Nos primeiros dias do mundo em Ilé Ifé os òrìsà se cansaram de servir a Òlódùmarè.
Eles começaram a resistir aos decretos do Senhor do òrun e até mesmo chegaram a tramar a deposição de Òlódùmarè no òrun e no ayé.
Eles achavam que não precisavam de Òlódùmarè e que, como o Senhor do òrun estava tão distante, eles poderiam simplesmente dividir a dor ou os poderes entre si e as coisas seriam muito melhor assim.
Quando Òlódùmarè travou o vento desta atitude, o Senhor do òrun agiu de forma simples e decisiva:
Ele simplesmente reteve a chuva do ayé.
Logo, o mundo ficou possuído por um projeto surpreendente, o solo tornou-se seco e rachado, as plantas secaram e morreram sem água.
E não demorou muito para que todos no Ayé, os òrìsà e seus filhos começassem a morrer de fome. Depois de um curto período de tempo, as barrigas roncando e os rostos pálidos começaram a falar mais alto do que o orgulho e rebeldia.
Eles decidiram por unanimidade ir a Òlódùmarè e pedir perdão na esperança de que isso traria a chuva de volta ao mundo.
Mas eles tinham um problema: nenhum deles teria como alcançar a distante casa de Òlódùmarè.
Eles mandaram todos os pássaros um por um tentar a viagem, mas todos falharam, ficaram cansados muito antes de chegar ao palácio do Senhor do Òrun. Começou a parecer que toda a esperança estava perdida.
Então, um dia, o pavão, que era na realidade Òsún, veio a oferecer seus serviços para salvar o mundo da seca.
Mais uma vez houve revolta geral e risos com os òrìsà contemplando a ideia deste pássaro vaidoso e mimado empreender tal viagem.
“Você pode quebrar uma unha”, disse um deles.
Mas o pavão persistiu e como eles não tinham nada a perder, eles concordaram em deixá-la tentar.
Assim, o pavão voou na direção do oòrun (sol) e do palácio de Òlódùmarè. Ela cansou da viagem, mas ela continuou a voar cada vez mais elevado, determinada a alcançar o Senhor do órun e salvar o mundo. Indo ainda mais alto, suas penas começaram a se tornar desgrenhadas e pretas a partir do calor fulminante do sol e todas as penas de sua cabeça se queimaram, mas ela continuou voando.
Finalmente, através da vontade e da determinação, ela chegou às portas do palácio de Òlódùmarè. Quando Òlódùmarè veio sobre ela, teve uma visão patética, ela havia perdido muito de suas penas e as que permaneceram eram negras e desgrenhadas. Sua forma outrora bela, agora era corcunda e sua cabeça era careca e coberta com queimaduras por voar tão perto do oòrun (sol).
O Senhor do òrun teve pena dela e trouxe-a para o palácio onde ele tinha comida e água e suas feridas foram tratadas. Ele perguntou por que ele tinha feito uma viagem tão perigosa. Ela explicou o estado do planeta e passou a dizer a Òlódùmarè que ele tinha vindo em risco de sua própria vida para que seus filhos (a humanidade) pudessem viver.
Quando Òlódùmarè olhou para o mundo e viu o olhar melancólico de Òsún, era óbvio que tudo o que ela tinha dito era verdade. O Senhor do órun, em seguida, virou-se para o pavão, que agora era o que chamamos de abutre, e disse que seus filhos seriam poupados desta dor e ordenou que a chuva começasse a cair de novo.
Então Òlódùmarè olhou profundamente nos olhos de Òsún e em seu coração, então anunciou que por toda a eternidade, ela seria o Mensageiro da Casa de Òlódùmarè e que todos teriam que respeitá-la como tal.
Daquele dia em diante neste caminho, ela se tornou conhecida como Ikolè Òsún, o mensageiro da casa de Òlódùmarè.
E a partir daquele dia o caminho de Òsún conhecido como Ibù Ikolé foi reverenciado e se tornou associado com seu pássaro, o abutre (urubu). O abutre, em seguida, retornou ao ayé, trazendo com ele a chuva, onde se encontrou em grande regozijo. Como convém a uma rainha ou Ìyálodè, ela graciosamente absteve-se de lembrá-los de suas piadas e abusos como ela, podia se ver a vergonha em seus rostos. É por isso que, sempre que uma pessoa tornar-se iniciada como um sacerdote em nossa religião, não importa em qual òrìsà ela foi iniciada, ela deve primeiramente ir ao rio e dar conta do que está fazendo a Òsún, A Mensageira de Òlódùmarè.
