A confraria feminina reivindica o poder!
Nos tempos antigos, pouco depois que Òlódùmàrè delegou a criação do mundo os Òrìsàs agbóros(masculinos), realizavam oferendas para o Senhor da Criação, com o intuito de intervir pelos seres humanos e manter o equilíbrio das forças da natureza. Mas não convidavam as mulheres, pois a cerimônia era proibida para o sexo feminino. Esta foi a razão pela qual Òsun revoltou-se contra os Òrìsà masculinos e reuniu todas as mulheres convencendo-as a tomarem uma atitude quanto a proibição dada pelos Òrìsà masculinos. Òsun então se tornou Ìyálòdè (chefe de todas as mulheres) e, representando as mulheres, recorreu as Ìyamí Òsòròngá (Mães ancestrais), as detentoras do poder feminino. Entregando-lhes oferendas, Òsún pediu o auxilio das Ìyamí Àjé (Mãe feiticeira), que lançaram o àjé em todos os homens que, a partir de então, passaram a não mais defecar e urinar porque suas vísceras não funcionavam normalmente. Até os animais do sexo masculino foram atingidos. Homens e animais começaram a passar mal, pois eles comiam e bebiam, mas não podiam defecar e nem urinar. Esta situação durou sete dias… Os seres do sexo masculino começaram a morrer, o que preocupou os Òrìsà, que resolveram consultar Òrúnmìlà (sacerdote supremo do oráculo de Ifá). Então o Babaláwo Òrúnmìlà consultou o oraculo para responder a todos os Òrìsà, oportunidade na qual respondeu o odu Osé Ireté. Òrúnmìlà recomendou, então, que quando eles fossem realizar oferendas na mata sagrada deveriam convidar uma mulher que estava esperando um filho, está mulher era Òsun. E, se ela concordasse em acompanha-los, tudo voltaria ao normal, e todos ficariam curados daquele grande mal. Seguindo a recomendação do Babaláwo, eles foram até Òsun, que estava se banhando na beira de um rio, e a convidaram para fazer parte das oferendas. Ela ouviu as suplicas dos Òrìsà masculinos e, mesmo com muita vontade de aceitar o convite, se negou a participar alegando que ela e todas as mulheres estavam cansadas de serem tratadas como escravas dos homens, ressaltando que a mulher participa da criação da vida e, por esta razão, tinham o direito de intervir e decidir por ela. Diante da negativa, imploraram a presença de Òsun. Vendo que todos os homens estavam passando muito mal, Òsun resolveu acompanhá-los nas oferendas, mas com uma condição: que todos os Òrìsà masculinos deveriam passar um pouco de seus poderes para a criança que ela estava esperando, e que deveriam rezar muito para a criança nascer do sexo masculino, pois, se a criança que estava dentro dela nascesse menina, os homens ficariam subalternos às mulheres. Os Òrìsà masculinos ficaram preocupados, pois acreditavam que a condição imposta por Òsun poderia colocar em risco a existência e que, nada deste mundo, daria certo para todos os homens. Por outro lado pensavam que, se nada fizessem, todos os homens morreriam o que os obrigou a aceitar a imposição de Òsun para acompanhá-los até a mata sagrada. Sem saber como passar parte dos seus poderes para criança os Òrìsà voltaram a consultar Ifá, quando então respondeu o odu odiséséso (mensageiro do nascimento). Desta feita, o Babaláwo aconselhou que todos os Òrìsà fossem pela manhã à casa de Òsun e impusessem as mãos no ventre dela dizendo o seguinte: “que de mim passe para esta criança um pouco de meu poder”. Deveriam fazer isto até que a criança viesse ao mundo para garantir que ela fosse do sexo masculino. Recomendou ainda que os homens deveriam aprender respeitar as mulheres. Èsù, Ògún e todos os Òrìsà masculinos seguiram para casa de Òsun e fizeram o que lhes foi recomendado pelo Babaláwo até o dia do nascimento da criança. Imediatamente as funções intestinais, os rins, fígado, bexiga dos homens e animais do sexo masculino voltaram a funcionar. A partir dai as mulheres passaram a ser respeitadas e temidas como feiticeiras. No dia do nascimento da criança todos