A Casa das Minas
Casa das Minas é o terreiro de tambor de mina mais antigo de São Luís. Foi fundada em 1840 por escravizadas(os) africanas(os) procedentes de Dahomey, atual República do Benin. As(Os) africanas(os) denominavam a Casa de Querebentã de Zomadonu. A fundadora do terreiro, conhecida como Maria Jesuína, era consagrada ao vodun Zomadonu, o dono da casa. Segundo as pesquisas realizadas por Pierre Verger revelaram que a Casa das Minas foi fundada pela rainha Nà Agontimé, viúva do Rei Agonglô (1789-1797) e mãe do Rei Ghezo do Daomé. Em Colóquio da UNESCO, em São Luís, no ano de 1985, para discutir Sobrevivências das Tradições Religiosas na América Latina e Caribe é assinalado que:“A casa fundada no Brasil pela Rainha Agontimé, mãe do Rei Ghezo, condenada à deportação a seguir a um ajuste de contas no seio da família real, antes que seu filho ascendesse ao trono do Dahomey em 1818 e lançasse uma vasta operação de busca a sua mãe. A comunidade da Casa das Minas, com base na família, continua a tradição religiosa real de Zomadonu […]” (UNESCO: 1986, p. 34). A Casa das Minas possui uma organização matriarcal, sendo, portanto, chefiada por mulheres. Começando pelas mães: Na Agontimé, Luísa, Hosana, Andresa Maria (uma das mães mais conhecidas da Casa das Minas, que a governou entre 1914 e 1954)e Leocádia (Vodunsi Gonjai). Depois vieram as mães: Anéris Santos, Manoca, Filomena, Amância, Amélia Vieira Pinto até chegar à Mãe Deni. Mãe Deni, vodunsi de Toi Lépon, é a nona dirigente da Casa. Os voduns da Casa são agrupados em quatro famílias principais: Davice (a mais importante); Dambirá; Quevioso; e Savalunu. Tambor de Mina é o nome dado à religião de origem africana no Maranhão. O modelo de organização dos terreiros de tambor de mina é muito influenciado pela Casa das Minas que foi tombada pelo IPHAN em 2002.
Os Voduns do Tambor de Mina
Os voduns cultuados na Casa das Minas são em sua grande maioria vindos da cultura do povo Gen do sul do Benin, e estão sob o comando de Zomadonu, embora a grande comandante da casa seja Nochê Naé.
“O panteão da Casa das Minas”
“Embora a Casa das Minas não tenha originado outras casas de culto, sua estrutura e panteão tem sido um modelo para outras casas.
Os voduns, deuses do povo fon ou jeje são forças da natureza e antepassados humanos divinizados. Os voduns cultuados na Casa das Minas estão agrupados nas famílias de Davice, Dambirá, Savaluno e Queviossô (Ferretti, 1989, 1996).
Alguns voduns jovens chamados toqüéns ou toqüenos cumprem a função de guias, mensageiros, ajudantes dos outros voduns. São eles que “vêm” na frente e chamam os outros. Têm cerca de quinze anos de idade, podendo ser masculinos ou femininos, pertencendo a maioria à família de Davice. Nos clãs de Quevioçô e Dambirá são os voduns mais jovens que desempenham esse papel.
Além dos voduns, fazem parte do panteão da Casa das Minas as Tobôssis, divindades infantis femininas, consideradas filhas dos voduns, recebidas pelas dançantes com iniciação plena, as chamadas vodúnsi-gonjaí. As princesas meninas não vêm mais na Casa das Minas. Com a morte das últimas vodúnsi-gonjaí, parte do processo de iniciação se perdeu, de modo que as dançantes remanescentes não tiveram iniciação no grau de gonjaí, de senioridade. E as Tobôssis não vieram mais na Casa das Minas. Diferentemente dos voduns, que podem manifestar-se em diferentes adeptos, a Tobôssi, na Casa das Minas, é considerada entidade única, exclusiva de sua vodúnsi-gonjaí, e que desaparece com a morte da dançante que a recebia, não se incorporando depois em mais ninguém.
Os voduns e suas famílias
Conforme estudos exaustivos de Sérgio Ferretti já citados, assim se configura o panteão dos voduns na Casa das Minas, família por família:
Família de Davice
A Família de Davice reúne os voduns da família real do Abomey, no antigo Daomé, atual Benim, e é composta dos seguintes voduns:
Nochê Naê, Mãe Naê – a vodum mais velha e ancestral mítica do clã. Chefe das Tobôssis e considerada a Mãe de Todos os Voduns
Zomadônu – o dono da Casa das Minas e chefe de uma das linhagens da família de Davice. Rei e pai dos toqüéns Toçá e Tocé (gêmeos), Jagoboroçu (Boçu) e Apoji. Zomadônu é filho de Acoicinacaba.