Maferefún Òsún
Da Ilha,
Obrigado por nos trazer um itan tão ´profundo sob o ponto de vista litúrgico que envolve a ingerência de mãe Oxun, eu bem sei e tive provas recentemente da meticulosa Iyabá embalando-me para os desejos de Oxalá, quanta docilidade e sabedoria e generosidade.
Rora Yèyé ó fídé rí omon!
Baba Fernando, envolver e dar ciencia.
Òsétúrá epá.
Sabedoria e humildade.
Ìbà Olómi tutu.
Sr. Da Ilha, bom dia!
Então, tanto o pavão como o abutre são considerados sagrados para a religião?
E assim sendo, o pavão pode ser oferecido e o abutre também, como são a galinha e outros?
Outra coisa, o abutre e o pavão simbolizam os mensageiros?
Um abraço.
ADORO RECEBER COMENTÁRIOS SOBRE ORIXAS ..MUITOS ZELADORES FAZEM NKISIS ERRADOS POR FALTA DE SABEDORIA,POIS SEU SACERDOTE NÃO LHE DEU O SUFICIENTE EM SABEDORIA PARA QUE O MESMO PODESSE COLOCAR A MÃO EM CABEÇAS DIFERENCIADAS.FAZER SANTO ERRADO A CULPA É DO PRÓPIO ZELADOR QUE NÃO TEM JOGO OU VIDÊNCIA ADEQUADA PARA VER REALMENTE O INKISI OU SEJA O ORIXÁ DA PESSOA ..MUITAS PESSOAS FEITAS ACHAM QUE EM FAZER OBRIGAÇÃO DE SETE ANOS JÁ É PAI DE SANTO OU ZELADOR ..SE ENGANAM!!!!!! EXISTEM PESSOAS QUE FAZEM OBRIGAÇÃO DE SETE E NÃO TEM CARGO DE ZELADOR E QUEREM SER A QUALQUER CUSTO É AÓ QUE VEM A FALHA MEDIÚNICA PARA QUE SERTOS PRECEITOS VEHAM SER REVELADOS PELOS PRÓPRIOS.SER ZELADOR REQUER ESPERIENCIA ANOS DE SANTO E OBRIGAÇÕES QUE INCLUÃO UM GRANDE APRENDIZADO ..É COMO UM MÉDICO ESTÁ SEMPRE LENDO E SE SURPREENDENDO.EXISTEM MUITAS FORMAS DE SE CONCERTAR UM ORIXÁ FEITO ERRADO POR CULPA E EXCLUSIVAMENTE DO ZELADOR POIS O IAO ESTÁ ALÍ PARA O QUE DER E VIÉR E NÃO SABE DE NADA DANDO SUA CABEÇA A PREMIO ..MAS SE UM ZELADOR FEZ UM ORIXÁ ERRADO EM ALGUÉM ELE JAMAIS SABERÁ CONCERTAR ALGUÉM POIS EM SUA PRÁTICA JA FEZ MERDA DESCULP-ME A EXPRESSÃO .INFELIZMENTE O CANDOMBLÉ ESTÁ CHEIO DE FALSOS PROFETAS FAZENDO MALUQUICIS NAS CABEÇAS DE PESSOAS INOCENTES ….É UMA PENA POIS ISSO LEVA UM SER HUMANO A NÃO TER CONQUISTA E COM UMA IMENSA COBRANÇA EM SUA VIDA ESPIRITUAL…..TRAZENDO-LHE AS VESES ATÉ A MORTE, DEPENDENDO DO QUE FOI FEITO..VIVA OS ZELADORES SÁBIOS DESTE BRASIL E DO MUNDO …MEU AXÉ E UM GRANDE ABRAÇO A TODOS DO CANDOMBLÉ O MUNDO DOS ORIXÁS .E NZAMBI NA QUATESSÁ !!!!!!!! ASS. TATETU DE INKISI “INCODIAMAMBO” ASÉ TUMBA JUNSARA , FILHO DE MULUNDERY NETO DE CIRIACO”NLUNDIAMUNGONGO” E BISNETO DE TUENDA ZAMBI “MARIA NENEN”
Mario são Sagrados, não oferecemos.
Existem oògùn, magias, que são feitas com estes animais, mais…É outra história.
O Igun é o animal sagrado de Òsún.
O Mensageiro sempre será o Divino Èsù.
Esta ave de rapina nos remete a uma ideia um pouco mais além (Akalamagbo).
Aves de rapina (Akalamagbo)comem orgãos internos e isto está ligado a uma energia poderosa demais.
Uma manipulação muito perigosa, etc…
Ire o.
Ricardo o objetivo de seu comentário é por demais adequado, porém, não devemos misturar Nkise com òrìsà, seu comentário remete a tal confusão.
Sacerdote não pode ter visão mistica os (Adahunses) como são chamados, foram rechaçados por Òrúnmilà no Odu Òdí’ìretè.