Òrìsà masculinos ficaram em frente da casa de Òsun para saber qual seria o seu sexo. Esperaram por muito tempo até Osun aprensentá-la para o egbe (comunidade): era um menino, para alívio dos Òrìsà do sexo masculino. Todos os Òrìsa cantaram e louvaram a existência e gritaram assim: urra to to to (estamos salvos). A partir deste dia os Òrìsà masculinos não faziam mais oferendas sem convidar e levar suas esposas e todas as mulheres. O Babaláwo consultou mais uma vez Ifá e respondeu o odu oturá, nome que eles propuseram a criança. Levaram a proposta para Òsun, que não concordou e, se preparou para fazer imposições. Neste momento um pássaro pousou no fila (espécie de chapéu) que estava cobrindo a cabeça da criança e se curvou. Aquele sinal significou que a criança tinha o poder de apaziguar até as Ìyamí Àjé, razão pela qual, Òsun atendeu parcialmente a proposta dos Òrìsà e deu à criança o nome de Osé Otura: a criança tem o poder de todos Òrìsà. O garoto ficou conhecido como o décimo sétimo odu do jogo de búzios e, a partir de então, este odu passou a intermediar as mensagens e oferendas para todos os outros odu. Apenas ele tem o poder de entrar e sair do Orun, quando e como quiser, sem ser perseguido pelas Ìyamí Àjé.
Fonte: Blog Casa do Oxumare
“Òsún e lóolá,
Imonlè lóomi,
Òsún e lóolá, Ayabá!
Imonlè Lóomi.”
TRADUÇÃO:
“Oxun, Senhora que é tratada com todas as honras,
Senhora dos espíritos das águas,
Oxun, Senhora que é tratada com todas as honras,
Rainha dos espíritos das águas”
Muito bom o artigo……cada dia aprendendo um pouco e repassando esse pouco que aprendo…..asé….
Àse.
Poderia informar a fonte do itan, por favor?
Pergunto por que esta variante é diferente das que possuo aqui coletadas.
Seria interessante saber se é uma variação do que já se tem publicado, ou se é uma nova coleta de campo da tradição oral.
Conforme J. Vansina, a informação das fontes é necessária para que o mito tenha credibilidade:
” […] Deve-se ter em vista pelo menos uma classificação das fontes investigadas, com introdução, notas e índice, que constitua um arquivo aberto a todos.
Muitas vezes, o trabalho é combinado com a publicação de um estudo baseado, em parte ou completamente, nesse corpus. Nenhum editor publicaria todo o material, variantes inclusive, e a interpretação dos dados. Além disso, uma síntese não comporta uma vasta massa de documentos em bruto.
Assim, cada trabalho deverá explicar como as tradições foram coletadas e fornecer uma breve lista de fontes e informantes, que possibilitará ao leitor formar uma opinião sobre a qualidade da coleta e compreender por que o autor escolheu uma determinada fonte em vez de outra.
Pela mesma razão, cada fonte oral deve ser citada separadamente no trabalho. O trabalho que diz “A tradição conta que…” faz uma generalização perigosa […]
O texto completo pode ser lido aqui:
http://afrologia.blogspot.com.br/2008/03/tradio-oral-e-sua-metodologia.html
Oxun é uma Iyabá revolucionária.
Muito bom essa matéria ,cada vez aprendendo mais e isso o alguns povos nosso tem que lê pra aprender .
Luis, você tem razão
Creditada a fonte.
…Não é mais necessário convencer os estudiosos de que as tradições podem ser fontes úteis de informação. Todo historiador está ciente disso. O que devemos fazer agora é melhorar nossas técnicas de modo a extrair das fontes toda a sua riqueza potencial…
Olorún súre fún o
Axé Fernando.
Obrigado por atender minha solicitação, por ser necessário.
Pode-se ainda informar simplesmente:
“Tradição oral do Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó (Casa de Oxumare), BA”
Dessa forma, resolve-se a questão.
Se quiser, pode-se ainda reforçar o crédito, fornecendo o link original da matéria:
http://www.casadeoxumare.com/blog/item/30-osun-recorre-a-iyami
Ìlera!
LUiz,
No próprio blog não havia referência ao texto, portanto, não posso me estender além do que creditei.
Gostaria de ler seu livro!
Saúde!