egbomis, pais/mães de santo que o ferem com a ausência de autocrítica e senso de moral (o iwa-pele, o bom caráter). Caso ele venha a declarar a sua insatisfação, correrá o risco de ser marginalizado e prejudicado no futuro.
A Hierarquia sempre existiu na sociedade como fenômeno sociológico e é própria das instituições religiosas, militares e educacionais. Porém, em vários campos da ciência, verificamos que ela não é mais eficiente, não produz resultados efetivos e progressista para os indivíduos. A humanidade evolui e, para tanto, o candomblé deveria evoluir também. Hierarquia em uma religião deve ser baseada em uma relação de aprendizagem, com consciência e respeito pelos neófitos, como o professor tem para com os seus alunos. Sempre ouvimos aquela máxima “Não se pode dar aquilo que não se tem” e isso engloba axé, conhecimento, experiência, estudos sólidos e concretos, moral, ética, bondade, compreensão etc. A ação da hierarquia impede uma análise real da liderança feita, pois não se pode questionar resta apenas obedecer, tornando-se algo devastador e ceifador quando você legitima pessoas inaptas para o sacerdócio na religião.
**Desculpe pela resposta tão grande, tentei reduzir…abraços!!!
Dayane, muito bom revê-la por aqui.
Eu apoio sua ideia, não condiz muito com meu pensamento estas amarras e humilhações, pessoas decrepitas querendo enxugar suas frustrações no suor de um novato ou mesmo uma pessoa de mais idade, seja ela cronológica ou espiritualmente mais velha.
Eu postei algo ano passado
https://ocandomble.wordpress.com/2013/06/27/ifa-e-a-familia-estendida/
que vale a pena ser lido/relido e mediar entre os dois pontos.
Ire Alaafia.
Obinrin Òya.
Boa noite gostaria de saber mas sobre o que aconterce com as abians como eles agem e podem agir referente a forma de manifestacao o que e certo e errado
Ludimila,
Você não tem do que se desculpar. Suas palavras se tornam essenciais também dentro dessa discussão. Esse problema de imposições e desrespeito é algo que eu acho extremamente grave porque o nosso próprio combate a ele é deslegitimado pela adoração e enaltecimento a hierarquia cega. Há uma excessiva valorização de personalidade no lugar de lapidação e melhora de aspectos negativos, principalmente quando o meu cargo me dá essa liberdade de ter a “síndrome de Gabriela” e agir sem muito ativar o super ego.
É preciso questionar (e muito) essas velhas relações zelador@s/filh@s de santo num contexto mais atual e extremamente diferente de outrora.
Axé e abraços.
Dayane
Sueli,
As coisas realmente não são fáceis. Mas nós temos que ter em mente que essas atitudes não são motivadas apenas pelos desígnios dos orixás, do destino ou algo parecido. Nós temos a nossa própria mão em nossos caminhos, temos a nossa atuação própria nas nossas escolhas. O cometário da Ludimila pode ser bastante elucidativo para os teus questionamentos também.
Muitas vezes a falta de calma e a ansiedade de se achar um lugar, uma casa pra chamar de sua são tão urgentes que jogamos a capacidade de observação na lata do lixo. O meu conselho pra perceber se a casa é boa e se a/o zelador/a é realmente sério é a observação de suas atitudes, principalmente com as outras pessoas.
Eu falava ainda hoje da ausência de uma “auto-vigilância” que existe no nosso mundo religioso. A gente quer sempre aprender muito sobre o funcionamento da casa, a cozinhas oferendas, aprender as lendas, os cantos, as características dos orixás, mas pouco se fala sobre o olhar para dentro e se perceber como pessoa de qualidade, mas também de defeitos que podem ser perigosíssimos para nós mesmos e para os que estão a nosso redor, entende? Eu penso que seja neste ponto que começa de verdade o problema. Para completar, algumas muitas pessoas lançam mão de seus cargos para impor atitudes intragáveis e fazer com que os outros se sintam na obrigação de compreender aquilo como aceitável (mesmo não sendo). Eu acho esse assunto muito difícil, pois ele trata de perspectivas materiais, do mundo do dia a dia – como essa que eu acabei de falar – ao mesmo tempo que há uma vigilância, uma resposta invisível dos orixás a tudo isso, afinal, a casa foi feita para ele, oras. Há cobranças pelos atos errados? Sim, há. Se nós mortais pensamos que a hierarquia em nossos grupos é tudo, para os orixás é regra é diferente. Há zelador que paga por erro com mais novo sim.