Acoicinacaba (Coicinacaba) – pai de Zomadônu e filho de Dadarrô.
Dadarrô – chefe da primeira linhagem da família; vodum mais velho da família de Davice. Casado com Naedona e pai de Acoicinacaba, portanto, avô de Zomadônu. É pai de Sepazim, Doçu, Bedigá, Nanim e Apojevó. Representa o governo e é protetor dos homens de dinheiro.
Naedona (Naiadona ou Naegongom) – esposa de Dadarrô e mãe de Sepazim, Doçu, Bedigá, Nanim e Apojevó.
Arronoviçavá – irmão de Naedona, é cambinda (mas considerado jeje por outras casas).
Sepazim – princesa casada com Daco-Donu, com quem teve um filho chamado Tói Daco, que é toqüém.
Daco-Donu – marido de Sepazim, pai de Daco.
Daco – filho de Sepazim e Daco-Donu. Toqüém.
Doçu (Doçu-Agajá, Maçon, Huntó ou Bogueçá) – jovem cavaleiro, boêmio, poeta, compositor e tocador. Pai dos três toqüéns Doçupé, Nochê Decé e Nochê Acuevi.
Doçupé – filho de Doçu. Toqüém.
Nochê Decé – filha de Doçu. Toqüém.
Nochê Acuevi – filha de Doçu. Toqüém.
Bedigá – também cavaleiro como o irmão Doçu. Aceitou a coroa do pai Dadarrô que Doçu tinha recusado. Protetor dos governantes, advogados e juízes.
Apojevó – filho mais novo de Dadarrô. Toqüém.
Nochê Nanim (Ananim) – filha adotiva de Dadarrô, criou Daco (neto de Dadarrô) e Apojevó (seu irmão mais novo).
Família de Savaluno
Família de Savaluno. É uma família de voduns amigos da família de Davice. Não são jejes e são hóspedes na Casa das Minas.
Topa – um vodum solitário, o qual tem mais dois irmãos, Agongono e Zacá.
Zacá (Azacá) – vodum caçador.
Agongono – vodum que se relaciona com os astros; amigo de Zomadônu e pai de Jotim.
Jotim – filho de Agongono. Toqüém.
Família de Dambirá (Damballah)
Família de Dambirá. Reúne os voduns da terra, ligados às doenças e às curas.
Acóssi Sapatá (Acóssi, Acossapatá ou Odan) – curador e cientista, conhece o remédio para todas as doenças. Ficou doente também por tratar os enfermos. Pai de Lepom, Poliboji, Borutoi, Bogono, Alogué, Boça, Boçucó e dos gêmeos Roeju e Aboju.
Azile – irmão de Acóssi. Também é doente.
Azonce (Azonço, Agonço ou Dambirá-Agonço) – irmão de Acóssi e Azile, o único que não é doente. É velho e é nagô. Pai de Euá.
Euá – filha de Azonce, também é nagô.
Lepom – filho mais velho de Acóssi. Vodum velho.
Poliboji – também vodum velho.
Borutoi (Borotoe ou Abatotoe) – vodum velho. Usa bengala.
Bogono (Bogon ou Bagolo) – diz-se que se transforma em sapo.
Alogué – diz-se que é aleijado.
Boça (Boçalabê) – mocinha alegre, está sempre com o irmão Boçucó. Toqüém.
Boçucó- outro dos irmãos mais novos. Toqüém.
Roeju e Aboju – irmãos gêmeos. Ambos toqüéns.
Família de Quevioso
Família de Quevioso. É família de voduns considerados nagôs, embora não sejam orixás (entre eles, apenas Nanã é cultuada nos candomblés de orixá, tendo sido incorporada ao panteão iorubá desde a África, assim como seus filhos Omulu e Oxumarê). Quase todos são mudos para evitar que revelem os segredos dos nagôs ao pessoal da Casa das Minas, onde são hóspedes de Zomadônu.
Nanã (Nanã Biocã, Nanã Burucu, Nanã Borocô ou Nanã Borotoi) – diz-se que é de Davice mas auxilia Quevioso. É a nagô mais velha, a que trouxe os outros. Alguns dizem, ser ela a mesma Nochê Naé e a mesma Vó Missã dos nagôs.
Naité (Anaité ou Deguesina) – mulher velha que representa a lua.
Nochê Sobô (Sobô Babadi) – considerada mãe de todos os voduns de Quevioçô (Badé, Lissá, Loco, Ajanutoi, Averequete e Abé). Representa o raio e o trovão.