Diz um parte do Èsè Ifá:
No entanto, enquanto a maioria dos cidadãos adorava Òrúnmìlá e esperava ansiosamente sua próxima visita ao povoado, os Adahunses (Espiritualistas, clarividentes, os leitores de mão, herbalistas e outros nesta linha) o odiavam. Seu ódio por Òrúnmìlá vinha dele fazer com que todos do povoado viessem até ele para adivinhação e sanar seus problemas físico-espirituais, sempre que ele visitava Õsogbo.
Em vez de trabalhar para melhorar os seus difíceis serviços espirituais e ganhar o respeito do povo, os Adahunses culpavam Òrúnmìlá pela lentidão em seus ganhos sempre que Òrúnmìlá visitava o povoado.
O pagamento por esta atitude gerou:
Ele pegou seu Òsòòrò Òpá (Osun Ifá-Ifá pessoal) e o apontou para o òrun.
No momento em que fez isto, um eclipse súbito se apoderou do povoado inteiro e cada espirito vivo foi dormir imediatamente. Òrúnmìlá amaldiçoou a cidade pela plenitude do tratamento ingrato e injusto para com ele através de seu Baàlè.
Òsún foi a primeira pessoa a ver os sentidos da esquerda (magia) de Òrúnmìlá. Òsún olhou em volta e ficou assustada com o que viu.
Òrúnmìlà perdoou as pessoas de Õsogbo e reverteu a maldição. Além disso, ele orou para Õsogbo e seu povo. Com grande remorso as pessoas rogaram e persuadiram Òrúnmìlà a regressar com eles ao povoado, porém Òrúnmìlà se negou a ir. Ele lhes disse que tudo estaria em ordem e o povo estaria também salvo, de fato ele fez as pessoas experimentarem um pouco do ódio que os Adahunses sentiram dele como um lembrete.
Este verso fica como lembrete aos abians para se resguardarem na hora em que são chamados para ouvirem algumas histórias sem pé e sem cabeça de alguns ditos ‘ispiritus’, ou jogos sem qualquer coerencia.
Muito obrigado pela sua visão sincera e luta pela retidão dentro do culto.
Ire o.
MOTUMBA, Muito bom dia !
Irmãos na compreensao de vcs espero que alguem possa me responder..
1º – existe isso: “frequento uma casa de candomble… onde cheguei na dor, fui acolhida fiz o santo e fiquei boa… de alguns meses para ca, nao tenho vontade de ir na casa, e nao qro mais ir… seguir…na existe explicação tudo é meio que feito sem explicação… sei q existe determinadas coisas que nao se podem passar para os yaos.. porem comecei a perceber que “o santo nao desce mais como descia nas festas, comigo”, percebi que tenho tido ressalvas na casa e nao sei se vem do que consigo captar ou se é o santo que me auxilia em sentir… ”
-> Quando nao se quer ir mais na casa que foi feita, e o santo que nao aceita mais o terreiro ?
-> EU ou o santo se decepcionou com a casa ? com algo que viu na casa? ou é eu mesmo que me decepcionei?
– > Existe o santo nao qrer mais aquele terreiro?
2º um irmao da casa me disse que eu fui feita no candomble, mas sou da umbanda e por isso que estou nesta agonia imensa… / encontrar uma casa que eu aceite… isso pode ser real?
3º Vi que todos falam que nao existe saida do canbomble… mas se Deus nos deu o livre arbritio como funciona se a pessoa quer sair.. ?
-> Igual vejo alguns irmaos de santo que vao a casa, obrigados, é um tormento pra ir… vejo ate tocarem em cima do iba para que eles aparecam na casa… “que eu nao acho certo no meu ponto de vista…”
perguntei porque eles nao saiem … ai me contaram sobre o “OTA”, mas como eu nao tenho muito conhecimento, porque sou muito nova na religiao … nao sei se é real…
-> Alguem pode me explicar mais sobre o “OTA” ?
4 º como funciona o desligamento de uma casa de candomble… ?
Motumba…
“cristina”
Cris,
Responder as suas perguntas de forma fechada seria querer racionalizar totalmente o que acontece na religião e nessa ligação casa/iniciado/orixá. Então eu vou responder por cima, pois a gente aprofunda isso dentro do terreiro.
1- *Sim e não. Sim, porque mexer com orixá não é brincadeira e o orixá é sensível ao ponto de se afastar da casa caso algo sério tenha ocorrido em relação a ele. E não, porque numa casa de axé nós convivemos com pessoas, muitas pessoas, e pessoas diferente, personalidades diferentes. Casa mal gerida pode não controlar os atritos que podem surgir e esses atritos podem ser os principais pontos que geram motivos de saída pra alguns filhos. Ou a criatura não se adaptou ao sistema religioso, às normas religiosas, à hierarquia e quer sair por isso.
