Parte 1
Ègbé,
Costumo sempre que possível perguntar aos abians e os mais novos o que eles sabem a respeito de nossa religião. O que realmente vieram colher, o que realmente irão cultuar e o que eles objetivam.
Para minha surpresa, ninguém conhece o cerne da questão.
Por que cultuamos òrìsá?
Qual a finalidade de tudo isto?
Onde fica o fim da estrada?
Eéwo (tabu), absolvição, punição, Èsú, o que será que tudo isto quer dizer?
O que devemos fazer dentro de um Ilè àse?
Lavar, passar, cozinhar, arrumar, guardar, olhar, falar, fofocar, concertar, desentupir, capinar, varrer, ajudar, comer, aprender, osé, acender vela, rezar, òfò e etc…
Quem poderia levantar o braço e dizer que a canção mais importante, é a que você está compondo?
Sua canção tem que ser linda e ela não pode ser dividida e nem ter parceria, letra e musica devem ter inspiração própria, você tem compromissos seriíssimos com sua evolução
O sentido de caridade e ajuda ao semelhante é magnífico, porém, devemos olhar nossa estrada, devemos objetivar evoluir, devemos ascender, devemos buscar a superação.
Dentro deste conceito, se analisarmos friamente, o grupo será beneficiado, se há evolução pessoal dentro do grupo, então existe um objetivo a ser alcançado pelos demais. Devemos servir de inspiração e não ajudantes de entrega ou meros ajudantes de estiva, ajudar o outro a carregar um peso que ele se desobriga a carregar, visto que chegou um auxilio luxuoso. Neste caso, você.
O conceito de evolução espiritual está na base de nosso culto, é a atividade fim de nosso sacrificio, o objetivo maior do ser humano. E esta base chama-se caráter. Caráter é muito importante dentro desta cadeia espiritual, uma pessoa desprovida de caráter sempre terá obstáculos a ser ultrapassados, sua vida sempre terá um plus nos problemas, sempre ouviremos aquelas famosas frases:
Mas como?
Eu dei comida, dei até bicho de quatro pés calçado e nada aconteceu.
E começa a transferência de responsabilidades, a mão do Ogan é ruim, o sacerdote não tem àse, me disseram que não foi feito direito, pelo que eu sei ficou faltando algo, enfim…
Uma gama de subterfúgios para poder mascarar o erro individual, o desvio de caráter. Não podemos em hipótese alguma fugir de nossas responsabilidades, não estamos aqui para simplesmente vestir, bailar e ralar dentro de uma casa de àse.
Nossas atitudes dentro e fora contaram muito, não se embriagar, a não promiscuidade, os maus costumes, os desvios de conduta, a falta de cuidado com o que não lhe pertence e muito mais exemplos que não são necessários exemplificar aqui, pois o conceito de certo e errado nasce com você, ele nós é ofertado na hora do sopro divino de Òlódúmarè (Emi), sabemos muito bem onde está o fiel da balança e para que lado ela pende conforme nossas atitudes no dia-a-dia.
Dito isto, espero que fique menos confuso a forma de se relacionar com os objetivos de nossa religião. Orí é o ponto a ser alcançado e o caráter é a base para se conseguir atingir a meta.
Lembrem: Se o ebo não fez efeito é por que faltou “folha” e esta folha muitas vezes pode ser o nosso caráter.
Ire gbogbo.
Por Da Ilha.




Motumbá aos mais velhos, aos mais novos!
Caro Da Ilha, texto primoroso.
Fundamento primeiro e mais importante e ainda, por muitas vezes esquecido: o Caráter.
Muitas vezes os bons princípios ficam em segundo plano em nossa religião por desinformação, pelo fato de que muitas pessoas ainda procuram a religião do orixás como um balcão de barganha espiritual, como um meio fácil para resolver problemas criados por elas mesmas e não como um Caminho para estreitar a relação com o Sagrado, com Deus, através da comunhão fraternal dos adeptos, da amizade, do amor. E isso é compreensível, pois temos uma herança terrível nesse sentido.