Badé (Nenem Quevioso) – representa o corisco. Equivale a Xangô entre os nagôs. É mudo e se comunica por sinais.
Lissá – vodum dos astros. Representa o sol. É vadio e anda muito. Também é mudo.
Loco – representa o vento e a tempestade. Também é mudo.
Ajanutoi – é surdo-mudo e não gosta de crianças.
Abé – vodum dos astros, como Loco. Representa o cometa, uma estrela caída nas águas do mar. Vodum jovem e mulher. Uma dos poucos do clã que falam. É toqüém. Corresponde ao orixá Iemanjá dos nagôs.
Averequete (Verequete) – Também fala e é toqüém.
Há dois voduns amigos da família de Quevioso que tomam conta dos filhos de Dambirá. São eles:
Ajautó de Aladá (Aladanu) – amigo da casa. Pai de Avrejó. É velho e usa bengala. Ajuda Acóssi, que é doente. Mora com o povo de Quevioso. É rei nagô, protetor dos advogados.
Avrejó – Filho de Ajautó. Toqüém.
Legba ou Legbara, figura comum nas religiões afro-brasileiras, conhecido em outras “nações” pelo nome de Exu, é a divindade que assume a função de trickster ou trapaceiro. Não tem culto organizado na Casa das Minas, onde é identificado com Satanás, o Mal. Não é aceito como mensageiro, mesmo porque quem realiza essa função são os toqüéns. Apesar de não ter culto organizado, verificam-se uns poucos gestos rituais ligados a Legba, como por exemplo, certos cânticos pedindo para que Legba se afaste, que são cantados ao início de todo tambor. Ocupa, entretanto, lugar importante em outros terreiros influentes de São Luís.
Há outros voduns do tambor-de-mina que não aparecem nesta classificação por não serem referidos na Casa das Minas, mas que são cultuados em outros terreiros, como Boço Jara, Xadantã e Vondereji presentes na Casa de Nagô.”
Nas Pegadas dos Voduns. Um terreiro de tambor-de-mina em São Paulo. Reginaldo Prandi).
Existe também o Tambor de Mina Nagô, onde são cultuados alguns Orixás, juntamente com os voduns. A Casa de Nagô (Nagon Abioton), fundada por africanos de tradição yourubá, mais precisamente, de Abeokuta, deu origem a outros terreiros de São Luís, em que são recebidas entidades africanas jeje-nagôs, como: Doçu, Averequete, Ewá, Aziri, Acóssi, Nanã Buruku, Xapanã, Ogum, Xangô, Badé, Locô, Iemanjá (Abê), Lissá, Naeté, Sogbô, Avó Missã.
No culto do Tambor de Mina, assim como no Batuque do Rio Grande do Sul, ainda existe muito sincretismo, sendo que nas casas de Tambor de Mina há um local destinado exclusivamente para os santos católicos (é erguida uma espécie de capelinha) e é devido a isso a Casa das Minas considerar o Legba um ser do mal, embora outras casas o tenham como um Vodum importantíssimo.
Kolofé, Motumbá, Mokoiu…
Gostaria que me tirassem algumas dúvidas…
Lendo o post acima e achando muito interessante, notei que esta modalidade de Jeji não é aquela que conheço e vejo até mesmo dentro do Nagô. Gostaria se possivel uma explicação sobre diferenças entre:
1) Ketu; Nagô; Ijexá de origem Nagô
2) Angola; Congo de origem Bantu
3) Mahi; Modubi; Mina; Dahomey; Savalunu de origem Jeji.
Conheço as nomenclaturas e as origens, mas não sei as diferenças. Ficarei grata pela ajuda. Muito axé para todos e meus parabens, vcs formam uma grande equipe!
Cíntia Fernandes Garcia,
Professora de Filosofia
PUC
Cíntia, boa tarde.
Sobre Ilesá posso lhe esclarecer alguns pontos, quanto a sua pergunta sobre Bantu/ Djedje, deixo meus amigos Charles e Euandilu responderem, pois não é minha ‘praia’.
Ilesá é uma cidade histórica, Ijesá é a dança, situada no estado de Òsún, localizado no sudoeste da Nigéria, cujo povo ficou conhecido como nação Ijesá. A cidade é uma das mais tradicionais da história do povo yorubá, já chegou a ser a capital do reino de Oyó, nos tempos do império; Das cidades e aldeias desta região da Nigéria, Ilesá é a maior, com uma população com mais de cem mil habitantes, sofreu influência Fon e vice-e-versa, devido a varias invasões e guerras, eram reinos vizinhos. E o europeu precisava de mão de obra, tanto faz ser Fon ou Ilesá, ele armava um dos lados e fazia a captura humana, os escravos eram espólio dessas guerras e o normal foi a troca de experiências de vários tipos.