2- Não. Se foi feita é porque orixá permitiu e se teve orixá, como não seria de Candomblé? Isso é mais falta de auto-conhecimento. Cada um tem que saber e ter certeza do que o seu coração pede.
3- Existe saída, não existe desligamento. Uma vez feita a iniciação, ela sempre existirá na vida do iniciado mesmo ele não estando mais na religião. O livre-arbítrio prossegue intacto: fica quem quer.
O otá é uma pedra onde é sacralizada com a energia do orixá.
4- Chega, conversa com o zelado, expõe seus motivos e conversa-se sobre os igbás que estão na casa.
Axé.
Olá Dayane, motumbá!
Aproveitando o gancho da pergunta da Cris, embora tenha um pouco mais de vivência dentro do culto (cerca de 12 anos), atualmente tenho dúvidas, não sei se me vejo mais seguindo por esse caminho. Não atribuo somente ao desencanto com os homens, com toda a vaidade, disputas, falta de comprometimento com o próximo, enfim, as mazelas de nossa religião que não é diferente das demais… Entendo até que é a partir da convivência muitas vezes desarmoniosas que podemos apurar nossos valores como a paciência, a tolerância, o respeito, etc, confrontar nossas “máscaras” e aprender, evoluir. No entanto, penso em seguir um caminho individualista (não creio que egoísta), menos ritos e liturgias e mais meditação, reflexão, autoconhecimento… Não isolar-me do mundo mas envolver-me de maneira integral, transcender os muros do Ilê, da família de santo em direção a família humana.
Um dos fatores é a preponderância do aspecto exotérico em detrimento do aspecto esotérico da religião, o foco apenas no procedimento litúrgico correto, conhecer os fundamentos mas não entende-los efetivamente, não traçar o link entre os procedimentos exteriores e os mecanismos interiores na psiquê… O endeusamento dos orixás que se assemelha tanto a devoção de procissões ou de santos em altares, em andores, barganhar para obter benefícios materiais, creio que nada disso seja a essência do Verdadeiro culto. Sempre entendi o orixá como caminho para o auto conhecimento, caminho para ser um homem melhor, equilibrado em todas as circunstâncias, um canal simbólico para o sagrado, uma vez que o sagrado é um estado permanente o qual normalmente não percebemos em nosso dia a dia, ainda vivemos na ilusão da matéria e do egocentrismo, em nossa pequenez diante da maravilha da vida, do mundo, em nossas pequenas “grandes” preocupações do dia a dia como o medo do futuro, sentimentos de rejeição caso não recebamos “aquele” telefonema, indignação ao ser mal tratado na fila do banco, como se o atendente não tivesse direito de estar em um mal dia… em suma, perdemos a capacidade de enxergar o sagrado em todas as coisas, em cada ser vivente, em cada ser humano, e então, vai-se a missa, ao culto, ao Ilê, passa-se algumas horas, segue-se a rotina litúrgica e entende-se como uma pessoa espiritualizada. Não é uma crítica, apenas um ponto de vista (e muito pessoal até), mas em minhas reflexões entendo que a verdadeira espiritualidade é aquela capaz de nos fazer melhores, mais humanos, menos embrutecidos.
Acredito também que o candomblé promova isso, toda a mitologia é riquíssima em simbolismo, mas ter conhecimento não é ser sábio, e atualmente o que mais se vê são “enciclopédias ambulantes” de memória fantástica, conhecedores de inúmeras cantigas, itans, orikis e com muito pouca sensibilidade diante do fundamento maior, o Amor, afinal os orixás, essa energia que sentimos e tão pouco compreendemos são uma benção de Òlódùmarè que por Amor nos concedeu, enquanto caminho (entre inúmeros) e um meio de despertar em nossos corações o entendimento de que há algo muito maior, mais nobre a ser vivenciado… E acredito que o Candomblé enquanto sistema religioso tenha essa prerrogativa (religare), devendo os zeladores efetivamente comprometidos buscarem resgatar essa essência, essa alma da religião… Infelizmente, a preocupação é com o corpo, com a tradição muitas vezes retrógrada, cristalizante… Na sabedoria de mãe Stella, Odé Kayode, que diz sempre – Meu tempo é agora – pode estar a saída…
Outro ponto nessa minha inclinação por mudança é ampliar o horizonte do respeito e enxergar a Deus não só na família humana mas na natureza como um todo, e nesse sentido o vegetarianismo tem sido uma opção também. Não quero implementar polêmica e respeito muito o fundamento do ejè. Um dos momentos mais bonitos e importantes da religião é o ajeum, onde volto a reiterar, são colocações muito pessoais essas que faço a título apenas de ilustrar e compartilhar as motivações de uma eventual mudança de paradigma religioso, especulações independente de razões certas ou equivocadas.