Oriunda de uma visão colonialista que deturpou a religião com os absurdos de relacionar Exu ao diabo, adoração de ídolos, religião pagã, etc, mecanismos para justificar o processo de escravidão como se estivessem prestando um favor aos africanos livrando-os da condenação do inferno, na realidade, foram apenas subterfúgios para mascarar os verdadeiros motivos, a exploração da mão de obra com fins de enriquecimento, acúmulo de capital, alicerçados no “cristianismo” que em sua mensagem legítima apregoa justamente o contrário, o desapego dos bens materiais, o amor ao próximo, a justiça social, aliás, motivo da condenação a morte de um rebelde e subversivo que confrontava o poder estabelecido pelo clero e senhores da lei, uma vez que Jesus rezava nas montanhas, refugiava-se na natureza para estabelecer sua comunhão com Deus (em verdade e em espírito) ao invés de ir ao templo, diga-se de passagem, centro econômico naquele período (e ainda hoje em algumas religiões). Mais que isso, em tempo algum na práxis ou palavras de Jesus denota-se uma salvação exclusivista para determinado povo ou estabelece ele uma religião como caminho único. Pelo contrário, refere que o amor do Pai (sim, trata Deus criador de maneira intimista) como universal (faz chover sobre justos e injustos), e ainda, deixa muito claro que o critério fundamental de toda a sua doutrina pontuada por exemplos exclue os pretensos donos da verdade (fundamentalistas em geral) da participação do “Reino de Deus”, a partir de elementos éticos práticos e normas de conduta que devem ser observados (MT 25, 31-46) em detrimento a pertença a uma determinada classe religiosa, social, de castas, etc.
O mais importante é a observância de sermos todos originados em um mesmo Deus, uma mesma energia criadora e portanto, irmãos independente de crenças ou ideologias.
Encontraremos esses princípios éticos em todas as linhas religiosas, ao menos em sua essência não contaminada pela ignorância humana daqueles que ainda não entenderam que o egocentrismo e por consequência, o egoísmo, a vaidade, a ganância, entre outras mazelas, não fazem parte genuinamente da nossa natureza, é apenas uma ilusão, mas que trás por consequência muito sofrimento (ação e reação), onde, talvez assim possamos despertar nossas consciências e eleva-las em direção a verdade. Em nossa religião também não é diferente. Embora conceitualmente as religiões divirjam, ter um bom caráter é algo em comum a todas elas.
Temos que ter consciência que ainda hoje temos em nossa própria herança religiosa afro-brasileira inúmeros maus exemplos de supostos zeladores que intimidam e assustam seus filhos, vizinhos, com ameaças, eles próprios usando terminologias para seus orixás ou entidades como chifrudo, capeta, diabos, que se, em um primeiro momento era um recurso para o negro perseguido defender-se de seus feitores, hoje é completamente descabido, diria mais, vergonhoso!
Enfim, achei perfeita a reflexão proposta: “O que realmente vieram colher, o que realmente irão cultuar e o que eles objetivam?”
Parabéns pelo texto, fica a reflexão para todos nós…
Abraço!
Axé!!!!
Leo
Motumbá aos mais velhos e mais novos assim como eu… irmãos de fé como é importante tal discussão, e saibam para mim foi em resposta, hoje eu precisava ler, ouvir e sentir essas palavras, me encheu de paz, que os Orixas possam abençoar cada um que participa para o engrandecimento do nosso conhecimento e evolução pessoal.
Um grande abraço!
Leo, um 10 para vc.
Que as bençãos venham em abundância sobre sua cabeça.
Ire o.
boa noite!!!! mais uma vez esse artigo veio para nos ajudar e como esclarece nossas duvidas parabens pela matéria.asé
Caro Da Ilha, apenas posso agradecer a oportunidade de tanto aprender com todos vocês!
Mojubá!
Olorum modupé!
Motumbá Axé!!!
Leo
“você tem compromissos seriíssimos com sua evolução”. Não é preciso dizer mais nada. Excelente
hola!!gostaria de saber…se vcs conhece um bom pai de santo para jogar buzios on line ou carta eu moro fora do brasil no caso eu teria depositar dinheirobigado
adoro sito de vcs,gostaria de parabenizar obrigado
Por isso admiro muito as pessoas que vem com a missão de zelar por outras cabeças. É o tipo de missão da qual : ou se está por que realmente gosta, ou além disso, por que gosta e tem o dom! Lhe dar com egos e caráteres ha´de ser o fardo mais pesado para as costas que tenham tamanha largura e pernas para suportar a caminhada. Dura, difícil e honrosa. E ainda assim, não há como garantir que os carregados assimilem a necessidade de saber o por que estão e para que estão. Saber de onde se vem e pra onde se vái, realmente, é algo digno de reflexão todos os dias.
Òtimo texto.
Motumba!
Graças a Olorum consigo enxergar em nossa religião o que sempre busquei e via muito pouco, alguém falando em caráter. Infelizmente em nossa religião o que mais se vê são pessoas dizendo que são sem ser, sacerdotes se utilizando de seus conheimentos para puro mercantilismos, para dizer que o outro não tem fundamento, para amendontrar e tirar proveito de quem está precisando e sofre o por isso…
Lindo e maravilhoso texto
Parabéns pelo propósito deste veículo que é de realmente bem esclarecer!
Adupé!
Mo juba Bàbá.
Não somente o Culto de òrìsà como o Culto de Voodo conhecem Ifá (Fá), o Odù Ìká’fún fala de caráter e das leis sagradas ditadas por Olòdúmarè.
Não querer enxergar isto, é maior prova da falta de caráter.
Ire Bàbá.