Axé!
Dayane
Ubirajara,
Muito obrigada. Prometo que vou pensar em como abordar este assunto. 😉
Axé,
Dayane
Mileide,
A manifestação é um processo que se dá de maneira diferente em cada pessoa. Inicialmente há um estranhamento, uma dificuldade de controlar o que nunca se sentiu até que devagar e com o auxílio das pessoas da casa de axé tudo vai se aprumando até a energia se entender bem com a sua própria energia. Não há um manual. E se tiver, eu estou por fora. 😉
Axé,
Dayane
Sueli,
Sei exatamente como se sentes…é, de fato, uma grande apunhalada nas costas…Não há como fugir da lei da ação e reação…ela existe firme e forte na Física, quiçá no mundo espiritual… Se isso lhe confortar, os ajoguns (espíritos negativos) estão por toda à parte…Quando alguém lhe faz algum mal (sem você ter feito nada para merecer isso), um ajogun é despertado e os sentimentos negativos ficam dispersados nesta atmosfera. Portanto, não é bom para nenhum dos lados essas relações desfeitas e nocivas na religião. Porém, a inocência, a fé com o coração limpo, a honestidade, o bom caráter reduzem muito os efeitos da má causa, aumentando a responsabilidade do(a) infrator(a) e os efeitos que ele receberá por parte da sua má conduta perante Olodumare e os Orixás: “Muito será cobrado daquele que sabe e pouco daquele que não sabe”…
Muitas pessoas dentro do candomblé estão lá pelos mais variados motivos: pra arranjar um namorado(a); pra ficarem ricas; pra ostentar vaidade e roupas luxuosas; por orgulho; pra fazer fofoca E CONTAMOS NO DEDO DE UMA ÚNICA MÃO, as que estão lá, exclusivamente pelo AMOR E RESPEITO AO ORIXÁ. Eis o motivo da dificuldade para encontrar uma casa e um baba ou ialorixá que prezem, cobrem por boas condutas dentro de uma casa de santo. Isso dá trabalho, pede medidas e intromissões, muitos não querem ter essa preocupação…os incomodados que se mudem… E aí colocam a culpa no pobre yawo, chamando-o de ingrato, problemático, com direito à pragas e todo o tipo de má sorte, ao abandonar a casa de sua feitura.
Procure rezar e pedir ao seu Orí e Orisá que lhe oriente, que lhe traga as respostas que precisa. O tempo do orixá é muito diferente do nosso e existe ainda a interferência de Orí nas nossas decisões. Olhe sempre uma casa de axé com os olhos da razão e não da emoção, não deixe que pessoas aproveitem da sua fé e jamais desista do Orisá.
Abraços
Ludimila
Dayane, mo juba.
Já tenho uma caminhada na vida do santo, sou ebômi. Agora comecei a atender nos búzios e têm surgido alguns “candidatos a filhos”. O problema que enfrento é que faço a consulta, vejo odús e orixás, mas quando levo meus futuros filhos na casa de minha mãe, ela, apenas olhando para eles, sem me perguntar nada, já diz outro orixá e começa a falar com base em aspectos físicos e outras, segundo ela, “intuições”. Amo demais minha mãe que fez e faz muito por mim, mas isso começa a abalar meu vínculo com ela. Bem, gostaria apenas de compartilhar essa angústia. Mo dupe, axé.
Bom dia, não estava suportando mais aguentar oque meu zelador de santo estava fazendo, pois se adequá a muitas coisas citadas aqui. Pois bem, pedi para sair e peguei minha coisas. Percebi que ele enxarcou de amônia no assentamento do meu orixá, assim como no meu pote de anjo da guarda. Mais do que de pressa lavei tudo. Gostaria de saber se esse é um procedimento normal?
Diego ao entrarmos em contato com o sagrado, o normal é o zelo e o respeito.
Você diz que o seu relato é verdadeiro, então, você tem que ficar com a consciência tranquila.