Por fim Dayane (e demais irmãos, principalmente os mais velhos que desejo ter a opinião e meus devidos respeitos aos mais novos também), conforme disse no início, aproveitando o gancho da Cris, qual seria o encaminhamento mais adequado dos assentamentos, dos otás? Devolvê-los à natureza? Os tenho comigo e respeito por demais as energias ali assentadas, não poderia simplesmente despacha-los (imagina, me sinto até mal pensando nisso) e nem leva-los de volta ao ilê onde fui criado, não por desconfiança da minha Iyá que é maravilhosa, mas por não confiar integralmente em todas as pessoas da casa. Conversando com minha Iyá a respeito disso, diz ela que não há caminho de saída, é uma Iyalorixá muito antiga, respeito-a muito não apenas pelo seu conhecimento, mas pela pessoa que é… E conversando com outros zeladores, antigos também, é como dizem, “há porta para entrar mas não para sair…”
Pois bem, embora não tenha certeza absoluta e enquanto não a tiver não precipitarei nada, ainda assim, gostaria de saber se existe alguma ritualística, alguma liturgia específica nesses casos e principalmente, qual destino dar aos assentamentos, uma vez que nem com os mais velhos e nem na extensa literatura encontrei referências sobre isso.
Olorum Modupé!
Motumbá axé!
Axé, axé, axé!!!
Leo
Leo,
Entendo e respeito sua forma de pensar e essa busca pelo que você anseia. Acho sim que todos temos que ir atrás daquilo que nos deixe melhor e nos torne melhor. Para mim o Candomblé faz isso, para outro ser ateu o traz isso, assim como existem os cristãos, muçulmanos, judeus, etc. Prezo pela liberdade e também falando de forma estritamente pessoal, o Candomblé me dá “asas pra voar, raízes pra voltar e motivos pra ficar” (acho que foi o Dalai Lama que falou isso) e atua em mim nesse processo de autoconhecimento e respeito pelo outro, como você abordou na sua fala. Porém toda religião tem seus dogmas, suas verdades “indiscutíveis” e por mais que eu preze a liberdade, não sou hipócrita pra ocultar isso. Então, como toda a religião, o culto tem suas amarras. Isso traz problemas? Claro que traz, mas a sintonia com o orixá e o que ela me traz de positivo é maior, muito maior. Mas essa é a minha visão, somente a minha.
Corre mesmo atrás do que você acha que te faz melhor. Orixá também quer isso. E quem disse que ele não tá presente em meditação, se a gente por ventura ir numa missa, num culto, em alguma reunião?
“Há mais mistérios entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia”. A cada dia que passa vejo o quanto Shakespeare foi feliz nessa colocação.
Quanto aos igbás, realmente não há liturgia de desligamento quando o iniciado é vivo. Eu vejo como melhor maneira devolver a natureza o que é da natureza, como os otás, búzios e outros componentes do igbá. Por mais que o igbá em si seja uma representação do sagrado, o otá é o que é vital num igbá. Você já conversou com a sua zeladora sobre isso? Se o orixá foi consultado pra o igbá ser montado, por que não consultá-lo pra desfazer de um igbá?
Axé.
Boa noite, sr. Dailha!
Gostaria de saber o que significa esse cântico:
Aijô lokô oyó nilê
Kilodê iô ikiní ibá odê
Um abraço.
Mário não tenho a tradução deste orin.
Quem sabe Baba Fernando não ajuda.
Ire o.
Obrigado, sr. Dailha!
Sr. Fernando me ajude!
Um abraço.
Motumbá aos mais velhos e mais novos!
Dayane, seu esclarecimento correspondeu a minha expectativa, realmente o que é da Natureza deve permanecer na Natureza, e sem dúvida, no lugar adequado e indicado pelo jogo… Há tempos protelo esse jogo, razão e coração… rs
Quanto ao dogmatismo, o pior não é a liberdade podada, pois estar em uma determinada religião implica em comprometimento com a rotina da mesma, não cabe em tempo algum ser vista como um sacrifício, como algo complicado, muito pelo contrário, deve-se vivencia-la plenamente. O lado ruim do dogmatismo relaciona-se a um aspecto determinista, unilateral e vertical que alguns (eu disse alguns) religiosos adotam, não permitindo nem mesmo a si mesmos ampliar seus horizontes, quanto mais aos seus tutelados. Não digo com isso que deva-se alterar deliberadamente procederes litúrgicos, nada dessas invencionices malucas que vemos por aí… Penso que ampliar a visão e a compreensão sobre o que é cultuado, esse é o dilema. A questão é que muitas vezes é mais “fácil” não pensar, não refletir, não entender o que e o porque do que se está fazendo. Mas tenho fé em uma evolução e já disse em outro post que você é uma das esperanças dessa nova geração.