Logunédé, Òsun, Erinlé, são òrìsás provenientes desta região com cultura vasta e riquissima.
Por terem dialeto e preceitos ritualisticos bem diferenciados do restante do pais Yoruba, usa-se essa expressão.
Diz um Orin (cantiga)
Àwa ómó oló orò dé o, á dé é o.
Àwa ló máa l’orò ilé wá ó, à dé é o.
Àwa, àwa, àwa ómó ìjèsá. Àwa ómódé ibè ò.
Traduzindo:
Nos somos filhos da senhora do culto tradicional que chegará. (Òsun chegou)
Nós sempre faremos culto tradicional em nossa casa para ela que chegará.
Nós, nós somos filhos Ijesá, nós somos filho de lá.
Ao mestre com carinho.
Ire o.
Cintia, saudações…
Quanto as Nações de Djedje tentarei esclarecer suas dúvidas:
O Jeje Mahi ou Djedje Maxi, provém dos povos Mahis que eram um povo camponês, tendo seu culto sofrido influências dos Nagôs e seus Voduns devido a isso são muito parecidos com os Orixás Yorubás, havendo até incorporado algusn destes elementos a sua cultura. No Jeje Mahi não se cultua os Voduns Reais (Realeza do antigo Daomé, voduns mortos) nem eguns (Akututos) e o rei da nação é Gbesén, a serpente da vida.
O Jeje Modubi é parecido com o Jeje Mahi, mas nesta modalidade cultua-se os akututos e existe a casa de culto a eles.
O Jeje Savalu ou Savalunu é influenciado pela cultura Yorubá, cultuam-se voduns e uma série de Orixás, e o dialeto é proto-iorubá, denominam Sakpata de Saponna.
O Jeje Dahomey cultua Hevioso, Sakpata e Dan, mas não cultua nagô-vodum e cultua os Reais de Dahomey.
O Jeje Mina cultua os Voduns Reais, dirigentes de Dahomey, tendo Voduns nagôs que são considerados “hóspedes” em suas casas.
De uma modalidade para outra há diversificação ritualística e linguistica.
Acè
queria explicações sobre boço jara por favor
Gostaria de saber sobre Boço Vondereji, não encontro nada sobre ele.
Obrigado
Marco leia este artigo
Click to access A%20TERRA%20DOS%20VODUNS.pdf
Ire o.
primeiramente saúdo a todos,gostaria qual a relação da nomenclatura “tambor de mina” com o povo “mina”,trazidos como escravos da áfrica…
desde já agradeço a atenção e a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a formação cultural do povo brasileiro , que poucos tem a flexibilidade de conhecer…
Felipe eu não sei, não conheço nada da cultura Djeje, nosso colaborador Charles está afastado em virtude de compromissos em sua casa.
Esperemos que ele venha em seu auxilio.
Ire o.
Obrigado pela dica li o artigo que me sugeri-o, porem apenas falava de Vondereji mas não falava sobre este vodum. Gostaria muito de saber sobre ele. Se souber alguma fonte que possa me informar mais detalhes lhe ficarei grato. Um abraço Marco Antonio Filomeno
Boa noite,
Estou escrevendo um trabalho sobre algumas manifestacoes culturais afro -brasileiras, e estou com dificuldades em identificar bibliografias que fale das origens do jongo ainda na africa, de que etnia, os rituais originais,quando surgiu no Brasil e em que regioes.Desde ja muito obrigado. ,email:alberto.barroz@gmail.com
Ajax eu não tenho esta informação para lhe dar.
Uma pessoa que pesquisa estes assuntos é o escritor Nei Lopes, ele deve ter site ou blog, investigue.
Ire o.
veja esta foto
amigos uma casa de mina MA que apresenta fundamentos que deveriam esta guardados fora dos olhos de curiosos
Concordo com o senhor Baba. Nossas coisas, são nossas coisas. E devem ser preservadas.
Ire o
Gostaria de saber ser te algo sobre a orixá obá na mina nagô ou tambor de mina
Carlos eu não entendo nada sobre os Jeje de Mina.
Eles devem ter uma pagina na net. Dê uma olhada.
Ire o.
Boa Tarde , Gostaria de saber se o senhor poderia me falar sobre o Vodum Jogorobossu’ Boçu” Desde já agradecido !!!
Pabllo.
Aguarde pelo Charles que é Jeje, eu não conheço esse Vodun.
Axé.