Se este rapaz não teve zelo e nem respeito com o òrìsà, ele que assuma as consequências por seus atos.
Faça um jogo, veja o que é necessário fazer, sua atitude foi correta.
Agora veja o que precisa ser feito para apaziguar e acalmar estas energias.
E procure uma casa, estes òrìsà não podem ficar andando de um lado para o outro.
Ire
Nossa, isso parece minha historia no santo, quando comecei entrei em uma casa de umbanda era dia de festa da preta velha vovó maria conga, aquilo mexeu de uma forma tão positiva comigo que resolvi entrar para essa casa de umbanda da mãe Valeria no dom bosco (Rj), o tempo passava e minha dedicação pela casa aumentava.. teve uma festa de caboclo e eu não senti nada (em termos de incorporação).. continuei a me desenvolver e como a mãe Valeria foi feita no candomblé de angola, teria que tocar o candomblé também, ai essa casa de umbanda virou uma casa de candomblé bantu angola..dandalunda que ficou como dona da casa, em uma festa muito bonita para essa nkise, mas ainda não tinha uma resposta da casa em relação ao meu santo, questionei a minha zeladora que não me respondia direito não me dava resposta e eu cada dia mais desgastado e confuso ou nem um jogo para pelo menos ter uma noção, por isso fui desanimando e acabei saindo da casa, foi na saída de matamba.. foi a ultima coisa que vi na casa… sai da angola da mãe Valeria e conversando com um amigo de trabalho conheci a casa do pai Marcos de Oxossi, que era de angola também, casa que era dele, mas não tinha um barracão… era tudo muito humilde e eu gostava, fiz meu ebo… deu meu obi e quando meu bori Odé pegou minha cabeça, fiquei com milhares de duvidas até duvidando da minha incorporação, foi um momento bom para mim, minha mãe carnal foi a uma casa de umbanda e um caboclo disse a minha mãe que não estava gostando do que via na casa onde eu frequentava e que colocariam uma mulher que também não era boa coisa para mim, fiquei muito chateado mas segui a ideia do caboclo e sai da casa.. conheci uma mulher evangélica os conflitos as vezes acontecem e isso me deixa chateado também, surge a oportunidade de voltar para minha antiga zeladora, as vezes me da muito vontade pois penso que sai da mãe Valeria muito precipitado.. estou sem casa para cuidar dos meus orixas e entidades e enfrentando as vezes problemas com a namorada evangélica… meu relacionamento não sei se durará muito, mas meu amor pelo orixa e meus guias para sempre, preciso e quero cuidar… bem essa é minha historia resumida…
Nossa! Mas é, exatamente assim que ocorre. Todo seu relato acima tem fundamento. Também sou revoltado. Procuro ser, primeiro, amigo dos meus filhos. Acho que assim a gente consegue entender e se aproximar mais deles, mesmo que nos envolvamos com seus problemas pessoais…faz parte. Ao ouvirmos o tratamento de pai ou mãe, vindo da boca deles, dá uma emoção e um orgulho danada, ao mesmo tempo em que nossas responsabilidades aumentam a cada dia. Sou muito apaixonado pelos meus filhos. Sem disrinção alguma. Para protegê-los viro um animal selvagem e irracional, em alguns momentos. Prefiro que me atinjam a atingirem meus filhos. Amo quando todos estão perto de mim. Mas não deixo de ensiná-los o que aprendi. Para isto uso a mão de força, se for necessário. O que não sei ou tenho dúvidas busco, com humildade, ajuda em outras dezenas de portas, janelas, frestas…algo que me ilumine e me ajude a ajudar meus filhos. Hoje sou mais maleavel, mas já fui muito bruto, por ter medo de não ser respeitado e porque eles apareceram do nada e, para mim, tudo era novidade. Hoje agradeço a meu doté pequenas, simples e significantes palavras que ele me falou, que se multiplicaram e criaram forças para me erguer e me orientar. Oya é minha vida, meu mundo, minha fonte de energia, meu acalanto, meu tudo. Sou imensamente grato a ela por tudo em minha vida, do mal ao bem.
Parabéns pelo seu trabalho! É muito instrutivo.
Megitó.
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Olá Dayane, tudo bem?