Na arte e na mitologia temos dois fantásticos caminhos na busca do sagrado. Você cita Shakespeare, sua literatura é riquíssima em simbolismo espiritual, vale a pena estuda-la buscando as chaves dos significados ocultos, assim como Dante, Goethe, entre outros.
Em nossa cultura e literatura religiosa também temos um rico simbolismo, muitas vezes relegado a segundo plano e o que é uma pena, pois essa deveria ser a base da nossa religião e não o que é tantas vezes corriqueiro, a preocupação apenas em apreender o maior número de “feitiços” possíveis, em ter a roupa “original” africana, etc.
Baba Da Ilha nos brinda com mais um texto muito interessante (sua benção meu velho), que dá margem para uma reflexão profunda sobre o caminho para realização espiritual e sobre as responsabilidades e comprometimento dos sacerdotes diante de Òsún na qualidade de Mensageira de Òlódùmarè.
Vejamos:
Ao nos desligarmos da nossa fonte primordial, ou seja, ao cometermos o erro da prepotência (o culto ao ego), ao ignorar as leis do cosmos – “resistir aos decretos do Senhor do òrun” – nós acabamos por impedir o livre fluxo da divina essência em nossas vidas – “Ele simplesmente reteve a chuva do ayé” – e desse modo, tudo seca, morre, a harmonia, a paz interior, o equilíbrio, pois estaremos no contra fluxo da nossa Real Natureza, seja na atitude individual, seja no contexto coletivo, nossa sociedade. Porém, é esse imenso vazio da alma -“as barrigas roncando e os rostos pálidos” – que pode promover a renovação, o despertar da consciência para planos mais sutis, não por acaso, associamos o òrun ao sol (iluminação), ao céu (consciência elevada). Pois bem, arrependimento, autopiedade, o mendigar, barganhar e tentar comover o divino não basta… é necessário uma atitude ativa, o exercício da Vontade. Tentar não é o suficiente – “Eles mandaram todos os pássaros um por um tentar a viagem, mas todos falharam, ficaram cansados muito antes de chegar ao palácio do Senhor do Òrun” -, a tenacidade, disciplina, força de vontade, o foco e o objetivo claro é o essencial para todo o buscador espiritual.
“Então um dia Òsún, veio a oferecer seus serviços para salvar o mundo da seca.” Nessa sentença revela-se um dos mistérios e caminho da senda do buscador: Servir
Sob o auspício d’Aquela que rege a fertilidade, que vem nos ensinar a fecundar o coração com boas sementes, a cuidar dos frutos, das nossas aspirações interiores simbolizadas nas crianças e sua pureza, nos aguça a sabedoria feminina, o aspecto yin da introspecção, da intuição, nos oferece esse ouro, essas jóias de oportunidades que podemos ou não tornar produtivas, podemos servir ou esconder essas jóias no fundo do rio, não enxergar essas oportunidades… E ainda, não apenas nos aponta o caminho… Também nos ensina a postura para romper as amarras na busca do Sagrado.
Vencer nossas limitações interiores, nossos medos ocultos disfarçados de auto suficiência, nosso ego inflado que não quer ser destronado, onde tenta boicotar as aspirações legítimas de nossa Alma – “Mais uma vez houve revolta geral e risos com os òrìsà contemplando a ideia deste pássaro vaidoso e mimado empreender tal viagem. ‘Você pode quebrar uma unha’, disse um deles.” – e então temos mais uma orientação sobre como agir diante dos desafios nessa empreitada espiritual: – “Mas o pavão persistiu”.
Olhar diretamente para o sol é algo impossível, não o podemos fazer com olhos materiais, no entanto, o sol tudo vitaliza e é a partir de sua luz e do seu calor que a vida acontece na terra. É a raiz de todo o axé primordial. Assim como podemos entender o sol como raiz de toda a vida material, podemos conceber Òlódùmarè como a Causa espiritual de toda essa vida. E para nos integrarmos à essa causa, sairmos da ilusão material e compartilharmos uma consciência superior, devemos empreender a jornada sem vacilações, enfrentando nossos dilemas interiores, nossas sombras, nossa preguiça – “o pavão voou na direção do oòrun (sol)” – “Ela cansou da viagem, mas ela continuou a voar cada vez mais elevado, determinada a alcançar o Senhor do órun” – e ainda – “Suas penas começaram a se tornar desgrenhadas e pretas a partir do calor fulminante do sol e todas as penas de sua cabeça se queimaram”. A Luz espiritual nos despe de todas as vaidades, purifica, remove a ilusão do corpo material, da casca, que embora sagrada enquanto meio para evolução e por isso devendo ser muito bem cuidada, na realidade é apenas um instrumento transitório. A pavão não se preocupou com isso, pois sabia que as penas eram apenas a forma. O despertar espiritual é sacramentado no momento em que Todas as Penas da Cabeça (Ori) são queimadas, nada mais obstrui o entendimento, seu objetivo fora alcançado, chegou palácio onde ele tinha comida e água e suas feridas foram tratadas….
