Março 27, 2011 por Fernando D’Osogiyan
O Yorubá é afável, e dispõe de saudações para cada ocasião, para os amigos, conhecidos, etc. O homem deve se prostrar diante de uma pessoa mais velha, enquanto uma mulher deve se ajoelhar.
Saudar faz parte do código de ética, incluindo a doentes, lesados, etc. Quem não procede dessa forma é considerada uma pessoa má e que não tem sentimento com os outros. Também é mau hábito oferecer algo com a mão esquerda. Quando uma pessoa se refere ao pai ou à mãe de outro, deve dizer apenas “pai ou mãe”. Usar a expressão “sua mãe” é considerado um insulto. Disso poderia resultar até numa briga corporal. Tão pouco se pode ofender as mulheres estéreis, Ao se discutir com uma pessoa mais idosa, deve se abaixar a cabeça , sendo-se mulher ou homem. Estou contra as opiniões dos ingleses que mal compreendido que é uma cultura como covardia e insinceridade. É errado atribuir, como o fazem os ingleses, uma aura de covardia aos costumes Yorubás. Trata-se de formalidades tradicionais.
Os Yorubás cooperam uns com os outros como podem, há um provérbio segundo o qual “quando há alguém por perto, não se gastam suas próprias energias”. Um homem que sente uma coceira nas costas pode chamar alguém da família ou amigo para ajudar.
Se um Yorubá vê uma pessoa vestida de maneira estranha, ele imediatamente informa, até pode ajudá-la a ajustar a roupa. Na Inglaterra, por exemplo, o costume não permiti a um homem dizer ao outro que seu chapéu está mal colocado. Nesse particular, os Yorubás são bastante extrovertidos.
A hospitalidade faz parte do bom caráter de uma pessoa. É o costume para uma pessoa que está almoçando ou jantando convidar o visitante. Se a comida não for suficiente para ambos, a esposa preparará um prato adicional.
É também comum dar presentes para a família de um morto como contribuição para ritos funerais. Presentes são dados igualmente a uma moça quando se casa. Uma pessoa voltando de uma viagem se sente na obrigação de trazer presentes aos amigos e às famílias. Similarmente, quando uma pessoa está pronta para viajar, recebe presentes de todos os lados para distribuir àqueles que encontrar. Vê-se portanto que os Yorubás são particularmente sociáveis.
O Conceito de Propriedade
Apesar de ser frequente a solidariedade entre os Yorubás, que se manifesta no empréstimo de bens pessoais e na divisão de alimentos entre amigos, existe uma concepção clara de propriedade privada, não sendo bem visto o coletivismo. No entanto, há alguns exemplos de propriedade conjunta de terra, os quais não têm dado bons resultados devido ao individualismo do Yorubá.
Efetivamente, desde cedo é dada ao filho Yorubá a oportunidade de adquirir seus bens particulares. O dinheiro que recebe por ocasião de seu “ikojade” (aniversário) é utilizado em parte para a compra de animais domésticos. Ao crescer, o indivíduo se orgulha de possuir uma propriedade particular. Um filho que trabalha com o pai sempre recebe uma porção d terra para seu próprio benefício.
Dessa maneira, violar a propriedade constituída, desde o período pré-colonial, crime grave. Roubo, por exemplo, era punido por chicotadas quando realizado pela primeira vez. Na segunda vez, mutilava-se um membro do assaltante, no mínimo, passava-se pimenta no local do corte. Muitas vezes o ladrão era vendido por sua família, quando seu caso fosse crônico. Teoricamente, o roubo era condenado por pena de morte; na prática, era comutado por pena mais leve. Um indivíduo que mantivesse um antigo roubo era castigado como se fosse o próprio ladrão. Há um provérbio Yorubá segundo o qual “o ladrão de uma garrafa de óleo de dendê não é aquele que a rouba, mas aquele que a adquire”.
Roubo de domicílio era geralmente castigado por pena de morte. Apenas os marginais pertencentes a famílias influentes tinha a possibilidade de escapara da morte, mas deviam assim mesmo abandonar a cidade para sempre.
A prática do feitiço como forma de derrubar o proprietário de um terreno é muito incomum, implicava muitas vezes em morte.
Sistema de “Iwofa”
A prática da peonagem (Iwofa) entre os Yorubás é um costume interessante. Assim o denominamos por não se assemelhar nem à escravidão nem à vassalagem em suas diversas formas. Iwofa ou peão é o indivíduo que submete a outrem como garantia de um empréstimo recebido até que este seja restituído com juros. O mutuário não serve apenas como garantia de empréstimo, mas também produz de forma a pagar sua dívida. A instituição de peonagem não está restrita ao indivíduo que assume uma dívida. O Iwofa pode ser um filho ou um neto da família que então passa a servir o credor e sua família até que a dívida seja saldada com juros.
Quando Iwofa é uma mulher solteira e mora com seu patrão, este pode tomá-la como esposa para auxiliar nos trabalhos domésticos e, eventualmente, na fazenda. Entretanto, algumas leis protegem as mulheres do abuso sexual por parte dos patrões. Um homem que force relações com uma “Iwofa” perde o empréstimo feito em nome dela ou de sua família. Se a moça for noiva ou casada, o patrão deve pagar pelos danos ao noivo ou esposo. Por fim, se o patrão desejar casar-se com a moça agredida, deve ainda pagar o preço do matrimônio. Apesar de um escravo ser teoricamente mais rentável que um peão, a prática demonstra que o patrão consegue extrair mais trabalho deste, sendo a peonagem, portanto, um ótimo investimento.
Bibliografia: Ademola Adesojí – Professor de História e Costumes da Cultura do povo Yorubá
Já li esse texto várias vezes e ele me levou a fazer várias reflexões, análises e comparações com a nossa sociedade religiosa aqui no Brasil.
A partir do tato com pessoas de Candomblé, zeladores, filhos de santos de diferentes casas dá pra perceber o quanto o sentido de respeito e ética não tem vêm sendo exercitado em boa parte da comunidade.
E se nós nos restringirmos a ética, perceberemos isso com mais clarividência. Há falta de valores enraizados na personalidade de alguns.
Acredito que a falta do conhecimento sobre os valores da sociedade que provem o nosso culto é sim um dos principais motivos para as diversas loucuras que têm acontecido com o nome da religião.
O povo do santo precisa cada vez mais de educação e valores religiosos.
Como sempre, o babazito me colocando pra refletir. 😉
Axé!
Dayane,
Oyá nos abençoe,
A idéia é essa mesmo, valores religiosos, educação, e postura. O povo Yorubá independente do Orixá, dignifica um comportamento perante a leis da sua sociedade, são consistentes e rígidos. Transpondo para a sua crença, são mais fiéis ainda a crença e a demosntração dessa fé que permeia o inconciente coletivo de todos.
Uma grande comoção popular numa cidade onde Ogun é soberano, por exemplo, no dia de sua festa! Todos querem presentear Ogun, todos se respeitam, todos são rigorosamente iguais, é nesse momento observamos que o conceito religioso se expande em todas as camadas sociais, não tem rico e nem pobre e todos são Negros e Ogun se dispõe à todos.
O povo Yorubá e sua psicologia consumada, sua doutrina de vida e sua forma homogênia de fé.
Awure!
Esse artigo explanou bem o assunto abordado, muito bom!
Rennan,
Atendo sim, e será um prazer recebe-lo em minha casa. Por favor, me passe seu email.
Axé,