Apresentamos uma pequena parabola sobre Òrúnmìlá e Esù, uma delicia de leitura que ajudará a enriquecer nossa cultura.
Esú, com sua extrema curiosidade, vivia a andar pela Terra, tentando descobrir todos os segredos e mistérios que existiam no planeta. Em nome desta ânsia do saber, pediu a seu irmão gêmeo, Ogun, que cuidasse de sua tribo, este, no entanto, recusou-se, argumentando que também não dava a devida atenção a sua própria tribo. Por fim os dois deixaram suas tribos sob os cuidados de sua mãe, Yemojá, pois ela sempre dava atenção a quem quer que fosse… O sol estava no ponto mais alto do céu, fustigando a vegetação, enquanto uma leve e quente brisa soprava o cheiro da mata quase seca. A cada passo, Esù podia sentir o chão seco e a poeira colar em seus calcanhares suados, enquanto pensava em que caminho tomaria, para encontrar algo que saciasse sua sede de conhecimento. Embora parecesse absorto em suas divagações, estava sempre alerta a tudo o que acontecia a sua volta, tanto que podia ouvir o bater das asas de uma borboleta, ou o abrir e fechar dos olhos de um macaco à longa distância e distinguir os sons de tal forma, que podia prestar a atenção a tudo. Devido a esta sua capacidade, todos o comparavam ao vento, dizendo que ele estava em todos os lugares. Com sua apurada audição, ele sentiu a aproximação de uma desembestada manada de rinocerontes ao longe. Isto se transformou em uma distração, pois acompanhava com os olhos a corrida desorientada dos bichos que, por onde passavam, espantavam pássaros, derrubavam árvores e atropelavam outros animais. De repente a manada virou-se em sua direção e ele, sem querer influir no arbítrio dos rinocerontes, decidiu sair de seu caminho. Num salto rápido alcançou o topo de uma grande pedra que estava ali perto, saindo da frente dos animais que levantaram uma imensa nuvem de poeira, que o deixaram sem visão por um instante. Do alto da rocha, assim que se dissipou a nuvem poeirenta, ele divisou ao longe, na vasta savana, um ancião deitado à sombra de um arbusto, parecendo estar dormindo, dada sua inércia. Não precisou pensar muito para ver que a manada estava na direção do pobre velho, que poderia machucar-se muito. Vendo aquilo, Esù sentiu-se condoído, não lhe agradava a idéia de que alguém pudesse ter um fim tão trágico. Tentando alertar o ancião, juntou todo o ar que seu pulmão pudesse suportar e gritou. No entanto o velho nem sequer se mexeu. Sem atinar se o barulho da manada abafara o seu berro, pensou que o homem pudesse estar ali desmaiado ou doente. Esù sentiu em seu ser que deveria ajudá-lo. Usando de sua fantástica velocidade, ele correu pela savana e, quando alcançou a manada, pulou e andou por sobre o lombo dos rinocerontes num malabarismo fantástico, vencendo um a um. Como tinha o poder de encantar qualquer animal, destemido, ele pulou à frente da manada, tomou uma distância segura, ergueu as mãos ao céu num gesto magistral e exalou todo seu poder. Um a um os animais paravam, deitavam-se e caiam em um profundo sono. Toda savana testemunhou um inesquecível espetáculo, tendo como produto final, o que parecia ser um imenso tapete de rinocerontes. Tal foi à força do encanto, que fez calar tudo ao redor, se uma mosca houvera passado por ali, com certeza caíra desfalecida pelo chão árido. Depois de afastar o perigo, Esù, cansado pelo grande desprendimento de energia, virou-se e andou em direção ao ancião para ver o que acontecera. Quando estava chegando perto, pôde ver o velho levantar-se, tirando o pó das rotas vestes. Era um ser curvado de movimentos lentos, que se apoiava num carcomido cajado. Com os olhos quase cobertos pelas pálpebras, fitou seu benfeitor com candura e um sorriso trêmulo, curvando-se em sinal de agradecimento. O viril pensou que era algum tribal que fora abandonado à sorte pelos seus patrícios. Curioso Esù indignado indagou: – Quem é você? O que faz aí, bem à frente de uma desembestada manada preste a ser demolido por completo? – Quer saber quem sou? Perguntou o velho sorridente, mostrando apenas dois dentes na boca e caiu no chão sobre si, cobrindo-se com seus trapos, parecendo querer esconder-se. De repente, uma imensa luz despedaçou os trapos como se fossem de vidro. Neste momento surgiu