Interessante notar que o outrora pavão retorna como abutre, ou seja, conquistou a consciência superior permanentemente e a aparência naturalmente se tornou algo irrelevante… Por esse mesmo motivo, já não importava os aspectos sublimados inferiores como as “piadas” e o “descrédito” em relação a própria capacidade de transcender suas limitações e ilusões. Estas ficaram para trás… E o mais importante de tudo, trouxe consigo a chuva, não fechou-se em si mesma, mas veio compartilhar (servir) com o mundo sua compreensão e entendimento!
Dayane, aos mais velhos, mais novos, meus respeitos, Olorum Modupé!
Motumbá! Axé!!!
Leo
Primorosa interpretação, Leo. Parabéns!
Mutunbaxé. Mutunbá.
Axé!
Olá para todos,
Sr. da Ilha: Amei o iton que o sr postou. Sou iniciada no Alaketu, com raízes no Jeje, há alguns anos…E há mais de dez anos, tive um sonho no qual chegava na entrada de uma casa branca…O guardião me deixou passar, após determinada senha ( que não me lembro ) e seguí por um caminho de pedras que me chamou a atenção. Tive a impressão que eram preciosas…Avistei a casa branca e ” soube ” que era um palácio…Acordei…
Este iton me recordou imediatamente este sonho…Sou iniciada prá Osun, sou dofonitin, da casa do sr. Rogério de Logun ( in memorian ) e neta do sr. Antonio Ferreira Cravo, Tuninho de Oxosse ( in memorian ). Obrigada pelo comentário que virá, com certeza.
Mo jùbá ìyá, creio que teu sonho te levou para uma outra dimensão, esses sonhos que nos deixam com a pulga atráz da orelha e ao mesmo tempo extasiados pela veracidade dos acontecimentos, somente quem passou por isto sabe o que estou falando.
Este itón nos remete ao Odù Òsétúrá, que nos fala do poder feminino, coisa que pouca gente sabe, pois, o PODER está nas mãos dos homens (eles acham que tem), porém, ele pertence as mulheres, por determinação de Deus, todos devemos envolver a mulher em tudo, dar ciencia de tudo, principalmente a Òsún.
A Fonte (Deus) que tem como guardião de suas palavras este Odù, nos impôem esta verdade em um lindo e longo Èsè Ifá (poema) que ao final nos aconselha (os homens) a nos ajoelharmos perante as mulheres, donas do poder e da vida, da magia e do feitiço.
Parabéns pela sua conecção com Òsún.
Gostaria de poder aprofundar nossa conversa, mas existem coisas que somente dentro do Ilè Àse são conversadas.
Ire o.
Olá. Queria deixar aqui meus parabéns pelo blog =) É um trabalho lindo, e posso afirmar que tenho um pouco de inveja das pessoas que podem encontrar assistencia aqui. Sou pagão, e tenho muita dificuldade de encontrar assistência como os iniciantes de candomblé tem aqui. Continuem com esse trabalho. Parabéns.
[…] Fonte: O Candomblé […]
BENÇA AOS MAIS VELHOS E AOS MAIS NOVOS. NÃO QUERO DISPUTAR CONHECIMENTOS, APENAS BUSCO ESCLARECIMENTOS. CONHEÇO ESTE ITAN DE FORMA DIFERENTE. ONDE O CONCEITO IMPERATIVO DA HISTÓRIA EM QUESTÃO, NOS ENSINA, OU PELO MENOS NOS TRAZ A REFLEXÃO DE O PORQUE NOSSO PRIMEIRO CONTATO ALIMENTAR VEM DE NOSSA MÃE. OU SEJA, DA CARNE DA NOSSA MÃE, DO SEIO DELA. POIS, NO ITAN QUE CONHEÇO É UM URUBU QUEM LEVA OS PEDIDOS EOS PRESENTES PARA OLUDUMARE. UMA VEZ TAMBÉM QUE O PAVÃO SE ARREMETE A LOGUNEDE.MAS COMO FRIZEI NO INÍCIO NÃO DISPUTO CONHECIMENTOS APENAS SIGO POR ESCLARECIMENTOS. BEM SEI, QUE PELO FATO DE OXUM SER MÃE DE LOGUN ALGUMAS SIMBOLOGIAS LHE SÃO DE DIREITO POR ESSE FATO. MAS A QUESTÃO É QUE O ITAN NÃO DEFINI REALMENTE SENTIDO. OXUM JÁ DEFINIU PATRONA DO RITUAL DOS ORIXAS PELA SUA PRIMEIRA YAO.OBRIGADO E AXÉ!