Gostei muito do seu texto e da coragem para abordar um tema tão pernicioso e que, em grande medida, é um tabu que só se comenta a portas fechadas, o que está errado.
Penso muito sobre isso, pois o número de histórias que ouvimos (sobretudo, como dizem, “com os antigos”, o que eu duvido muito que seja verdade) é imenso – pessoas sendo maltratadas até em ronkó, humilhação por hierarquia e até violência física mesmo… Penso, sobretudo, em como uma religião guiada por princípios antigos pode se relacionar com os valores da sociedade contemporânea – que, mesmo que sejam em grande medida apenas formais ou no papel, são avessos a esse tipo de tratamento… Quer dizer, como relacionar nossa religião, que na realidade não tem qualquer espaço institucionalizado para a violência e o destrato, com direitos humanos, respeito e integridade moral e física das pessoas. Me parece, em alguma medida, que se fossemos mais unidos e discutissemos mais as questões pertinentes a religião em algum ambiente, isso poderia ser solucionado..
Enfim, essa é minha tentativa um pouco confusa de começar a conversar isso com alguém… O que vocês acham?
Abraços,
Oi Marília,
Infelizmente, em Candomblé também temos aquela máxima de que cada casa é um mundo. Isso é extremamente negativo porque precisamos de coesão, coerência e unidade para protegermos a religião e a nós mesmas.
Agora eu tenho estado com um pensamento bastante positivo sobre os movimentos em prol de valores que vem acontecendo dentro da religião. Temos discutido mais, temos saído de armários e temos aprendido sobre maneiras de comportamentos de mais velhos e mais novos, e a juventude tem tido um papel providencial agora porque discutimos, questionamos a partir da nossa própria história, a partir do que aprendemos sobre a religião, o que é a religião. Acredito que estamos ficando menos ignorantes sobre o nosso próprio culto e isso, em minha opinião, contribui muito no combate a abusos de todos os termos.
Obrigada pelo comentário e sigamos!
Um abraço e axé!
Boa tarde li seu texto e estou de acordo ser zelador de santo hoje e status, eu era de angola e por decpçao decidi mudar de nação fui pro jeje foi a pior escolha q ja fiz uma mãe de santo mal educada q trata os filhos como escravos todos submetidos a ela como se tivessem cegos, oo minha cara tudo q uma entidade pasava de banho tinha q ser vizualizado por ela, ate ai tudo bem mas uma mãe de santo falar q exú não receita certos banhos, que preti velho da adoba q na gira de ere vem preto velho pra ficar com os eres em terra entre outros desmandes q filhos de santo não se pode envolver, acho correto sim q não se envolvam mas apartir do momento q seja fora da casa e q jamais traga problemas a casa o filho tem sia vida la fora, uma casa com tres país pequenos cheio de mãe pequena, os pais pequenos como as mãe trata mal as entidades os caboclos etc são ásperos com eles, pra ter ideia na ultima seção veio minha pombogira e como toda a assistência queria ir nela assim me falarm as pessoas q depois me procurou ela fechou as correntes e disse se não fossem eu outra não iria em nenhuma e o povo se sentou. Isso e mae de santo para mim e uma pessoa q esta somente abusando do cargo q lle foi dado eu por decpdecpçao hoje não freguento mas casa alguma e ja prometi a mim mesmo minhas entidades não passaram por desmandes de ninguém e so voltaram em terra o dia q tiver a minha casa axé a todos.
O que o senhor acha de zeladores (as) que prendem entidade de filhos sem estes nem mesmo saber por que? Sem nunca nem a entidade nem o filho / filha ter desrespeitado a casa, nem a família, nem a assistência? Só por que recebe a mesma entidade de um dos zeladores (as)?
Helena,
Falta de religiosidade e entendimento sobre o culto, na verdade eles não prendem, simplesmente não deixam que se desenvolvam, não ajudam na evolução espiritual, e aí certamente estará fadada a sair desta casa.
Axé.
É isso mesmo… Masss e sempre tem um mas, vou fazer o papel de advogado do diabo aqui.
Sim, estamos infestados de zeladores completamente insanos, falta pouco para ouvirmos os contos dos Irmãos Grimm como Itan e muitas vezes isso é possível graças a bandeira do “cada casa é uma casa”, “diferente não é errado” etc.