à frente de Esù um ser que brilhava como o Sol, que chegou a ofuscar seus os olhos de fogo. Quando se acostumou com o brilho, ele viu que se tratava de Ifá, um ser de luz, enviado de Olodumarè na Terra, encarregado de ouvir a todos aqueles que buscam ajuda, detentor de segredos e dos mistérios. Perplexo, Esù perguntou. – O que aconteceu, para você, um òrìsá, materializado como um velho, estar caído à sombra de um arbusto, esperando ser pisoteado pelos rinocerontes – neste momento Esù percebeu que não estava na savana, mas numa floresta à beira de um rio, o ar era úmido e com um maravilhoso cheiro de verde. O carcomido cajado cintilava e tinha na ponta uma reluzente bola de cristal, que rodava sem parar em volta de seu próprio eixo, ela era como a íris do grande olho que se formou no ponto mais alto do cajado. Ifá com voz solene, que parecia ecoar pela floresta, pacientemente explicou: – Isto tudo se tratava de um teste, pois, entre os òrìsás corre a história de que você não era capaz de ajudar ninguém, sem querer algo em troca, uma vez que só pensava em si mesmo e em suas descobertas. Mas vejo que todos estão errados e hoje vi com meus próprios olhos que a bondade pode ser despertada em você, uma vez que correu em auxílio de um velho pobre e aparentemente sem nada para dar em troca. Frente a isto, quero lhe propor o seguinte: como sei da sua curiosidade, eu lhe darei um modo de saber o presente, o passado e o futuro – Ifá debruçou-se sobre o rio, pegou dentre as águas um punhado de conchas e prosseguiu – tome, estes são meus olhos, dou-lhe estes búzios, um jogo através do qual saberá tudo o que ocorre pelas tribos, com a condição de ajudar a todos que precisem de seu auxílio. – Eu aceito seu presente. Esù pegou das mãos de Ifá as conchas, enquanto as duas bolas de fogo, seus olhos, brilhavam como nunca, parecendo estarem hipnotizados e continuou – embora não possa afirmar que correrei atrás de ninguém para ajudar, prometo auxiliar a todos que a mim vierem. Assim que terminou de falar, ele levantou os olhos e não viu nem floresta com rio, nem o ser de luz, que havia desaparecido como se tivesse evaporado no ar, encontrava-se à sombra de um arbusto no meio da seca savana. Esù sentiu um misto de êxtase e torpor, ao constatar que seu esforço não fora em vão e ao ver que um sentimento tão simples pudesse lhe render tão precioso presente. Essas sensações cruzaram com ele todo o caminho de volta para sua gruta, onde guardou e sempre consultava seu jogo, para saber os acontecimentos e fofocas de todas as tribos, procurando manter em segredo seu valioso presente.
Lindo esse Itã!!!
Não consigo dizer mais nada… e nem precisa, senti-lo é o q importa.
Verdade q lenda incrível, e eu sempre me perguntava como Exu ganhou de ifá o segredo de ler os búzios quando eu li q Oxum conseguiu de maneira a enganar Exu os segredos de ler os búzios para dá ao seu Pai Oxalá!!! simplesmente maravilhoso!!!!
Parabéns e muito obrigado por compartilhar tão bela parábola, é verdadeiramente uma lição de vida de “Como ajudar o próximo sem nada em troca”, o próprio Exú o fez com maestria. Porque será que para alguns “seres humanos” é tão difícil aprender uma lição tão simples? Mojubá!
Beto, Ifá nos diz que os Ajogun (forças malévolas), habitam nosso interior. O egoismo é um Ajogun.
A falta de conhecimento do que seja Orí, Ori inu e Iponri, levam as pessoas a desconhecerem o tratamento para tais negatividades.
Somente o conhecimento poderá ajudá-las a sair da obscuridade.
Ire o.
Da Ilha, égbé
Uma linda parábola, isso nos mostra a verdadeira face de Exú, traga-nos sempre elucidações como esta, parabéns.
Muitas vezes quando o Babalorixá ou a Iyalorixá consulta Ifá através de Orunmilá e Exú se posiciona no jogo, é sempre com esse objetivo de orientar e dar caminho ao consulente.
Axé.
amei esta historia,gostaria de sabe sobre ayra eu não fiz santo mais algumas pessoas fal que sou de ayra e otra de oxala.
ASÈ, que belo texto!!
Mo jùbá oooooooooo
fabio,
Entre no post ‘qualidades de xangô” e “qualidades de Oxalá”, tem muita informação e leia também os nossos comentários.
Axé.
Baba,
Muito linda essa história, nunca tinha lido.
Onde consigo ler mais lendas como essas? Tenho verge e prandi.
Mto obrigado.