Ibi Guiã o que vemos aqui é uma versão brasileira e uma versão nigeriana, encontraremos esse tipo de problemas em muitos iton.
Escolha a sua verdade, abrace-a e siga seu caminho.
Não estamos aqui ditando normas e nem regras. Conhecimento não ocupa espaço no cérebro.
Obrigado pela sua colaboração.
Ire alaafia
Kolofe a todos.
Por favor, peço um esclarecimento!
O urubu/abutre é osun/Oxum.
Sou nova de entendimento na religião, e pergunto Pq deixei um agrado para Oxum no rio de suas águas, Qdo olhei P atrás de mim haviam 4urubus observando, Qdo me afastei 2deles foram até o “meu agrado” observaram… Eu saí de perto e caminhei P a saída, 1 deles veio atrás de mim e depois ainda, parou em outra imagem de orixá, os outros urubus na sequência o acompanharam… (Todos estavam na imagem de xango) dúvida: Dentro do texto Q li, ela é uma mensageira… Então mamãe Oxum aceitou meu pedido!??
Ani Lucia,
Qual foi o local que você fez essa oferenda? Rio de água limpa? Este pássaro não é de Oxun.
Axé.
Fernando, Boa Noite.
Aqui em SP existe um lugar que chama-se santuário dos orixás. Lugar limpo e próprio P entrega de oferendas. Talvez os urubus podem ter se aproximado devido ao cheiro de comida. E Q eu achei estranho… E não havia outros pratos lá, somente velas. E Q ao ler este texto, achei Q fosse uma resposta de Oxum…
Vcs se localizam onde? Estão em SP…
Ana,
Muito provavelmente deve ser isto que aconteceu, eles se aproximaram por conta das comidas, devem estar acostumados.
Sou do Rio de Janeiro, inclusive tenho uma filha de santo aí de S.P, capital.
Axé.
Sou filha de oxum não sabia dessa passagem é linda
Aldenora essa passagem tem tantos fundamentos…
Pena que poucos podem ter acesso a eles.
Ire
mas o Abutre não é de Iyami? O pássaro de Oxum não seria o ikoodiè? (além do pavão)
Tem aquele itan que Iyami fez a roupa branca de Oxum ficar ”suja” de vermelho (na festa de Oxalá) , ela não convidou as Ajés…
resumindo: não entendi direito..
correção* ikoodidé
Ana Faria as aves de rapina, incluindo Abutre, são pássaros que pertencem as Senhoras da Noite, sendo Òsún a Chefe maior do Culto.
Ikoodidè é a pena do rabo do papagaio cinza.
As Eleye (Senhoras proprietárias dos pássaros), são as energias femininas que participam da sociedade e a elas pertencem todas as aves de rapina.
Leia um pouco do que postei sobre o assunto em:http://www.orisaifa.blogspot.com.xn--rif-9kah6dxb93p.com/2018/08/osun-e-gelefun.html
Nesse blog você vai encontrar mais post sobre esse tema, ok.
Ire alaafia
Ire o baba, obrigado 🙂 Eu não sabia que Oxum era Chefe das Ajés…Mas sabia sobre o ikoodidé, o papagaio dela…
Só agora percebi meu erro de digitação..aff, eu estava me referindo na verdade ao pássaro Odidé (papagaio cinza da Costa com as penas do rabo vermelhas) , mas a palavra que estava na minha cabeça era ikodidé, simplesmente a pena do rabo, e acabei colocando essa palavra um tanto de vezes,,desculpe meu erro..
Ana o referido pássaro acredita-se ser uma referencia a Osoosi.
Pois, seu papagaio que salvou a vida de sua avó, matando sua fome, enquanto ele vagava pela mata e não encontrava a caça,podemos dizer que tbm foi o causador de sua morte.
Ele retorna e vê que seu animal foi consumido, ele aponta seu arco para o Sol e pede ao Espirito de Odidere (Odide) que guia sua flexa ao peito de quem havia matado e comido sua ave. E flecha crava o peita dela.
São mitos que reforçam o rito, são histórias que perpetuam nossa religião.
Aqui no blog vc pode ler esse iton:
https://ocandomble.com/2013/04/11/osoosi-ode-mata-a-medicina-do-espirito-do-perseguidor/
Ire alaafia
Ire o baba, sim obrigada pelas sugstões, já li e copiei rs 🙂