Mas não é diferente de todas as religiões, vide cristianismo. Quantas igrejas éticas existem para cada 10 mercadoras de fé? O quanto já reduziram a fé cristã em mera teoria da prosperidade? Então não estamos em situação de desvantagem diante dos outros, porém somos mais atacados. Então, quando religiosos saem cometendo insanidades usando o Candomblé como desculpa, somos muito mais julgados e somos julgados como um todo misturado.
Ainda defendendo o diabo por aqui, veja, quem compõe o público que procura a religião? Dos comentários que vejo no blog chovem
“como amarro meu marido?”
“Minha data de nascimento é tal, diga meu orixá”
“Quero um ebo pra melhorar de vida”
Ou então, é aquela velha mania tão humana de precisar se sentir mais especial que os outros
-“Ah eu sou de um Orixá tal, com tal, viro em cinco santos diferentes e uma legião de catiços” ou seja, a pessoa nao quer verdade, quer que digam que ela é melhor, que ela tem mais magia, mais axé
-“Ah meu zelador me disse pra fazer isso, mas me ensinem outro jeito que ele tá errado” gente, vcs já notaram que o zelador tá errado mas a pessoa não vai conversar com ele?
-“ah fui numa casa dei obrigação minha vida desandou, acho que meu zelador não soube me cuidar” pode até acontecer, mas nós sempre temos alguma parcela de culpa, não adianta jogar tudo na conta do zelador.
E finalmente, tem zelador assim porque tem muito público procurando por zelador assim. Já viram os comentários do blog na página do face? Quanta coisa absurda. Ate oração de São Cipriano!
Muita gente procura uma casa querendo receita pronta pra melhorar de vida, melhorar casamento etc. Mas quem quer “MELHORAR A SI MESMO?”
Todos lembram da comida que afasta o orixá, da cor que afasta o orixá, mas e as nossas próprias atitudes que afastam o sagrado de nós? Estamos dispostos a mudar isso também? Estamos preparados para ouvir um zelador pé no chão dizendo que não há mágica pra melhorar a vida sem labuta, que não há amor que se sustente sem recíproca e dedicação?
Vale a reflexão do que estamos procurando, pois se tem tanto zelador assim é porque tem muito público procurando por eles.
Fernanda Cri
Muita gente procura uma casa querendo receita pronta pra melhorar de vida, melhorar casamento etc. Mas quem quer “MELHORAR A SI MESMO?”
Aqui está o fundamento de qualquer ebo que seja feito.
Alaafia!
Ire
Fernanda Cri,
Eu poderia retornar a afirmação dizendo: há um grande público assim porque há zeladores dispostos para este público e entraremos num looping eterno porque é basicamente essa dupla afirmação mesmo: a minha e a sua. O Candomblé hoje não se resume a um tipo de público e a um tipo de zelador.
Se me param na rua pra falar do homem que querem amarrar ou se me param pra pedir uma ajuda com o filho que está indo por maus caminhos, eu opto se faço as duas coisas, uma ou nenhuma.
Engraçado é que recentemente escrevi sobre um tipo de pessoas que estão acessando a religião e recebi um comentário questionando a outra ponta: os zeladores. Nesse post escrevi sobre os zeladores e tem o seu, por exemplo, questionando a outra ponta: o “público”. E ambos são questionamentos necessários porque nós todas devemos todo o tempo chacoalhar todas as bandas: quem cola o cartaz da amarração e quem vem atrás da amarração. (a minha resposta geralmente é “você acha que eu tenho cara de corda?” ;). Eu não sou zeladora, mas escuto).
Eu ainda acho mais perigoso essa questão dos zeladores porque pra passar a agir de maneira desonesta e acima da conduta do Orixá, que é o que eu falo no texto, ele passa por cima de juramentos, preceitos religiosos pelos quais passamos. É uma questão também de pensar na trajetória que fez a religiosidade de matriz africana no Brasil persistir. Ser zeladora ou zelador
não deixa de significar receber um legado (e é óbvio que essa não é uma visão vista em larga escala). Um legado árduo que também pode estar contido decepção, incompreensão, solidão… Não é uma vida fácil, não é um caminho fácil e isso não é uma novidade
Axé!