LINDO.me comoveu demais pq sonhei com Esu sentado na estrada,era vermelho e tinha cabelos e barba brancas,usava uma especie de bernuda surrada, estava triste,sujo de poeira e cansado,eu perguntei; Bara,q faz tao triste e sujo? q te fizeram? ele disse sente comigo, me de as maos. e fez uma reza. e pegou um papel e escreveu algo.dobrou e colocou no meu ouvido e o papel entrou na minha cabeça. eu perguntei que eh? ele disse: o segredo…quando li o texto eu me comovi. como quanto mais eu estudo menos entendo, soh tenho eh muita gratidao. Mojuba
SEM COMENTÁRIOS ,OU SEM PALAVRAS, O CURSO EST’CADA VEZ MELHOR E COM A SALA ENTUPIDA DE GENTE.
EU Não SUMI , EM SÃO PAULO AS COISAS SÃO MAIS EM BAIXO.
KOLOFÉ/ MUTUMBÁ / FELICIDADES/ IRE OOOOOOOOOOOO
ARTHUR DIAS , LEMBROU????????
Baba Da Ilha, sinceros agradecimentos por nos brindar com tão lindo Itan. Vem dismistificar aquela ideia que algumas pessoas tem de que Esu é só maldades; que baba mi Osagiyan o cubra de bençãos. Mò júba.
Luiz, àse é ooooooo.
Erinlè ki ba se.
Ire o.
O texto é lindo. Mas tenho uma dúvida que é
Porque não pode jogar Ifá de graça
Olá, final do ano passado, também foi o fim de um relacionamento curto, mas marcante. Enquanto eu ainda estava com o garoto que tive um caso, tentei saber se eu tinha um bom tempo ainda junto a ele, já que estava loucamente apaixonado.Um mês depois ele já estava com outro. Procurei uma “macumbeira” e ela fez um trabalho de harmonização entre nós, mas ele não voltou comigo. Eu sofria muito por ele, foi quando procurei uma mãe de santo, sacerdotisa de Ifá. Ela falou detalhadamente na consulta que meu pai de cabeça é Azauani (obaluaê) e que ele estava pedindo um bori. Eu questionei se isso poderia trazer o garoto de volta, ela falou que eu ia ficar com a cabeça em positivo e ele ia voltar comigo e eu ia ter uma função na casa, de servir com meu carro nas entregas do ebós e no transporte dela, do filho e do esposo quando eles precisassem. Ela parecia não se sentir a vontade com a ideia do garoto voltar comigo, já que ele poderia não aceitar a minha nova religião. Enfim, fiz o bori, passou 4 meses, perdi meu encantamento pelo garoto, e ao contrário do que ela me falou o menino nem sinal. Cansado de ficar servindo a casa, conversei com ela honestamente que eu vim a casa para reparar o trabalho da “macumbeira” que não tinha funcionado, e que não poderia mais continuar frequentando a casa, pois esta espiritualidade não me socorreu quando eu precisei, ao contrário, socorreu-se em mim, sem retorno para mim. Quanto ao garoto ela falou que eu não o mereci e que ela não tinha nada para me oferecer. Quanto a minha saída da casa, é possível ? Eu disse bem claro para ela que não tenho nada contra a religião que gosto muito, só não me atendeu quando precisei, pois não sou o homem primitivo exigido para tal e continuarei observando a quizila de meu pai. O que vocês podem dizer sobre tudo ?
Orion eu acho que vocês fizeram um balcão de negócios.
Veja se alguém deve a alguém e pegue o troco.
Ire o.
Sim, talvez eu fiz uma proposta errada, mas eles aceitaram com condições. Mas o meu questionamento é se eu posso mudar de casa ? Se teve validade meu bori, essas coisas…
Órion se o seu Bori lhe fez bem, ele é válido pois Bori é feito para o seu òrìsà Ori e não tem nada a ver com òrìsà propriamente dito e Bori não conta como ponto dentro da hierarquia espiritual.
Você muda de casa conforme sua vontade, porém, não é uma coisa saudável. Bom mesmo é fincar raízes dentro da família.
Ire o
Obrigado pelas respostas acima. O bom da religião é que nós acreditamos poder alimentar a cabeça, o centro de comando de todo o corpo, mas seria bom também se tivéssemos um ritual similar voltado para dar alimento ao coração, para fortalecer a vida sentimental, já que um trabalho de harmonização ou amarração é mais complicado, além de eu já ter aprendido aqui não ser a melhor solução, sendo até desestimulado. Obrigado e Axé!
Quanto a sua sugestão de pegar o troco, não é o material que vem em primeiro, era o espiritual a coisa mais importante para mim, no caso, traduzido em AMOR. Mas tudo bem, a vida vai nos ensinando à medida que a gente vai conhecendo outros caminhos até então desconhecidos, que nem tudo é possível, e fico muito decepcionado que enquanto existe tanto movimento para proteger a religião contra discriminação e preconceito, também existem pessoas dentro da religião pisando na bola, embora não seja necessariamente as pessoas a que me referi. Uma boa noite a todos. Axé.