O ritual do Ajere tem como fundamento principal a disputa entre Yánsán e Ṣàngó pelo dom do uso do fogo.
Ajere é especificamente o nome da própria panela na qual se faz o ritual. Ela é repleta de buracos, por toda parte, por onde escapam línguas de fogo.
Ìtón (mito) resumido:
Ṣàngó sempre em busca de novas formas de poder bélico para controlar e dominar seus adversários, enviou um mensageiro a Èṣù solicitando que este lhe fizesse uma magia para que Ṣàngó passasse a ter domínio sobre o fogo (inọ́n). Èṣù aceitou a encomenda com duas condições, uma que ele deveria receber um cabrito como sacrifício e outra que a esposa de Ṣàngó, Ọya, deveria ser a portadora da magia.
Dias depois, já feito o sacrifício para Èṣù, Ọya foi até ele para buscar o poder produzido. Èṣù entregou a Ọya uma pequena cabaça enrolada em folhas sagradas, ewé ọ̀gbọ́, dizendo-lhe que tivesse cuidado no transporte da poção e que não a abrisse. Ọya, muito curiosa, abriu o pacote e viu que dentro da cabaça havia um líquido muito vermelho e dele tomou um pouco. Nada aconteceu e ela seguiu para o palácio do Aláàfin de Ọ̀yọ́. Ao chegar e entregar o pacote ao ọba, da boca de Ọya saíram faíscas de fogo e Ṣàngó então percebeu que ela havia experimentado um pouco da poção mágica. Ṣàngó ficou enfurecido e Ọya fugiu de sua ira.
Ṣàngó, por sua vez, retirou-se para uma montanha e lá tomou todo o líquido que havia na cabaça e este líquido o fez espirrar. O ọba viu sair de sua boca e de suas narinas imensas labaredas e percebeu que dali em diante seria o dono do poder sobre o fogo, o que o tronava mais poderoso do que nunca.
É nesta perspectiva que se dá o ritual do Ajere, numa representação da disputa do fogo entre esses dois Òrìṣà.
O ritual:
Uma panela de barro repleta de brasas é trazida na cabeça por Ọya que em meio ao toque do àlúja dança e a entrega a Ṣàngó que após dançar com ela, devolve a Ọya novamente sucessivamente. No fim, é Ṣàngó quem termina com a panela de fogo simbolizando que o poder do fogo é dele.
Ṣàngó sai novamente distribuindo entre fieis o Àmàlà, comida feita com quiabos, camarão, azeite de dendê, dentre outros ingredientes, ao som do seguinte cântico:
Yorubá:
Àjàká máa bẹ̀ ká wòóo
Àjàká máa bẹ̀ ká wòóo
A e bàbá Àjàká máa bẹ̀ ká wòóo
Pronúncia:
Ajacá mabé cauô
Ajacá mabé cauô
Aê babá, Ajacá mabé cauô
Tradução:
Àjàká não implora nem mesmo ao poderoso Ṣàngó
Àjàká não implora nem mesmo ao poderoso Ṣàngó
Nosso pai Àjàká não implora nem mesmo ao poderoso Ṣàngó
Àṣẹ!
Texto: Bàbá Gill Sampaio Ominirò – Prof. Antropólogo
Última foto, Roger Cipó © Olhar de um Cipó –
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Babá,
Só não entendi o contexto da música.
Pq cantamos que Ajaka não implora a Xango?
Olá, tenho uma dúvida que não se refere ao post mas resolvi faze-la aqui por ser a postagem mais recente.(pergunto aqui pois conheci o blog e li bastante e vocês são muito atenciosos)
Minhas dúvidas são: Pela internet fazendo as contas deu que meus santos são Iansã e Obaluaiê (não confio pois não foi no jogo de búzios, era mais curiosidade) ,porém eu tenho um amor imenso por Iemanjá que cresceu em mim derepente mas é como se fosse a vida toda, se meus santos estiverem certos, é errado eu ter esse amor por Iemanjá e cultuar ela?
Tenho medo de ser injusta com meus santos de cabeça pelo amor que sinto por Iemanjá (mesmo se ela não for meu santo).
Desculpem o texto grande, aguardo uma resposta,muito obrigada pelo espaço cedido nesse lindo blog.
will,
Esse é o paradigma!
Axé
Andressa,
Esqueça de imediato consultas pela internet, numerologia, contas, etc, isso não é confiável! Se você tem amor por Yemanjá, tenha certeza que Yemanjá tem o mesmo por você, essa fé é que importa.
Axé.
Boa tarde bàbá Fernando !
Também não entendi a cantiga acima, sabendo que Ajaká é um título dado a Xango (AIRÁ E xANGÔ ACABARAM SE CONFUNDINDO) e que o pai do fogo seria Airá Igbonan e esse teria vindo bem antes de Xangô, não seria ” Airá não implora nem mesmo ao poderoso Xangô ” ?.
Acho que viajei nessa. kkk
Sua benção.
Garcia,
É o grande paradigma! Pois Ajaká terceiro rei de Oyó, também conhecido por Baayani ou Dadá, foi destronado pelo seu meio irmão Xangô. Quer dizer que ele não se submete a ninguém, nem mesmo o poderoso Xangô. Ajaká se afasta e volta ao poder sete anos mais tarde faz um belo governo, deixando posteriormente Aganjú seu filho o grande Oba histórico em seu lugar.
Axé
Olá, gostaria de saber se este momento da dança entre Oya e Xangô é somente com filhxs de Oya Kara ou todas as qualidade de Oya?
Grata.
Mara,
Oyá Kará simboliza esse momento, mas, qualquer Oyá de uma egbomi pode representá-la.
Axé.
Muito Modupé!
Vida longa a este lugar.